sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Líder islâmico espera receber voto dos marroquinos descontentes nesta sexta

Abdelillah Benkirane
"Estamos dispostos a assumir as responsabilidades governamentais." Abdelilá Benkirane, 57 anos, líder do islâmico Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD), repetiu a frase em muitos de seus comícios, os mais concorridos dos que se desenrolam nestes dias no Marrocos.

Benkirane não tem a menor dúvida de que vai ganhar as eleições legislativas desta sexta-feira (25), apesar de a outra grande corrente islâmica, a ilegal, mas tolerada Justiça e Espiritualidade, preconizar o boicote das urnas, na rua e nas redes sociais. "Se as eleições forem livres e transparentes, ganharemos", insiste Mustafá Ramid, um peso-pesado do partido.

Serão? "É pouco provável", responde o jornalista Ali Amar, autor de um livro sobre o rei Mohamed 6º. "O palácio real se esforça para preservar o controle do processo político" e para isso, segundo ele, usa o Ministério do Interior, que não é neutro. Jamaa Moatasim, a eminência parda eleitoral do PJD, confia em que "na sexta-feira se ampliará o teto da democracia no Marrocos. Se não for assim o diremos, não daremos nosso aval à consulta".

O PJD já foi, em 2007, o mais votado nas eleições, mas o desenho das circunscrições o prejudica porque privilegia as zonas rurais, onde gozam de menor apoio. Além disso, os islâmicos afirmam que com a compra de votos e as manipulações lhes "roubaram" 15 assentos. Por isso, os ganhadores em número de deputados foram os nacionalistas do Istiqlal. Se agora, finalmente, conseguirem mais escanos que seus rivais, o rei Mohamed 6º deverá acatar a nova Constituição e designar em suas fileiras o primeiro-ministro com mais poder na história do Marrocos.

Sentado em seu escritório de diretor do jornal "At Tajdid", Mustafá el Jalfi, coordenador do programa eleitoral do PJD, enumera as razões pelas quais desta vez serão os vencedores. "Primeiro, a primavera árabe com sua sede de mudança que chegou ao Marrocos; depois, as eleições na Tunísia, que projetaram uma maioria islâmica sem que ninguém rasgue as roupas", comenta.

"Fizemos uma boa campanha e somos o partido com maior presença nas redes sociais", prossegue Jalfi. "Por último, haverá cidadãos que, sem compartilhar nossas ideias, vão querer sancionar as autoridades e nos apoiarão." Para eles será mais fácil, já que o PJD edulcorou em seu programa seu ideário islâmico. Não o prejudicará a abstenção? "Os que não querem votar já estão descontados, porque nem sequer se inscreveram no censo eleitoral."

Mohamed Darif, professor da Universidade de Mohamedia, porém, não dá por garantida essa vitória do PJD. "Isto não é a Tunísia, onde os islâmicos estavam proibidos e perseguidos pela ditadura", lembra. "Aqui estão há 15 anos participando das instituições", acrescenta, embora com muitas restrições.

Os islâmicos confiam, entretanto, que conseguirão cerca de um quarto dos 395 assentos do Parlamento, uma proporção elevada porque o sistema favorece a fragmentação do eleitorado. O hipotético primeiro-ministro islâmico nomeado pelo rei deveria então formar uma coalizão governamental.

"Tentaremos isso com a Kutla", explica Jalfi, uma aliança composta por três partidos com história: os nacionalistas do Istiqlal, os socialistas e os ex-comunistas. Essas duas últimas formações são contra estreitar laços com o PJD. Portanto, é possível que sua vitória não lhes permita formar governo. "Nesse caso, devolveremos as chaves ao rei", afirma Benkirane.

Esse engenheiro extrovertido e um tanto fanfarrão é pouco apreciado no palácio. Algumas de suas frases desagradam. "Somos a favor da monarquia, mas contra um governo que trabalhe recebendo instruções por telefone", declarou em um comício, referindo-se às ligações de conselheiros reais para os ministros.

Se afinal o PJD se impuser nas urnas, Benkirane poderá ser nomeado. Do palácio se tentará então dissuadir os partidos tradicionais de aliar-se aos islâmicos, pelos quais o rei sente aversão. Ao receber em 2005 um senador americano, declarou: "Não se deixe enganar por eles, porque às vezes parecem ser razoáveis e amáveis". "Os EUA não devem ter nenhuma ilusão sobre eles", acrescentou, segundo um telegrama da embaixada americana em Rabat revelado pelo WikiLeaks.

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