segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

As novas fontes de energia mudarão o mapa do poder mundial

Capa do Livro "A Vingança da Geografia" 

Nas épocas de crise o fatalismo retorna. As teorias deterministas abrem caminho com facilidade. É o paraíso da economia, embora os economistas se equivoquem. E é o momento propício para o retorno da geopolítica - uma disciplina interessante mas suspeita, que os nazistas usaram para justificar sua teoria do espaço vital e sua política agressiva e expansionista -, inclusive em forma de geoeconomia.

Nem tudo é imperialismo nos conceitos geopolíticos, mas não há dúvidas sobre as origens imperialistas de uma ciência que pretende explicar os comportamentos políticos pelos condicionamentos do entorno geográfico. Há também algo reativo na recuperação de um pensamento duro, que observa os seres humanos de uma perspectiva estratosférica, a dos satélites que nos enviam imagens da Terra. Depois das épocas ideológicas, e das épocas da virtualidade digital como a nossa, é lógico que surjam reações reducionistas.

O livro da temporada sobre essa questão é "A Vingança da Geografia - O que os mapas nos dizem sobre os próximos conflitos e a batalha contra o destino", do jornalista Robert Kaplan, do qual basta citar estas frases para perceber sua abordagem bastante clássica do problema: "A geografia é o pano de fundo da própria história humana. Apesar das distorções geográficas, pode ser tão reveladora das intenções de longo alcance dos governos quanto os conciliábulos secretos. A posição de um país no mapa é o primeiro elemento que o define, mais que sua filosofia de governo".

Kaplan nos introduz ao pensamento geopolítico, mas sobretudo nos convida a adotar uma consciência geográfica na hora de abordarmos os conflitos mundiais. Vamos ouvi-lo um pouco, sem necessidade de nos deixarmos convencer nem entrar em debates filosóficos sobre a liberdade e o determinismo na história das nações. Voltemos por um momento aos mapas, aproveitando o ano novo, momento propício para interessar-se pelas notícias que transcendem a novidade de um só dia ou uma semana.

Não nos bastam para esse exercício os velhos atlas coloridos de geografia física e política, que nos mostravam a colcha de retalhos das fronteiras e soberanias nacionais, embora possam ter alguma utilidade em um momento de aguçamento de rivalidades nacionais. Na Ásia, por exemplo, onde nos servirão para esquadrinhar o mar da China em busca do arquipélago das Spratley, as ilhas Paracelso ou as Diaoyu (Senkaku em japonês), todas elas disputadas entre a China e seus vizinhos. Ou no Ártico, onde nos permitirão perscrutar as futuras rotas de navegação entre a Ásia e a Europa.

Esses são os mapas clássicos de superfície que abrigam novos mapas menos conhecidos, mas mais interessantes para nossa época, uma nova cartografia que deve incluir, precisamente, as novidades que nos proporcionam tanto a tecnologia como as modificações do planeta produzidas pelo aquecimento global. As primeiras levantam, por exemplo, a nova cartografia das jazidas de gás e petróleo que vão revolucionar a economia da energia. As segundas, tanto os litorais em perigo como os resultados da fusão nas calotas polares, de consequências ambivalentes para a economia humana: catástrofes de um lado e novos recursos do outro.

Basta nos concentrarmos, por enquanto, nos efeitos da cartografia do subsolo terrestre e marinho que abriga novas jazidas para concluir muito rapidamente sobre a utilidade da geopolítica para entender os tempos que nos esperam. Aos avanços na extração em fundos marinhos em grande profundidade se acrescentaram os enormes progressos em detecção de jazidas, em extração horizontal e no chamado "fracking", que consiste em extrair gás ou petróleo de xistos betuminosos nas profundezas do subsolo.

Os EUA vão garantir seu abastecimento de petróleo para os próximos cem anos, e em 2020 terão total autonomia energética, além de exportar gás liquefeito para o resto do mundo e principalmente para a Europa. Há probabilidade de que a Polônia também se transforme em um gigante do gás, liberta da dependência energética da Rússia. Esta última, assim como os países árabes produtores de gás e petróleo, terá de se adaptar à nova situação. Lembremos que o conflito entre a Repsol e Cristina Kirchner tem sua origem na exploração da jazida de Vaca Muerta, um enorme bolsão de argila betuminosa.

As técnicas extrativas, que consistem em injetar um coquetel de água e substâncias químicas em alta pressão, provocam muitas reservas por causa de seus efeitos poluentes nas águas subterrâneas e inclusive para a saúde das populações afetadas. Mas ao mesmo tempo essas jazidas podem ser uma bênção econômica, como se espera que aconteça com Barack Obama em seu segundo mandato, com um boom imediato do gás e do petróleo de pedra. Será preciso optar.

O mapa do século 21 está mudando graças à energia oculta e inesgotável que há sob a superfície da terra. E novas e inesperadas relações de poder nos esperam sob os novos atlas ainda desconhecidos.

Um comentário:

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    Lembrando que os Russos inauguraram esse mes um oleoduto que chega a China.
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    já esta enviando 300 mil barris dia para os chineses...
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    conta rápida... U$90.00 o barril mais de U$800 milhões para o Putin por mês.
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    se cuida Pentágono..rs
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    lembrando que o plano e vender para todo o oriente e não somente chineses.
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    XTREME

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