quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Analistas temem concentração de poder nas mãos do presidente egípcio Mohamed Morsi


Mohamed Morsi
Em uma semana, o presidente egípcio, Mohamed Morsi, acabou com uma canetada com o amplo poder dos generais egípcios e lançou no Sinai a maior operação militar em décadas. O líder islâmico quis deixar claro quem manda no Egito e consolidou sua imagem presidencial de forma tão meteórica quanto inesperada. Era difícil imaginar que fosse tão fácil desembaraçar-se da eterna tutela militar egípcia, mas Morsi aparentemente o conseguiu. Com suave firmeza, marcou um feito crucial na tortuosa transição egípcia.

Mas a súbita assertividade do presidente não seduz a todos. A nova concentração de poder em mãos islâmicas corre o risco, segundo especialistas, de polarizar ainda mais a fragmentada sociedade egípcia. À espera de novas eleições parlamentares e com a Constituição pendente de redação, Morsi ostenta hoje um poder quase absoluto, que despertou receios em boa parte dos egípcios.

Seguidores da Fraternidade Muçulmana e, em geral, cidadãos desejosos de que os militares, o chamado "Estado profundo", transfiram o poder para as autoridades civis, correram na noite do último domingo (12) para celebrar as decisões de Morsi. Horas antes, o porta-voz presidencial, Yaser Ali, havia anunciado as novas medidas: o ministro da Defesa, marechal Husein Tantaui, símbolo do exército e do regime Mubarak ao mesmo tempo - foi seu ministro durante 20 anos -, estava fora do jogo. Em seguida, Ali anunciou a anulação do decreto constitucional pelo qual o exército usurpou poderes extraordinários do Parlamento e do futuro presidente.

Com essas medidas, Morsi, o candidato da Fraternidade Muçulmana, se envolveu no manto revolucionário que os jovens e não tão jovens que destronaram Mubarak na Praça Tahrir lhe negavam. "A revolução do presidente contra os militares", foi a manchete na segunda-feira (13) do jornal independente "Tahrir".

Poucas horas depois do anúncio presidencial, Morsi dirigiu-se à nação na última hora do domingo, na emblemática mesquita de Al Azhar. "As decisões que tomei não pretendem atacar ninguém nem envergonhar nenhuma instituição. Tampouco pretendiam reduzir as liberdades." Morsi se defendia de acusações que ainda não haviam ocorrido, mas tinha consciência de que estavam chegando.

Mohamed el Baradei, renomado opositor, ex-diretor da Agência de Energia Atômica, com conhecidas credenciais revolucionárias e laicistas, deu as boas-vindas às decisões de Morsi. Mas também advertiu sobre o perigo de que o presidente assuma o poder Legislativo e o Executivo ao mesmo tempo. El Baradei opinou que é preciso formar uma Assembleia Constituinte na qual estejam representados todos os setores da sociedade e que assuma o poder de legislar até a realização de novas eleições parlamentares, segundo o jornal "Al Ahram". Importantes juristas também questionaram a legalidade das medidas, enquanto alguns analistas interpretaram que o problema agora é que o poder passou das mãos de alguns - o exército - para as de um, Morsi.

Com o Parlamento dissolvido, o presidente se reserva agora o poder de promulgar leis, além de controlar o orçamento e de formar a Assembleia Constituinte que deverá redigir a Constituição da era pós-Mubarak. "Trata-se de uma tomada de poder aos militares, mais que o fim do poder dos militares. Esta é uma nova fase de governo autoritário", afirmou Robert Springborg, professor da Escola Naval do Departamento de Estado americano e especialista em exército egípcio, em declarações ao jornal "Al Masry al Youm".

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