quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O porta-aviões brasileiro São Paulo começou a inspeção operativa após cinco anos de reparos


O Navio-Aeródromo “São Paulo”, após cinco anos de modernizações e reparos, e uma intensa preparação de sua tripulação, cumpre uma Inspeção Operativa, com o propósito de adestrar sua tripulação e prontificar seus meios para voltar a operar.

Na primeira fase, o Navio irá operar com aeronaves de asa rotativa (helicópteros). A Comissão é composta por diversos militares com experiência em áreas relacionadas à operação em porta-aviões, designados para avaliar os exercícios realizados.

O Inspetor-Chefe da Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento (CIAsA), responsável pelo Comando da Operação, é o Contra-Almirante Carlos Augusto de Moura Resende, Comandante da 1ª Divisão da Esquadra.

Entre os dias 18 e 22 de novembro, o navio visitou o porto de Santos. O Comandante-em-Chefe da Esquadra (ComemCh), Vice-Almirante Wilson Barbosa Guerra, acompanhado de Almirantes do Setor Operativo, acompanhou a condução dos exercícios previstos.

Por ocasião da chegada ao porto de Santos-SP, o ComemCh recebeu a visita dos prefeitos de Santos, João Paulo Tavares Papa; de São Paulo, Gilberto Kassab; do Guarujá, Maria Antonieta de Brito; e de Iperó, Marco Antonio Vieira Campos.

Os convidados visitaram o Navio e puderam constatar o grau de prontificação operativa, a implantação do SICONTA MK IV e as operações aéreas, conduzidas com aeronaves de asa rotativa.

PMESP publicou edital para compra de seis helicópteros biturbina


Águia 1 do Grupamento de Radiopatrulha Aérea “João Negrão”


O Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar do Estado de São Paulo tornou público a abertura da licitação de ámbito internacional objetivando a compra de seis aeronaves de asa rotativa biturbina IFR para Operações de Segurança Pública e de Defesa Civil. O proceso, nº GRPAe-207/140/11A, iniciando-se no dia 15 de dezembro de 2011.

As especificações técnicas da aeronaves constam das páginas 22 a 34 do edital e, além dos equipamentos operacionais requeridos, as aeronaves deverão, conforme as necessidades operacionais, ter capacidade de atender as seguintes configurações:

Configuração 1 – emprego operacional: com 02 (dois) pilotos em duplo comando, com capacidade para transportar 09 (nove) policiais sentados em 09 (nove) assentos de alta densidade com amortecimento de impactos.

Configuração 2 – defesa civil – aeromédica: com 02 (dois) pilotos em duplo comando, com capacidade para transportar 01 (um) médico, 01 (um) enfermeiro, 01 (um) tripulante operacional e 02 (dois) pacientes deitados em macas removíveis.

Configuração 3 – transporte de pessoal: com 02 (dois) pilotos em duplo comando, com capacidade para transportar 07 (sete) passageiros sentados em assentos revestidos em couro.

Este investimento do Governo de São Paulo será o maior já realizado no Brasil em uma única aquisição, o que demonstra a preocupação do Estado em equipar ainda mais sua Polícia, a fim de atender as demandas existentes e preparar-se para a Copa do Mundo de 2014.

Essas aeronaves, dentre outros equipamentos, deverão possuir farol de busca, imagiador térmico, cestos de água para combate a incêndio, gancho, guincho, flutuadores de emergência, preparação para NVG, óculos de visão noturna, sistema de gravação de imagem, equipamentos aeromédicos, além dos sistemas de navegação, comunicação e aviônicos.

Atualmente o GRPAe de São Paulo possui 24 helicópteros e seis aviões e conta com um efetivo de mais de 450 policiais, com 87 pilotos, mais 8 em formação, cerca de 60 mecânicos e auxiliares, mais de 120 tripulantes operacionais, além de médicos, enfermeiros, apoio de solo e pessoal administrativo.

Baixe o edital no link que segue: http://www.megaupload.com/?d=4FLI0ZPQ

DCNS começa a construir o primeiro "Mistral" para a Rússia

O estaleiro francês DCNS (Direction des Constructions Navales) recebeu um adiamento de Moscou correspondente a um contrato de US$ 1.2 bilhão e começará a construir o primeiro porta-helicópteros da classe “Mistral” para a Armada Russa, revelou o serviço de imprensa do estaleiro DNCS nessa quarta-feira.

França e Rússia assinaram em junho passado um contrato para a construção de dois porta-helicópteros franceses da classe Mistral. O contrato inclui a transferência de tecnologia sensível, para que a Rússia possa construir em seus estaleiros mais dois navios desse tipo.

“O pagamento adiantado foi recebido a algumas semanas e o trabalho no primeiro navio está em andamento”, disse o serviço de imprensa do estaleiro francês. “O primeiro navio será entregue em 2014 e o segundo em 2015.”

A construção do segundo navio deverá começar em alguns meses e os trabalhos procederão de modo simultâneo com os trabalhos no primeiro porta-helicópteros, mas isso dependerá de quando o pagamento integral será feito para que o primeiro navio seja feito”, disse uma fonte da DCNS.

O porta-helicópteros Mistral desloca 21 toneladas, mede 210 metros de comprimento e pode se deslocar a uma velocidade de 18 nós. Sua autonomia de até 10,800 km.

O navio pode operar até seis helicópteros, seis lanchas de desembarque e dois hovercraft, sem contar que pode abrigar um batalhão de tanques de combate Leclerc ou outros 70 viaturas blindadas.

Sua tripulação costa de 160 homens e pode transportar outros 450 homens.

Vários países vizinhos à Rússia demonstraram um certo desconforto com essa aquisição russa, entre eles Suécia, Dinamarca e de uma forma mais veemente Geórgia e Lituânia, curiosamente dois ex-satélites soviéticos.

Os militares russos tem planos de usarem os Mistral nas Frotas do Norte e do Pacifico.

Vários analistas militares russos e empresas russas questionam o sentido financeiro e militar da compra, e alguns acreditam que a Rússia simplesmente quer ter acesso à avançada tecnologia naval francesa, que poderia ser usada no futuro em eventuais conflitos com a OTAN e seus aliados.

Rússia nega as alegações sobre o contrato dos tanques T-90 “indianos”

A Rússia está confusa com os rumos da imprensa indiana que alega que Moscou se nega a cumprir o contrato de uma década para a produção licenciada de tanques T-90S "Bhishma" em solo indiano, disse uma fonte russa liada a indústria de defesa.

“A parte russa é conveniente e cumpri completamente todos os acordos com a Índia no que tange a produção sob licença dos taques T-90, incluindo a entrega de todos os componentes necessários e transferência da documentação técnica”, disse a fonte nessa quarta-feira.

O Business Standard, jornal indiano especializado em assuntos de economia, disse no último 28 de novembro que a produção sob licença dos tanques T-90 foi “paralisada por obstrução de Moscou na transferência de tecnologia e na não-entrega das peças fabricadas  na Rússia, essas necessárias para a fabricação dos tanques indianos”.

“É difícil precisar porque surgiu essas acusações”, disse a fonte russa, e agregou que todas as questões controversas sobre os contratos de armas com a Índia se resolvam de imediato por uma comissão intergovernamental russo-indiana na cooperação técnico-militar.

Fontes diplomáticas na Índia acreditam que os rumores dos difundidos pela imprensa indiana refletem a tentativa da parte indiano de transferir a responsabilidade de sua própria incapacidade para gerir a produção de equipamento militar sofisticado.

Índia encomendou 310 tanques T-90 em 2001 em face da demora na fabricação do tanque indiano Arjun e devido a decisão do Paquistão comprar 320 tanques  T-80UD comprados junto à Ucrânia. A Índia também firmou um contrato para a produção sob licença de 1.000 T-90.

Desacordos inicias com a Rússia sobre a transferência de tecnologia foram resolvidos no final de 2008, de acordo com declarações oficias de ambos os lados.

Somente 150 T-90S foram produzidos até o presente momento na fábrica Heavy Vehicle Factory, em Avadi, Chennai.

De acordo com outras publicações nos meios de notícias indianos, o ritmo lenda da produção dos tanques é causado pelo fracasso em alguns subcontratos com terceiros indianos.

Cuba comparará tecnologia russa para modernizar a produção de munições para os fuzis Kalashnikov

Comandos cubanos 
Rússia e Cuba planejam firmar contratos para a compra de uma cadeia integral de produção de munições para os fuzis de assalto Kalashnikov, assim informou uma fonte do Ministério da Indústria e Comércio da Rússia.

Segundo a fonte, se trata da compra de máquinas para produzir cartuchos de 7.62×39mm M43/M67, cartucho esse que foi concebido em 1943 para os fuzis de assalto “Kalashnikov” e outros fuzis que poderiam adotar esse tipo de cartucho. As máquinas serão destinadas a Empresa Militar Industrial Comandante “Ernesto Che Guevara”.

O Ministério da Indústria e Comércio da Rússia também informou que após a visita de uma delegação cubana à fábrica de cartuchos militares na Venezuela, que a Rússia constrói desde 2006, a parte cubana fez uma solicitação a empresa estatal russa “Rosoboronexport” que preparou uma proposta comercial que inclui a transferência da licença e tecnologia de reciclagem de cartuchos.

A fonte não proporcionou informação sobre o custo do maquinário. Não obstante, destacou que a parte russa confia em obter o contrato para a modernização da fábrica instalada em Cuba desde o final de 1970 e inicio dos anos 1980 com a participação de especialistas soviéticos.
 

Violência e confusão marcam eleições na República Democrática do Congo


República Democrática do Congo, na África, realizou nesta segunda-feira (28) sua segunda eleição desde a guerra que matou mais de cinco milhões de pessoas entre 1998 e 2003; violência eclodiu em quatro locais de votação no sul do país, deixando quatro mortos 


Em um país onde tantas promessas nunca foram cumpridas, o atual chefe de Estado, Joseph Kabila, manteve sua palavra: as eleições presidenciais e legislativas de fato ocorreram, na última segunda-feira (28), na República Democrática do Congo (RDC). Mas a que preço? O de uma indescritível confusão, associada a atos de violência, letais em alguns casos, mas localizados, o que já levanta a questão da credibilidade ou até da validade dessa eleição pluralista, a segunda desde a independência da ex-colônia belga em 1960, ainda traumatizada por duas guerras devastadoras de 1996 a 2003.

