segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Redução de gastos militares na Europa compromete a influência do continente no mundo
Vamos abolir de vez uma das armas: o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica! Essa é a alternativa deliberadamente provocadora proposta há seis meses pelo chefe do Estado-Maior sueco, o general Sverker Göranson, para alertar sobre o preço a se pagar pela redução de metade dos gastos militares, efetuada pela Suécia nos últimos quinze anos.
Por não ser ouvido, o esquentado militar repetiu. Ele acaba de vociferar à imprensa: sua verba atual não lhe permitiria defender o país por mais de uma semana, se porventura a Suécia fosse atacada.
Outros poderão imitar o general Göranson, pois esse "modelo sueco" – de orçamentos militares em constante redução – se disseminou tanto pela Europa que os secretários americanos de Defesa, de Robert Gates até Leon Panetta, lamentam aquilo que eles consideram como uma automutilação de um continente a ponto de se privar dos meios estratégicos necessários para preservar o pouco de influência que lhe resta.
A Europa da defesa não existe, é preciso se resignar ao fato de que a defesa na Europa não existe mais? De Londres até Roma e Madri, passando por Berlim e Paris (os outros países praticamente não contam em termos de capacidade militar, com exceção da Polônia), a plaina do rigor está trabalhando. Nesses tempos de incerteza estratégica, a Europa se desarma.
A ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright havia estabelecido, em um relatório publicado em 2010, em 2% do PIB o limite abaixo do qual os países-membros da Otan não deveriam passar, pois poderiam comprometer um nível de segurança comum crível.
Ela não foi ouvida, para dizer um mínimo. Em 2012, comparando com os Estados Unidos, que concentram 46% dos gastos militares do mundo, e enquanto a China e a Rússia investiam maciçamente, a Itália estava em 0,84%, a Espanha em 0,65% e a França em 1,7%. Somente o Reino Unido cumpriu sua parte do contrato.
No entanto, é uma questão estratégica por outro motivo, como lembrou o relatório entregue pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Hubert Védrine, a François Hollande em novembro de 2012. Nesse ritmo, é mais provável que os fabricantes de armamentos da Europa desapareçam definitivamente das licitações dos países emergentes, como aconteceu naquilo que logo parecerá um vestígio do passado para as fabricantes de aeronaves da Suécia e da França no Brasil.
Essa espiral de atritos só levará as indústrias da defesa do Velho Continente e colocará de vez os europeus na órbita de um complexo americano provavelmente ávido por compensar fora de suas fronteiras os cortes orçamentários que ele também deve sofrer. A diminuição dos orçamentos da defesa ignora as consequências civis; ela acelera a desindustrialização que se pretende combater.
Perda de influência, de empregos e de autonomia, é sob essa ótica que os cortes orçamentários na defesa também devem ser examinados. Mesmo que possam passar por eternos rabugentos, os generais têm razão: agora que os países emergentes estão rapidamente se rearmando, a Europa está indo longe demais nos cortes na defesa. Ela corre o risco de sair da História.
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