Nem trivialização nem "sanções" que só complicariam a situação: essa frase de um diplomata resume o programa da reunião extraordinária dos ministros das Relações Exteriores europeus sobre a crise egípcia, que será realizada na quarta-feira (21) em Bruxelas. Ela resume também o dilema dos europeus, que não podem ficar sem reagir após o massacre do dia 14 de agosto e as ocorrências de violência que se seguiram, mas não querem agravar a situação nem empurrar o Cairo para os braços de atores menos recomendáveis como a Arábia Saudita, disposta a financiar em grande parte o atual governo egípcio que entrou em uma repressão impiedosa contra a Irmandade Muçulmana.
De acordo com fontes diversas, os 28 embaixadores encarregados, na segunda-feira (19), de preparar essa discussão e propor medidas concretas, mencionaram a suspensão dos auxílios financeiros, a interrupção da contribuição do Banco Europeu de Investimentos (2 bilhões de euros) a um plano de apoio decidido em novembro de 2012 e o congelamento da cooperação militar. Um embargo sobre as armas, sugerido pela Alemanha, poderia ser feito, mas consistiria essencialmente em coordenar medidas nacionais. O efeito seria simbólico, mas secundário: a Europa fornece ao Egito uma ajuda militar anual de 140 milhões de euros, enquanto os Estados Unidos, que se contentaram em cancelar manobras militares conjuntas (Bright Star), contribui com US$ 1,3 bilhão (mais de R$ 3 bilhões).
Evitar falar em "sanções"
A essa altura, os 28 Estados-membros da UE querem evitar falar em "sanções", preferindo o termo "medidas apropriadas". "Devemos permanecer construtivos, aplicar nossos princípios de condicionalidade e de 'more for more', ou seja, mais dinheiro para mais reformas, mas devemos sobretudo continuar sendo interlocutores importantes, capazes de encorajar uma solução", explica ao "Le Monde" Bernardino León, representante especial da União Europeia (UE) para o sul do Mediterrâneo. Esse ex-secretário de Estado espanhol tentou em vão, no início de agosto, facilitar uma solução de acordo para evitar a violência entre pró e anti-Mursi.
Na segunda-feira, ele apresentou um relatório perante os 28 embaixadores. E ele ainda acredita ser possível encorajar um diálogo entre os dois lados. "Evidentemente, o abismo se aprofundou e o povo tem exercido uma considerável pressão, mas o governo diz que quer investigar as ocorrências de violência e o uso da força. Também se fala na retirada de certas acusações e na libertação gradual da Irmandade Muçulmana. De qualquer forma, se alguém pensa que a repressão pode levar à estabilidade e trazer investidores e turistas, está cometendo um grave erro", afirma León.
Os 28 Estados-membros parecem querer seguir suas recomendações: "Devemos ser prudentes," afirma uma fonte diplomática de alto escalão. "Tudo bem para medidas ligadas à segurança ou à ordem pública, mas cuidado para não decidir nada que afete mais a população. Não vamos tentar insistir, sendo que o povo já está rejeitando qualquer ingerência estrangeira. Isso aniquilaria nosso papel de facilitador."
O Egito, na verdade, está passando por uma onda de nacionalismo extremo, difundido pelas mídias do Estado e próximas do governo e que comparam qualquer crítica às forças de ordem a uma ingerência externa. Os jornalistas estrangeiros, muitos dos quais passaram por breves detenções ou ameaças, bem como diplomatas ocidentais, são seus principais alvos.
Abordagem prudente, até minimalista
A abordagem no mínimo prudente ou até minimalista dos europeus tem o mérito de permitir a unanimidade e de abafar suas habituais divergências sobre a extensão e a eficácia das sanções. "O gradualismo é um princípio fundamental das relações internacionais", ressalta León. Por outro lado, as ajudas prometidas ao governo do Cairo estão, de fato, bloqueadas há meses em razão dos problemas políticos e da suspensão das reformas prometidas aos credores internacionais.
A curto prazo, os 28 Estados-membros da UE estão contando com uma esperança resumida por León: "Talvez uma minoria de conservadores esteja ditando o jogo, mas, para mim, ainda há muita gente a favor de uma solução política dentro do governo". Mas o clima é mais de repressão: no domingo, 37 detentos islamitas morreram em circunstâncias obscuras, enquanto o governo tem considerado meios judiciais de proibir a confraria. "Uma má ideia", segundo Washington.
Washington pede o fim do estado de emergência
Os Estados Unidos, que pedem pelo fim do estado de emergência e pela libertação dos prisioneiros políticos islamitas, informaram na segunda-feira (19) que nenhuma decisão sobre uma possível suspensão de sua ajuda econômica ao Cairo havia sido tomada ainda. Washington foi pega em uma armadilha: sancionar o Egito equivaleria a desestabilizar o processo de paz entre Israel e Palestina, que acaba de ser relançado; não fazer nada seria uma terrível admissão de impotência.
O secretário da Defesa, Chuck Hagel, que conversou em 15 ocasiões com o homem forte do regime, o general Abdel Fattah al-Sissi, reconheceu isso na segunda-feira: "Nossa capacidade de influenciar nos acontecimentos é limitada". Ainda mais pelo fato de que o Egito pode contar com o infalível apoio da Arábia Saudita, que já prometeu US$ 5 bilhões ao Cairo em julho.
Ao voltar de Paris, onde encontrou François Hollande em um clima gélido, o ministro saudita das Relações Exteriores, Saoud al-Fayçal, respondeu de maneira ácida ao presidente francês e, de forma mais geral, aos europeus e aos americanos: "Aqueles que anunciaram a suspensão de sua ajuda (…) ou que ameaçam fazê-lo devem entender que a nação árabe e islâmica, com os recursos dos quais dispõe, não hesitará em levar sua ajuda ao Egito."
Já foi resolvido o problema quanto a ajuda para o Egito,virá de quatro países árabes, devido a hipocrisia americana e europeia eles muito provavelmente vão cortar ajuda ao Egito (o que o governo egípcio está fazendo é fichinha comparado a que EUA e UE fazem em guerras, mais hipocrisia faz parte do jogo mesmo), no entanto Arábia Saudita, Emirados árabes e Kuwait juntos irão dar 12 bilhões de dólares ao Egito como foi confirmado ontem pelo governo saudita, serão 5 bilhões de dólares dos sauditas, 4 bilhões dos Emirados e os outros 3 bi de dólares do Kuwait. O Catar confirmou que manterá o acordo de entrega de cinco remessas gratuitas de gás natural para o Egito que foi o acordo do ex emir do Catar com o ex Presidente do Egito, o atual Emir já confirmou que manterá o envio do gás gratuitamente. Em outras palavras misteriosamente os aliados incondicionais dos EUA e da UE no Golfo irão ajudar ao Egito com ajuda até bem maior do que o 1,3 bi dos EUA, estranha coincidência não? Hehehe.
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