sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Venezuela escolhe entre "pátria" de Chávez e "progresso" de Capriles

Palacio de Miraflores

O candidato Hugo Chávez, que aspira a uma quarta reeleição consecutiva nas presidenciais de 7 de outubro, oferece a "pátria". Henrique Capriles, o candidato único escolhido pela oposição para enfrentá-lo, oferece "progresso". Essas duas palavras resumem as propostas que cada um fez aos venezuelanos durante as primeiras cinco semanas de uma campanha eleitoral que teve ares de epopeia; em que os símbolos da nação - a bandeira, o hino - também entraram na disputa. A dois meses das eleições, os dois se consideram vencedores e os institutos de pesquisa, que até há um mês davam como vitorioso Chávez, começam a reservar seus prognósticos.

Chávez escolheu as telas de televisão, os atos oficiais e os comícios em grandes cidades como terreno de campanha. Sua voz foi escutada de forma simultânea em todos os canais de televisão e rádios do país durante uma média de 36 minutos por dia; essas mensagens, que devem ser transmitidas de forma obrigatória por meios de comunicação públicos e privados, são chamadas na Venezuela de "cadeias". A oposição pediu, sem êxito, que o juiz eleitoral impeça Chávez de utilizar esta e outras de suas prerrogativas como presidente para fazer proselitismo. Chávez não se incomodou.

"Embora me acusem de estar em campanha, não estou em campanha. Estou fazendo pátria. Vamos fazer uma cadeia", disse esta semana, antes de capturar de novo o sinal de todos os veículos para mostrar que entregava uma réplica da espada do herói Simón Bolívar ao lutador de esgrima Raúl Limardo, que ganhou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.

Há pouco mais de cinco meses o presidente candidato foi submetido a uma terceira cirurgia para tratar um tumor maligno, depois de ter sido diagnosticado com câncer no ano passado. Apesar de o prognóstico oficial da doença continuar sendo uma incógnita, este deixou de ser um tema de debate no país. "Peço saúde e vida junto de vocês para terminar minha missão nesta terra (...) consolidando a independência e o socialismo democrático e bolivariano", disse Chávez no sábado em um comício, em uma das poucas menções ao assunto. Chávez participa de cada comício na carroceria de um caminhão e caminha só o necessário, mas uma vez que está na tribuna, banhado por multidões, procura saltar e dançar o máximo que pode. As fotos dele que adornam ruas e edifícios públicos não mostram seu rosto de agora, ainda afetado pelos tratamentos médicos, e sim de quando tinha seis anos menos.

Enquanto isso, Henrique Capriles percorre o país profundo buscando o voto casa a casa. No primeiro mês da campanha, que começou em 1º de julho, visitou 118 dos povoados mais distantes, em 21 dos 24 estados do país; em cada um organiza assembleias de cidadãos para escutar queixas e pedidos e apresentar seu plano de governo. Foi bem recebido inclusive em zonas tradicionalmente chavistas, como o bairro de Catia em Caracas, onde até três anos atrás seria impensável convocar um comício de oposição.

"Foi um mês extraordinário. Nunca antes se fez uma campanha com tanta intensidade. Isso tem seus frutos e o governo sabe", disse Capriles na terça-feira em uma entrevista coletiva, na qual explicou alguns de seus planos para melhorar os serviços públicos - e acabar com os apagões e o racionamento de água -, reformar a política do petróleo e gerar empregos. Seu compromisso é reconciliar o país, polarizado entre chavistas e opositores há uma década, e prometer aos que ainda se identificam com a oferta chavista que não perderão os benefícios sociais que obtiveram nesses anos. "Não está em risco qualquer conquista que alguém sinta como própria", insiste.

Os institutos de pesquisas não publicaram estudos recentes. As últimas medições, que na maioria davam a Chávez uma vantagem entre 10 e 20 pontos, são do final de junho. "Não sabemos o que está acontecendo agora", diz Luis Vicente León, diretor da Datanálisis. A elevada porcentagem de indecisos (23% na sua pesquisa) dificulta qualquer prognóstico.

A insegurança e o alto custo de vida também repercutem na campanha. A média de assassinatos em Caracas é de 48 para cada 100 mil habitantes. A inflação, a mais alta da América Latina, foi de 27,9% em 2011. A escassez de produtos, sobretudo alimentos, disparou no mês passado de 11,7% para 14,2% e foi cíclica na última década. Em compensação, segundo o Instituto Venezuelano de Estatística, 85% dos venezuelanos se beneficiam de algum programa social do governo, o que deu popularidade a Hugo Chávez.

4 comentários:

  1. "aspira a uma quarta reeleição consecutiva"
    Em que planeta?
    Hugo chaves que conheço pleiteia democraticamente o 3º mandato.

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  2. Na Venezuela o mandato tem 6 anos, quem criou a reportagem nem sabe disso e calculou que estaria indo para o quarto mandato. Falando em terceiro mandato, uma das provas da farsa de ´´nossa´´ democracia ocidental, que o povo s´[o pode eleger duas vezes seguidas seu representante do poder executivo, que suposta democracia é essa que o povo não pode reeleger quantas vezes quiserem seus representantes? E a ´´democracia´´ dos partidos e seus financiadores, uma plutocracia descarada, e ainda tem gente que acha que o ocidente é modelo para alguma coisa.

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  3. Democracia dos USA é uma piada de muito mau gosto.

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  4. Os EUA tem algo em sua política interna que serveria como exemplo para o mundo inteiro, chama-se a valorização dos estados, a maior autonomia dos estados em relação a federação, é o minimo que um país deve ter, a maioria dos países grandes entre eles o próprio Brasil, tem seus estados unicamente para encher bolso de governo federal e de empresas e bancos que se beneficiam de países enormes, porque é bem mais fácil criar negócio em um país do que 20, 30, 40, 50 países que poderiam ser uma nação grande por seu tamanho. Nos EUA vc tem autonomia bem maior, isso é um exemplo deles em política. Apesar que confederação seria bem melhor do que Federação, mais ai não existem interesses para isso.

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