Em Kinshasa, na segunda-feira, logo ao amanhecer, multidões de eleitores enfrentaram as trombas d’água que inundavam as ruas esburacadas. No pátio da escola Epelingomo do bairro superpovoado de Kingasani, eram centenas deles a se empurrar e gritar diante das portas dos postos de votação, brandindo seus títulos de eleitor acima da cabeça. "Os congoleses não gostam de ordem", constatava contrariado o presidente do centro de votação Israel Mbaya Tshimankinda.

Se os congoleses não gostam de ordem, eles devem então gostar da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI). Kiala Faustin, um professor de 48 anos, confirma a confusão. "Como vou votar?", ele se lamenta. Em junho, ele fora até essa mesma escola para se inscrever. "Disseram para mim que eu votaria aqui", ele lembra. Mas em seu título de eleitor figura um misterioso colégio Seneve para onde ele deveria ir, mas do qual nunca ninguém aqui ouviu falar, nesse labirinto de ruelas arenosas do tamanho de uma pequena cidade. "Teria sido um erro do computador, ou um posto fictício de votação?", ele se pergunta.

Antes do pleito, foram detectados endereços falsos de postos de votação na lista publicada pela CENI. A oposição viu ali uma manobra fraudulenta por parte de uma CENI dirigida por um aliado de Joseph Kabila. Dos postos de votação fictícios e, portanto, sem eleitores no dia da eleição, sairão relatórios contabilizados a favor do presidente atual, se alarmou a oposição.

Enquanto esperava por mais informações, Mbaya Tshimankinda procurou, sobretudo, evitar tumultos no seu pátio de escola. Seus postos abriram com três horas de atraso, quando a CENI finalmente lhe enviou a lista de eleitores e as cédulas, "em número insuficiente", ele diz. E as pessoas tiveram de votar sem a privacidade do biombo de papelão --"eles me explicaram que havia acabado".

Então os eleitores se sentaram em uma carteira escolar, alguns pela primeira vez, e sofreram para encontrar a foto de seu candidato em uma lista de 1.329 nomes concorrendo ao cargo de deputado nessa circunscrição (para 15 cadeiras) impressa em uma cédula de 53 páginas. Tampouco havia lâmpadas para a apuração dos votos, nesse bairro que costuma viver no ritmo do Sol. Nem tinta indelével para evitar votos múltiplos. "Imagine como não deve ser no interior?", suspira um observador.

Outro problema: os "esquecidos", congoleses com título de eleitor afiliados a um posto de votação, mas que não aparecem nas listas. A CENI permitiu de última hora que eles votassem em sua zona eleitoral. Assim, na sala número 4 do posto de votação do bairro de Masina II aberto nas instalações de uma paróquia presbiteriana, a lista de presença desses "esquecidos" já comportava cerca de trinta nomes escritos à mão em folhas avulsas. A ela se juntava a dos votos em trânsito. No total, quase 30% de eleitores extras que, na noite da apuração, poderiam fazer o índice de participação ultrapassar os 100%. O mais grave é que não há muito que impeça que um "esquecido" vá até outro posto de votação para repetir a operação.

Dito isso, os onze candidatos à presidência em votação de um turno --sistema imposto por Joseph Kabila para derrotar uma oposição dividida e compensar sua perda de popularidade-- estão em pé de igualdade. Uma igualdade democrática diante do caos que o chefe do Estado divide com o "opositor histórico" Étienne Tshisekedi (79 anos) e seus dois irmãos inimigos da oposição Vital Kamerhe (51 anos), ex-presidente da Assembleia Nacional e Léon Kengo (76 anos), presidente do Senado.

Diante de uma anarquia dessas, será quase um milagre se não forem relatados incidentes mais sérios na capital, na manhã desta quarta-feira. Não é o caso de Lubumbashi, capital de Katanga (sudeste), onde pelo menos dez pessoas foram mortas durante um ataque a um posto de votação. No Kasai Ocidental, domínio de Étienne Tshisekedi, postos de votação foram incendiados após a descoberta de urnas já lotadas. No Leste, brigas entre grupos armados levaram ao fechamento dos postos.

"É difícil dizer hoje que influência tudo isso terá sobre o resultado final", relativizava um observador americano. Preocupado, ele se preocupava se o mesmo caos iria dominar nas operações de apuração e de centralização de resultados. Muito mais pessimista, um membro estrangeiro do comitê técnico eleitoral (um órgão consultor da CENI) não via como "a CENI, que no domingo afirmava, contra todas as evidências, estar 100% preparada, poderá declarar essa eleição como transparente". E ainda: "Foi um fiasco total e ainda previsível que a comunidade internacional tenha permitido isso. E se descambar para uma guerra civil?"

Na segunda-feira à noite, na transmissão da rádio Okapi, Franklin Tshamala, um membro da maioria presidencial cujo candidato é considerado o favorito por sua força financeira, administrativa e securitária, declarou considerar a eleição "tranquila". Em compensação, Vital Kamerhe e Léon Kengo já cogitavam pedir a anulação da eleição. Uma opção descartada por Étienne Tshisekedi, que, desde o fim da votação, já alegava ter ampla vitória no leste do país, citando números não verificáveis. Os resultados da eleição presidencial são previstos para antes do dia 6 de dezembro. Os das legislativas, não antes de janeiro. A República Democrática do Congo está entrando em uma zona de alta turbulência.

Euro foi uma armadilha para pobres, diz moradora da periferia de Paris


Manifestantes vestidos de palhaços protestam imitando os policiais em Nice, sudeste da França. A cidade francesa de Cannes recebe nesta quinta e sexta-feira líderes mundiais que representam o G20 


"Todo mundo se tornou mais egoísta, não existe solidariedade, ninguém mais ajuda ninguém. Não sei muito sobre a dívida, mas sei que esta crise é uma merda, porque os mesmos de sempre é quem vão pagá-la, e dá na mesma que governe a esquerda ou a direita, porque quem manda são os bancos, as financeiras." Quem fala é Diabira, um jovem de 24 anos de raça negra que acaba de terminar seu turno na fábrica da PSA Citroën-Peugeot, um enorme edifício com os muros coroados de espinhos.

Parece uma prisão, mas é uma fábrica e dá emprego para milhares de trabalhadores. Por enquanto. O gigante francês dos automóveis anunciou que em 2012 deverá demitir 5.800 pessoas na Europa, 4 mil delas na França. Diabira conta que "na fábrica todos têm medo de perder o emprego". Ele trabalha aqui há três anos, no controle de qualidade das peças. Em sua seção, explica, "já nos disseram que no final do mês sairão todos os contratados temporários. Dizem que os fixos não, mas vamos ver".

Estamos em Saint-Ouen, a "banlieue" (periferia) do norte de Paris. O departamento chama-se Seine-Saint-Denis, mas todos o chamam de 93 por causa de seu código postal. É o lugar da França onde vivem, proporcionalmente, mais emigrantes; a zona com mortalidade infantil mais elevada (5,7%), com a população mais jovem (14% têm entre 14 e 24 anos) e o índice de emprego mais baixo: 11,6% de desemprego no segundo trimestre de 2011, contra 9,1% nacionais. Mas a cifra entre os jovens já alcança 43%.

Desde que começou a crise, em 2008, o modelo francês do Estado assistencial teve de se esforçar neste bairro pobre. O desemprego juvenil disparou 27% em três anos, e em abril só havia 66 jovens ganhando a Renda de Solidariedade Ativa (RSA), a prestação social para os trabalhadores e as pessoas com menos renda, criada em 2009 pelo governo. Mas a RSA, que beneficia 3 milhões de franceses, quase não serve para os desempregados menores de 25 anos, porque para ter acesso ao subsídio é preciso ter trabalhado 24 meses em tempo integral nos últimos três anos.

Nestas ruas sem butiques nem "brasseries", havia nos anos 1970 e 80 muitas empresas metalúrgicas e químicas. A deslocalização foi fechando quase todas, e as tentativas do governo para converter a zona em um grande polo empresarial --aqui estão as sedes da Alstom, BNP Paribas, Generali, Hermès e a telefônica SFR-- parecem ter rendido poucos benefícios a seus habitantes. Nas últimas eleições regionais, 67% dos inscritos no 93 preferiram não votar.

Saint-Ouen não é a pior área do 93, mas as barracas do mercadinho Ottino vendem a mesma quinquilharia que se pode encontrar nos bazares árabes e africanos. Enquanto a crise da dívida açoita a Europa, essas pessoas de todas as raças e cores lutam diariamente para encontrar ou manter um trabalho, chegar ao fim do mês, ir à universidade.

Diabira é um jovem educado, culto e com vontade de aprender, mas não pôde completar os estudos: "Comecei direito enquanto trabalhava à noite como agente de segurança. Depois conheci minha namorada, fomos morar juntos e precisei começar a trabalhar de dia. Entrei de aprendiz na PSA e hoje sou fixo e ganho 1.300 euros líquidos. Me dei bem, mas tive de renunciar ao meu sonho. Cada momento que estou na fábrica penso: 'Merda, eu queria ser político e ajudar as pessoas'. Mas agora tenho uma filha de 10 meses e esse é meu dever. Se o estado não me ajuda, é impossível sair dessa roda".

Passeando rua abaixo vem a senhora Chatti com uma grande barriga que anuncia sua iminente maternidade. Conta que é argelina e está há um ano em Paris; antes vivia no sul da França e quando estava na Argélia era secretária de direção de uma empresa de energias renováveis. "Queria me formar melhor e trabalhar, mas é difícil. A vida aqui é dura e cara. Os franceses são pouco acolhedores, e tenho medo de andar sozinha pela rua, vejo muitos ladrões e agressões."

Os dados parecem lhe dar razão: este ano houve 4 milhões de roubos na França. Sobre a Europa, Chatti tem uma opinião muito comum no bairro: "O euro foi uma armadilha para os pobres, tornou mais difícil a vida de muita gente, tudo ficou mais caro de um dia para o outro". Ela também ganha a RSA de 470 euros, mas só chega ao fim do mês graças a amigas que a ajudam, diz ela. "Mas quero que meu filho nasça na França e continuarei aqui."

No 93 há gente que está pior. Ahmed, 61 anos, ex-pedreiro, e Pascal, 45 embora aparente 20 a mais, matam o tempo bebendo cerveja no parque. São SDF: sem domicílio fixo, sem-teto. Os dois ganham seus 470 euros de subsídio, pedem esmolas na rua para comer e beber e expressam a mesma desconfiança na política e no mundo moderno: "A Internet e os celulares mudaram a vida. As pessoas andam pela rua com fones de ouvido ou o celular e ninguém fala com ninguém, passam ao seu lado sem vê-lo", protesta Pascal.

