sábado, 30 de março de 2013

FAB se despede do herói de guerra Major-Brigadeiro Meira


Com a mesma garra com que combateu na Segunda Guerra Mundial, o Major-Brigadeiro do Ar José Rebelo Meira de Vasconcelos travava há cinco dias uma intensa luta no Hospital Central da Aeronáutica. Na manhã deste sábado (30/3), às 8h25, a batalha cessou aos 90 anos. A Força Aérea Brasileira perdeu, assim, um de seus maiores ícones. Herói de guerra, militar dedicado, deixou um legado inestimável para a FAB, para a aviação de caça e para o Brasil. O velório do Major-Brigadeiro Meira será realizado nesta tarde, das 13 às 16 horas, no Terceiro Comando Aéreo Regional (III COMAR). O sepultamento está marcado para o Cemitério São João Batista, às 17 horas, no Rio de Janeiro.

A trajetória do Major- Brigadeiro Meira iniciou-se em 1943, quando se formou na Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Como Aspirante, seguiu para o Nordeste, mas logo em seguida foi convocado para servir no 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA).

O Grupo foi enviado para a 2ª Grande Guerra Mundial. No conflito, o Brigadeiro Meira tornou-se um herói. Cumpriu nada menos que 93 missões no front europeu, como piloto de caça da Esquadrilha Verde. Sua primeira missão ocorreu em 11 de novembro de 1944 e a última em 2 de maio de 1945, considerada a derradeira missão do Grupo de Caça nos céus da Itália. Em 18 de junho de 1945, o militar partiu de Pisa, na Itália, para os EUA a fim de efetuar o translado de novos aviões P-47 para o Brasil. Em sua carreira militar voou 6.000 horas entre as aviações de caça e de transporte.

Ao regressar ao Brasil, foi formar novos pilotos de caça no Grupo de Aviação de Caça, na Base Aérea de Santa Cruz. Por causa de sua grande experiência, foi convocado para transmitir a doutrina aplicada na Guerra aos oficiais, como instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica, em São Paulo. Comandou ainda a Escola de Bombardeio Médio.

Os vínculos e as amizades constituídas durante a Guerra tornaram-se perenes e renderam situações inusitadas. Durante o conflito mundial o então Tenente Meira era comandado pelo Major Nero Moura, que mais tarde assumiria o cargo de Ministro da Aeronáutica. Quando o Brigadeiro Meira, casado havia pouco tempo, chegou em Recife, foi convocado pelo Ministro Nero Moura de forma enfática: “Esteja em meu Gabinete, aqui no Rio de Janeiro, amanhã às 15 horas”. Ainda que tentasse argumentar, a confirmação do Ministro teve igual ênfase: “Esteja em meu Gabinete amanhã às 15 horas”. Foi designado então Oficial de Gabinete e Ajudante de Ordens do Ministro da Aeronáutica. Em um cenário distinto do vivido na campanha da Itália, os amigos voltavam a conviver.

Na sequência de sua carreira, o Brigadeiro Meira ocupou vários cargos de destaque. Foi Membro da Comissão Aeronáutica em Washington, EUA; Comandante e Oficial de Operações do 2º Grupo de Transporte; Chefe da Seção de Logística e de Operações do Comando de Transporte Aéreo; Instrutor da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica; Subchefe do Gabinete do Ministro da Aeronáutica; Chefe da Seção de Planejamento do Estado Maior da Aeronáutica; Membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra.

Reformado em outubro de 1966 no Posto de Major Brigadeiro do Ar, o incansável Brigadeiro Meira continuou desenvolvendo suas atividades na vida civil. Entre os cargos que ocupou estão o de Superintendente Administrativo da Sondotécnica Engenharia de Solos S.A; Diretor Administrativo da Sondoplan Planejamento, Pesquisa e Análise S.A; Superintendente de Coordenação Operacional da VASP; Presidente da Cia Brasil Central Linha Aérea Regional; Assessor de Operações, Diretor Administrativo e Vice Presidente Executivo da Brinks S.A.

De temperamento afável, o Brigadeiro-Meira deixa um legado de profissionalismo e será sempre lembrado pela serenidade. Serenidade como a que exibia no Birutinha, bar do Clube de Ultra-leves que fica no Clube de Aeronáutica da Barra da Tjuca. Ouvia atentamente as histórias de seus companheiros, mas quando na roda de amigos o assunto era o Grupo de Aviação de Caça, ali estava ele para contar com riqueza de detalhes as agruras, as dificuldades e as vitoriosas missões da FAB na Segunda Guerra Mundial. Relatos que só mesmo um herói de guerra poderia fazer.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Rússia desenvolve submarinos de pequenas dimensões para sua Armada

Acima os dois submarinos do Project 865 Piranha

A Malakhit Design Bureau, estaleiro com sede em São Petersburgo, trabalha no projeto de desenvolvimento de submarinos de pequenas dimensões, informou hoje (29) Igor Zakharov, vice-presidente da United Shipbuilding Corporation (OSK por sua sigla em russo).

Segundo Zakharov, os submarinos dessa classe terão uma grande procura nos mercados da região Ásia sul-oriental devido a sua capacidade de operar nos mares de pouco profundidade.

Por sua parte, o assessor da Malakhit Design Bureau, Alexander Terenov, manifestou que a Armada Russa deve incorporar submarinos de pequenas dimensões para que cumpram missões de diversas tipos no Mar Negro e Mar Báltico, incluindo a proteção de bases navais.

Terenov também recordou que na década de 1980, a URSS desenvolveu submarinos de pequenas dimensões, o maior exemplo foram os submarinos do Project 865 Piranha que a Armada teve em seus arsenais de 1991 até 1999. Na opinião de Terenov, esses submarinos são multifuncionais capazes de utilizar mísseis e torpedos com muita eficiência.

Foram construídos 2 submarinos do Project 865 Piranha, o MS-520 e o MS-521, que deslocavam 319 toneladas. Eles tinham 28,3 metros de cumprimento, 4,7 de largura e uma altura de 5,1 metros, desenvolviam uma velocidade máxima de até 7 nós e seu "mergulho" máximo era de 200 metros.

Rússia adia em um ano a incorporação do T-50

Acima um protótipo do PAK-FA T-50

Os protótipos do caça russo de 5ª geração, o Sukhoi T-50 (PAK-FA) seguem sendo submetidos a testes e sua incorporação deverá começar em 2016, declarou hoje o comandante da Força Aérea Russa, o general Viktor Nikolaevich Bondarev.

"O programa de criação dos T-50 avança a toda marcha. Os aviões seguem sendo submetidos a testes e deverão ser incorporados a partir de 2016", disse Bondarev em Langkawi, onde assiste a Exposição Internacional Aeroespacial e Marítima LIMA 2013.

Segundo foi informado anteriormente, a Força Aérea Russa deveria receber os primeiros caças T-50 em 2015 simultaneamente com o inicio de sua produção em série.

Bondarev recordou que atualmente 4 protótipos do T-50 estão sendo submetidos a testes e disse que todos os testes "deverão ser concluído em dois anos ou dois anos e meio".

Em meados de janeiro passado, um dos aviões de testes realizou seu primeiro voo de longo alcance a cobriu uma distância de 7.000 km.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Desenvolvimento do novo blindado russo será atrasado em 6 meses

T-90MS

O prazo de desenvolvimento da plataforma universal blindada pesada da Rússia, a qual servirá de base para o desenvolvimento do mais novo tanque de batalha da Federação Russa, será adiado em 6 meses por causa de problemas no sistema de mira.

Segundo o Izvestia, que cita uma fonte do complexo industrial-militar da Rússia, o novo blindado será apresentado na Russian Expo Arms 2013, que acontecerá de 25 a 28 de setembro de 2013 Nizhny Tagil, no Oblast de Sverdlovsk. Contudo, o sistema de mira e, consequentemente, todo o sistema de controle de incêndio do tanque não estarão prontos.

"Estamos planejando exibir o novo tanque com base na plataforma Armata em setembro, mas ele não estará pronto. Há sérios problemas com o sistema de controle de fogo e os fornecedores russos falharam na criação do sistema de mira. Agora estamos pensando em contratar a empresa bielorrussa PELENG, empresa que desenvolveu o sistema de controle de fogo para o T-90S. Estamos ativamente expondo para eles as sugestões para a Armada", disse à fonte ao jornal russo.

Até dezembro de 2012, as empresas da Bielorrússia não podiam participar de projetos militares da Rússia, mas o governo russo assinou um decreto e esse decreto diz que as empresas do país vizinho tem as mesmas condições que as empresas nacionais.

A empresa russa Schwabe, a qual estava a desenvolver o sistema de mira para o novo tanque de combate russo, disse que o fracasso no desenvolvimento do sistema para o Almaty era culpa dos fornecedores.

"Nós não temos nada a ver com isso, é tudo culpa dos nossos contratantes. Do nosso lado não há problema, disse um representante da Schwabe na condição de anonimato. No entanto, o mesmo se recusou a entrar em detalhes sobre o projeto.

Para um representante da Omsktransmash, empresa estatal russa que participa do desenvolvimento a plataforma Armata, face aos problemas com o sistema óptico do tanque, o mesmo seria exibido em posição estacionária na Russian Expo Arms 2013.

O tanque será apresentado para um número limitado de funcionários, principalmente altos representantes do Ministério da Defesa, disse um representante da UKBTM.

Rússia desmantelará o primeiro submarino nuclear soviético

K-3 "Leninsky Komsomol"

O primeiro submarino nuclear soviético, o K-3 "Leninsky Komsomol", será desmantelado até o final de 2013.

Segundo o jornal russo Izvestia, que cita uma fonte da indústria bélica russa, os trabalhos de desmantelamento do submarino serão realizados do estaleiro Nerpa, na região Murmansk.

A United Shipbuilding Corporation não tem orçamento para restaurar o submarino, que está totalmente oxidado e desativado desde a década de 1990. O reator nuclear do submarino já foi retirado e a empresa irá utilizar algumas das peças do submarino em novos projetos.

O K-3 "Leninsky Komsomol" foi o terceiro maior submarino nuclear do mundo. Construído em 1957, entrou para a Marinha Soviética em julho de 1958.

