quarta-feira, 27 de março de 2013

A oposição síria novamente em crise


Moaz Al-Khatib, que renunciou ao cargo de líder da Coalizão Nacional da Síria no último domingo (24)

A oposição síria perdeu seu líder dois dias antes da cúpula da Liga Árabe, onde deverá tomar a cadeira ocupada por Bashar Assad. Presidente havia quatro meses da CNS (Coalizão Nacional Síria) --o principal agrupamento de opositores em Damasco--, Moaz al-Khatib renunciou, no domingo (24), em sinal de protesto contra a inação das potências ocidentais e a ingerência de certos países.

Se for confirmada, a saída desse religioso moderado, muito estimado localmente, certamente irá fragilizar a oposição e complicar o trabalho de países como França e Reino Unido, que consideram a possibilidade de entregar armas aos rebeldes. A pedido do braço político da CNS, que rejeitou sua demissão, Al-Khatib poderá permanecer no cargo pelo menos até o final da cúpula árabe, em Doha.

No Facebook, o "xeque Moaz", ex-pregador da mesquita dos Omíadas, em Damasco, se manteve evasivo a respeito de suas motivações. Ainda que lamente a inação da comunidade internacional, apesar das "provações sofridas pelo povo sírio", ele também critica "a vontade que alguns têm de assumir o controle".

Controvérsia
Os observadores divergem quanto à interpretação a dar a essas frases. Para o analista Salam Kawakibi, diretor de pesquisa no Arab Reform Initiative, "Moaz tem a impressão de que a comunidade internacional, sobretudo os Estados Unidos, está indo na direção de uma solução seguindo o modelo de Dayton [o acordo de 1995 que deu um fim à guerra na Bósnia-Herzegovina ao fazer a divisão de seu território] ou de Taif [o tratado de 1989 que selou o fim da guerra civil no Líbano ao consagrar sua fragmentação entre as comunidades]. Só que, para ele, qualquer divisão do país é inaceitável".

Entre as correntes de esquerda da oposição, sua demissão é mais associada à controvérsia que cercou a designação de Ghassan Hitto como primeiro-ministro de um futuro governo rebelde, no dia 19 de março, em Istambul. O avanço desse ex-executivo de empresa oriundo do movimento islamita sírio estabelecido nos Estados Unidos foi denunciado por certos opositores ditos "liberais" como produto de pressões do Qatar, notoriamente simpático à Irmandade Muçulmana.

A ideia de que a CNS tenha um governo desagrada a vários de seus membros, que consideram essa iniciativa precipitada --na falta de garantias financeiras internacionais-- ou temem que ela feche o caminho para possíveis negociações com o governo sírio.

O próprio Moaz al-Khatib havia pedido pela abertura de um diálogo com representantes do regime, com a condição de que estes não tivessem sangue nas mãos. Será que ele se sentiu renegado pela vitória de Hitto, que, tão logo foi eleito, se disse contrário a qualquer negociação? Essa é a teoria de Haytham al-Manna, dirigente do Comitê de Coordenação pela Mudança Democrática, um partido rival da CNS que é a favor de uma solução negociada da crise: "A saída de Moaz é um tapa na cara para Hamad Ben Jassem al-Thani [o premiê do Qatar]".

A única certeza nesse caso um tanto obscuro é que Moaz al-Khatib, voltando atrás ou não em sua renúncia, deverá ganhar mais credibilidade, o que garantirá que ele permaneça no centro do jogo político sírio.

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