Só Arnaud Beseme, 27 anos, financista na multinacional Alstom, parece mostrar alguma esperança. Com seu primeiro emprego já ganha 2 mil euros, tem contrato fixo e se sente "muito mais europeu que francês". Inclusive está de acordo com "Merkozy": "Estão tentando resolver a crise, mas Sarkozy terá de aprovar ajustes mais duros, mesmo que isso custe sua reeleição. Seu problema é que parece que trabalha mais fora que em casa, e isso poderia favorecer a Frente Nacional".

Diabira sorri, cético. "Sarkozy fez algumas coisas boas, mas todos sabemos que são a senhora Merkel e os bancos quem decide nosso destino."

Após 15 anos como militante de grupos neonazistas, alemão é salvo por turcos

Manuel Bauer já foi um agressivo brutamontes neonazista, mas acabou renunciando

Ele acabou sendo salvo, ironicamente, por dois turcos. Manuel Bauer estava na prisão em Leipzig e deu a entender a seus colegas extremistas de direita que estava pensando em renunciar ao neonazismo. Pouco tempo depois, no pátio da prisão, os detentos de extrema direita atacaram Bauer e começaram a espancá-lo impiedosamente. Foi então que dois prisioneiros turcos correram a ajudá-lo, em um episódio que provocou uma reviravolta na vida de Bauer.

Bauer, que atualmente tem 32 anos de idade, é nativo da vila de Torgau, a leste de Leipzig, e durante cinco anos foi um ardente militante neonazista. Corpulento e de cabeça raspada, ele participou de um ataque com bombas incendiárias contra um quiosque de comida turca e era temido pela força dos seus punhos. Bauer usava frequentemente uma jaqueta militar verde ou uma jaqueta preta Harrington e botas de combate cor de vinho. Ele afirma que era “o cliché andante de um skinhead”.

A carreira de Bauer como skinhead teve início quando ele tinha 11 anos de idade. Ele fez amizade com um grupo de colegas de classe que glorificavam Adolf Hitler e que atacavam estudantes estrangeiro no pátio da escola. Isso foi pouco após a reunificação da Alemanha, quando o extremismo de direita, que havia permanecido preponderantemente na clandestinidade durante o regime comunista, pôde emergir subitamente das sombras. Por toda a Alemanha Oriental, os extremistas começaram a se encontrar --e a criar grupos neonazistas. No início, eles eram desorganizados e informais, o que os tornava praticamente invisível aos olhos das autoridades policiais.

Não demorou muito para que Manuel Bauer passasse a integrar um desses grupos e gradualmente galgasse postos na hierarquia neonazista. Os pais dele, cristãos profundamente religiosos, ficaram indignados.

"Eu achava que era um herói"

Bauer tornou-se o líder de um grupo que se intitulava "Wehrsportgruppe Racheakt" (algo como “Grupo de Treinamento Paramilitar de Vingança”), e criou um segundo grupo com outros neonazistas chamado "Associação de Combatentes Arianos". Cada grupo tinha cerca de 30 membros, muitos deles oriundos de Torgau, mas também da pequena cidade de Loburg, que fica mais ao norte. "Eu achava que era um herói", diz ele atualmente, emitindo um profundo suspiro. "Mas na realidade eu era um tremendo idiota".

O "movimento", conforme Bauer chama o universo da extrema direita, lhe ofereceu um lar. "Eu sentia que era livre e que eles me aceitavam. Os meus camaradas me deram força, que eu a seguir transformei em violência". Estimulado pelo álcool e pelo rock de direita que ressoava a toda altura no equipamento de som do carro, ele e outros dirigiam até o Estado da Saxônia, atacando estrangeiros durante o percurso. Roupas manchadas de sangue eram usadas com orgulho, como se fossem uma espécie de troféu.

Quando ingressou nas forças armadas alemãs em 1997, não demorou muito tempo para que ele conhecesse outros militares que compartilhavam a sua visão de mundo racista --incluindo dois indivíduos que, segundo Bauer, pertenciam a ramificações da célula terrorista de direita de Zwickau, que é acusada de ter assassinado nove imigrantes e uma policial no decorrer de vários anos. Ele se recusa a citar nomes.

Bauer diz que gostou do tempo que passou como membro de uma brigada de infantaria motorizada aquartelada nas montanhas Erzgebirge. "Aquele era um bom ambiente para uma pessoa como eu", diz ele.

Durante o serviço militar, Bauer aprendeu a manejar armas – um conhecimento que ele mais tarde repassou a neonazistas em um campo de treinamento em Ulsti nad Labem, uma cidade no norte da República Tcheca. Durante um ano, ele ensinou militantes de direita a atirar, a construir bombas e a colocar em prática técnicas de sobrevivência. Ele conta que o campo em que trabalhava estava longe de se constituir em uma anomalia – há outros do mesmo tipo na Hungria, na Polônia, na Rússia e na Romênia. Segundo Bauer, eles se inspiram na "Heimattreue Deutsche Jugend" (“Juventude Alemã Patriota”), um grupo de extrema direita que ministrava treinamento militar e ideológico a jovens até ser banido em 2009.

Apoio de patrocinadores

Na época, Bauer vivia quase que exclusivamente do dinheiro estatal do seguro desemprego, mas conseguia “ganhar” um pouco de dinheiro extra com as suas atividades de extrema direita. A extorsão era um dos métodos que ele utilizava. Bauer também envolveu-se com um grupo de extrema direita chamado “Organização de Auxílio aos Prisioneiros Políticos Nacionais e às suas Famílias”, uma das maiores organizações extremista de direita da Alemanha. Ela fornecia assistência aos detentos de extrema direita, tanto durante quanto depois do cumprimento das penas de prisão. Mas esse grupo acabou também sendo banido em setembro deste ano.

Porém, Bauer também diz que a extrema direita conta com o apoio de patrocinadores. Ele afirma que uma cervejaria alemã “ajudou a financiar a luta desses grupos durante anos” e também lhes forneceu grandes quantidades de bebidas alcoólicas. No que se refere a armas, somente aqueles que participam dessas organizações há muito tempo têm acesso a elas. Ele alega que o Partido Nacional Democrata Alemão (em alemão, Nationaldemokratische Partei Deutschlands, ou NPD), uma organização política de extrema direita, os ajudava a obter armas. Segundo Bauer, na época a maioria dessas armas era oriunda da Europa Oriental.

O relacionamento entre grupos paramilitares como aquele com o qual ele estava envolvido e o partido NPD era profundo, diz Bauer. “O NPD é a companhia e os membros paramilitares são os funcionários”, explica ele. Bauer diz que ele próprio jamais foi membro do NPD, mas conta ter conhecido vários grupos vinculados ao partido que tinham grande talento para burlar a vigilância das autoridades alemãs com táticas diversionistas.

"O Estado subestimava o extremismo de direita e concentrava as suas atenções exclusivamente no campo esquerdista e antifascista", afirma Bauer. "Mas a direita é muito mais bem organizada e estruturada do que a esquerda. E ela segue uma estratégia clara. Na tentativa de confundir os investigadores, são criadas identidades fictícias, companhias imaginárias de encomendas pelo correio e outras coisas do gênero – com o único objetivo de ludibriar as autoridades". Ele diz que o Estado provavelmente não sabe quantos grupos paramilitares existem de fato, e tampouco quantos radicais de extrema direita operam na clandestinidade. "Existem vários neonazistas cujos nomes são conhecidos pelas autoridades, mas que há anos não são vistos", diz Bauer. "Esses indivíduos estão com frequência comandando as ações por trás dos bastidores."

"Campanha maluca"

E quanto a ele próprio? Será que alguém consegue passar 15 anos como militante de grupos neonazistas e subitamente mudar de ideologia? Bauer nem sempre tem respostas para perguntas como essa, e ele próprio compreende as dúvidas que podem emergir. "A minha visão de mundo mudou oito anos atrás, mas foi só três anos mais tarde que eu fui capaz de abandonar o neonazismo". Ele diz que atualmente é um "social-democrata convicto", referindo-se ao principal partido alemão de centro-esquerda.

Ele alega que atualmente o seu círculo de amizades inclui muitos daqueles indivíduos que ele costumava perseguir: judeus, lésbicas, imigrantes. "Todas as pessoas que eu combatia naquela época", diz ele. "Hoje em dia eu me sinto feliz e com sorte por ter tais amigos". Ele insiste que todos eles conhecem o seu passado e sabem que, durante um determinado período, havia uma recompensa de 10 mil euros (US$ 13,3 mil) pela cabeça dele nos círculos extremistas de direita. Ele diz que ainda existe uma “campanha maluca” contra ele em fóruns de extrema direita na Internet.

Atualmente, Bauer mora no sul da Alemanha e ajuda neonazistas a abandonar o universo do extremismo de direita, da mesma forma como ele foi ajudado por um grupo de Berlim chamado EXIT, que durante anos procurou auxiliar os indivíduos que desejavam abandonar as organizações extremistas. "Sem tais pessoas, eu não teria sido capaz de sair daquele círculo", diz ele. "Eles me mostraram claramente que, independentemente do que acontecesse, eles não me abandonariam".

"Encontros difíceis"

Bauer conta que cinco neonazistas do leste da Alemanha decidiram imitá-lo e dar as costas ao extremismo de direita. Ele narra isso com orgulho, e é possível perceber sinais do desejo de ser aceito que o atormentou durante tanto tempo.

A ficha policial de Bauer é longa – agressão, espancamento, extorsão, criação de grupos inconstitucionais, vandalismo e destruição de propriedade alheia. Ele foi condenado a dois anos e dez meses de prisão. Depois que foi libertado, ele tentou manter contato com algumas das suas vítimas. Muitas rejeitaram a iniciativa dele, enquanto que outras ouviram as suas desculpas mas tiveram dificuldades em aceitá-las. São muito poucos aqueles que dizem ser capazes de perdoá-lo.

Recentemente, ele se encontrou com um adolescente indiano que era apenas uma criança quando Bauer o atacou brutalmente, dez anos atrás, porque ele não tinha um tipo físico germânico. Bauer também se encontrou com um empresário homossexual que ele extorquiu e ameaçou de morte. "Esses encontros foram muito difíceis", explica Bauer. Todos os dois fizeram uma série de perguntas a ele. Mas Bauer não foi capaz de respondê-las.

