Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, e Daniel Ellsberg, ex-analista do Pentágono famoso pelo vazamento dos documentos do Pentágono, atacaram no sábado a perseguição agressiva do governo Obama contra os informantes, principalmente Assange e outros supostamente envolvidos com a divulgação de quase 400 mil documentos secretos sobre a guerra no Iraque.
Assange também descartou a reação que classificou como deliberadamente “indiferente” do Pentágono ao fato de ele ter publicado documentos sobre o Iraque na sexta-feira. Ele disse que esses documentos “constituem o relato mais amplo e detalhado de qualquer guerra que já veio a público.”
Assange falou numa coletiva de imprensa num hotel em Londres, e foi acompanhado por Ellsberg, 79, responsável pelo vazamento de uma história secreta de mil páginas sobre a Guerra do Vietnã em 1971, que passou a ser conhecida como os "Documentos do Pentágono". Ellsberg, que disse ter voado durante à noite para a Califórnia para comparecer à conferência, descreveu Assange com admiração, como “o homem mais perigoso do mundo” para desafiar governos, principalmente nos Estados Unidos. Ele disse que o fundador do WikiLeaks tem sido “perseguido por todos os continentes” pelos serviços de inteligência ocidentais e comparou a ameaça do governo Obama de processar Assange ao tratamento que ele próprio recebeu durante o governo do presidente Richard M. Nixon.
Ambos atacaram o que consideram uma perseguição agressiva do governo Obama contra os informantes, o que, segundo Ellsberg coloca os Estados Unidos no caminho do mesmo tipo de estrutura legal repressora que a Inglaterra tem com o Ato de Segredos Oficiais. Ele disse que as investigações criminais contra três norte-americanos ligados aos vazamentos durante o governo Obama – incluindo o soldado Bradley Manning, um ex-analista de inteligência militar suspeito de fornecer os documentos sobre o Afeganistão e Iraque para a WikiLeaks – são mais um ponto baixo.
Ellsberg disse que o pedido do Pentágono para que Assange “devolva” quaisquer materiais confidenciais sob sua posse foi cuidadosamente eufemizado com uma linguagem similar à usada após a divulgação dos Documentos do Pentágono, quando ele foi ameaçado de ser processado criminalmente por espionagem. O “segredo”, diz Ellsberg, “é essencial para o império.”
O porta-voz do Pentágono, Goeff Morrell, condenou o vazamento e informações sobre o Iraque na sexta-feira, dizendo que esses documentos, e outros materiais confidenciais sobre a guerra do Afeganistão divulgados anteriormente pelo WikiLeaks, são um presente para as “organizações terroristas” e “colocam em risco as vidas de nossos soldados”. Mas ele também subestimou o significado histórico do último vazamento, chamando os relatórios de “mundanos” e dizendo que boa parte do material foi bem contada em relatos anteriores sobre a guerra.
Assange disse que a resposta não era “crível”, uma vez que o comentário foi divulgado antes que o Pentágono pudesse ter lido o vasto arquivo postado no site da organização na noite de sexta-feira. Ele disse que a declaração foi “uma tentativa de agir de forma desinteressada” para transmitir a ideia de que os documentos “não têm consequências”.
Ele disse que os documentos mostram que “o Iraque era um banho de sangue em cada esquina” e relatam 15 mil mortes de civis das quais não se sabia. Acrescentando essas mortes a outras 107 mil que foram registradas pelo grupo Iraq Body Count, o WikiLeaks estima que a morte de civis desde 2003 tenha sido de mais de 200 mil. Isso, diz ele, torna o custo humano do conflito no Iraque cinco vezes maior do que o do Afeganistão.
Ellsberg, que descreveu o Iraque como “uma guerra fatal, sem esperança e empatada”, disse que muitas das mortes de civis lá podiam ser contadas como assassinatos.
Assange e Kirstinn Hrafnsson, sócio do WikiLeaks, diz que estão determinados a continuar divulgando material e em breve postarão outros 15 mil documentos secretos sobre a guerra do Afeganistão.
Assange disse que logo levará este caso à ONU, mas não falou qual fórum irá utilizar. Quando questionado, um sócio de Assange disse apenas que “a ONU não significa Nova York”, sugerindo que Assange pode levar seu caso para uma das agências da ONU em Genebra.
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