quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Combatendo islamitas: Egito corre risco de radicalização ainda maior

Mohammed Badie parece cansado. Nas imagens trêmulas exibidas na noite de segunda-feira (19) pela emissora pró-exército "OnTV", ele está sentado trajando uma túnica branca, amarrotada, no assento traseiro de um carro. Ao lado dele está um homem jovem usando um colete à prova de balas. O narrador não mede esforços para comunicar a importância da notícia que está dando.

A prisão de Badie, o poderoso líder espiritual da Irmandade Muçulmana, por uma unidade das forças especiais egípcias na primeiras horas da manhã de terça-feira (20), é, segundo o narrador, "outro ataque contra o terror" que toma conta do país há meses. Um julgamento contra Badie e outros líderes da Irmandade Muçulmana por incitação à violência e assassinato ocorrerá o mais breve possível, ele acrescenta.

A captura de Badie é, sem dúvida, mais um sucesso na batalha do regime militar contra os islamitas da Irmandade Muçulmana. A polícia vinha procurando o homem de 70 anos há semanas, antes de finalmente encontrá-lo em uma casa no bairro de Nasr City, no Cairo, não distante de onde as autoridades mataram centenas de pessoas na semana passada, enquanto dispersavam um protesto sentado da Irmandade Muçulmana.

A violência das ações policiais da última quarta-feira (14) foi de tirar o fôlego, uma mensagem clara de que o regime militar do general Abdel-Fattah el-Sissi não está com humor para demonstrar leniência com os seguidores do presidente deposto Mohammed Mursi, cujo governo islamita foi derrubado pelos militares no início de julho. As muitas prisões realizadas desde então demonstram a determinação do governo e enfraqueceram enormemente a Irmandade Muçulmana. Nos últimos dias, a polícia e os militares têm detido qualquer pessoa que pareça islamita. Devido ao estado de emergência imposto por Sissi, eles podem ser mantidos detidos por tempo indeterminado sem causa --e sem serem indiciados.

Comparação com o nazismo
A onda de prisões deixou a Irmandade Muçulmana, já intimidada pelo massacre da última quarta-feira, ainda mais na defensiva. Naquele dia, ao menos 500 membros do grupo morreram, segundo autoridades do Cairo, com a Irmandade Muçulmana alegando que duas vezes mais pessoas foram mortas. Mais de 2.000 islamitas foram trancados nas notórias prisões do país. O governo de Sissi disse que pretendo tornar o grupo ilegal.

De lá para cá, o novo regime, juntamente com alguns dos antigos confidentes de Mubarak, tem promovido uma ofensiva impiedosa contra os islamitas. E frequentemente justificam a ação comparando a Irmandade Muçulmana à ascensão dos nazistas na Alemanha dos anos 30. Assim como Adolf Hitler chegou ao poder por eleições democráticas, eles dizem, Mursi também foi conduzido ao poder pelo voto, exibindo suas verdadeiras tendências ditatoriais apenas depois que tomou posse. O golpe, em outras palavras, era necessário para eliminar o mal. A Alemanha, prossegue o argumento, só foi libertada de Hitler por meio da força militar dos Aliados. Muitos consideram confusa a atual cautela de Berlim com o regime de Sissi.

Radicalização e terror
Os militares deixaram pouca dúvida de que falam a sério sobre erradicar os islamitas. Desde a remoção de Mursi, eles restabeleceram muitas das medidas em vigor durante os anos Mubarak, a mídia parece estar sob controle central e qualquer oposição ao seu governo é rotulada de terrorismo. Os paralelos se estendem até mesmo ao atual estado de emergência declarado pelo regime de Sissi. Como Mubarak, ele também prometeu que vigoraria por apenas um mês. Mas Mubarak o manteve em vigor por 30 anos.

A única opção da Irmandade Muçulmana parece ser retornar à clandestinidade. A proibição oficial provavelmente ocorrerá em breve, o que significa que ela não poderá disputar eleições, caso venham a ser realizadas.

Os observadores estão preocupados que a decisão de marginalizar a Irmandade Muçulmana possa radicalizar ainda mais alguns de seus seguidores mais ardorosos, abrindo a porta para violência excessiva e ataques terroristas. Isso marcaria outro passo na escalada do conflito egípcio.

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