sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"É crucial envolver Turquia e Irã", diz ex-chefe dos observadores da ONU na Síria

General Robert Mood 

O general Robert Mood (nascido em 1958, em Kragero, Noruega) aceita dar uma entrevista telefônica durante suas férias, depois de deixar em 20 de julho passado a direção da missão dos observadores da ONU na Síria. Conta que deixou a missão quando se completaram os 90 dias do contrato que assinou. Não lhe pediram que continuasse.

El País: Existe alguma possibilidade, mesmo que remota, de que esse conflito seja resolvido por meios não violentos?
Robert Mood: Sempre existe a possibilidade. Mas na situação síria tudo é muito difícil. Vemos que a violência alimenta mais violência, o uso indiscriminado e desproporcional da força e a desproteção dos civis fazem que haja possibilidades limitadas de se conseguir uma solução pacífica. Mas não devemos excluí-la, porque Kofi Annan (com sua demissão) lançou uma chamada de atenção muito séria às principais potências regionais e ao Conselho de Segurança para que se esforcem e façam o possível.

El País: Por que é tão difícil resolver esse conflito, em comparação com a Líbia, por exemplo?
Mood: Os rebeldes não controlam uma grande parte do território; existe de um lado uma força arrasadora, muito poderosa, e do outro há uma força frágil e fragmentada. Além disso, uma minoria governou o país durante muitos anos com um mecanismo que lhe dá o controle das forças armadas e das instituições, e quando se desafia esse controle muitas peças começam a se mover. Começou como manifestações para ganhar a liberdade e vai adquirindo dimensões históricas, sectárias, tribais; os curdos sem estado que têm presença na Síria, Turquia, Iraque, Irã... Quando um estado forte governado por uma minoria começa a se fragmentar, surgem todas as tensões. Terceiro, os erros cometidos pelo governo ao reprimir com mão dura os protestos provocaram um círculo vicioso de violência que agora é muito difícil de parar.

El País: Vale a pena mandar uma missão de observadores para a Síria com uma margem de manobra tão reduzida?
Mood: As aspirações dos sírios mereciam que se enviasse uma missão de observadores. A missão da ONU se mobilizou muito rapidamente. Foi um sucesso. O fracasso é que as partes decidiram não utilizar essa ferramenta.

El País: Que informação o senhor tem sobre a chacina de Hula?
Mood: Foi uma das piores, entre outras coisas devido à quantidade de crianças mortas. Uma das coisas de se ter observadores em campo é que se pode ter informação independente e imparcial. Documentada. A fraqueza é que sempre chegamos depois. Sabemos que usaram artilharia, morteiros e veículos pesados, que algumas crianças foram mortas à queima-roupa. Não sabemos quem fez isso e provavelmente nunca saberemos. Foi uma das maiores chamadas de atenção para a comunidade internacional.

El País: Como o senhor vê as possibilidades de uma intervenção militar? Teria possibilidades de êxito?
Mood: Não creio que uma intervenção militar seja uma boa solução. Creio que é necessário ativar políticas para buscar uma solução com o envolvimento de potências regionais como Turquia e Irã. Isso é crucial. A outra é apoiar o processo dentro da Síria. Os sírios devem decidir seu próprio futuro, viver juntos e proteger suas minorias. Uma intervenção externa não é uma boa solução; o apoio interno, sim.

El País: Que tipo de apoio?
Mood: Humanitário. Há civis demais presos, dezenas de milhares de crianças perderam as aulas, é preciso uma ajuda sanitária através da Cruz Vermelha e também reconstruir as cidades, as casas destruídas. E fomentar o diálogo político, animar as partes a buscar uma solução pacífica sem que continue se intensificando a violência.

El País: Quando o senhor deixou a missão, declarou que a queda de Bashar Assad é questão de tempo, mas que poderiam ser meses ou anos. Mantém essa opinião?
Mood: Não vejo um futuro sem mudança. Haverá uma mudança, mas será coisa de tempo. Pode demorar muito. As forças armadas se mantêm coesas e são fortes, mas o tempo joga a favor dos rebeldes. Podem capturar mais armas, organizar-se, tomar mais áreas, pode haver deserções em massa, podem conseguir um grande avanço, mas ainda poderá demorar muitos meses.

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