Devido a fato do submarino ter sido construído as pressas, bem como a utilização de novas tecnologias no mesmo, o submarino passou por muitos reparos ao longo do seu serviço. Por diversas vezes, houvera vazamento de material radioativo do K-3 "Leninsky Komsomol".

Em 1967, durante uma missão de combate no Mar da Noruega, dois compartimentos pegaram fogo, o que ocasionou à morte de 39 tripulantes. O submarino conseguiu retornar para sua própria base.

Em 1991, o K-3 "Leninsky Komsomol" foi retirado de serviço da Marinha Russa e entregue à Agência Federal de Gerenciamento de Propriedade. O submarino foi repassado para Rosatom, agência estatal de energia atômica.

Rússia entregará o porta-aviões "Vikramaditya" à Índia em novembro


A Rússia entregará o porta-aviões "Vikramaditya" (antigo porta-aviões russo Admiral Gorshkov) à Índia em 15 de novembro de 2013, declarou hoje o sub-diretor do estaleiro russo Sevamash, Serguei Novoselov.

Anteriormente, vários meios de imprensa comentaram que a entrega aconteceria em 2014.

"Em 15 de novembro, o porta-aviões deverá ser entregue oficialmente as Forças Navais da Índia para partir até sua pátria", disse Novoselov.

Novoselov também disse que os especialistas do Sevmash estudam uma rota curta para o Vikramaditya, que cruzará o Canal de Suez, ao invés de navegar pela África.

"Depois da entrega, a Rússia prestará serviços de manutenção durante um ano e por um período de 20 anos realizará o acompanhamento técnico do navio", concluiu Novoselov.

Patrulha de cossacos ressurge na Rússia


Em frente à sede municipal da Polícia, um padre com chapéu de veludo roxo e estola dourada ia de homem a homem oferecendo uma cruz para ser beijada e encharcando os rostos com água benta.

Assim começou mais uma noite de patrulha policial para os cossacos, os ferozes cavaleiros que outrora protegiam as fronteiras do Império Russo.

O presidente Vladimir Putin oferece uma clara direção para o seu país: o desenvolvimento de uma ideologia conservadora e nacionalista. Os cossacos emergiram como uma espécie de mascote, com crescente apoio.

Os cossacos são reverenciados aqui por sua bravura e por seu código de honra pré-moderno, mas seu legado está vinculado a batalhas e à violência de estilo justiceiro, incluindo campanhas contra turcos, judeus e muçulmanos.

Hoje em dia, as tempestuosas ações de homens fardados como cossacos fazem aparições em exposições de arte, museus e teatros de toda a Rússia, como porta-estandartes de uma igreja em renascimento. Mas aqui, no flanco sul da Rússia, líderes regionais estão lhes dando um papel cada vez maior no policiamento, em alguns casos lhes pedindo explicitamente para que contenham um afluxo de minorias étnicas, principalmente muçulmanos do Cáucaso, para territórios tradicionalmente dominados por eslavos ortodoxos.

"Vivemos cara a cara com eles e às vezes lutamos contra eles. Provavelmente os entendemos melhor do que um russo de Moscou", disse o capitão Vadim Stadnikov, chefe de segurança do Exército Cossaco Terek. "Eles respeitam a força aqui."

Episódios violentos mostram o potencial para problemas. Neste mês, um chefe cossaco foi morto a tiros tentando prender um bêbado que havia feito reféns. No seu funeral, cossacos vestindo casacos vermelhos e portando chicotes e sabres seguiam atrás de um cavalo sem cavaleiro, uma imagem que poderia datar do século 16.

Depois, uma autoridade defendeu que os patrulheiros cossacos sejam autorizados a portar pistolas traumáticas, armas não letais que são capazes de infligir ferimentos graves a curta distância.

Os historiadores ainda discutem sobre quem são os cossacos -descendentes de servos fugitivos ou guerreiros tártaros, um grupo étnico à parte ou uma casta de cavaleiros. Eles desempenharam um papel crucial na colonização do sul da Rússia para o império e depois desencadearam revoltas camponesas e operárias ao defenderem o czar.

Os bolcheviques deportaram dezenas de milhares deles, num processo que chamaram de "descossaquização", mas a imagem do cossaco, selvagem e livre, já era parte permanente do imaginário russo.

Cerca de 81% da população de Stravropol é etnicamente russa, mas essa parcela encolhe há décadas, segundo a consultoria International Crisis Group.

Isso preocupa alguns moradores de etnia russa. Gennadi Ganopenko, 42, disse ter crescido numa cidade tão homogênea que "o som de uma língua não russa era motivo de briga".

"Antes, aqui era o portal do Cáucaso", disse ele. "Abrimos o portal, e aí o portal saltou das dobradiças."

O renascimento cossaco busca desacelerar essa tendência.

No ano passado, Aleksandr Tkachev, governador da região de Krasnodar, a oeste, criticou seus vizinhos da região de Stavropol, dizendo que tantos muçulmanos haviam se instalado lá que os russos não se sentiam mais em casa. A região, afirmou, não servia mais à sua função tradicional de "filtro" étnico.

Ele anunciou a criação de uma força assalariada com mil patrulheiros cossacos que não teria as mesmas restrições legais da polícia. Ele explicou assim: "O que você não pode fazer, um cossaco pode."

O apoio oficial aos cossacos perturba alguns muçulmanos.

"Uma classe está se tornando de certa forma privilegiada", disse Zainudin Azizov. "Por que eles não apoiam todo o povo russo? Por que apoiam só essa pequena classe?"

Azizov representa famílias daguestanenses que predominam em aldeias do extremo leste da região de Stavropol. Embora alguns cossacos locais sejam velhos amigos, disse ele, outros "sentem que podem fazer o que quiserem".

Manifestações por democracia em Hong Kong irritam Pequim

Protesto em Hong Kong por democracia

Pairando sobre uma loja de medicina chinesa que vende pênis desidratados de cervos (para a virilidade) e fezes de morcego (para a visão), há um monólito de vidro escuro e aço cinzento, com 40 andares: o escritório do Partido Comunista Chinês em Hong Kong.

Para Wu Beihan, que vende os medicamentos tradicionais, os engravatados funcionários do prédio vizinho se tornaram uma inesperada fonte de renda extra nos últimos meses, arrematando remédios contra a ansiedade. "Eles têm corações preocupados e estão vindo aqui com mais frequência", afirmou.

A ansiedade é compreensível no Escritório Central de Ligação, subordinado ao Partido Comunista Chinês (PCC). As disputas entre facções em Pequim chegaram a Hong Kong com a remoção de um antigo diretor e de um subdiretor, além da transferência ou aposentadoria de outros assessores.

A turbulência no escritório de ligação coincide com -e possivelmente alimentou- crescentes atritos entre Hong Kong e a China continental. Dezenas de milhares de pessoas já saíram às ruas aqui em protesto contra o governo local apoiado por Pequim, houve brigas entre residentes locais e visitantes do resto da China e surgiram planos para uma grande campanha de desobediência civil.

O governo local reagiu com uma série de iniciativas para acalmar os moradores.

Isso incluiu uma pesada taxação sobre a compra de imóveis por quem não seja residente permanente, especialmente chineses continentais, a proibição de que chinesas grávidas visitem o território, já que elas vinham lotando as maternidades locais para garantir o direito de residência para sua prole, e o arquivamento de um plano para que as escolas instituíssem uma disciplina de educação patriótica para exaltar o PCC.

Mas os partidários do governo também têm organizado contrademonstrações ruidosas, embora pacíficas. Segundo a imprensa local, eles pagam até US$ 25 a cada manifestante.

Poucos preveem que Pequim reagirá às dificuldades políticas daqui concedendo mais democracia. O novo membro do Comitê Permanente do Politburo, que provavelmente supervisionará as políticas para Hong Kong nos próximos anos, é Zhang Dejiang, um radical que estudou na Coreia do Norte e pertence à chamada Facção de Xangai da política chinesa, comandada pelo ex-presidente Jiang Zemin.

Zhang e Yu Zhengsheng, outro membro do Comitê Permanente, fizeram incisivos alertas ao Congresso Nacional do Povo, no começo de março, de que os residentes de Hong Kong têm o dever de salvaguardar a segurança nacional -uma ameaça velada contra a adoção de conceitos ocidentais como a democracia. Wang Guangya, diretor do Departamento para Assuntos de Hong Kong e Macau, em Pequim, foi além, ao declarar que os inimigos da China veem Hong Kong como uma cabeça "para subverter o sistema socialista".

Willy Lam, especialista em política chinesa, disse que a nova cúpula chinesa se uniu em sua hostilidade contra um maior pluralismo político em Hong Kong. Eles também partilham de uma profunda desconfiança de que os ativistas pró-democracia estão sendo manipulados pelos Estados Unidos para criar problemas no quintal da China, num momento de tensões geopolíticas na região, quando a China assevera suas reivindicações territoriais nos mares do Sul e do Leste da China.

"Não há diferença no topo com relação ao Tibete, a Hong Kong e Taiwan. Não há liberais", disse Lam.

Desde que o Reino Unido devolveu Hong Kong à China, em 1997, a influência da China continental sobre a região foi dividida entre o Departamento para Assuntos de Hong Kong e Macau, que é uma secretaria do governo chinês com status ministerial, e o Escritório Central de Ligação, controlado pelo PCC.

O maior problema quanto a Hong Kong a longo prazo é que a maioria da população quer mais democracia do que Pequim toleraria. A China disse em 2010 que "pode" permitir eleições diretas para o Executivo local em 2017, em vez de restringi-la aos 1.200 membros do Comitê Eleitoral do território, dos quais quase três quartos seguem estritamente as instruções do governo chinês.

A questão é quem poderá concorrer. Uma pesquisa do grupo acadêmico Projeto Transição Hong Kong mostrou que a opção mais popular, apoiada por 81% dos entrevistados, é que haja uma eleição direta, aberta a todos os candidatos e com segundo turno entre os dois mais votados.

Mas o assessor de Pequim para Hong Kong disse que isso seria inaceitável para o PCC e que é necessária alguma triagem dos candidatos, de modo que críticos de Pequim possam fazer campanha, mas sem aparecerem na cédula final.

