segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Curdos desafiam tradição e pegam em armas contra regime de Assad na Síria

Curdos sírios demonizam imagem de Assad

O processo de transformação de Omar Abdulkader de agricultor em combatente lembra o mesmo caminho percorrido por outros incontáveis cidadãos da Síria, país onde, desde 2011, dezenas de milhares de homens foram arrastados para uma guerra civil.

Comandante rebelde que pretende derrubar o presidente Bashar Assad, o caminho trilhado por ele descreve a escolha de um homem encurralado. Sua opção pela resistência começou durante manifestações pacíficas, disse ele. Quando o governo respondeu com força, as táticas dele mudaram.

"Foi só depois de eles terem mostrado que nos matariam que nós nos armamos", afirmou ele.

Mas há uma diferença entre a história dele e a de muitos outros. Abdulkader é curdo, não árabe, o que significa que suas experiências e decisões contrariam a sabedoria convencional, segundo a qual os curdos não veem essa luta como sua.

Segundo os governos da Turquia e da Síria, os curdos sírios em geral se posicionaram ao lado de Assad ou têm se mantido neutros em relação ao presidente sírio, cujo governo apoiou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, em sua insurgência sangrenta contra a Turquia até 1998 – quando a Síria extraditou a contragosto o líder do grupo curdo no momento em que uma guerra estava prestes a estourar com a Turquia.

Mas as cenas vistas em Alghooz e em várias outras aldeias curdas localizadas ao norte de Aleppo pintam um quadro mais complexo para os curdos da Síria e as suas ambições e relações com o governo. Os curdos dessa região afirmam com convicção que também sofreram sob o regime de Assad e que decidiram pegar em armas contra ele. Eles contradizem totalmente a noção de que podem contar com a proteção do governo de Assad.

E, dessa forma, embora existam sinais de que muitos curdos continuam apoiando o governo – alguns combatentes pró-PKK chegaram a entrar em confronto com os rebeldes –, centenas de outros curdos se juntaram ao Exército Livre da Síria, como o heterogêneo grupo de combatentes anti-governo se autodenomina, segundo líderes curdos e rebeldes.

As planícies ao norte de Aleppo são pontilhadas por cidades. Residentes locais disseram que aproximadamente 40 mil curdos vivem aqui, e que dessas famílias saíram mais de 600 combatentes que estão lutando contra Assad.

Os combatentes são organizados em pelo menos oito grupos distintos, disseram líderes e combatentes curdos. Entre esses grupos estão a Frente Islâmica Curda, o Pesh Merga Falcons e os Mártires de Meca.

Desafiando os relatos oficiais e populares a respeito da lealdade dos curdos a Assad, esses homens lutam ao lado dos árabes contra o presidente sírio. Eles e seus líderes denunciam sem rodeios o PKK, que é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela Europa, e também criticam muitos nacionalistas curdos, alegando que os apelos por um Curdistão independente não correspondem à visão que eles compartilham.

"Nós não estamos interessados em uma pátria separada", disse Yousef Haidar, 72, mukhtar (ou ancião da aldeia) de Alghooz. "Nós queremos fazer parte da Síria".

E ele acrescentou: "Durante centenas de anos vivemos juntos com os árabes e, depois da revolução, queremos viver juntos por ainda mais tempo".

Os combatentes revolucionários curdos também rejeitam a neutralidade, da mesma maneira que a posição pública adotada pelo Partido da União Democrática, o maior partido político curdo da Síria, que tem se mantido, em grande medida, longe do levante, posição que amplia a impressão de que os curdos não estão apoiando os rebeldes.

"Eu sou curdo e, como cidadão curdo, estou lutando lado a lado com o Exército Livre da Síria, pois não é possível encontrar ninguém que não tenha sido pisoteado pelo regime nem que não tenha sido prejudicado", disse Haidar. "Nós também fomos injustiçados".

Alghooz é um pequeno vilarejo agrícola localizado em uma planície. O local fica a poucos quilômetros ao leste de Marea, uma das cidades da região onde a oposição a Assad é quase que unânime.

Menos de 3.000 pessoas vivem aqui. Os anciãos do vilarejo dizem que talvez 30 homens das famílias locais estão combatendo atualmente, e que esses homens haviam atraído árabes, cristãos e turcomanos para lutar ao seu lado sob a bandeira dos rebeldes.

Abdulkader comanda uma das três divisões de um grupo batizado de Netos de Saladino e afirma contar com um total de cerca de 90 combatentes. O grupo luta sob o comando da Brigada Al Tawhid, a maior unidade do Exército Livre da Síria na região de Alepo.

De 1989 a 1992, disse Abdulkader, ele serviu o exército como recruta de infantaria em uma base ao sul de Damasco. Em seguida, ele voltou para casa para trabalhar nas lavouras locais, plantando batata, lentilha, cebola e outras culturas. Sua aldeia curda convivia pacificamente ao lado das aldeias árabes vizinhas.

