El País: Colonos israelenses que praticam vandalismo devem ser responsabilizados

Judeus constroem uma casa no assentamento de Havat Gilad, na Cisjordânia

Tudo tem sua etiqueta. Quem toca algo deve saber quanto custa. Serve para manter as coisas como estão. Para que nada mude. É a política do "pricetag" (etiqueta de preço), que os colonos israelenses praticam desde a desocupação das colônias de Gaza por ordem de Ariel Sharon em 2005. Cada vez que são obrigados a desocupar uma das instalações ilegais dos colonos, um dos chamados "outposts" [postos avançados], o fazem pagar ao primeiro palestino que encontrarem ou a suas propriedades. Às vezes outros também pagam: por exemplo, as forças de segurança israelenses.

Essa política é uma forma de terrorismo de baixa intensidade. Pondo preço em cada alvo circunstancial, todos fazem uma ideia do que significaria devolver o conjunto dos territórios ocupados por Israel. A colonização foi concebida pelos mais moderados como uma forma de assegurar uma negociação vantajosa com os palestinos no dia em que se começasse seriamente a pactuar a devolução dos territórios (os outros a conceberam como o espólio territorial permanente que é até o momento). Não se deve esquecer que os palestinos partem, por sua vez, de uma exigência negociadora muito alta, e inaceitável para Israel, pois à devolução da Cisjordânia acrescentam o regresso dos refugiados e a capitalidade em Jerusalém. Os colonos, com suas prolíficas famílias e suas nutridas subvenções públicas, são a força de choque que ocupa primeiro e depois põe e marca o preço da devolução.

O historiador israelense Zeev Sternhell, especializado na história dos fascismos que sofreu na própria carne esta violência fanática, comparou essas atividades com a violência política europeia no entreguerras, própria dos nacionalismos étnicos. Os governos de Israel reprovam essas práticas, que às vezes se alimentaram de membros de suas forças de segurança. Ninguém que defenda o Estado de direito pode aprovar que jovens colonos incendeiem carros, arranquem oliveiras, fustiguem a população, ataquem os pedestres ou ateiem fogo a mesquitas e igrejas cristãs. Outra coisa é que sejam processados e punidos com a diligência e o rigor merecidos. É difícil que aconteça porque, afinal de contas, os colonos estão muito bem representados no governo e estarão mais ainda se a dupla Netanyahu-Lieberman vencer as eleições de 22 de janeiro. São numerosos os ministros e parlamentares, o próprio ministro das Relações Exteriores Lieberman, entre outros, que viv em na Cisjordânia e se identificam diretamente com os interesses da colonização.

Não é portanto brutalidade violenta e sistemática em grande escala, senão uma estratégia meditada, baseada em uma ideia supremacista que confere maiores direitos e menos obrigações aos cidadãos de Israel que aos cidadãos palestinos, inclusive aos árabes de nacionalidade israelense. Quando uma comunidade humana se considera superior às outras que convivem com ela em um território também costuma acontecer da porta para fora, em suas relações com as outras comunidades, incluindo as amigas e aliadas. Não é estranho, portanto, que a política de Netanyahu esteja toda impregnada da filosofia moral, ou imoral, dos colonos e de seu "pricetag".

O ápice dessa identidade de propósitos e de meios foi proporcionado pela reação governamental ao reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral da ONU. O governo de Israel, como os colonos dos "outposts", não admite ameaças nem pressões de ninguém, mas ao mesmo tempo não deixa sem castigo um só ato que considere hostil ou prejudicial a seus interesses. O preço do voto clamoroso da Assembleia Geral da ONU a favor do Estado palestino ficou marcado imediatamente com o anúncio da construção de residências na zona E1, que isola Jerusalém, divide a Cisjordânia e torna inviável o Estado palestino e impossível um acordo definitivo.

É o "pricetag". Israel o cobra da Autoridade Palestina e indiretamente de Obama e seus propósitos de paz para seu segundo mandato.
Netanyahu está neste momento no auge de seu isolamento. Holanda e Alemanha, os dois amigos mais incondicionais na UE, não podem aguentar mais tanta intransigência. Segundo a doutrina Merkel, fruto das trágicas lições da história da Alemanha, a relação com Israel faz parte da razão de Estado da República Federal. Obama poderia subscrever sua frase: "A segurança de Israel é sagrada". Até agora ninguém pôs em questão as vendas de armas e os acordos de segurança. É a última trincheira, que a Netanyahu não interessa deixar desnuda com novas e maiores provocações. Afinal de contas, o "pricetag" também acabará encontrando seus limites, e haverá um momento em que passará a fatura a quem se dedica a colar as etiquetas.