quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

El País: O ativista "moderado" que apoiou e participou da revolução cubana ao lado de Che Guevara


Na elite da revolução cubana sempre existiu uma espécie de categoria classificatória dos dirigentes de nível, associada a líderes guerrilheiros, quer por terem feito parte de sua tropa nos tempos da "sierra", quer por terem se transformado em incondicionais de sua equipe em circunstâncias diversas e terem se submetido a seu controle pessoal e a sua disciplina. Desde logo, todos, de uma forma ou de outra, eram homens de Fidel, mas a partir dessa grande condição revolucionária havia numerosos matizes: havia o pessoal do Che, o de Raúl, o de

Piñeiro, o legendário comandante Barbarroja, e assim algumas outras seitas revolucionárias. Entre os homens do Che estavam Ramiro Valdés (ex-ministro do Interior), Orlando Borrego (ex-ministro do Açúcar) e também Enrique Oltuski, um homem culto e preparado que pertencia à pequena burguesia de Las Villas e que se uniu à luta contra Batista em meados dos anos 1950. Oltuski chegou a se transformar em coordenador clandestino do movimento 26 de Julho (de Fidel Castro) nas províncias centrais de Cuba, e foi uma ligação e um pilar logístico da guerrilha do Che nas montanhas de Escambray no final de 1958.

Oltuski, que morreu em 16 de dezembro em Havana aos 82 anos, no princípio teve desencontros consideráveis com Guevara e foi criticado pelo guerrilheiro cubano-argentino por considerá-lo moderado demais e parte dessa "direita revolucionária" que representava o "Llano" [planície], uma categoria depreciativa que os líderes levantados na Sierra Maestra utilizavam para menosprezar os ativistas que estavam nas cidades.

Oltuski nasceu em uma boa família em Santa Clara em 1930, e como muitos cubanos de posses desde jovem visitou os EUA e estudou na Universidade de Miami. Formado em engenharia arquitetônica, em 1955 foi contratado pela companhia americana Shell quando esta implementava um ambicioso projeto para instalar postos de gasolina na ilha. Enquanto trabalhava para a petroleira em Las Villas, começou a colaborar com o movimento de Castro e a realizar diversas operações clandestinas, subindo na organização. O primeiro encontro entre Oltuski e Guevara nas montanhas, quando este é enviado por Fidel Castro da Sierra Maestra para estender a guerra ao centro do país, é famoso por ter acabado em uma sonora discussão, depois que o primeiro aconselhou Guevara a fazer uma reforma moderada e paulatina e manter em segredo os planos mais radicais da revolução para não assustar os EUA. O Che chegou inclusive ao insulto, "o mais suave foi come-merda", lembrava há anos em uma entrevista a este jornal, e lhe espetou que as verdadeiras revoluções deviam ser profundas e não esconder seus objetivos.

Oltuski, que contava entre seus colaboradores com a jovem Aleida March, que depois se casaria com Che e teria com ele cinco filhos, esteve de acordo com o já então comandante Guevara em sua estratégia de obter recursos para o movimento através de assaltos a bancos. No entanto, finalmente Oltuski se transformou em homem de confiança do Che e o acompanhou em diversos cargos de confiança, até que o guerrilheiro abandonou Cuba em meados dos anos 1960.

Depois da vitória de 1959, Oltuski foi o ministro mais jovem do primeiro governo revolucionário, sob o mandato do presidente Manuel Urritia. No entanto, esteve pouco tempo no cargo de ministro da Comunicação, apenas um ano e meio, e depois saiu como vice-presidente à Junta de Planejamento Central, sob as ordens diretas de Guevara, a quem professava adoração. Até sua morte foi vice-ministro da Indústria da Pesca e nos últimos anos publicou vários livros autobiográficos de suas experiências com o Che.

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