Mulheres árabes temem retrocesso dos poucos direitos que tinham na ditadura

Senhor é ajudada por soldado egípcio antes de votar

A primavera árabe parecia anunciar uma nova era de emancipação para as mulheres no mundo árabe. Mas os islâmicos estão em ascensão na Tunísia e no Egito e há relatos preocupantes de ataques sexuais nas manifestações na praça Tahrir, no Cairo. Muitas mulheres na região temem um retrocesso dos poucos direitos que tinham na ditadura.

Ela parece séria no retrato que postou na Internet. Ela também está nua: uma jovem egípcia mostrando seu corpo ao seu país. Aliaa Magda Elmahdy, estudante de artes de 20 anos da Universidade Americana no Cairo, queria protestar contra a opressão das mulheres e o conservadorismo em seu país. Para alcançar isso, fez algo quase inédito.

“Tire a roupa, fique diante de um espelho e queime seu corpo que você tanto despreza e livre-se para sempre de seus complexos sexuais”, escreveu em seu blog. Em um país onde os casais não podem se beijar em público, seu ato foi um choque.

Desde que causou escândalo há duas semanas, a egípcia teve que se esconder do ódio dos conservadores religiosos, e até os egípcios seculares se distanciaram dela. Eles não querem estar associados com seu ato e têm medo de ser caracterizados como mundanos, libertinos e imorais.

Há muito em jogo para os jovens no Egito, que estão novamente protestando na praça Tahrir, desta vez contra o controle militar do país, como se a revolução de janeiro e fevereiro nunca tivesse acontecido. Não é mais apenas uma questão se o país vai alcançar a transição para a democracia, mas também que tipo de sociedade o Egito quer e qual será o status das mulheres nesta sociedade.

Houve inúmeros relatos na última semana de ataques sexuais contra as mulheres na praça Tahrir, ataques envolvendo tanto as forças de segurança quanto manifestantes. A jornalista egípcio-americana Mona Eltahawy, que tomou parte nos protestos na praça, ficou horas presa, vendada. Policiais a agarraram e quebraram seu braço e sua mão. “Eles me agarraram e tocaram nos meus seios, apertaram minha região genital e perdi a conta de quantas mãos tentaram entrar nas minhas calças”, escreveu no Twitter. “Eles são cães, e seus chefes são cães”.

Confusão sobre o papel feminino

O Ocidente está confuso. Em janeiro e fevereiro, muitos ficaram entusiasmados com os levantes na Tunísia e no Egito, particularmente pelo papel das mulheres. Elas protestaram ao lado dos homens na avenida Habib Bourguiba, na Tunísia, e na praça Tahrir, no Cairo. Seu envolvimento transmitiu uma nova imagem do jovem árabe e das mulheres árabes. Muitos fotógrafos ocidentais no Cairo e em Túnis enviaram imagens aos seus escritórios de mulheres atraentes tomando parte na revolução.

Os ocidentais se reconheceram nos rostos das jovens manifestantes e ficaram contentes que as pessoas nesses países não eram tão diferentes quanto muitos acreditavam. A certeza que os árabes eram incompatíveis com a democracia foi destruída, assim como o clichê da mulher árabe como um ser oprimido e passivo.

Nenhum dos levantes nos países árabes teria sido possível sem a participação das mulheres. Elas estavam entre os primeiros a protestar na praça Pearl no Bahrein, elas organizaram protestos na Síria, fizeram parte do levante na Líbia desde o início e uma ativista iemenita foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz deste ano.

Medo de perder direitos

Tudo isso explica porque tantas pessoas ficaram desapontadas com as notícias das últimas semanas. Na Tunísia, onde a Primavera Árabe começou e onde as mulheres apreciam maiores liberdades do que em qualquer parte do mundo árabe, os islâmicos surgiram nas recentes eleições como os mais fortes. O mesmo deve acontecer no Egito, que está em período eleitoral. E nem uma única mulher foi nomeada para o conselho que será responsável pela redação da constituição.

No Egito, não foram apenas os islâmicos os responsáveis pelos ataques contra as mulheres desde então. Foram também os membros dos regimes antigo e novo. Em março, houve relatos que o exército estava fazendo “testes de virgindade” nas manifestantes, um procedimento que muitas entenderam como estupro.

Elas tiveram que ficar nuas diante de soldados em festa, que usaram seus celulares para filmar os exames da genitália das mulheres. Um general depois anunciou que as mulheres não eram como nossas filhas ou a dele. Mais recentemente, atos de violência sexual estão sendo perpetrados contra as mulheres na praça novamente.

Será que as mulheres árabes lutaram por sua liberdade somente para então perder os direitos que tinham antes, na ditadura?

Um projeto da elite

Há muito existe uma classe urbana educada, de mulheres profissionais na Tunísia e no Egito. Os direitos da mulher, porém, eram um projeto da elite. Para déspotas como o ex-presidente da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali ou o ex-presidente do Egito Hosni Mubarak também era um meio para um fim. Eles defendiam os direitos das mulheres para levar o Ocidente a crer que seus regimes eram progressistas.

Mas a realidade deixava muito a desejar. De fato, o famoso Relatório do Desenvolvimento Humano Árabe da Organização das Nações Unidas de 2002 citou o pobre estado dos direitos das mulheres no mundo árabe como uma das três razões porque essa parte do mundo permanecia tão subdesenvolvida.

No Egito, ironicamente, foi Suzanne Mubarak, hoje a odiada mulher do ex-presidente, que defendeu os direitos das mulheres e combateu a horrível prática de mutilação genital feminina. Apesar de ter feito algum progresso, muitas das suas conquistas em nome das mulheres hoje estão associadas ao seu nome.

Não é de surpreender que um contra-modelo islâmico agora esteja ganhando força, após a derrubada de regimes que se fingiam ocidentais e seculares. Particularmente na Tunísia, a elite secular sempre se acreditou mais europeia do que árabe, imitando o estilo de vida do antigo poder colonial, a França. Nos subúrbios ricos de Túnis, não era incomum ver mulheres usando saias curtas, e as feministas se orgulhavam disso.

Quase igualdade

Na Tunísia, as mulheres estão em condições similares aos homens na maior parte das áreas. Elas podem se divorciar, a poligamia é proibida, e o aborto é legal. Os efeitos dessa política se refletem em dois índices. Enquanto metade de todas as mulheres já estavam casadas aos 20 anos em 1960, em 2004 somente 3% das mulheres entre 15 e 19 anos estavam casadas. Esse status das mulheres pode ser atribuído a Habib Bourguiba, fundador secular da República da Tunísia, que muitas vezes é tido como similar tunisiano do primeiro presidente da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk. Entretanto, continua sendo um fenômeno primariamente urbano. Como a Turquia, a Tunísia era em grande parte secular por este ser o desejo das elites. No interior do país, as pessoas são conservadoras.

Foi um erro acreditar que o mundo árabe ia se tornar mais ocidentalizado após as revoluções. Pelo contrário, em muitos locais, os moradores estão voltando aos seus próprios valores.

Nas ruas de Túnis, mulheres usando lenço na cabeça ainda eram a exceção em janeiro, mas em junho parecia que cerca de metade das mulheres já estavam usando o lenço. Algumas o faziam simplesmente por motivos religiosos, mas para muitos o hijab é uma expressão de uma identidade recém descoberta. Antes das revoluções, era quase visto como estigma ser árabe. Mas desde a derrubada de Ben Ali, um renovado orgulho nacional e identidade árabe são evidentes na Tunísia.

Sana Ben Achour, principal feminista da Tunísia, não esconde sua decepção diante das mudanças. Ela não gosta da impressão gerada que o corpo da mulher é algo que deve ser coberto. Ela salienta, contudo, que há jovens vestindo jeans apertados e véu, deixando claro que nada está sendo de fato coberto. Achour acha que isso é moda, mas ainda assim não gosta.

Renascimento conservador

No Egito, por outro lado, durante anos poucas mulheres se aventuravam nas ruas sem um véu. É um sinal de uma sociedade conservadora que parece muito mais removida da Europa do que a Tunísia.

Mulheres com véus já tomaram as ruas em protesto contra os britânicos mesmo em 1919. Após Gamal Abdel Nasser assumir o poder em 1954, o país passou por um despertar social, e as mulheres foram estimuladas a tomar parte na vida profissional. Ainda assim, houve uma forte retomada no conservadorismo desde os anos 80, com as mulheres sendo empurradas de volta aos seus papeis tradicionais.

Muitas feministas árabes olham para o Iraque com preocupação, onde a derrubada de um tirano secular não ajudou as mulheres e onde quatro quintos de todas as estudantes pararam de frequentar a escola desde então.

Um novo modelo de islâmicas

Uma mulher atraente e sorridente apareceu diante dos jornalistas ocidentais para falar em nome dos vencedores na noite após a vitória eleitoral islâmica em Túnis. Ninguém será forçado a vestir o lenço na nova Tunísia, disse ela. Ela estava maquiada e usava um lenço colorido enrolado firmemente em torno do rosto. Ela parecia confiante e inteligente, e quando perguntada o que a vitória islâmica significaria para as mulheres, ela disse que não via contradição entre o islã e o direito da mulher.

Esta era Soumaya Ghannouchi, filha de Rachid Ghannouchi, líder do partido islâmico Ennahda e o novo homem forte do país. Ela foi criada em Londres, onde o pai morou no exílio por 20 anos, e onde ela era jornalista, escrevendo para o “Guardian” entre outras publicações. Ela é politicamente engajada, muçulmana independente que defende o movimento do pai, como faz a irmã Intissar, que é advogada em Londres.

As quatro filhas de Ghannouchi não se encaixam nas noções ocidentais da mulher árabe oprimida. É assim que devem ser as islâmicas?

As filhas de Ghannouchi, que se tornaram exemplos para algumas jovens na Tunísia, não são a única evidência que é possível ser uma mulher muçulmana, vestir lenço na cabeça e ainda ser forte. Por anos, as redes de televisão via satélite árabes na região do Golfo também popularizaram o ideal de pura beleza feminina por todo o mundo árabe.