É provável que haja mais protestos, e a imponente vista a partir do arranha-céu do Escritório de Ligação parece não servir de consolo para seus ocupantes.

"Até os chefes do departamento vizinho vêm me ver, pois não estão se sentindo bem", disse o curandeiro Wu.

Retirada francesa faz crescer temor no Mali

Tropas francesas no Mali

Com a França planejando iniciar a retirada de suas tropas do Mali em abril, autoridades ocidentais e africanas temem que os soldados africanos que devem levar adiante a campanha contra militantes ligados à Al Qaeda no país não tenham treinamento e equipamentos adequados para a tarefa.

Os combates mais pesados, que expulsaram os militantes das cidades e vilas do nordeste do Mali, foram travados por forças francesas e chadianas, mais ou menos sozinhas. Essas forças estão fazendo patrulhas no norte do país, enquanto tropas enviadas por outros aliados regionais do Mali, incluindo a Nigéria e o Senegal, têm demorado a chegar e se concentrado na manutenção da paz, fato que provocou queixas do presidente do Chade, Idriss Déby Itno.

O resultado dos combates no Mali terá consequências importantes não apenas para a França, mas também para os Estados Unidos. Teme-se que a Al Qaeda no Magreb Islâmico e outros grupos militantes possam conservar um reduto duradouro nas montanhas remotas do deserto malinês.

Para ajudar as forças francesas, os EUA iniciaram em fevereiro voos de drones (aviões não tripulados) de vigilância sobre a região. A administração Obama gastou mais de US$ 550 milhões em quatro anos para ajudar a treinar e equipar Exércitos da África ocidental para combater militantes. Mas críticos dizem que os resultados são parcos.

Para o general francês François Lecointre, que comanda o esforço de treino do Exército malinês, converter esse Exército numa força coesa e eficaz exigiria "um trabalho imenso".

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve decidir em breve se autoriza o envio de uma força de manutenção da paz ao Mali.

"Há a possibilidade dessas tropas irem ao Mali", disse o tenente-coronel M. Dieye, do Senegal, comandante de um pelotão de soldados de forças especiais que participaram de um exercício recente liderado pelos EUA na Mauritânia. Seu país e outros que participaram do exercício, como o Chade, o Níger, Burkina Fasso e a Nigéria, enviaram tropas ao Mali. "Agora trabalhamos em conjunto com outras tropas africanas, como faremos se formos ao Mali."

A operação liderada pela França no Mali matou dezenas de militantes e destruiu muitos depósitos de armas. A França declarou que não retirará suas forças do país enquanto a ameaça dos militantes não diminuir.

Mesmo assim, alguns líderes ocidentais dizem que as tropas africanas no Mali vão enfrentar guerrilheiros com grande experiência nos combates no deserto.

"Nenhum treinamento ou exercício que seja feito nos próximos meses ou semanas será o bastante para preparar forças africanas para seu novo papel no Mali", opinou Benjamin P. Nickels, especialista em contraterrorismo no Centro de Estudos Estratégicos da África da Universidade Nacional de Defesa, em Washington. "Será preciso um engajamento permanente."

A França já adiou sua retirada em pelo menos um mês, em meio a combates acirrados contra um grande reduto militante. Participaram dessa batalha 1.200 soldados franceses que, ao lado de 800 do Chade, focaram seus esforços sobre uma zona de 24 quilômetros nas Adrar des Ifoghas, as montanhas rochosas e áridas próximas da fronteira malinesa com a Argélia.

Diplomatas consideram provável que a França conserve uma pequena força de contraterrorismo no Mali depois de retirar a maior parte de seus 4.000 soldados do país. A maior parte das tarefas de manutenção da paz será confiada a tropas africanas, com a probabilidade crescente de que elas operem sob mandato da ONU.

Alguns diplomatas estão sugerindo que as Nações Unidas aprovem uma força de resposta rápida, fortemente armada e de até 10 mil soldados, para afastar qualquer ameaça islamita ressurgente no Mali. O Chade, que tem 2.200 soldados no Mali, provavelmente seria responsável pela parte principal de qualquer missão de paz.

O Exército do Mali, que, no início do ano passado, derrubou o governo civil do país, "é extremamente mal equipado", segundo o general Lecointre, que a partir de 2 de abril vai liderar a missão da União Europeia para retreinar as tropas malinesas. "É o Exército de um país muito pobre."

No céu de Brasília, o último voo


O Tucano, avião da Esquadrilha da Fumaça brasileira, despede-se das apresentações acrobáticas no domingo, a partir das 16h. Foram quase 30 anos e 2,3 mil shows, por todos os estados e em pelo menos 20 países. Em seu lugar, a FAB adotará o mais moderno Super Tucano

Acima, pilotos da Esquadrilha da Fumaça realizam manobras com as aeronaves Embraer EMB-312 Tucano
Lá se vão quase 30 anos de encantamento com acrobacias nos céus. Tecnicamente, o nome é T-27, mas o Brasil o conhece como Tucano, o avião da Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira. Desde 1983, essas aeronaves têm sido a vitrine da habilidade dos pilotos da Aeronáutica e da qualidade dos projetos da Embraer no Brasil e no mundo. Mas, depois de 2,3 mil apresentações, os Tucanos vão se aposentar da Esquadrilha. O último voo acrobático acontece neste domingo. E Brasília foi a escolhida para testemunhar a apresentação de despedida desta peça de engenharia aérea que rompeu paradigmas, entrou para a história da aviação e para o Guinness Book.

O Tucano foi o primeiro avião brasileiro a equipar a Esquadrilha da Fumaça. Antes dele, os pilotos voavam a bordo de criações estrangeiras. Os aviadores da Aeronáutica competem para integrar um dos esquadrões de maior prestígio dentro da FAB. Escolhidos a dedo, esses militares conseguiram demonstrar, em todos os estados brasileiros e em pelo menos 20 países, a precisão da fabricação da máquina brasileira e também a sofisticação da formação dos pilotos.

O capitão André Fabiano da Silva tinha 30 anos quando ingressou no rol seleto, há cinco anos. Era um sonho antigo. Afinal, o paulistano decidiu entrar para as Forças Armadas por admirar as apresentações da Esquadrilha. Das memórias feitas dentro de um Tucano, uma das mais especiais foi a primeira vez que o capitão comandou a aeronave para uma exibição do esquadrão. O céu era o de Boa Vista, capital de Roraima. A data: domingo, 5 de julho de 2009.

Foram incontáveis shows desde então. "Com o Tucano, pudemos demonstrar a capacidade do brasileiro tanto na construção quanto no comando. Gerações de pilotos e mecânicos trabalharam com essa aeronave. São muitas histórias", conta. No ano passado, então, de tão requisitados, os aviadores bateram o recorde de apresentações: foram 130, em 12 meses.

No site da Esquadrilha da Fumaça, na seção Histórias, o ex-piloto Ruy Flemming resume bem o vínculo que se forma entre o piloto e essa aeronave. Para ele, o Tucano tornou-se uma lenda entre os aviões. "Ao longo do tempo, o EMB-312 Tucano foi sofrendo um processo de mitificação. Ele está entre aquelas iniciativas brasileiras que deram muito certo. Habilmente e graças às qualidades técnicas, foi colocado em algumas vitrines do mundo. É certo que, antes do Tucano, o Bandeirante abriu algumas portas e carimbou o passaporte para o exterior, mas ninguém jamais vai conseguir tirar dele a responsabilidade do salto espetacular que deu à própria Embraer", escreve Flemming.

O reconhecimento da qualidade do equipamento se deu no sucesso de vendas para outras nações. Segundo a FAB, hoje, pelo menos 10 países contam com a aeronave brasileira na frota das Forças Armadas. A França, por exemplo, tem 50 unidades.

No domingo, a vista para as manobras das sete aeronaves que compõem cada apresentação, entre as 12 disponíveis, será melhor do Pontão do Lago Sul. Às 16h, elas começarão o espetáculo de habilidade e fumaça para adornar, uma derradeira vez, os céus de Brasília. Provável é que a despedida não termine sem antes a execução da manobra chamada looping desfolhado, que, pela semelhança com o emblemático monumento de Brasília, ficou conhecida entre os pilotos como Catedral (veja arte).

Aposentados das acrobacias, os Tucanos serão utilizados para treinamento de novos aviadores, na base de operações do esquadrão, em Pirassununga (SP). Os substitutos são os A-29, também fabricados pela Embraer (veja Para saber mais). Eles são superiores em desempenho, velocidade e sofisticação da tecnologia de bordo. Têm o dobro da potência dos antecessores, voam mais alto e mais rápido, podendo chegar a 590km/h. Mas não deixam de ser parte do legado do T-27. Uma versão mais moderna. São os Super Tucanos.

Desempenho e baixo custo
O substituto do Tucano, o A-29, teve o projeto concluído em 1999, pela Embraer. Respondia à necessidade da Força Aérea Brasileira de uma aeronave de baixo custo operacional com desempenho capaz de interceptar aviões de pequeno porte que tentassem sobrevoar o espaço aéreo brasileiro sem autorização. O modelo com fins militares difere em equipamentos dos que serão utilizados pela Esquadrilha da Fumaça. Conta, por exemplo, com metralhadoras e sistemas de bordo comparáveis a modernos caças. As aeronaves foram usadas em operações de combate ao contrabando e ao narcotráfico na Amazônia, assim como na segurança de eventos de grande porte, como a Rio +20, a posse da presidente Dilma Rousseff e durante a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Elas integrarão o esquema de segurança da Copa das Confederações, este ano, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas, em 2016.

Indústria de defesa está otimista com possível desoneração da folha de pagamento


Empresas que contribuem ao INSS com 20% da folha de pagamento passarão a pagar de 1% a 2%

Após se reunir com o presidente da República em exercício Michel Temer, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança, Sami Youssef Hassuani, disse que o setor espera ser contemplado com a sanção da Medida Provisória (MP) 582, que prevê a desoneração da folha de pagamento para setores da indústria e de serviços como forma de estimular a economia. Com a desoneração, empresas que contribuem ao INSS com 20% da folha de pagamento passarão a pagar de 1% a 2% do faturamento.

