sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Le Monde: Conflito entre Israel e Hamas se expande para o Twitter

Foguete palestino rasga os céus de Gaza

“Você providencia as fotos, eu providencio a guerra”, teria dito um barão da imprensa americana há um século, segundo conta a história.

O conflito violento em Gaza entre Hamas e Israel, suspenso após um cessar-fogo acertado na quarta-feira (21), certamente produziu imagens poderosas de morte e sofrimento, que imediatamente circularam pelas redes sociais, sem a necessidade de um dono de jornais. As Forças de Defesa de Israel (IDF), que concluíram que fracassaram em explicar adequadamente suas ações durante a última guerra em Gaza, no final de 2008, tinham planos para realizar um melhor trabalho desta vez, segundo reportagens em Israel.

O poder das redes sociais –como músicos, jornalistas e empresas aprenderam rapidamente– é que quando feito de modo certo, o público faz o trabalho, repassando a mensagem para outros, que por sua vez também a repassam. Mas é um trabalho difícil, equilibrar a gravidade da guerra com um meio que parece obcecado por trivialidade.

De fato, anteriormente, Israel foi criticado por um programa no blog das forças armadas –algo que teve início antes do conflito em Gaza– que premia os visitantes por suas contribuições à causa nas redes sociais. Um crítico acusou Israel de transformar a guerra em um jogo.

Certamente, ao envolver as redes sociais, por exemplo, você perde o controle de sua mensagem assim que é feita uma postagem no Twitter.

E, de fato, os militares israelenses começaram de modo desigual.

Poucas horas depois de Israel ter matado o chefe do braço militar do Hamas, Ahmed Jabari, levando o Hamas a disparar mísseis contra Israel, a conta oficial das forças armadas israelenses no Twitter, atualmente com 200 mil seguidores, circulou postagens mostrando mísseis caindo na direção da Torre Eiffel, da Estátua da Liberdade e da Ópera de Sydney, perguntando: “O que você faria?”Abaixo dizia uma nota: “Compartilhe isto se você concorda com o direito de Israel de autodefesa”.

Mas a mensagem “soft” foi acompanhada por comportamento online mais agressivo que foi imediatamente criticado como impróprio. Os militares postaram um vídeo no YouTube mostrando o assassinato de Jabari, que o YouTube brevemente tirou do ar e depois recolocou, dizendo que a remoção foi um erro.

Também foi apresentada uma imagem de Jabari, em cor vermelha sangue, com a palavra “Eliminado”, e uma postagem provocadora das forças armadas no Twitter: “Nós recomendamos que os agentes do Hamas, sejam líderes ou de baixo escalão, não botem suas cabeças para fora do subsolo nos próximos dias”.

Essa postagem recebeu uma resposta do braço militar do Hamas, as Brigadas Al Qassam, endereçada ao responsável pela conta do Twitter dos militares israelenses, @IDFspokesperson, “Nossas mãos abençoadas alcançarão seus líderes e soldados onde quer que estejam (vocês mesmos abriram os portões do inferno)”. O diálogo entre os tweets em inglês dos dois lados inimigos terminou aí naquele dia.

Para os jornalistas que acompanham a imersão dos militares israelenses nas redes sociais durante o conflito em Gaza, a linguagem fanfarrona deu lugar a postagens que se concentravam no sofrimento dentro de Israel. A mudança faz sentido, eles dizem, porque o material celebrando o sucesso dos militares não sensibiliza ninguém fora aqueles que apoiam o país.

Gilad Lotan, um cientista de dados que estuda como a informação se espalha pelas redes sociais, disse que Israel teve sucesso em transmitir sua mensagem.

“A 'propaganda' da IDF deu para aqueles que apoiam Israel em todo o mundo uma munição digital que podem compartilhar, descontextualizar e contar a sua versão da luta israelense”, ele escreveu em um e-mail de Israel, onde estava visitando. “E funcionou. Essas peças de mídia foram compartilhadas imensamente pelo Twitter, Facebook, Instagram e Tumblr.”

Para Ali Abunimah, do site Electronic Intifada, pró-palestinos e sediado em Chicago, olhar o desenvolvimento de marca online de ambos os lados representa desviar a atenção da realidade em terra.

“Você pode dedicar anos de esforços e gastar muito dinheiro”, ele disse, “e fazer esforços tremendos para controlar a narrativa, mas a realidade –quando o míssil atinge e destrói uma casa– é isso o que muda a narrativa”.

Por todo o conflito, o uso das redes sociais facilitou para que cada lado se protegesse. Há hashtags rivais no Twitter: #pillarofdefense pelo lado israelense, #gazaunderattack pelo lado do Hamas.

Às vezes os mesmos eventos são repetidos em cada postagem no Twitter com significados radicalmente diferentes. As bombas disparadas de Gaza que caem próximas de Jerusalém são saudadas pelas Al Qassam como mostrando a habilidade de suas forças levarem a luta até o inimigo, enquanto a postagem dos militares israelenses inclui as notícias como exemplo de destruição arbitrária.

Em um caso raro de cruzamento na terça-feira (20), a Al Qassam, que conta com 40 mil seguidores no Twitter, encaminhou uma postagem dos militares israelenses relatando que cinco soldados foram feridos por um míssil disparado de Gaza.

Nesta semana, os esforços para moldar as percepções do conflito chegaram ao topo do governo israelense. Na noite de segunda-feira (19), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu postou aos seus 120 mil seguidores no Twitter um reconhecimento dos esforços do país nas redes sociais: “Eu gostaria de agradecer aos cidadãos de Israel e de todo o mundo que estão participando no esforço nacional de informação”.

O Twitter, sendo o Twitter, pareceu responder a esse comentário: “o 'esforço nacional de informação' de @netanyahu é realmente difícil de colocar em 140 caracteres. será que podemos usar simplesmente propaganda daqui em diante?”

Logo após seu agradecimento, Netanyahu fez uma segunda postagem, uma foto da semana anterior, de um bebê israelense (com o rosto obscurecido) que foi ferido por mísseis disparados de Gaza, com a legenda: “Para o Hamas, toda vez que há baixas civis, a operação é um sucesso”.

Quase ao mesmo tempo em que Netanyahu postava a foto do bebê ferido, as Brigadas Al Qassam usaram o Twitter para compartilhar fotos de um bebê morto por um ataque israelense. Cada uma vinha acompanhada de um comentário – Netanyahu: (“Hoje eu vi uma foto de um bebê israelense sangrando. O Hamas visa deliberadamente nossas crianças.”) e as Al Qassam: (“Onde está a cobertura da mídia dos crimes de Israel em Gaza?”)

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