Emancipação muçulmana

Mulheres determinadas não necessariamente têm que se parecer como na fantasia ocidental. Anos atrás, pesquisadores do centro de estudos para Paz Internacional Carnegie Endowment, de Washington, identificou um movimento que seria caracterizado como emancipação muçulmana dentro de tais organizações como a Irmandade Muçulmana egípcia. Mesmo este grupo de mulheres conservadoras muçulmanas envolve uma nova geração de ativistas confiantes e educadas, que exigem seus direitos e insistem em ser ouvidas dentro de suas organizações.

Muitas delas estavam à frente das marchas de protesto no último inverno e agora estão lá novamente, lado a lado com as manifestantes seculares. Juntas, estão enfrentando um confronto com o pior adversário das mulheres egípcias: os militares. Durante a revolução na praça Tahrir, muitas jovens egípcias vivenciaram a igualdade de gêneros pela primeira vez. Elas protestaram junto com os homens e foram igualmente importantes na derrubada de Mubarak, e não houve ataques sexuais naquele período.

Desde então, têm sido primordialmente as forças de segurança e o conselho militar do Egito que procuraram colocar as mulheres em seus lugares por meio da violência –e não os islâmicos.

Ao mesmo tempo, os salafistas radicais se tornaram cada vez mais influentes no Egito. Os salafistas são muçulmanos fundamentalistas que querem que as mulheres fiquem em casa e cubram seus corpos da cabeça aos pés. Os cartazes de campanha do partido salafista Nour mostram sete candidatos barbudos. Não há foto da oitava candidata, somente a imagem de uma rosa.

Mas os salafistas não são a maioria no Egito. A Irmandade Muçulmana, que também é islâmica e provavelmente vencerá as eleições, é mais pragmática em sua posição em relação às mulheres. São conservadores, mas não se deve esperar deles uma interpretação da lei islâmica baseada no modelo misógino saudita.

Notícias preocupantes

Na Tunísia, os islâmicos sob Rachid Ghannouchi alegam ser mais favoráveis às mulheres do que em qualquer outra parte. Na campanha eleitoral, eles insistiram que não iam procurar reduzir os direitos e que não estão interessados na poligamia ou em tornar obrigatório as mulheres usarem lenço na cabeça. Eles citam como modelo o partido governante islâmico moderado na Turquia, o AKP.

Muitos conservadores, porém, sentiram-se fortalecidos por sua vitória eleitoral e há notícias preocupantes vindo de Túnis. As mulheres informam que foram criticadas em público por suas roupas. Na universidade, estudantes impediram as palestrantes de entrarem na sala por estarem vestidas sem modéstia.

Ainda assim, não se deve esperar que a forte posição das mulheres na Tunísia mude rapidamente, pois está muito firmemente estabelecida, especialmente nas cidades. No Egito, por outro lado, as mulheres não são forçadas apenas a defenderem seus direitos contra os radicais islâmicos, mas também contra uma aliança de machistas de linhas ideológicas totalmente diferentes.

Após os ataques da semana passada, a jovem ativista Lara El Gibaly escreveu no Twitter: “Sob o risco de parecer feminista, hoje em particular estou realmente enojada com a sociedade patriarcal movida a testosterona em que vivo. O Egito é um lugar horrível para as mulheres.”

Futuro político egípcio é disputado entre islâmicos e laicos


Egípcio mostra dedo manchado de tinta após votar no Cairo

A sede do Partido Nacional Democrático, de Mubarak, se ergue como um fantasma do passado sobre o Nilo, no centro do Cairo. Incendiado pelos manifestantes em janeiro, o edifício simboliza o sistema de partido único de fato contra o qual o Egito se rebelou depois de quase 60 anos. Dessas chamas surgiu uma infinidade de partidos. De repente, os eleitores devem escolher entre mais de 50 formações registradas, com forças muito desiguais. Aqui vai um guia desse labirinto político, onde a batalha entre islâmicos e laicos é a principal, mas não a única chave.

Islamismo
Ilegal sob Mubarak, a Irmandade Muçulmana conta com experiência política (seus candidatos poderiam entrar no Parlamento como independentes) e é a força mais organizada, com ativistas e redes assistenciais por todo o país. Seu recém-criado Partido Liberdade e Justiça é o favorito, com margens de vitória que vão de 20% a 40%. Em uma tentativa de moderar perfil religioso, concorre dentro da Aliança Democrática, que inclui partidos progressistas.

A coalizão aglutinava em princípio 34 partidos, mas depois sofreu várias excisões, especialmente por parte dos salafistas, que pregam uma interpretação mais estrita e anacrônica do islã. Os integralistas - entre eles o partido do antigo grupo terrorista Gamaa Islamiya - formaram sua própria aliança islâmica diante do que consideram uma derivação centrista da Fraternidade Muçulmana.

Laicos
O polo laico é liderado pelos Egípcios Livres, o partido fundado pelo magnata das telecomunicações Naguib Sauiris e muito combativo com a Fraternidade Muçulmana. Apesar de seu ideário pró-empresarial e liberalizador, formou a coalizão Bloco Egípcio com dois partidos de esquerda, o que coloca dúvidas sobre sua solidez em longo prazo.

Jovens de Tahrir
Desagregados em partidos de orientação muito diversa, a tentativa mais sólida de unir os jovens da Praça Tahrir é a Revolução Contínua, uma coalizão de partidos essencialmente de esquerda que inclui a Corrente Egípcia, fundada por líderes juvenis da Fraternidade Muçulmana que a abandonaram entre críticas a seus valores antiquados.

Oposição tradicional
Junto dos partidos recém-nascidos concorrem várias formações que eram toleradas sob o regime Mubarak. É o caso do Wafd (Delegação), o Gad al Yedid (Novo Amanhã) ou o Tagammu, que têm a vantagem de contar com estruturas mais bem organizadas que seus rivais. No entanto, sobre todas elas, em maior ou menor medida, pesa o mesmo mal: a falta de credibilidade depois de anos participando da farsa multipartidária do velho regime.

Restos do regime
São chamados de "felul", literalmente, os "restos" do dissolvido Partido Nacional Democrático, que formaram até seis partidos. Podem se apresentar nas eleições graças ao Tribunal Supremo, em uma decisão muito polêmica tomada há poucas semanas. Entre eles destaca-se o fundado por Hosam Badraui, com uma imagem de reformista contra a velha guarda e a quem Mubarak, desesperado, nomeou secretário-geral quando eclodiu a revolta. Badraui se demitiu depois de alguns dias e foi muito hábil para se afastar rapidamente de seu velho amo.

Depois de 30 anos de ditadura, dois ex-membros do PND continuam tendo muita influência, com estreitas ligações com empresários e líderes locais, especialmente nas áreas rurais onde os clãs decidem o voto da comunidade. "Tenho 40 deputados no Parlamento", explicou sem se alterar a este jornal um riquíssimo empresário há alguns meses no Cairo. "Controlo regiões inteiras, e ali votam o que eu digo."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uzi Pro: A mais nova variante da “família Uzi”

A nova submetralhadora da família Uzi, a Uzi Pro, foi projetada para as forças especiais e grupos paramilitares

Desde 1950, a submetralhadora Uzi tem sido uma das armas mais conhecidas do mundo. Cerca de 2 milhões de unidades da Uzi, fabricadas pela fábrica Magen  da empresa israelense Israel Military Industries(IMI) , foram vendidas em todo mundo. A Micro Uzi, lançada em 1990, é uma versão compacta da popular arma israelense, e tem sido usada principalmente pela forças de segurança e forças especiais israelenses.

Agora, depois de 21 anos, a Uzi Pro, a versão mais recente da Uzi, está sendo introduzida no mercado. De propriedade de Samy Katsav, um empresário israelense e presidente desde 1995 do Israel Shipyards, foi na gestão dele que a IWI desenvolveu a Uzi Pro. A Uzi Pro foi mostrado ao público durante a DSEi, que aconteceu em setembro, em Londres.

De acordo com o presidente da IWI, Uri Amit, embora a Uzi Pro utilize o mesmo calibre da Uzi (9 mm), há muitas diferenças entre a primeira submetralhadora da família e a última. As principais diferenças giram em torno do design ergonômico, o sistema óptico e um guarda-mão completamente diferente.

Quanto a Uzi entrou em serviço nas Forças de Defesa de Israel (IDF), A Uzi era a arma padrão das IDFs. Embora os exércitos ao redor do mundo (incluindo as IDFs) tenham abandonada o 9 mm para suas armas preferidas, a Uzi Pro se tornará uma submetralhadora a ser usada pelas forças especiais e paramilitares de polícia.

A Uzi Pro possui 4 raios picatinny integrais para acessórios e 3 mecanismos de segurança. A Uzi Pro pode ser operada com silenciador. A culatra da Uzi Pro é feita de polímero, a fim de reduzir seu peso. A arma é considerada confortável de usar por pessoas destras e canhotas.

A culminação na mudança da linha de produtos da IWI nos últimos anos veio com o lançamento da Uzi Pro. Amit observou que a IWI desenvolveu novos modelos de todas as suas armas, incluindo o fuzil de assalto Tavor. O Micro Tavor se tornou a principal arma das unidades de infantaria de israel.  A família de fuzis de assalto, a família de metralhadoras Negev, a família Galil e a família de pistolas Jericho também ganharam novos “filhos”.

Ao revelar as características do FGFA, índia poderia ter revelado também algumas características do PAK-FA

Enquanto a Rússia segue mantendo em segredo as características de seu caça de quinta geração, a empresa aeronáutica indiana Hindustan Aeronautics (HAL) publicou em seu site alguns dados sobre o seu avião de combate que é desenvolve em conjunto com a empresa Sukhoi a partir do caça PAK-FA.

Tirando o fato que alguns parâmetros principais do futuro cala indiano seguem mantidos em segredo, o FGFA indiano (avião de combate de quinta geração, segundo sua sigla em inglês) que é desenvolvido em cooperação Birô de Projeto russo Sukhoi, o PAK-FA será um avião de combate capaz de atuar inclusive em áreas de “pouco apoio comunicativo” em coordenação com outros FGFA/HAL, todos os caças estarão unidos a mesma rede de informação para trocarem informações em tempo real.

Entre as prestações avançadas do FGFA/HAL destacam-se:

Uma baixa seção transversal de radar, quer dizer, o uso da tecnologia “stealth”;
Capacidade de transportar uma carga útil (armas) não só no exterior, mas também em compartimentos internos;
Velocidade de cruzeiro e manobra supersônica (no entanto não é especificado que tipo de manobra se trata);
Intercâmbio de dados em tempo real e capacidade para levar a cabo operações militares centralizadas por rede

A Hindustan Aeronautics não especificou o termo “velocidade de manobra”, já que o conceito de “manobra” abrange tantos acrobacias aéreas, durante as que o piloto experimenta tremendas sobrecargas, como uma simples mudança de rumo ou altura.