“Vemos isso como algo muito importante para preservar empregos de alto nível e manter as Forças Armadas atendidas pela indústria nacional. Dessa forma, continuarmos competindo lá fora, porque o mercado existe e alguém vai conquistá-lo", afirma. “Os competidores internacionais vão ocupar mercado, então é preferível que a indústria ocupe e esteja a serviço do país, gerando empregos e riquezas aqui no Brasil”, defendeu.

A MP enviada ao Congresso previa a desoneração da folha de pagamento de 15 setores, mas deputados incluíram mais 33. O adendo que inseriu a indústria de materias de defesa foi feito pelos deputados federais Sandro Mabel (PMDB-GO) e Guilherme Campos (PSD-SP). O Ministério da Justiça recomendou à presidenta Dilma Rousseff que vete o texto parcialmente porque a inclusão da indústria de armas prejudicaria a política de desarmamento. O prazo para a publicação da sanção integral ou parcial vence dia 2 de abril.

Segundo o presidente da associação das empresas do setor, no entanto, existe confusão entre segurança pública e indústria de defesa. “Associam de maneira pejorativa, mas defesa é um centro de excelência tecnológica. Nos EUA ou França, os grandes desenvolvimentos tecnológicos são feitos no setor de defesa e isso se reflete para a sociedade como um todo”, disse ele.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Rússia equipará seus submarinos com armas de precisão de longo alcance

Acima o submarino nuclear de ataque K-329 Severodvinsk perto de sair para os testes de mar pela primeira vez 

A Rússia planeja equipar sua força de submarinos com armas de longo alcance de altíssima precisão, o que irá aumentar a sua capacidade de dissuasão estratégica, revelou hoje o ministério da Defesa da Rússia.

"Há planos para equipar as forças de submarinos com armas de precisão de longo alcance. Isso irá melhorar significativa a possibilidade de utilizar os submarinos como um elemento de dissuasão estratégica", disse Sergei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia, em uma reunião na sede do comando da força de submarinos da Frota do Pacífico.


O ministro da Defesa disse que as forças de submarinos da Frota do Pacífico "têm uma importância particular na garantir da estabilidade estratégica e para a segurança da Rúsisa no Extremo Oriente".


África do Sul se interessa por caças Su-30 e helicópteros russos

Acima um Su-30MKI da Força Aérea Indiana 

A África do Sul está interessada em comprar caças de combate multifuncionais russos Su-30 e helicópteros para várias finalidades, noticiou hoje o jornal econômico russo "Kommersant", citando uma fonte da delegação russa que chegou ao país africano para conversas sobre o tema.

O número de caças que a África do Sul tem interesse ainda é desconhecido, mas a Rússia já prepara uma proposta que já incluí o pós-venda.

A fonte disse ao jornal que no último dia 26 de março de 2013, a África do Sul poderia ter assinado um contrato para o fornecimento de 60 helicópteros utilitários, com a possibilidade de aumentar as encomendas para 100 unidades.

No berço do Taliban no Afeganistão, moradores locais dizem ''basta''

Talibãs capturados são apresentados à imprensa 

Um levante contra o Taliban que começou no mês passado nesta aldeia no sul do Afeganistão já se espalhou por dezenas de cidades, de acordo com moradores e autoridades afegãs e dos EUA, na mais importante reação popular contra os insurgentes islâmicos nos últimos anos.

Desde o início de fevereiro, quando os moradores se juntaram às forças policiais para começar a expulsar combatentes do Taliban desta região de vinhedos e pomares abundantes a sudoeste da cidade de Kandahar, centenas de moradores se juntaram para apoiar o governo. Cerca de 100 anciãos da aldeia prometeram, numa reunião pública na segunda-feira (18), manter o Taliban fora dali enquanto a temporada de novos combates se inicia, e as bandeiras afegãs estão tremulando nos telhados das aldeias, dizem moradores.

Levantes isolados contra o Taliban têm sido relatados em várias partes do Afeganistão durante os últimos 18 meses. Mas a revolta no distrito de Panjwai é considerada significativa porque é a primeira no sul do Afeganistão, bem no coração espiritual do movimento Taliban, onde a influência do grupo havia persistido apesar de várias operações por parte das forças dos EUA e da Otan.

Embora ninguém esteja dizendo que o Taliban esteja para sempre fora da luta mesmo neste distrito – os rebeldes prometeram um retorno vingativo e na semana passada mataram dois homens na área – o levante Panjwai deu um exemplo do que pode ser realizado quando o ressentimento local em relação à intimidação por parte de militantes é acompanhado por um apoio confiável do governo.

Foi uma boa notícia numa temporada muitas vezes pessimista, uma vez que o Taliban apareceu para fazer incursões em alguns outros lugares do país, onde as tropas dos EUA estão se retirando.

Em entrevistas, moradores e autoridades locais disseram que, embora a revolta tenha nascido da raiva contra a brutalidade do Taliban, ela tomou forma por causa do poder crescente das forças de segurança afegãs e de uma força policial particularmente ativa na região.

O novo chefe de polícia de Panjwai, Sultan Mohammad, é de Zangabad, o nome da área circundante, e sua nomeação em janeiro galvanizou o apoio local para o governo.

"Tem sido uma longa jornada. Mas, em suma, o povo disse um basta, e está farto do Taliban", disse o major-general Robert B. Abrams, comandante dos EUA no sul, numa coletiva de imprensa no Pentágono na semana passada. Ele disse que o Taliban havia sido expulso de todas exceto de quatro aldeias do distrito até aquele ponto.

As forças norte-americanas e afegãs têm travado uma campanha extenuante nos distritos de Kandahar desde o aumento das forças norte-americanas em 2010, quando milhares de soldados dos EUA foram enviados para o sul do Afeganistão.

Embora os talibãs tenham sido derrotados em áreas cruciais naquele ano, eles mantiveram seu poder na parte sul de Panjwai, nos agrupamentos de vilarejos de Zangabad e Sperwan, e encheram a área de dispositivos explosivos improvisados e emboscadas.

Embora o aumento de soldados ocidentais, e o aumento das forças de segurança afegãs que se seguiu, tenham trazido maior segurança para grande parte da província de Kandahar, em algumas áreas, também causaram um aumento das tensões com os habitantes locais e uma violência ainda maior em alguns bolsos.

De fato, uma das piores atrocidades da guerra ocorreu a apenas algumas centenas de metros desta aldeia, quando 16 civis afegãos foram mortos em suas casas no ano passado. Um soldado dos EUA, o sargento Robert Bales, foi acusado de matar os civis num ataque noturno, desencadeando a revolta da população local contra o governo e as forças norte-americanas na região.

No entanto, foi a insensibilidade do Taliban que fez com que a população se revoltasse, disseram autoridades afegãs e os moradores locais. Entre 300-400 civis foram mortos ou feridos por bombas ou emboscadas pelos talibans nos últimos seis meses em Panjwai, de acordo com o governador, Hajji Mohammad Fazel.

"As pessoas estão com raiva porque o Taliban estava colocando minas em seus pomares e vinhedos", disse ele numa entrevista em seu escritório. Um membro do Taliban colocava minas e depois era assassinado e ninguém sabia onde as minas estavam, disse ele. "As pessoas estão cansadas do Taliban e estão se juntando a nós."

A faísca aconteceu no início de fevereiro, quando o comandante talibã da área, o mulá Noor Mahmad, 35, chegou a prender homens na aldeia. Ele chamou na casa de Hajji Abdul Wudood e exigiu a entrega de dois filhos que ele acusou de serem espiões do governo.

"Eles queriam matar meus filhos", disse Wudood numa entrevista no mês passado em sua casa. "Eles queriam levá-los para o deserto, onde tinham um tribunal e uma base."

Wudood, um ex-mujahedin de 60 anos, que lutou contra os soviéticos na década de 80, já estava farto. Ele e seus oito filhos adultos decidiram tomar uma posição.

Vários moradores que perderam parentes para o Taliban se juntaram a eles. O vilarejo já estava começando a ferver: três dias antes, o comandante do Taliban havia espancado agricultores que estavam capinando próximo ao canal de irrigação da vila.

Wudood decidiu ajudar o chefe de polícia do distrito, Sultan Mohammad, um velho associado mujahedeen e parente de sua mulher. Juntos, eles traçaram um plano para emboscar o Taliban.

Em 6 de fevereiro, eles atacaram uma base do Taliban em um vilarejo próximo. Setenta moradores desarmados acompanharam a polícia, orientando o caminho pelos campos minados e agindo como vigias. Depois de uma curta troca de tiros, a polícia fez o Taliban recuar, matando três homens e perseguindo os restantes para o sul em direção ao deserto.

Unidades do exército e da polícia perseguiram o Taliban até sua base à margem do deserto nos dias subsequentes. À medida que a notícia se espalhou, dezenas de vilarejos mostraram seu apoio ao governo e ofereceram homens para as forças policiais afegãs locais protegerem suas aldeias.

Abrams disse que o apoio local e a expansão das forças do governo – ele ainda comanda 17 mil soldados na região, e as forças afegãs agora somam 52 mil homens entre diversas agências – coincidiram com um período de fraqueza para o Taliban no país, principalmente financeira.
"Eles não têm dinheiro, faltam armas e munições, e estão tendo dificuldades em reunir as suas forças", disse ele, por telefone, de seu escritório no campo aéreo de Kandahar na terça-feira.

O chefe da Direção Nacional de Segurança do Afeganistão, Asadullah Khalid, um inimigo ferrenho do Taliban, que ainda está se recuperando nos EUA de um ataque suicida contra ele em Cabul no ano passado, disse que vinha tentando nutrir revoltas populares como forma de vencer o Taliban.

"Uma coisa certa é que as pessoas estão cansadas do Taliban e eles não querem o Taliban", disse numa entrevista. "E quando as pessoas não querem o Taliban, o Taliban não pode entrar. Sinto que este é o começo do fim do Taliban, mas a questão é como podemos usar isso."

Líderes provinciais e locais em Kandahar expressam orgulho em relação ao sucesso da revolta até agora, mas eles alertam que, se o governo não continuar dando maior apoio à polícia, o Taliban pode minar tudo.

