No lado dos escoceses pró-independência, uma questão costuma ser recorrente nas conversas: "então por que Londres faz tanta questão de nós?" A pergunta não é somente retórica.
Afinal, os que defendem a permanência da união têm se empenhado em advertir que a Escócia não pode se permitir ser independente do ponto de vista econômico, porque ela perderia o apoio da Inglaterra. Segundo essa lógica, uma secessão seria um ganho financeiro para Londres.
A resposta a essa dúvida é primeiramente política. Se o primeiro-ministro britânico, David Cameron, luta para manter o Reino Unido intacto, é porque ele não quer ficar para a História como aquele que perdeu a Escócia, pondo fim a três séculos de união.
A estatura de seu país na comunidade internacional diminuiria. Seus armamentos nucleares, atualmente na Escócia, teriam de ser repatriados para a Inglaterra a um alto custo.
Cameron também correria o risco de perder seu cargo, como consequência do referendo. Quanto ao líder da oposição, Ed Miliband, ele acabaria perdendo um bastião trabalhista, tornando improvável sua eleição à liderança do país.
Mas existem também razões econômicas para Londres temer a saída da Escócia. Como a perda das receitas do petróleo do Mar do Norte, que representam em média 6% da arrecadação fiscal do Reino Unido nos dez últimos anos.
O impacto sobre as finanças públicas de Sua Majestade seria mínimo, uma vez que Londres não daria mais dinheiro ao orçamento escocês. As duas somas mais ou menos se anulam, ou talvez sejam ligeiramente favoráveis ao Reino Unido sem a Escócia.
Já a perda das receitas dos hidrocarbonetos desequilibraria nitidamente a balança de pagamentos britânica (as relações comerciais e financeiras entre o país e o resto do mundo).
Dezoito meses para negociar
Segundo cálculos de Azad Zangana, economista da Schroders, seu déficit passaria de 4,5% do PIB atualmente para uma margem de 5,5% a 6,5%. "É próximo de um nível associado a uma crise da balança de pagamentos, o que provocaria uma forte depreciação da libra esterlina". Uma vitória do "sim" no referendo escocês poderia, portanto, levar a uma crise da moeda britânica.
Além disso, a libra esterlina está sob pressão desde que as pesquisas passaram a apontar um crescimento do apoio à independência. Ela perdeu quase 2% diante do dólar, antes de se recuperar na quarta-feira, quando as pesquisas voltaram a dar uma ligeira vantagem para o "não".
Além disso, em caso de vitória do "sim" no dia 18 de setembro, teria início um longo período de incerteza. Alex Salmond, primeiro-ministro da Escócia, afirma que a independência se tornará efetiva no dia 24 de março de 2016, o que deixa 18 meses para negociar dezenas de questões muito complicadas.
Como dividir a dívida? Seria possível uma união monetária, apesar da atual recusa categórica de Londres? Como será exatamente a separação geográfica dos campos de gás e de petróleo? O que fazer com a BBC?
Os defensores do "não" advertem que esse período de negociações tensas pode acabar congelando os investimentos na Escócia. O mesmo raciocínio se aplica, em uma menor medida, ao resto do Reino Unido. O Crédit Suisse ressaltou em uma nota recente que teoricamente seria do interesse da Escócia exagerar os problemas, para forçar Londres a lhe oferecer condições mais favoráveis.
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