Outras características que foram reveladas são as seguntes:

Comprimento: 22,6 metros
Largura: 5.9 metros
Peso máximo de decolagem: 34 toneladas
Autonomia de voo: 3880 km
Velocidade: 2 Mach (2.300 km/h)
Carga máxima de armas: 2,25 toneladas em compartimentos internos e 5,75 toneladas no exterior da aeronave
Empuxo vetorial: Desvio máximo de bicos ± 15 º


Se indica que cada um dos reatores de sua planta propulsora tenham um empuxo de 1400 kgf (Quilograma-força), mas é muito provável que aqui “comeram” um zero, já que o empuxo máximo do motor turbofan (turbo-reator  de duplo fluxo) AL-41F1S, da empresa russa Saturn – fabricante dos motores do Su-35BM – é de 8.800 kgf (14.500 kgf em pós-combustão). Não é de surpreender, uma vez que a Saturn já indicou que a potência dos motores do FGFA e PAK-FA seria aumentada até 15.500 kgf em pós-combustão por exigência da Força Aérea Indiana.

Ademais, há de ter em conta que o desenvolvimento do FGFA se encontra em fase de desenho, e por essa razão várias características indicadas pela HAL poderiam sofrer modificações, enquanto que as características do PAK-FA não foram reveladas.

No início de outubro de 2011, o comandante da Força Aérea Indiana anunciou que seu país colocaria em serviço operacional 214 caças FGFA, os quais iriam se somar a frota de 272 caças Sukhoi Su-30MKI. Segundo o comandante, 166 desses FGFA serão monoposto e os 48 caças restantes seriam biposto.

A principal contribuição indiana no projeto será o computador de bordo, sistema de navegação, o HUD (Heads-Up Display ou painel de vidro na frente do cockpit onde aparecem os dados de vôo e da área de operações), e o sistema de auto-defesa.

Em agosto de 201, o presidente da JSC United Aircraft Corporation, Mikhail Pogosian, anunciou que o mercado necessita deste tipo de aeronave, que 600 caças serão encomendas, dos quais 200 serão para a Força Aérea Russa (em sua versão PAK-FA). A mesma quantidade, mas do FGFA, será comprado pela Índia, enquanto os FGFA restantes, 200, estarão à venda.

Segundo dados não confirmados, este "irmão" da T-50 PAK-FA russo participa da concorrência anunciada pela Força Aérea da Coréia do Sul, competindo com o F-15 Silent Eagle, F-35 Lightning II e Typhoon Eurofighter.

Ministério da Defesa da Rússia prefere se resguardar e deixa “teste final” com o Bulava para 2012

A decisão de aditar para 2012 um importante teste do míssil balístico intercontinental Bulava tem como finalidade “obedecer” várias rações, entre elas, o desejo de se resguardar de um eventual fracasso às vésperas das campanhas parlamentares de 4 de dezembro, escreve hoje o jornal russo “Moskovskie Novosti”.

O Ministério da Defesa da Rússia tinha idealizado o quarto e último lançamento de testes do Bulava para 28 de novembro deste ano, mas de última hora anunciou que o testes seria adiado para o ano que vem. Segundo algumas fontes militares, o testes acontecerá em junho de 2012.

Representantes da indústria militar atribuíram o adiamento do testes às condições meteorológicas desfavoráveis no Mar Branco, mas uma fone da base naval de Severodvinsk declarou o jornal citado que “o tempo é normal para atual data”.

Informações extraoficiais diziam que o Bulava iria engrossar o arsenal estratégico russo no final desse ano, caso o último testes fosse um sucesso.

“A cúpula da Defesa decidiu por algum motivo adiar esse lançamento histórico”, disse uma fonte do setor militar.

Lev Solomonov, subchefe de Desenho do Instituto de Termotécnica de Moscou (MIT) e irmão de Yuri Solomonov, criador do Bulava, afirmou que os engenheiros não tem nada a ver com o adiamento. “Esta decisão foi tomada pelos militares, então expliquem eles os motivos”, disse Lev Solomonov ao jornal Moskovskie Novosti.

O general Vladimir Dvorkin, colaborador do Instituto de economia mundial e relações internacionais, não descartou que as condições meteorológicas sejam a verdadeira causa do adiamento, mas também mencionou outro fator, a necessidade de “retocar alguns sistemas, não no míssil, mas sim no submarino”.

Alexandr Konovalov, chefe do Instituto de estudos estratégicos, considera que as causas do adiamento são tanto de índole técnica como estratégica. Os engenheiros, na visão de Konovalov, pretendem dar alguns retoques para excluir toda a probabilidade de fracasso. Ao mesmo tempo, não é necessário que os máximos dirigentes definam o futuro das forças nucleares estratégicas da Rússia.

“Temos um bom míssil naval, o Sineva, cujas as características impendem instalá-lo nos submarinos do Projeto 955, e outro novo, o Bulava, míssil esse que só podem, no momento, serem instalados nos submarinos dessa classe”, disse Konovalov.

Até o momento foram efetuados 17 lançamentos do Bulava, dos quais, 10 foram exitosos. O mais recente lançamento de Bulava aconteceu na data de 28 de outubro deste ano.

O míssil intercontinental R-30 3M30 Bulava-30 (RSM-56 na classificação OTAN), é um foguete de três fases instalados em submarinos e de propelente sólido (nas primeiras etapas) e líquido (na terceira etapa). É lançado de um tubo na vertical.

O míssil tem alcance de 8.000 km e pode portar de 6 a 10 cabeças de guerra nucleares, hipersônica independentes, de 100 a 150 kilotons. Cada ogiva é capaz de modificar sua trajetória de vôo.

Aeronáutica divulga nota contestando reportagem ‘A Farra da FAB’, da ISTOÉ


29 de novembro de 2011, em Nota Oficial, por Fernando "Nunão" De Martini
Nota Oficial – Esclarecimento sobre reportagem da Revista ISTOÉ (Ed.2194)

O Comando da Aeronáutica contesta o teor da reportagem “A Farra da FAB” da revista ISTOÉ, em sua última edição de número 2194, sobre supostas irregularidades na folha de pagamento do Comando da Aeronáutica. Dessa forma, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) presta os seguintes esclarecimentos:

O Comando da Aeronáutica, ao longo do ano de 2011, vem atualizando as informações administrativas constantes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) decorrentes do desligamento de militares da Aeronáutica. Essa atualização se dá através do envio de informações retificadoras ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O principal item em atualização é a inclusão da data de desligamento de ex-soldados.

Por meio das informações da RAIS, o MTE poderá atualizar ou inserir a data de desligamento, bem como qualquer outro dado relativo aos ex-soldados no Cadastro Nacional de Informações e Serviços (CNIS). É importante salientar que esse cadastro não proporciona qualquer efeito na elaboração da folha de pagamento da Aeronáutica.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), por sua vez, destina-se a fornecer informações utilizadas pelo programa de seguro-desemprego, condição não aplicável aos militares.
O ato administrativo que implica o imediato cancelamento do pagamento de remuneração (salário) de um militar da Aeronáutica é a publicação do seu desligamento do serviço ativo em boletim interno de sua organização militar, fato que a própria reportagem afirma ter ocorrido.

No momento em que a reportagem acusa a Aeronáutica de desviar até R$ 3 bilhões a partir de apurações incompletas, em particular a ausência de informações contidas na RAIS, comete equívocos, mistura conceitos, apresenta deduções descontextualizadas e confunde o leitor, promovendo uma “farra de suposições”.

Outro erro da reportagem foi confundir o conceito de “inativo” extraído do Sistema de Informações Gerenciais de Pessoal (SIGPES)*, com o de “aposentado”. Inativo, no SIGPES, significa que o indivíduo não está exercendo atividade funcional na instituição, podendo estar nessa condição de forma remunerada ou não.

O ex-soldado Paulo André Schinaider da Silva, citado na matéria, teve seu licenciamento (exclusão do serviço ativo) da Aeronáutica publicado em março de 2004. Desde então não faz jus e não recebe nenhum tipo de remuneração. Tal fato também impossibilita que outro cidadão possa receber salário em seu lugar.
Cabe destacar que o Comando da Aeronáutica tem mantido informados o Ministério da Defesa e o Ministério Público Federal a respeito das acusações apresentadas por ex-soldados da Aeronáutica.

Brasília, 28 de novembro de 2011.
Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno
Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

Relações exteriores: análise e previsão


Otávio Frias Filho escreveu, recentemente, um ensaio sobre o decorrer da política diplomática do Brasil desde o Império de D. Pedro II até os dias de hoje, prevendo o horizonte geopolítico em 2050. O objetivo básico de nossa política diplomática foi preservar a integridade territorial imensa e mal ocupada no Império. Apesar de pacifistas, fomos à guerra três vezes pela disputa do Uruguai antes que Estado tampão entre Brasil e Argentina.

Proclamada a República, em 1889, o Barão do Rio Branco, ouvido Ruy Barbosa, fixou a estratégia perante os Estados Unidos, não muito diferente da mantida até então com a Grã-Bretanha, pelas elites do Império. Estabelecia um relacionamento estreito com a potência norte-americana. Ante o fascismo e o comunismo na 2ª Grande Guerra, o presidente Getúlio Vargas teve inicialmente uma relação ambígua com Washington, equidistante dos Estados Unidos e da União Soviética. O embaixador Sérgio Corrêa da Costa, que serviu na Argentina, revelou documentos preciosos do governo de Juan Perón, que se manteve comprometido com o fascismo até a véspera do armistício de 1945.

O plano de Perón era reconstruir o Vice- Reinado da Prata, ampliado com parte do Brasil, se os alemães vencessem a guerra. Por isso Getúlio simulou neutralidade até que nossos navios costeiros foram torpedeados por submarinos alemães e um italiano. Negociou com Roosevelt a utilização das bases aéreas de Belém e Natal para que suas tropas pudessem sobrevoar o Atlântico Sul, rumo a Dacar. Em troca, garantiu financiamento para a construção da siderúrgica de Volta Redonda.