"Tudo depende do que o governo faz com essas pessoas", diz Haji Agha Lalai, membro do conselho provincial de Kandahar. "Se eles as apoiarem e equiparem, será uma revolução."

Líderes talibãs ficaram furiosos com a perda de Panjwai e começaram a planejar seu regresso ao distrito em reuniões na cidade paquistanesa de Quetta nesta semana, informaram policiais e funcionários de inteligência.

Um comandante do Taliban, que falou sob a condição de anonimato numa entrevista por telefone, reconheceu a perda de Panjwai, mas disse que o movimento está começando a infiltrar mais combatentes no sul do Afeganistão, juntamente com os trabalhadores que entram para a colheita de papoula.

No fim de semana passado, dois trabalhadores de uma firma de construção foram sequestrados e mortos em Panjwai. Seus corpos foram encontrados pendurados em diferentes aldeias perto do deserto, onde combatentes do Taliban ainda têm uma presença, disseram policiais.
Wudood disse que recebeu alertas de que o Taliban havia ordenado seu assassinato. Mesmo assim ele continua desafiante.

"Desta vez não sou só eu", disse ele. "Há milhares de nós em Zangabad e Sperwan. Eles não podem eliminar todos nós. Nós somos os verdadeiros donos desta terra e os homens que estão nos atacando estão vindo de fora, e nós não estamos com medo. Vamos defender nossa terra."

A oposição síria novamente em crise


Moaz Al-Khatib, que renunciou ao cargo de líder da Coalizão Nacional da Síria no último domingo (24)

A oposição síria perdeu seu líder dois dias antes da cúpula da Liga Árabe, onde deverá tomar a cadeira ocupada por Bashar Assad. Presidente havia quatro meses da CNS (Coalizão Nacional Síria) --o principal agrupamento de opositores em Damasco--, Moaz al-Khatib renunciou, no domingo (24), em sinal de protesto contra a inação das potências ocidentais e a ingerência de certos países.

Se for confirmada, a saída desse religioso moderado, muito estimado localmente, certamente irá fragilizar a oposição e complicar o trabalho de países como França e Reino Unido, que consideram a possibilidade de entregar armas aos rebeldes. A pedido do braço político da CNS, que rejeitou sua demissão, Al-Khatib poderá permanecer no cargo pelo menos até o final da cúpula árabe, em Doha.

No Facebook, o "xeque Moaz", ex-pregador da mesquita dos Omíadas, em Damasco, se manteve evasivo a respeito de suas motivações. Ainda que lamente a inação da comunidade internacional, apesar das "provações sofridas pelo povo sírio", ele também critica "a vontade que alguns têm de assumir o controle".

Controvérsia
Os observadores divergem quanto à interpretação a dar a essas frases. Para o analista Salam Kawakibi, diretor de pesquisa no Arab Reform Initiative, "Moaz tem a impressão de que a comunidade internacional, sobretudo os Estados Unidos, está indo na direção de uma solução seguindo o modelo de Dayton [o acordo de 1995 que deu um fim à guerra na Bósnia-Herzegovina ao fazer a divisão de seu território] ou de Taif [o tratado de 1989 que selou o fim da guerra civil no Líbano ao consagrar sua fragmentação entre as comunidades]. Só que, para ele, qualquer divisão do país é inaceitável".

Entre as correntes de esquerda da oposição, sua demissão é mais associada à controvérsia que cercou a designação de Ghassan Hitto como primeiro-ministro de um futuro governo rebelde, no dia 19 de março, em Istambul. O avanço desse ex-executivo de empresa oriundo do movimento islamita sírio estabelecido nos Estados Unidos foi denunciado por certos opositores ditos "liberais" como produto de pressões do Qatar, notoriamente simpático à Irmandade Muçulmana.

A ideia de que a CNS tenha um governo desagrada a vários de seus membros, que consideram essa iniciativa precipitada --na falta de garantias financeiras internacionais-- ou temem que ela feche o caminho para possíveis negociações com o governo sírio.

O próprio Moaz al-Khatib havia pedido pela abertura de um diálogo com representantes do regime, com a condição de que estes não tivessem sangue nas mãos. Será que ele se sentiu renegado pela vitória de Hitto, que, tão logo foi eleito, se disse contrário a qualquer negociação? Essa é a teoria de Haytham al-Manna, dirigente do Comitê de Coordenação pela Mudança Democrática, um partido rival da CNS que é a favor de uma solução negociada da crise: "A saída de Moaz é um tapa na cara para Hamad Ben Jassem al-Thani [o premiê do Qatar]".

A única certeza nesse caso um tanto obscuro é que Moaz al-Khatib, voltando atrás ou não em sua renúncia, deverá ganhar mais credibilidade, o que garantirá que ele permaneça no centro do jogo político sírio.

"Quero devolver a confiança aos tunisianos", diz premiê em entrevista


Nomeado chefe do governo tunisiano no dia 22 de fevereiro, Ali Larayedh, 58, substituiu Hamad Jebali após uma grave crise política exacerbada pelo assassinato do opositor de esquerda Shokri Belaid. Membro do mesmo partido que seu antecessor, o Ennahda, o ex-ministro do Interior foi encarregado de formar um novo governo no dia 8 de março, no qual o partido islamita abriu mão dos principais ministérios.

Le Monde: Qual a diferença entre o governo Jebali e o seu? O método é diferente?

Ali Lerayedh: A diferença é a transparência de objetivos e prioridades, a firmeza das políticas em uma conjuntura nacional onde houve muitos mal entendidos entre os partidos políticos tunisianos e uma situação securitária que nos causou preocupações. É uma mudança de tom. Queremos ser bem mais firmes e mais decididos que nunca. Não faremos nenhuma concessão quanto à segurança dos tunisianos.

Um Estado democrático é um Estado forte. Não há contradição em respeitar a lei e usar a força dentro dos limites da lei diante daqueles que se aproveitaram da fragilidade das instituições do Estado ou que pensaram que o Estado era fraco. De repente, passou a haver uma liberdade sem limites --o que é compreensível-- nos partidos, assim como entre a população, mas erros também. Saber que há muitos deveres e não somente direitos é algo que estão aprendendo também.

Nunca ameacei a liberdade individual e coletiva. O maior objetivo que atingimos até agora foi a liberdade, mas ainda é preciso que não seja ameaçado o direito das mulheres, dos artistas, da cultura. Quero devolver a confiança aos tunisianos, neles mesmos e no futuro deles, e isso depende da confiança na ação do governo, em sua sinceridade e sua franqueza. Queremos clareza, prazos mais visíveis. A Constituição deverá ser concluída até maio, no máximo junho, para preparar as eleições legislativas e presidenciais, em novembro.

Le Monde: Quais grandes decisões o senhor pretende tomar em um prazo tão curto sendo que a Assembleia estará ocupada com a Constituição?

Lerayedh: É verdade que temos muitas medidas e projetos de lei em suspensos no nível da Assembleia. Seu presidente [Mustapha Ben Jaafar] me disse que uma solução será "reservar" alguns dias para a discussão de projetos de lei que não podem mais esperar. Vou citar dois: o texto sobre a justiça transicional e as convenções de cooperação com diversos países que a Assembleia ainda não aprovou, como com a Turquia, que prevê um empréstimo de US$ 400 milhões [cerca de R$ 800 milhões], e que são indispensáveis para projetos de investimento, particularmente nos territórios mais pobres. Também há projetos para construir abrigos para os pobres, ajudar as famílias de mártires e as vítimas da revolução.

Mas, para isso, devemos remover os obstáculos fundiários, financeiros e até políticos. Todos os partidos estavam até então acostumados a serem opositores críticos. A gestão e a parceria são um pouco mais difíceis.

Le Monde: De onde vêm todas essas armas apreendidas nos últimos meses na Tunísia?

Lerayedh: Há vários meses, o Ministério do Interior tem trabalhado em redes de traficantes de armas. Grupos violentos quiseram se aproveitar disso e estocaram essas armas com a ideia de utilizá-las algum dia, na Tunísia ou em outro lugar. Por enquanto, tem havido mais apreensões de armas do que ações armadas. Não há campos de treinamento na Tunísia, mas sim alguns indivíduos que se refugiaram nas montanhas e que estamos perseguindo. Não estamos livres do terrorismo, considerando que nossas fronteiras são difíceis de vigiar e o que tem acontecido na Líbia, apesar dos esforços de nossos irmãos líbios. Além disso, temos uma guerra acontecendo não longe daqui, no Mali…

Le Monde: Um ano atrás o senhor falou em "confronto inevitável" com os salafistas. O temor ainda existe?

Lerayedh: Ele já ocorreu e ainda ocorrerá, de maneira pontual. É uma fração do salafismo que prega a violência e o terrorismo. Não existe diálogo com aqueles que estão em guerra com a sociedade. Nós somos contra o projeto deles de sociedade, sua visão das relações entre os povos, da democracia, das mulheres.

Le Monde: Abou Ayad, o líder do grupo Ansar al-Sharia, suspeito de ser responsável pelo violento ataque contra a embaixada americana no dia 14 de setembro de 2012, ainda está sendo procurado?

Lerayedh: Sim. Nós quase o prendemos há alguns meses quando ele estava na mesquita El Fatah [em Túnis]. Mas, como havia muitos fiéis com ele, lojas e transeuntes em volta, pensamos que o momento era inoportuno. Ele fugiu, disfarçado. Abou Ayad está bem envolvido nessas questões de violência e tráfico de armas.

Le Monde: Em que ponto está a investigação sobre os autores do assassinato de Shokri Belaid?

Lerayedh: Nós prendemos os cúmplices do assassino, que identificamos --um homem de 30 e poucos anos de idade. Ele não foi preso na Argélia, como alguns afirmaram, mas nós o estamos caçando. Ele faz parte do movimento salafista, frequenta suas manifestações culturais e suas mesquitas. Mas será que esses homens agiram sozinhos ou em nome de um grupo de dentro ou de fora da Tunísia? É isso que hoje estamos tentando descobrir.

