segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Construção de mesquita gera controvérsia na Rússia

Os líderes da forte comunidade muçulmana de Moscou dizem que precisam desesperadamente de mais lugares para orar. Mas um plano para construir uma nova mesquita bateu de frente com a oposição local alimentada por nacionalistas que querem uma “Moscou limpa” sem muçulmanos e estrangeiros.

As pequenas árvores são para manter os muçulmanos fora de Tekstilshchiki, um distrito a sudeste de Moscou. Um jovem começa a trabalhar com sua pá, empurrando-a na terra com um chute determinado. Então ele coloca uma muda no buraco e joga terra em cima. Usando um regador, Maria Sotova derrama água sobre a muda. “Queremos um parque aqui e não uma mesquita ou uma igreja nem nada do tipo”, diz a mãe que está aqui com seu filho de seis anos. Há cerca de cem moradores de Tekstilshchiki reunidos no gramado – e eles querem evitar o início da construção de um centro religioso islâmico no local.

A mídia de Moscou já batizou o pedaço de verde de “o marco zero russo”, numa referência à mesquita que está sendo construída próxima ao Marco Zero, o lugar onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York antes do ataque terrorista de 11 de setembro. O maior jornal online do país, o gazeta.ru, fez paralelos com outras controvérsias europeias em relação ao Islã: a proibição da burca na França e o agora violento debate sobre a imigração na Alemanha. Os europeus estão assustados com o Islã porque os valores da religião são totalmente estranhos para eles, diz o artigo. “Agora estamos experimentando algo semelhante em Moscou e São Petesburgo.”

De acordo com estimativas do conselho de muftis de Moscou (equivalente ao conselho de diáconos na fé cristã), cerca de 20 milhões de muçulmanos vivem na Rússia hoje. Os muçulmanos dominaram algumas partes do país durante séculos. Embora a predominantemente muçulmana República do Tatarstão, na região do Volga, seja vista como moderada, há guerrilhas lutando para estabelecer um Estado islâmico no norte do Cáucaso. Extremistas islâmicos estiveram por trás dos atentados suicidas que estremeceram a capital russa em março deste ano e mataram 40 pessoas.

Sutileza da extrema direita

Até recentemente apenas grupos políticos não estabelecidos, extremistas de direita e cristãos ultra-ortodoxos eram abertamente islamofóbicos. Desde que as autoridades começaram a tomar medidas severas contra a cena de extrema direita, os grupos envolvidos começaram a recorrer a táticas mais sutis. Em Tekstilshchiki, uma organização de ex-neonazistas está tentando esquentar os ânimos contra a mesquita, citando argumentos que as pessoas têm facilidade de entender em vez de palavras abstratas ou ideologias: eles dizem que são contra a mesquita porque querem proteger as áreas verdes de Moscou.

A mesquita seria apenas a quinta em Moscou, embora a metrópole de 10,5 milhões de habitantes tenha mais de 1,5 milhão de muçulmanos. Em comparação, Berlim, que tem uma proporção de muçulmanos de menos de um sexto da de Moscou, tem pelo menos seis mesquitas grandes. É por isso que o conselho de muftis de Moscou quer que mais mesquitas sejam construídas e diz que Moscou deveria ter até 40.

Recentemente uma grande multidão se reuniu do lado de fora da maior mesquita de Moscou na avenida Prospekt Mira. Dezenas de milhares de fieis estavam tentando entrar em sua casa de orações para celebrar o final do Ramadã. “Você precisava conhecer o imã pessoalmente para conseguir um lugar na mesquita”, lembra-se Rustem, estudante do Uzbequistão. Como muitos outros, ele simplesmente desenrolou seu tapete de oração na rua em frente à mesquita. Outros colocaram seus tapetes entre os trilhos do bonde para se ajoelhar. Gritos de “Allahu Akbar”, ou “Deus é grande”, ecoaram pelas ruas enquanto os motoristas de Moscou ficavam irritados com os longos desvios de tráfego.

A favor do verde, não da xenofobia

O terreno que os administradores da cidade deram à comunidade muçulmana no distrito sudeste de Moscou é quase tão grande quanto um campo de futebol. É também o único espaço verde entre prédios de tijolos massivos, estacionamentos velhos e blocos de apartamentos modernos. Mães vem aqui para passear com seus filhos em carrinhos de bebê, e donos de cães brincam de jogar bola para seus cachorros.

Foi logo depois dos problemas de tráfego pós-Ramadã que os cidadãos de Tekstilshchiki se reuniram pela primeira vez nesse parque onde a mesquita deve ser construída. A organização Moj Dvor – que significa “Meu Quintal” - pediu assinaturas para uma petição contra a construção. Cerca de 300 moradores apareceram. Fotos da multidão orando nas ruas de Moscou foram entregues com a pergunta: “Nós precisamos disso?” escrita sobre elas.

Mikhail Butrimov, líder do “Meu Quintal”, chegou para a manifestação vestido com uma camisa xadrez. “Nós não somos contra a mesquita, nós somos a favor do parque”, disse ele e explicou que os moradores locais pediram ajuda a ele.

Camuflagem política

“Uma ideia original”, acrescentou Galina Kozhevnikova, vice-diretora do centro SOVA para Informação e Análise de Moscou, que monitora atividades extremistas e abusos aos direitos humanos; “camuflar a xenofobia usando a preocupação com o bem-estar das pessoas.”

De acordo com informação da SOVA, Butrimov e seus ativistas têm conexões com ultra-nacionalistas, como o partido nacionalista União Popular. Alguns sites de extrema direita trazem poemas escritos por Butrimov, incluindo um em que ele diz para os estrangeiros “tremerem de medo diante dos líderes de amanhã”.

O conselho de muftis de Moscou, que é responsável por construir a mesquita, está convencido de que os nacionalistas estão por trás dos protestos contra sua casa de oração. Eles dizem que a mesquita será construída num dos extremos do parque, deixando bastante espaço para recreação e pessoas que passeiam com seus cachorros. “O problema está em outro lugar”, diz Ildar Aljaudinov, o imã da maior mesquita de Moscou. Ele alerta que alguns muçulmanos podem ser radicalizar se não tiverem mesquitas para orar. “Precisamos construir mais mesquitas”, diz ele. “Do contrário, alguma coisa ruim substituirá a religião”.

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