Para demonstrar falso afastamento da política de aliança automática, fez aprovar a lei que criou a Petrobras, com o cuidado de enviar ao Congresso um projeto de lei que não adotava o monopólio da pesquisa, refino e exploração de petróleo, satisfazendo a apreensão das companhias internacionais que dominavam o mercado mundial do petróleo. Instruiu, em silêncio, seu líder na Câmara a votar a favor da emenda da oposição pelo monopólio da empresa estatal.

O advento da Guerra Fria separou o mundo ideologicamente em dois hemisférios. De um lado, a União Soviética; do outro, os Estados Unidos, em aliança com as democracias.

pós o golpe preventivo de março de 1964, o governo Castello Branco voltou ao alinhamento automático com a política externa americana. No governo Ernesto Geisel, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha foi severamente combatido pelo presidente Carter. No dia imediato à sua posse, mandou oficialmente seu vice-presidente à Alemanha pressionar o primeiro-ministro social-democrata alemão para tentar denunciar unilateralmente o acordo, sem lograr êxito. Com o mesmo fim, determinou ao Departamento de Estado enviar ao Brasil o diplomata Warren Christopher. Não foi recebido. Igual desavença já ocorrera com a decisão do presidente Médici de decretar as 200 milhas de soberania marítima ao longo do litoral. Alta patente militar americana veio ao Brasil com a missão de pleitear junto ao presidente Médici a anulação do decreto. Não obteve acolhimento. Vários anos depois, o decreto foi modificado, mas o domínio econômico das 200 milhas foi mantido. Devido a isso, a Petrobras pesquisa off shores soberanamente.

Décadas se passaram desde então. O conflito ideológico da Guerra Fria desvaneceu-se com o colapso da URSS. Novas formas de antagonismo surgiram nas tensões do Leste-Oeste. O Brasil, a partir de 1985,consolidou autêntica democracia, venceu a inflação, equilibrou suas contas internas e eliminou o deficit da dívida externa. Venceu o vaticínio pessimista de Malthus, segundo quem o desencontro entre o aumento da população e a produção de alimentos será fatal. Frias contesta, afirmando que teremos em 2050, no que tange ao Brasil, uma população altamente miscigenada, de imigrantes africanos e latino-americanos, estabilizando-a perto de 250 milhões. No plano econômico, consolidou a oitava posição no ranking das economias do mundo e, segundo a previsão de Frias Filho, chegará a quarta ou quinta economia do mundo e a um PIB de US$ 12 trilhões. Alcançará o nível de potência tropical pacífica e sem armas nucleares, mas provida de recursos militares capazes de dissuadir potências superiores, se cobiçosas.

A China e os Estados Unidos disputarão a primazia econômica nos próximos anos. Correto será uma política de equidistância de ambos, pois são parceiros importantes de importação e exportação. No que tange ao desenvolvimento cultural, o Brasil do futuro imediato deverá voltar-se para incrementar o soft power, a cultura e a tecnologia essenciais a qualquer poder nacional na era digital de 2050.

As relações do Brasil com os Estados Unidos deixam uma lição para 2050. Desde as diretrizes do começo da República, nossa política externa com os Estados Unidos variou de alinhamento automático aos confrontos cordiais sem quebra da soberania. Pela primeira vez, o confronto chegou à beira da hostilidade diplomática, nos oito anos de governo petista de Lula, buscando conquistar, em oposição aos Estados Unidos, um lugar vitalício no Conselho de Segurança da ONU. Politicamente, prever o Brasil em 2050, só seria possível fazer se ouvido o Oráculo de Delfos, da Grécia antiga, que fazia profecias consultando a ondulação das águas e o sussurro das folhas das árvores.

Tripoli, capital da Líbia, se transforma para melhor e para pior

Na foto acima, rebeldes líbios entram em combates com tropas leais ao ditador Kadhafi em Abu Salim, um distrito de Trípoli 

Trípoli não é mais a capital de um Estado policial. Mas o que ela se tornou, em apenas questão de semanas, pode ser tanto empolgante quanto perturbador.

Vendedores de haxixe estão mascateando abertamente seus produtos no centro da cidade, na Praça dos Mártires, conhecida como Praça Verde antes da derrubada de Muammar Gaddafi. Motoristas atravessam sinais vermelhos sem pestanejar, enquanto manifestações políticas congestionam o trânsito. Membros de milícias irregulares, que substituíram a odiada polícia de Trípoli em muitos bairros, ainda demonstram pouca disciplina com suas armas, as disparando acidentalmente ou para o ar com frequência excessiva.

Trípoli é uma cidade vibrante de quase 2 milhões de habitantes com um porto movimentado, e conta com ruínas romanas e antigas muralhas de fortificação construídas pelos otomanos e outros conquistadores. Mas apesar de ter passado por mudanças abruptas ao longo dos séculos, o que está acontecendo atualmente era impensável há apenas poucas semanas, quando Gaddafi tentava controlar até mesmo os menores detalhes da vida cotidiana.

Vidros escuros eram proibidos nos carros; agora, motoristas por toda parte estão aplicando a película verde escura em seus vidros para proteção contra o sol forte e também como um sinal de sua nova liberdade. Vendedores de hortifrutis eram impedidos de vender seus produtos na maioria das ruas; agora, um grande número deles vende bananas e laranjas sob viadutos e nas calçadas das rotatórias, os ajudando a alimentar suas famílias, mas também piorando os congestionamentos.

O inglês era em grande parte proibido por Gaddafi nas placas públicas. Agora, placas em inglês brotaram em quase toda parte pela cidade, apesar de poucos líbios entenderem o que dizem. As placas são outra expressão de liberdade, assim como a prontidão do país em se abrir para o mundo exterior.

“Hoje, Trípoli tem uma nova batida de coração”, diz um outdoor exibindo dois milicianos se abraçando, colocado pela prefeitura interina. Até mesmo grande parte das pichações revolucionárias, que estão por toda parte, é em inglês. “Líbia Livre” é a mais comum. Algumas até mesmo dizem “Obrigado, Otan” pela ajuda militar ocidental que foi crucial para a derrubada do velho governo.

E, é claro, há várias descrições recém rabiscadas do falecido ditador trajando roupa de palhaço, ou como uma cabeça caricatural no corpo de algum tipo ou outro de besta.

A maioria dos moradores de Trípoli diz que nunca esteve tão feliz, mas ainda há certa trepidação.

“As pessoas não entendem o que é liberdade”, disse Sara Abulher, uma estudante de Direito da Universidade de Trípoli, que recentemente mudou de nome para se livrar daquele que lhe foi dado pelo governo Gaddafi. “As pessoas pensam que liberdade significa fazer aquilo que bem quiserem, mas liberdade deve significar que todo mundo também respeite as necessidades do próximo. Liberdade não significa cruzar essa linha.”

Abulher disse que também ficou perturbada por muitas de suas colegas estudantes terem repentinamente descartado seus hijabs, o tradicional lenço de cabeça muçulmano.

Otman Abdelkhalig, um enfermeiro chefe do pronto-socorro do Hospital Central de Trípoli, disse: “É um novo país. As pessoas estão felizes porque podem finalmente falar livremente”.

Mas Abdelkhalig disse que também viu um lado desagradável em toda essa nova liberdade. Os motoristas de Trípoli sempre foram conhecidos por correr em excesso e por mudar de faixas de modo imprudente, mas a direção perigosa atingiu novas alturas, ele disse.

Pelo menos 15 vítimas de acidentes de carro chegam diariamente com braços fraturados, ferimentos na cabeça ou costelas quebradas, três vezes o número normal, disse Abdelkhalig, um imigrante sudanês que vive aqui há 32 anos. E todo dia, ele disse, duas pessoas dão entrada no pronto-socorro com ferimentos de bala. O novo governo interino está apenas começando a formar um exército nacional e a organizar suas forças policiais locais e a nacional. Os policiais de Trípoli que lidam com o trânsito e infrações comuns antes chegavam a cerca de 4 mil, mas muitos deles simplesmente abandonaram seus empregos e o antigo comando foi demitido.

Suborno antes era a principal forma dos policiais de trânsito ganharem dinheiro, mas os velhos hábitos parecem estar mudando, ao menos por ora.

“Ainda não é hora de multar”, disse o sargento Mobruk Ali, que estava sentado em sua viatura em uma rotatória próxima do porto, observando os carros passarem em velocidade. “Primeiro temos que tirar as armas dos rebeldes e depois começaremos a trabalhar.”

Ali disse que foi demitido da força policial há 20 anos porque faltava no trabalho com muita frequência, para lidar com problemas familiares. Mas ele voltou à força logo depois de Trípoli ter sido libertada. Ele diz que agora será respeitável ser um policial e que a prefeitura interina prometeu aumentar os salários.

“Agora as pessoas sorriem quando nos veem”, ele disse.

Felizmente, a falta de trabalho policial normal não parece ter produzido uma onda de crimes além do aumento do vício. Algumas pessoas se queixam de mais roubos de carros, mas os moradores dizem que não sentem perigo ao caminhar pelas ruas e os comerciantes dizem que não temem serem roubados.

“Nós temos um ponto de vista religioso”, disse Sadek Kahil, proprietário de uma joalheria na velha cidade murada, que expõe abertamente braceletes e colares de prata e de ouro ornamentado, aparentemente sem segurança. “As pessoas que lutaram por seu país não passam simplesmente a roubar lojas”, ele acrescentou. “Nós temos problemas, mas tudo é possível agora que nos livramos daquele idiota autoritário.”

Mas outro tipo de negócio está prosperando no bairro de Gergarg, um dos mais pobres da cidade, onde gatos selvagens reviram o lixo nas ruas sujas e esburacadas. As pessoas estão vendendo abertamente haxixe e bokha, um destilado de figos caseiro, em sacos plásticos em frente de suas casas.

A venda de álcool e drogas é ilegal, mas durante os anos Gaddafi, os vendedores em Gergarg realizavam seus negócios em segredo. Agora os compradores param escancaradamente seus carros no bairro e os vendedores nem disfarçam suas atividades.

“A Líbia está 100% diferente”, disse um vendedor que se identificou apenas pelo seu primeiro nome, Ibrahim, enquanto exibia para um visitante os engradados de uísque escocês, vodca, vinho tinto tunisiano e barras finas de haxixe em sua garagem. “Tudo é bom. Nós somos livres.”