França altera política e deixa de pagar resgate por reféns sequestrados

Cidadão francês feito prisioneiro um braço armado da Al-Qaeda na Somália lê uma carta em vídeo

O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, disse que Paris "não tem provas" da morte de Philippe Verdon, um suposto funcionário da inteligência sequestrado no Mali em novembro de 2011 e que os jihadistas da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) afirmam ter assassinado em 10 de março passado, em represália pela intervenção militar francesa no Sahel.

A guerra do Mali colocou as famílias dos 15 franceses capturados na África em "uma situação insuportável", disse Jean-Pierre Verdon, pai do refém dado como morto.

Depois de semanas de ataques contra os terroristas da AQMI, ainda não há notícia sobre a sorte dos reféns, enquanto Paris admite oficialmente que mudou sua doutrina sobre os sequestros. Não pagará mais resgates e irá se opor ao pagamento por empresas, famílias e seguradoras.

Em 13 de janeiro passado, o presidente François Hollande anunciou no Eliseu para as famílias dos sete sequestrados franceses na região do Sahel que o Estado não pagará mais recompensas em troca da liberdade de compatriotas cativos e, assim, admitiu que nos últimos 25 anos --desde que os primeiros franceses foram capturados no Líbano-- o governo francês realizou, ou pelo menos permitiu, trocas de dinheiro por reféns.

No domingo, a ministra da Francofonia, Yamina Benguigui, confirmou de maneira oficial em uma entrevista que a "mudança de doutrina" é "autêntica" e está em andamento. A ministra disse que os radicais islâmicos que lutam contra a França no Mali evoluíram e que "hoje é muito complicado tratar com grupos de narcoterroristas que têm muita mobilidade, funcionam de modo autônomo e com frequência não têm chefes visíveis".

A nova política sobre os sequestros, que dá ênfase ao músculo militar e aproxima a França dos costumes de americanos e britânicos --exceto no fato de que estes tentam manter em segredo os sequestros de seus concidadãos--, começou a ser posta em prática em 11 de janeiro, quando o governo lançou a operação militar do Mali e quase ao mesmo tempo ordenou a operação de resgate de um espião francês retido por um grupo terrorista na Somália.

Depois do fracassado assalto do comando militar, que terminou com a morte de um funcionário da Direção Geral de Segurança Externa e de um soldado francês, Hollande decidiu a mobilização de tropas no Mali para conter o avanço dos islâmicos sobre o sul do país. O temor do Eliseu era que os sequestros de cidadãos franceses fossem maciços se os terroristas chegassem a Bamako.

No domingo, a AQMI ameaçou matar os cinco reféns que mantém em seu poder e pediu às famílias que pressionem o governo francês para que retire seus soldados do país. Françoise Larribe, ex-refém e mulher de Daniel Larribe, um engenheiro da gigante nuclear Areva capturado com mais seis franceses em setembro de 2010 nas minas de urânio de Arlit (norte do Níger), declarou-se "decepcionada" com a decisão do presidente.

"Hollande nos disse que é impensável pagar dinheiro a grupos com os quais estamos em guerra. Mas os resgates são uma gota d'água nos recursos de terroristas que traficam drogas. Creio que Hollande está equivocado", disse Larribe ao jornal "Le Monde".

Os parentes de outros cativos demonstraram respeito pela nova política de Estado, e René Robert, avô do refém Pierre Legrand, disse que compreende "o silêncio" do governo, mas pediu "que os resultados cheguem logo e não haja surpresas".

Tentando enviar uma mensagem de firmeza, Hollande reiterou que não há outra opção além de lutar contra os terroristas. "Estamos em uma situação de vítimas. Nossos concidadãos estão nas mãos de uma facção que não tem fé nem lei e que só conhece o dinheiro e a força."

A oposição conservadora mostra-se dividida sobre a mudança de política, que na realidade foi adiantada, com pouco êxito e várias incursões fracassadas, durante o mandato de Nicolas Sarkozy; o ex-primeiro-ministro François Fillon afirmou que, embora compartilhe o princípio de não pagar aos terroristas, a França "não deve se proibir nenhuma possibilidade de libertar os sequestrados" e referiu-se "em particular" aos quatro menores da família Moulin-Fournier, raptada no norte de Camarões há um mês e meio por um grupo islâmico nigeriano.

A nova forma de administrar a chantagem também afeta as ONGs e as empresas com interesses na África. Um porta-voz da Areva, que além de Larribe tem três trabalhadores de sua empreiteira Vinci nas mãos dos terroristas, afirma que "o mais importante é manter a discrição e a confidencialidade". "Acompanhamos de perto a evolução e apoiamos as famílias, mas não podemos fazer comentários."

Comunidade em crise: conflitos amargos dividem judeus de Berlim


Em meio a acusações de desperdício, nepotismo e campanhas de difamação, antigos membros da comunidade judaica de Berlim estão em conflito declarado com os que chegaram há menos tempo do exterior. Graves dificuldades financeiras estão no centro de seus problemas.

Os membros do parlamento da Comunidade Judaica de Berlim se reuniram sob a cúpula dourada de sua sinagoga, na Oranienburger Strasse, onde o clima é festivo. Mas o que se desenrola lá dentro não é nada alegre.

O presidente da comunidade, Gideon Joffe, 40, está de pé no centro, agindo como um promotor. "O déficit orçamentário da congregação em 2011 não foi de 3,5 milhões de euros, mas de 5 milhões de euros." Seus antecessores, segundo Joffe, parecem ter mexido nos números do relatório anual, exagerando o valor dos imóveis de propriedade da comunidade. Um observador, falando com sotaque russo, sussurrou : "Este é um caso para o promotor público".

Afinal, o parlamento da Comunidade Judaica decide nomear um comitê para investigar os negócios imobiliários feitos pelo conselho anterior.

Os conflitos estão aquecidos e emocionalmente carregados na maior comunidade judaica da Alemanha, que tem cerca de 10.200 membros. Os imigrantes russos mais jovens estão em choque com os berlinenses ocidentais estabelecidos há mais tempo, muitos deles em idade de se aposentar. Há mais de um ano o presidente do parlamento da comunidade é um imigrante. Agora três representantes daqueles que foram eliminados na votação estão recolhendo assinaturas para novas eleições, visando substituir o presidente Joffe, que é de uma família lituana.

Os conflitos giram em torno de poder e orgulho ferido, intrigas, empregos e benesses, assim como negócios obscuros. E como a comunidade sabidamente paga a seus funcionários pensões elevadas há vários anos, hoje ela deve à cidade-Estado de Berlim cerca de 9 milhões de euros. No final do ano passado, o Senado de Berlim se sentiu obrigado a emitir uma "ordem de recuperação" e a reter 100 mil euros dos subsídios mensais destinados à comunidade, uma novidade na política de Berlim.

Acordos empresariais discutíveis
Até então, as constantes disputas na comunidade judaica se desenrolaram internamente, mas agora Joffe está sendo chamado em público de "ditador", "populista" e - em uma referência ao ex-líder chinês Mao Tsetung - de "o Grande Líder". Os antigos membros da comunidade criaram um blog para sua campanha chamado "Vigilância Comunitária".

Michael Rosenzweig, 28, presidente do parlamento da comunidade e um defensor de Joffe, está revidando no jornal da comunidade, "Jüdisches Berlin". Ele escreve que os promotores da campanha de assinaturas na verdade realizam uma "campanha de difamação", que "incita a uma comparação com o mundo dos macacos".

"Ela é uma fera", diz um sobrevivente do Holocausto da facção de Berlim Ocidental, referindo-se à enviada da comunidade indicada pelo novo presidente. "A última vez que encontrei tal indivíduo foi no campo - como guarda." Joffe, por sua vez, refere-se a seus adversários como "perdedores decepcionados com a eleição, que estão forçando os limites da liberdade de expressão".

A atual disputa começou em 2007. Na época, os antigos membros da comunidade ganharam 13 dos 21 assentos do parlamento e indicaram como presidente Lala Süsskind. Mulher de um empreiteiro imobiliário em Berlim Ocidental, ela causou impressão no público como líder competente.

Em sua campanha, prometeu combater "o desperdício". Em vez disso, seu conselho rapidamente alugou 14 novos veículos oficiais, incluindo um Audi Q5 e vários Audi A3 Sportback. Os custos com veículos da comunidade aumentaram de cerca de 70 mil euros em 2007 para mais de 200 mil em 2011.

Mas essa é uma soma modesta comparada com a quantia envolvida em negócios imobiliários. Em novembro de 2008, a comunidade vendeu um prédio de apartamentos com cerca de 2.600 m2 de espaço de aluguel no bairro de Schöneberg em Berlim por apenas 565 mil euros. Um ano e meio depois, o conselho vendeu um imponente edifício do século 19 com um terreno adjacente em um local de primeira no bairro elegante de Prenzlauer Berg por cerca de 2,7 milhões de euros. Especialistas imobiliários independentes acreditam que os dois preços estão incomumente baixos. Apartamentos individuais foram vendidos depois disso no edifício de Prenzlauer Berg por até 990 mil euros, o que sugere que o investidor fez um ótimo negócio.

Perguntas para um comitê de investigação
O conselho vendeu as propriedades barato demais, assim prejudicando a comunidade? De modo algum, diz o ex-diretor financeiro Jochen Palenker, comentando que foi encontrado fungo de madeira no prédio de apartamentos em Schöneberg. E que seus antecessores haviam tentado vender a propriedade de Prenzlauer Berg por ainda menos: apenas 1,6 milhão de euros. Segundo Palenker, a acusação de Joffe de que o valor do imóvel de propriedade da comunidade foi exagerado é incorreta.

Mas por que não houve concorrência pública ou processo de licitação para as propriedades? Os membros do conselho estavam com a facção de Berlim Ocidental, ou seus parentes, puxando os cordões nos bastidores, como suspeitam membros da facção imigrante? Agora cabe ao comitê de investigação esclarecer essas perguntas.

O comitê também vai abordar o sentido de família demonstrado pelos irmãos Schlesinger. Tuvia Schlesinger, um policial e hoje líder da oposição, foi eleito para o parlamento comunitário em 2007 na chapa de Süsskind. A administração de cerca de 400 apartamentos pertencentes à comunidade ficou a cargo de uma companhia de propriedade do irmão de Tuvia.