Quando os protestos contra Assad começaram, no início de 2011, e sírios de outras aldeias da zona rural ao norte de Aleppo protestaram e se organizaram em um movimento clandestino, os curdos de Alghooz não se comprometeram.

Mas, quando o governo de Assad apelou para a violência, a aldeia escolheu um lado, disseram os anciãos.

"Nós entramos para a revolução", disse Haidar.

O imperativo para participar do levante, disse ele, era ainda maior do que quando as aldeias se levantaram contra as potências coloniais.

"Nós fomos colonizados pelos franceses, mas até mesmo a França não fez o que Bashar está fazendo", disse ele. "O governo mata pessoas inocentes. Nós sentimos que não temos nenhuma outra opção a não ser lutar contra esse criminoso".

Ao fazer isso, os curdos dessa região notaram que eles enfrentam as mesmas dificuldades que os membros de outras unidades do Exército Livre da Síria.

Agora, os Netos de Saladino dividem seu tempo entre suas aldeias de origem, onde organizam patrulhas móveis que percorrem as estradas à noite, e na defesa de uma pequena parte do front localizada nos destroçados bairros de Aleppo.

Eles contam, em parte, com o treinamento que muitos de seus membros receberam durante o breve tempo de serviço como recrutas do exército de Assad. Um de seus membros atuou anteriormente como atirador; outro, operava uma metralhadora. Outro ainda – um árabe que luta dentro do grupo curdo – serviu em uma unidade de comunicação militar da Síria. Dois deles foram treinados em táticas de defesa aérea.

Todos eles denunciaram a falta de apoio do Ocidente, e disseram que a escassez de equipamentos militares que eles enfrentam desacelerou seu avanço e causou muitas baixas em seus grupos.

"No geral, enfrentamos escassez de munições e armas", disse Hussein Abu Mahmoud, trabalhador da construção civil que é um dos combatentes de Abdulkader. "A maioria dos nossos combatentes que foram mortos pereceram porque não temos armas suficientes".

Enfrentando uma contínua escassez de recursos, o grupo dos Netos de Saladino fabrica suas próprias granadas de mão com canos e explosivos feitos localmente e usa um grande estilingue para arremessar algumas de suas bombas – que são ligeiramente menores do que uma laranja – em direção a posições do exército de Assad.

Nos últimos meses, os combatentes disseram ter sofrido cinco baixas, além de contabilizar feridos – prova suficiente, segundo eles, de seu papel na causa anti-Assad e de que as preferências em termos de lealdade dos curdos da Síria não devem ser definidas apenas pelas declarações emitidas por Damasco ou Ancara, a capital turca.

"Tem havido muita propaganda dizendo que os curdos estão apoiando o regime", disse Abdulkader. "Nós não estamos com Assad. Estamos lutando contra ele".

6 comentários:

  1. Uso de armas químicas pelos rebeldes sirios.

    http://www.hispantv.com/detail/2013/01/29/211322/video-revela-uso-armas-quimicas-terroristas-siria

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  2. Como esse blog é anti-assad apesar de ironicamente ser p´ro irã ao mesmo tempo vai lá se saber porque... não vai reconhecer, mais existem reportagens e várias de confrontos entre curdos e rebeldes anti-assad, os curdos podem não serem aliados do assad até pq os curdos não são aliados de ninguém além deles mesmos, só que essa ideia de curdos pegando em armas contra o assad é lorota, os curdos estão como sempre olhando o lado deles na guerra e mais nada, quem achar que não estou certo e só pesquisar no google que vai ver bem o que falei de confrontos entre curdos vs rebeldes até mesmo em aleppo.

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    1. O Informante não é contra ninguém. O Informante é contra racistas, atrocidades e etc.

      Eu sei que há confrontos na Síria entre cursos e as tropas anti-Assad, mas o que isso vem ao caso?

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  3. Depois que alguns Judeus criticaram Michel, ele nunca mais publicou notícias sobre militares Iraniano. Ficou com medo Michel ou te patrocinaram?



    Edson Dias

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    1. Vou lhe dar um alerta: Se você quiser que sua opinião seja permita aqui, faça comentários inteligentes e jamais destinados a minha pessoa, okay? O Informante não teme ninguém. O Informante só teme a Deus. Os judeus sinceros são meus amigos, assim como os muçulmanos. Eu nunca fui coagido por um judeu, tampouco um sionista. O blog não é patrocinado por ninguém! Não falei mais sobre o Irã porque não há notícias relevantes sobre aquele país que mereçam ser publicadas aqui. Se bem que amanhã eu criarei um post sobre as novas minas submarinas iranianas. E não faz muito tempo que eu postei uma notícia sobre o Irã:
      http://codinomeinformante.blogspot.com.br/2013/01/artesh-revelara-em-breve-uma-versao.html

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  4. Do Irã de novidade só novas armas mesmo e a prisão de 13 jornalistas de vários órgãos este fim de semana.

    Novidade parece que Israel ontem fez vários sobrevoos sobre o território sul do Libano e atacou perto da borda com a Síria um alvo,os jornais libaneses estão bem cautelosos sobre o assunto.
    abraços

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