Milagrosa fuga de sargento, após 12 anos de sequestro


No centro, Luis Alberto Erazo


O sargento da polícia colombiana Luis Alberto Erazo salvou a própria vida por milagre. Em meio ao luto que vive a Colômbia depois da trágica notícia da morte com tiros de misericórdia de quatro membros das forças de segurança sequestrados há mais de uma década pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Erazo causou no último domingo (27) lágrimas de emoção por seu regresso à liberdade.

Nas mãos Farc há 12 anos, Erazo --que chegou ao meio-dia em Bogotá, enquanto os restos de seus companheiros chegaram às 22h10-- contou que, ao ver os guerrilheiros disparando, decidiu correr no meio da selva. Os guerrilheiros o perseguiram atirando e depois lançaram granadas, que lhe causaram ferimentos, mas isso não impediu sua fuga.

O único sobrevivente do massacre chegou à capital, embaixo de chuva e dos aplausos dos jornalistas que o esperavam. Vestido com uniforme da polícia e uma venda na fronte esquerda que cobria suas feridas, o policial subiu diretamente em uma ambulância, na pista do aeroporto militar de Catam, e foi levado para o Hospital Geral da Polícia para receber cuidados médicos e reencontrar seus familiares, entre eles suas duas filhas adolescentes.

O ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, narrou os fatos que ocorreram no sábado de madrugada nas profundezas da selva do departamento de Paquetá, no sul do país, onde foram encontrados, com tiros na cabeça e nas costas, os corpos do sargento do exército José Líbio Martínez, do coronel da polícia Édgar Yesid Duarte, do major da polícia Élkin Hernández Rivas e do superintendente da polícia Álvaro Moreno.

Martínez era o sequestrado mais antigo das Farc: 14 anos. Durante esse tempo foram poucas as informações que a guerrilha permitiu chegar a seus parentes, entre eles seu filho Johan Steven Martínez. O pequeno de 13 anos cresceu diante dos olhos de todo o país, menos os de seu pai, pois a cada aniversário era visto clamando por sua libertação.

Em meio a semelhante panorama, os primeiros minutos de liberdade do sargento Erazo Maya foram emocionantes. Exatamente quando as tropas faziam uma "tarefa de localização" do acampamento onde se acreditava estar os uniformizados, para posteriormente iniciar uma operação de resgate, foram avistadas pelos guerrilheiros.

No tiroteio, Erazo correu e se escondeu até sentir o silêncio profundo e depois o ruído estridente das serras elétricas dos soldados que derrubavam as árvores para abrir espaço para um heliporto improvisado, que permitisse aterrissar as naves para evacuar os cadáveres.

Ao vê-lo, as tropas gritaram de emoção. Ele os abraçou e a notícia chegou até sua humilde casa em Túquerrres, um município do departamento de Nariño, fronteiriço com o Equador. A informação foi transmitida a seus familiares pelo próprio presidente Juan Manuel Santos, que também qualificou o fuzilamento dos sequestrados como "um crime de lesa-humanidade".

Sua reação enérgica foi compartilhada por todos os partidos políticos. De fato, o recém-eleito prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, disse que "as Farc voltam a cometer um crime de guerra ao assassinar seus reféns". Por isso, disse o líder de esquerda, "o comandante da Frente deve ser processado como criminoso de guerra".

Reféns mortos

Além do sargento do exército José Libio Martínez, os outros mortos nas mãos da guerrilha são Édgar Yesid Duarte, coronel da polícia promovido ao grau de coronel estando no cativeiro. Foi sequestrado quando era capitão, em 14 de outubro de 1998, em Doncello, Caquetá. Era o segundo uniformizado que estava há mais tempo em poder da guerrilha. Era casado e tinha uma filha, a qual não viu crescer. Durante seu longo cativeiro, as Farc só enviaram duas provas de vida.

Elkin Hernández Rivas, major da polícia, foi sequestrado em 14 de outubro de 1998, quando tinha 22 anos e era tenente. Seu sequestro ocorreu em uma estrada que vai de La Montañita a Florencia (Caquetá). Caiu em uma emboscada das Farc que, ao descobrir que era policial, o levaram com Álvaro Moreno, intendente de polícia sequestrado em 9 de dezembro de 1999 em um ataque à estação de Curillo (Caquetá). Quando terminou o colégio, ele se matriculou na Polícia Rodoviária. Um dia, diante da necessidade de reforços na ordem pública, foi enviado no que se acreditava uma curta missão a Curillo, quando houve o assalto das Farc, que o levaram e agora assassinaram.

"Não nos intrometeremos na vida das pessoas", diz líder do partido vencedor no Marrocos

Abdelilah Benkiran

O secretário-geral do partido vencedor das eleições legislativas realizadas na sexta-feira passada no Marrocos, Abdelilah Benkiran, pode ser o novo primeiro-ministro. Do Benkiran que militou na Shabiba Islamiya, grupo terrorista que assassinou o estudante socialista Omar Benyelun em Uxda, em 1980, até o líder islamita validado nas urnas, foi um percurso tortuoso. Desde a fundação do PJD em 1998, admitiu a autoridade religiosa do rei e passou do conceito de Umma, a comunidade islâmica sem fronteiras, para querer definir os limites do território marroquino.

Muitas pessoas na Europa estão apreensivas, elas temem que o governo do PJD transforme o Marrocos em uma tirania fundamentalista.

O terreno da religião é uma das prerrogativas de sua majestade, de forma que não vamos poder fazer muito quanto a isso. Se a religião vai estar mais presente ou não, isso deve ser perguntado aos marroquinos. Cada um se comportará como melhor lhe parecer. Não estamos aqui para intervir na vida religiosa das pessoas. Isso é coisa de cada um. Nosso problema é cuidarmos da mulher que vai dar à luz e, por não ter dinheiro, é expulsa do hospital.

Quais são suas prioridades?
Há cinco áreas críticas: a educação, a justiça, a moradia, o emprego e a saúde. Se iniciarmos as reformas nesses âmbitos, o país funcionará.

Parece que David venceu Golias; vocês venceram o PAM, o partido do palácio.
Sou um político. Eu tinha diante de mim um partido que vinha do governo e que se opôs a mim. E eu me opus a ele. O que aconteceu é que a conjuntura não era favorável a ele, pelas primaveras árabes. Era um partido que queria copiar aqui o sistema de Ben Ali. Graças a Deus não conseguiu; não pelo PJD, mas por todos os marroquinos. O povo não o quer, só isso.

Por onde vai começar?
O PJD só terá uma luta: a da democracia e a da boa governança. Com as primaveras árabes e o 20 de fevereiro o PJD entendeu que o Marrocos precisa manter sua estabilidade, preservar sua monarquia e fazer reformas. Sempre foi o nosso discurso. Depois do 20-F nosso discurso ficou mais claro, mais forte. Penso que os marroquinos votaram maciçamente no PJD porque ele expôs essa necessidade de reformas e não quis sair às ruas porque isso teria provocado uma desestabilização do país. Por outro lado, tampouco disse que tudo estava bem e que não precisava mudar nada. Ele adotou a posição do meio termo.

O sr. mencionou também as prerrogativas do rei em questões religiosas. Ele também as tem no Exército e na soberania. Que margem sobra para os partidos?
Hoje, não é o PJD, mas sim o sistema que se encontra obrigado a ir no sentido das reformas e o PJD, junto com ele. Não contra a vontade da monarquia, mas sim junto com sua majestade. Não se pode governar contra a vontade do rei no Marrocos, e sim juntos, com sua majestade.

O sistema eleitoral os obriga a formar uma coalizão com outros partidos. Há algum que vocês rejeitem completamente? Considera uma aliança com a Qutla (USFP, Istiqlal e PPS)?
Por enquanto há somente um partido com o qual não falaremos; o PAM. É possível que nos aliemos à Qutla. Por ora o rei ainda não nomeou o chefe do governo. Quanto mais representada estiver a maioria, melhor. Talvez também entre o Movimento Popular, com o qual temos relações tradicionais. E também é possível o RNI.

Se fizerem esse tipo de coalizão, poderão ter como oposição seus irmãos do Justiça e Caridade.
O Justiça e Caridade é uma oposição particular, que discute a própria essência do Estado. Uma vez que aceite o jogo, que fale sobre as coisas de dentro e de fora, falaremos com eles. Mantemos com eles as melhores relações possíveis.

O Marrocos deixará de olhar para o Norte e para o Oeste para se orientar para o Oriente?
As alianças do Marrocos não são alianças do governo, são alianças de Estado, que obedecem a uma lógica filosófica. Desde a independência, o Marrocos é um aliado do Ocidente, dos Estados Unidos, da França. Nem o PJD, nem nenhum outro partido vai mudar isso. De qualquer forma, com quem vocês querem que nós nos aliemos? São questões estratégicas, e o PJD não pensa em mudá-las.

A luta contra o terrorismo foi especialmente dura no Marrocos e criticada por associações de defesa dos direitos humanos. Vocês continuarão nesse caminho?
Não quer que lutemos contra o terrorismo? Quer que deixemos que aterrorizem nosso povo? Nós defendemos a paz. O islã vem da paz. Agora só podemos comemorar por termos, para nós e nossos vizinhos, e para toda a humanidade, a maior segurança possível. É uma desgraça a forma que a violência adotou atualmente. Deveria ser proibida para toda a humanidade. Isso é outra coisa. Certamente sempre haverá excessos. Somos a favor de combater o terrorismo, mas dentro dos limites dos direitos humanos.

Como o sr. prevê as relações com a Espanha, com um novo governo do Partido Popular?
O Marrocos e a Espanha estão condenados a manter as melhores relações possíveis. Não há outra solução. Nosso problema com a Espanha não tem nada a ver com a Espanha em si. O problema é que na Espanha há muita gente que apoia a Frente Polisário. Espero que, com o que tem acontecido ultimamente, sobretudo a respeito da Líbia, eles tenham aberto os olhos. O Saara é marroquino. Isso eles sabem, porque quando vieram sabiam de quem era. A Argélia não era um país, e o Marrocos tinha sua história. Agora espero que as condições sejam melhores para que a Espanha ajude os dois países envolvidos. Se amanhã a Argélia se retirar dessa questão, estará resolvido em cinco minutos. Cinco minutos. Espero que a Espanha ajude o Marrocos e a Argélia a solucionar o problema.

As declarações dadas por Mariano Rajoy a partir da oposição, até hoje, não iam nessa linha...
Anteriormente, Rajoy deu declarações que não eram favoráveis ao Marrocos, mas agora ele tem uma responsabilidade diferente.