E quando ele precisou de um lugar para morar seu irmão pôde lhe fazer uma oferta muito boa: um apartamento de três quartos, com 79 metros quadrados de área útil, por 348 euros por mês, incluindo o aquecimento. A presidente comunitária Süsskind abençoou o contrato entre os dois irmãos. O aluguel líquido, sem incluir o aquecimento, era de cerca de 2 euros por metro quadrado. Tuvia Schlesinger diz que as "más condições" do apartamento justificavam o preço de barganha. Potenciais compradores já ofereceram 7 euros por metro quadrado pelo apartamento, que não foi reformado, segundo o novo gerente da propriedade.

Quando o parlamento comunitário foi reeleito no final de 2011, Lala Süsskind não se recandidatou. Seus seguidores sofreram uma grande derrota, em parte por causa da mentalidade dela de ajudar a si própria. A facção de Joffe, que consiste basicamente em jovens imigrantes, conquistou 14 dos 21 assentos do parlamento.

Joffe aproveitou a vitória eleitoral para fazer uma faxina. Primeiro se livrou do comissário antissemitismo e do assessor de imprensa, e depois do diretor do departamento social e do centro de atendimento diurno, assim como dois assessores educacionais. O ex-motorista do presidente ficou surpreso ao se ver remanejado para um cargo de porteiro do lar de idosos. Muitos dos afetados pelos cortes apresentaram queixas a um tribunal trabalhista. A oposição critica Joffe por deixar de justificar essas decisões e não publicar as atas das reuniões do conselho.

Antigos residentes contra imigrantes
Então existem as reservas fundamentais dos antigos residentes contra os imigrantes, que desde 1990 vêm das antigas repúblicas soviéticas para Berlim. O influxo não diminuiu com os anos. "Eles parecem bolcheviques", disse o ex-presidente comunitário Albert Meyer. "Estão fomentando uma revolução." Os imigrantes "não podiam se importar menos com a democracia", ele acrescenta. Meyer não é de modo algum o único entre os antigos residentes que faz essas acusações. Muitos mencionam o nome de Joffe juntamente com frases como "Homo Sovieticus," "putinismo" e até "conformidade obrigatória".

Os berlinenses têm uma visão condescendente do que eles caracterizam como falta de estilo e modos incivilizados dos imigrantes, a maioria dos quais não tem um nível econômico tão bom quanto os antigos moradores. A situação lembra o modo como muitos judeus assimilados de Berlim desprezavam os "judeus orientais", seus primos pobres e imigrantes, antes de 1933. Os pais de Gideon Joffe são de Riga, na Letônia. Ele nasceu em Israel e veio para Berlim com 4 anos. Seu mais importante seguidor no parlamento nasceu em Moscou.

Mas mesmo que os antigos berlinenses consigam convencer um quinto dos mais de 9 mil eleitores hábeis a apoiar seu pedido de novas eleições, a demografia da comunidade sugere que os moradores estabelecidos não vencerão de novo as eleições para o parlamento, e não poderão indicar o presidente. Cerca de quatro quintos dos membros são imigrantes, e o jornal da comunidade há muito tempo é publicado em alemão e russo.

O que os dois grupos têm em comum são as histórias familiares muitas vezes dramáticas que circundam o globo e incluem relatos de perseguição, assassinato e sobrevivência. São biografias de indivíduos marcantes, de mentalidade forte. Essa diversidade é um dos motivos para a intensidade da disputa.

Crise financeira
Outra coisa que os antigos moradores e os imigrantes têm em comum é que seus respectivos representantes ainda não resolveram o maior problema - a crise financeira crônica da comunidade. Ela emprega cerca de 400 pessoas e tem um orçamento anual de aproximadamente 30 milhões de euros, dos quais 18 milhões vêm diretamente da cidade-Estado de Berlim.

Apesar de Joffe ter reduzido o déficit operacional de 2012 de cerca de 1,3 milhão de euros para aproximadamente 600 mil, segundo ele, cortando os custos, a crise financeira está corroendo o capital da comunidade. O conselho é confrontado com cerca de 30 milhões de euros em reivindicações de pensões de antigos empregados. O Senado de Berlim exige o repagamento de 9 milhões de euros porque a comunidade, violando seu acordo com a cidade-Estado, garantiu aos empregados pensões maiores do que as concedidas a funcionários públicos, e já pagou alguns dos benefícios.

As autoridades estão cientes do problema desde 1999, mas somente há quatro semanas o conselho finalmente decidiu ajustar as pensões.

Apesar desses problemas, o apoio generoso que a comunidade recebe da cidade-Estado de Berlim provavelmente não mudará. Existem razões políticas e muito válidas para o apoio. O Senado se orgulha do fato de que Berlim, onde o Holocausto foi planejado, é novamente o lar da maior comunidade judaica da Alemanha.

O historiador Julius Schoeps, descendente do filósofo Moses Mendelssohn, diz que a comunidade está "permanentemente superfinanciada" e que uma das consequências disso é a constante disputa por grandes e pequenas vantagens. "A calma seria restabelecida se o Senado congelasse o dinheiro", diz Schoeps, que deixou a comunidade anos atrás.

"Eu salvei o país", diz Amadou Sanogo, líder do golpe no Mali

Amadou Sanogo

Muitos acreditam que o líder de fato do Mali, Amadou Sanogo, empurrou o país para uma crise profunda quando armou um golpe de Estado há um ano. Mas não é assim que ele vê a coisa. Em uma entrevista a "Der Spiegel", ele diz que ajudou o regime velho e doente a morrer, propiciando um novo começo.

O capitão Amadou Sanogo, 40, diz que é apenas um simples soldado. Mas, extraoficialmente, é o homem-forte do Mali desde que liderou um golpe no final de março do ano passado, derrubando o governo do presidente Amadou Toumani Touré. Sanogo suspendeu a Constituição e, então, colocou o poder nas mãos de um governo de transição, reagindo à pressão internacional, mas permanece o líder de fato do Mali.

Nas semanas que se seguiram, os islâmicos tomaram o norte do Mali. Agora o país antes instável, mas democrático, corre o risco de se tornar a próxima Somália. Apesar dos problemas que se seguiram ao golpe, Sanogo diz que salvou o país.

Der Spiegel: O senhor lamenta mergulhar seu país no caos com o golpe que armou há um ano?
Amadou Sanogo: O que você está dizendo? Eu salvei o país! Estávamos à beira da ruína na época.

Der Spiegel: Mas foi só depois que o senhor assumiu o poder que os islâmicos estabeleceram o reino do terror no norte e introduziram a lei xariá. Não era esse seu objetivo, era?
Sanogo: O exército do Mali já tinha sido derrotado por combatentes rebeldes tuaregues antes, e foi por isso que eu intervim. Esse exército é um desastre, totalmente patético. Não tem equipamento, é mal treinado e corrupto. Temos oficiais sem qualquer escolaridade. Um soldado comum ferido pode morrer na rua sem que ninguém o ajude, enquanto o filho de um general é levado de avião para a Alemanha e tratado em um hospital de primeira classe por causa de uma simples dor de cabeça.

Der Spiegel: O senhor mesmo foi treinado nos EUA.
Sanogo: Eu frequentei uma escola de infantaria, concluí vários cursos militares e trabalhei como intérprete. Os EUA são um grande país com um exército fantástico. Eu tentei colocar todas as coisas que aprendi lá em prática aqui.

Der Spiegel: Como o seu golpe se encaixa nisso?
Sanogo: "Golpe" não é uma palavra bonita. Eu prefiro dizer que efetuei uma operação médica necessária. O ex-presidente Touré não reconhecia que o país estava doente e precisava ser curado. Mas um paciente que se recusa a tomar o remédio morrerá. E foi o que aconteceu no Mali. O antigo regime estava doente e agora está morto. Eu o ajudei a morrer mais rapidamente para possibilitar um novo começo.

Der Spiegel: Qual era a doença?
Sanogo: Touré não era um democrata. Já estava claro antes das eleições de que ele seria o presidente e ele fraudou a eleição. Onde se faz esse tipo de coisa? Por isso eu o derrubei e indiquei um presidente de transição. Agora estamos esperando eleições realmente democráticas.

Der Spiegel: Isso não é exatamente verdade. Apesar de o comparecimento dos eleitores ter sido baixo, observadores concluíram que foi uma eleição justa. Mas, por favor, diga-nos isso: como exatamente funciona um golpe?
Sanogo: Não vou lhe dizer isso. Talvez eu fale a respeito mais tarde, mas tudo o que posso dizer agora é que cada golpe é diferente. Não há uma fórmula exata.

Der Spiegel: Ainda assim, o senhor não conseguiu libertar o norte dos islâmicos. Por esse motivo, tropas francesas estão no país nos últimos dois meses e meio, e agora militares alemães também vão treinar soldados do Mali.
Sanogo: Os franceses são bem-vindos, assim como os alemães.

Der Spiegel: Essa não foi sempre sua posição.
Sanogo: Você não deve acreditar na mídia. Estou satisfeito com os soldados estrangeiros e não me incomoda que eles sejam da antiga potência colonial. O principal é que os islâmicos se foram. Nós nunca teríamos conseguido fazer isso sozinhos.

Der Spiegel: Qual é o perigo dos islâmicos para o Mali e toda a região?
Sanogo: Eles são extremamente perigosos. Esses sujeitos vieram de todo tipo de país para estabelecer uma base aqui. Eles queriam usar o Mali para calmamente preparar ataques contra a Europa. É por isso que a luta contra o terrorismo é uma questão internacional, não apenas um problema do Mali.

Der Spiegel: Os islâmicos se retiraram das cidades para o deserto. Quanto tempo vai durar a luta?
Sanogo: O conflito está longe de terminar, e é por isso que as tropas estrangeiras devem continuar no país. Se elas partirem, tudo recomeçará. Nosso exército não é capaz de controlar essa área imensa sem ajuda. E as tropas da Comunidade Econômica de Países da África Ocidental (Ecowas) não podem fazer isso sozinhas.

