quinta-feira, 5 de abril de 2012

Colômbia muda discurso oficial e diz que não quer mais aniquilar as Farc, mas sim enfraquecê-las

Missão humanitária de resgate de reféns das Farc na Colômbia
Reféns da guerrilha colombiana durante mais de doze anos, os dez militares e policiais libertados nesta semana deram sua primeira coletiva de imprensa. Sorridentes em seus uniformes novinhos, os homens contaram sobre o inferno da selva e o horror do cativeiro. "Nós ficamos acorrentados durante oito anos, de dois em dois, 24 horas por dia. Às vezes éramos acorrentados pelos pés, às vezes pelos pulsos. Os guerrilheiros sempre disseram que, se o exército tentasse nos libertar, não sairíamos vivos de lá", contou o tenente Luís Arcia, capturado em 1998.

"No início, a guerrilha era sólida e eficiente. Por isso fomos feitos prisioneiros", explicou o tenente de polícia Cesar Augusto Lasso. "Hoje, quando os guerrilheiros ouvem um avião chegando, é um pânico total". E resume: "A guerrilha está enfraquecida, mas não derrotada".

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, extrema esquerda), com 50 anos de existência, resistiram, com dificuldades, à ofensiva conduzida pelo exército desde 2002. Os guerrilheiros ainda são em 9 mil (contra 17 mil em 2002), segundo números oficiais. Obrigados a recuar para longe das grandes cidades, as Farc souberam se adaptar para sobreviver. E assediar o exército. Reorganizados em pequenas unidades móveis, os guerrilheiros passaram a fazer emboscadas e atentados, evitando o combate.


"Espada de Honra"
Os militares, por sua vez, tiveram de ajustar sua estratégia. Lançado há seis meses, o novo plano -chamado de "Espada de Honra"- vem sendo lentamente aplicado. Ele prevê a criação de onze forças-tarefa regionais, bem informadas e com grande mobilidade (para concentrar a ofensiva nas regiões onde as Farc são ativas), e o reforço das atividades de inteligência.

A colaboração voluntária dos cidadãos deve ser estimulada, o pagamento de recompensas aos informantes deve ser mantido e as campanhas de incentivo à deserção dos combatentes, reforçadas. Como parte do novo plano, o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Carlos Pinzón, anunciou o recrutamento de 5 mil soldados e de 20 mil policiais. E mencionou a compra de aviões não tripulados: para as Farc, a verdadeira ameaça vem da aviação. Em março, o bombardeio de dois acampamentos rebeldes causou a morte de 69 guerrilheiros.

O objetivo proclamado é visar os "líderes médios" das Farc, e não mais os grandes chefes. O exército eliminou vários membros do "Secretariado", a direção da guerrilha por muito tempo intocada: Raúl Reyes, o número 2 da Farc, foi morto em 2008, Mono Jojoy, grande estrategista, em 2010, e Alfonso Cano, que havia sucedido Manuel Marulanda, o líder histórico da guerrilha, em 2011. Mas nessa organização hierarquizada das Farc, os chefes mortos são imediatamente substituídos. Os militares querem hoje atingir os pequenos chefes locais para tentar desestruturar a guerrilha.

O discurso oficial mudou. Para o presidente Juan Manuel Santos, o objetivo não é mais aniquilar as Farc, mas sim enfraquecê-las para obrigá-las a negociar. "As Farc sempre disseram que elas queriam negociar, mas nunca mostraram a menor intenção de se desmilitarizar", acredita Roman Ortiz, especialista em questões de segurança. Santos comemorou a libertação dos últimos reféns "políticos", mas considerou o gesto insuficiente para iniciar as negociações de paz.

Para o exército, o desafio é ainda maior pelo fato de que o boom das indústrias extrativistas poderá modificar a geopolítica do conflito colombiano. "O exército está se vangloriando, com razão, de ter expulsado a guerrilha para longe das cidades. O problema é que os guerrilheiros agora estão perto dos poços de petróleo e das minas", resume Ariel Avila, autor de diversos estudos sobre as Farc.

Garantir a proteção das empresas multinacionais exigirá muita verba. Só que os efetivos da força pública (exército e polícia) já chegaram ao número de 457 mil ("ou seja, 1% da população do país", observa Avila) e os gastos militares a 4,8% do produto interno bruto. A guerra custa caro.

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