Der Spiegel: O norte tem sido um local problemático há décadas.
Sanogo: É verdade que os tuaregues estão constantemente em rebelião. Eles o fizeram nos anos 60, em 1990 e em 2007. Mas, desta vez, uma nova forma de terrorismo foi adicionada à mistura. Os islâmicos tinham armas e muito dinheiro. Essas duas coisas quase certamente não vêm do Mali, mas do exterior. Estamos preocupados que haja células em hibernação que se retiraram para países como Níger e estejam apenas esperando para atacar de novo.

Der Spiegel: O senhor vê diferenças entre os tuaregues e os terroristas?
Sanogo: Se um tuaregue entra para um grupo islâmico, ele é um terrorista. É muito simples.

Der Spiegel: Um novo presidente deverá ser eleito em julho. O senhor aceitará o vencedor ou poderá haver outro golpe?
Sanogo: Se as eleições forem realizadas corretamente, não vou interferir.

Der Spiegel: O senhor não vai disputar o cargo?
Sanogo: Não tenho ambições políticas e não vou concorrer. Mas, se o fizesse, teria uma boa probabilidade de ganhar, porque sou muito popular com o povo.

Der Spiegel: Senhor Sanogo, obrigado pela entrevista.

Embraer abre unidade do Super Tucano nos EUA


Fábrica da Flórida entregará primeiras unidades da aeronave para a Força Aérea americana em 2014

A Embraer inaugurou ontem as instalações em Jacksonville, na Flórida, onde vai montar os aviões do Programa LAS (Light Air Support), ou Apoio Aéreo Leve, para a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF, na sigla em inglês). De acordo com a empresa, as atividades já estão em andamento na preparação para as operações industriais. A entrega da primeira aeronave A-29 Super Tucano está programada para meados de 2014.

Em 27 de fevereiro, a USAF concedeu o contrato do programa LAS à Sierra Nevada Corporation (SNG) e à Embraer para o fornecimento de 20 aeronaves A-29 Super Tucano e dispositivos de treinamento em solo, treinamento de pilotos e de manutenção e apoio logístico, num negócio avaliado em US$ 427,5 milhões. Os aviões serão usadas para fornecer apoio aéreo leve, reconhecimento e capacidade de treinamento aos militares do Afeganistão.

As duas empresas já haviam vencido o mesmo contrato em 2011, mas a única concorrente na disputa, a americana Beechcraft, contestou a decisão e o governo americano decidiu fazer nova licitação, vencida novamente pe: las duas companhias. Após reiterada a escolha pelo Super Tucano, a concorrente apresentou um novo protesto, contestando o resultado da licitação.

A Beechcraft, que acaba de sair de uma concordata, diz que, com a opção pela Embraer, cerca de 1,4 mil postos de trabalho no Kansas e em outros Estados americanos estão em perigo, alegando que, com a decisão, a Força Aérea estaria transferindo a geração de empregos para o Brasil.

Em nota à imprensa, a Embraer destacou que, por meio do programa LAS, a empresa e a I Sierra Nevada darão suporte a mais de 1,4 mil empregos em mais de 100 empresas em todo o território americano. Salienta também que a sede americana da Embraer, localizada em Ft. Lauderdale, na Flórida, atualmente emprega mais de 1,2 mil pessoas.

Nas instalações da Embraer de Jacksonville, num hangar de 3,716 mil metros quadrados no aeroporto da cidade, serão realizadas as etapas de pré-equipagem, montagens mecânica e estrutural, instalação e teste de sistemas e testes em voo para as aeronaves A-29.

Rockwell Collins entra no projeto do KC-390


A Rockwell Collins, fornecedora de soluções em comunicação e eletrônica embarcada e de sistemas de defesa, vai produzir no Brasil as caixas de controle e os painéis dos sistemas aviônicos do avião de transporte militar KC-390, em desenvolvimento pela Embraer para a Força Aérea Brasileira (FAB).

O presidente da Rockwell Collins no Brasil, grupo americano que em 2012 faturou US$ 4,7 bilhões, Nelson de Aquino, disse que a produção será feita por uma empresa brasileira, que está sendo selecionada. A Rockwell negociou com a FAB um acordo de offset (compensação industrial e tecnológica), que prevê a transferência de tecnologia em vários projetos de interesse da Aeronáutica.

"Toda a parte de integração e certificação dos sistemas fornecidos pela Rockwell para o KC-390 também será desenvolvida pela subsidiária brasileira, instalada em São José dos Campos", diz o presidente da empresa.

A Embraer é hoje a principal cliente da Rockwell Collins no Brasil, uma parceria que teve início na década de 80, com turboélice Brasília.

Para o KC-390, a Rockwell Collins desenvolveu a primeira versão militar do sistema de aviônica integrada Pro Line Fusion. A versão civil do sistema já foi instalada no novo jato executivo Legacy 500, da Embraer, que realizou, na última segunda-feira, o voo inaugural do seu terceiro protótipo. A entrega da primeira aeronave ao mercado está prevista para o primeiro semestre de 2014.

Nos últimos três anos, a Rockwell Collins investiu US$ 10 milhões no Brasil para atender a expansão dos negócios e também a contratação de pessoal. "Esperamos que esse investimento continue de forma que possamos aumentar o número de oportunidades de emprego, equipamento, tecnologia e infraestrutura", disse o vice-presidente e diretor executivo da Rockwell Collins para Américas, Thierry Tosi.

As principais operadoras de linhas aéreas da América Latina, entre elas a TAM, Gol, Avianca, Copa, Trip e Azul, utilizam os sistemas de aviônica e de entretenimento da Rockwell Collins. Há cerca de dois meses ela fechou um contrato com a Gol para o fornecimento de rádios de comunicação para 20 aeronaves Boeing 737.

A expansão dos negócios da Rockwell Collins no Brasil também terá como foco a área de sistemas de defesa e a empresa está de olho nos programas de reequipamento das forças armadas, como o Sisfron (Sistema de Monitoramento de Fronteiras).

A Embraer foi escolhida pelo Exército Brasileiro para desenvolver o projeto piloto do Sisfron e já iniciou o processo de contratação de várias empresas para fornecimento de sistemas nas áreas de comunicação segura, informação, comando e controle.

Segundo Tosi, 54% da receita global da companhia em 2012 veio da área de defesa e 46% das atividades civis. No Brasil, de acordo com o executivo, a Rockwell Collins espera um crescimento de 25% da receita nos próximos cinco anos. "A conquista do contrato do KC-390 consolidou a nossa posição na aviação militar e nossos esforços em trazer soluções para segurança fronteiriça, costeira e urbana. Esperamos que os nossos sistemas de defesa tenham uma participação crescente em nossa receita no Brasil daqui para frente."

O mercado brasileiro, na visão do executivo, tem potencial para negócios da ordem US$ 3,5 bilhões nos próximos cinco anos para todos os tipos de produtos oferecidos pela Rockwell Collins.

Para aproveitar as novas oportunidades que estão surgindo, segundo ele, a Rockwell Collins aumentou o seu quadro de funcionários no Brasil em 35%. Os novos funcionários atuam na área de gestão de programas, desenvolvimento de negócios, engenharia de sistemas, técnicos para serviços e engenharia de vendas.

Além da produção de equipamentos para o KC-390, a Rockwell Collins pretende produzir no Brasil a linha de sistemas aviônicos e de comunicações para os helicópteros Pantera, Fennec, Cougar e EC-725, da Helibras.

A empresa também passará a fazer no país a montagem, teste e reparo de rádios de alta frequência (HF). A atuação da Rockwell Collins na área de defesa no Brasil inclui ainda o fornecimento de rádios de comunicação e navegação do caça AMX, cuja frota da FAB está sendo modernizada pela Embraer.

"Temos planos agressivos de crescimento no Brasil. E uma das estratégias de expansão se dará por meio de parcerias com empresas brasileiras competentes e com capacidade para absorver nossas tecnologias", disse Aquino.

terça-feira, 26 de março de 2013

Helicópteros da Rússia desenvolverá um helicóptero de alta velocidade


O Ministério da Indústria e Comércio da Rússia concluiu um acordo com holding "Helicópteros da Rússia" para o projeto de pesquisa de um helicóptero de alta velocidade, assim informou recentemente a agência de notícias russas Interfax.

Sob o acordo, a Helicópteros da Rússia receberá um aporte de 2.5 bilhões de rublos para realizar as fases de pesquisas e desenvolvimento, as quais deverão ser concluída em novembro de 2013.

Detalhes acerca do helicóptero avançado ainda são desconhecidos. Ao logo dos últimos anos, a Rússia desenvolveu três projetos de helicópteros de alta velocidade: O Mi-X1, desenvolvido pela Mil Design Bureau; o Ka-90 e o Ka-92, ambos desenvolvidos pela Kamov. Presumidamente, o Ka-90 pode atingir a velocidade de 800 km/h com o uso de um motor a jato bypass.

Em maio de 2010, o Informante informou que a Helicópteros da Rússia irá desenvolver um helicóptero de 5ª geração. Os detalhes desse projeto ainda não formam divulgados.

Rússia construirá um submarino "espião"

K-329 Severodvinsk

A Rússia construirá um submarino espião de alerta antecipado com a capacidade de detectar submarinos, navios de superfície e aeronaves que voem a baixa altitude a distância de até 600 km, comunicou ontem o comando da Armada Russa.

O novo submarino, que a uma distância de até 100 km poderá estabelecer o tipo exato do objeto detectado, permanecerá "invisível" porque todos os seus sistemas funcionaram em regime passivo, ou seja, não emitirão sinais ou ruídos detectáveis pelos sistemas de escutas dos adversários em potencial.

Batizado como "submarino de vigilância acústica e controle submarino" (GAD GCO por sua sigla em russo), esses submarinos terão a missão de coordenar em litorais marinhos as ações de outros navios semelhantemente como os aviões de AWACS, como o Beriev A-50.

Os trabalhos de design do submarino deverão ser finalizados antes do fim de 2013. Logo, será necessário vários anos para desenvolver e promover o projeto e construir o submarino. A princípio a Rússia plenaja construir somente um exemplar desse submarino.

Provavelmente, os sonares do novo submarino incluirão alguns elementos da estação hidroacústica Irtish-Amfora  instalada no submarino nuclear russo de ataque K-329 Severodvinsk, da classe "Yasen".