sexta-feira, 16 de maio de 2014

Trabalhadores retomam cidade do leste da Ucrânia, em revés para separatistas

Federalistas de Mariupol tomam IFV do Exército Ucraniano 
No que pode vir a representar uma virada decisiva no conflito ucraniano e um revés para a Rússia, milhares de siderúrgicos tomaram na quinta-feira (15) a cidade de Mariupol, assumindo o controle das ruas e expulsando os militantes pró-Kremlin que tinham tomado o controle várias semanas atrás.

Na noite de quinta-feira, mineiros e siderúrgicos tomaram pelo menos cinco cidades, incluindo a capital regional, Donetsk, apesar de ainda não serem a força dominante ali como em Mariupol, a segunda maior cidade da região e cenário na semana passada de confrontos sangrentos entre tropas ucranianas e militantes pró-Rússia.

Os operários são empregados de Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia e um recém-convertido ao lado da unidade ucraniana, que na quarta-feira emitiu uma declaração rejeitando a causa separatista da autonomeada República Popular de Donetsk, mas apoiando maior autonomia local. Sua decisão de apoiar o governo interino em Kiev pode desferir um duro golpe aos separatistas, já cambaleando após a retirada do apoio do presidente russo, Vladimir V. Putin, na semana passada.

Usando apenas seus uniformes protetores e capacetes, os operários disseram estar "fora da política" e apenas tentando restabelecer a ordem.

Diante de ondas de siderúrgicos acompanhados pela polícia, os manifestantes pró-Rússia dispersaram, assim como qualquer sinal da República Popular de Donetsk ou de seus representantes. Retroescavadeiras e caminhões basculantes das usinas siderúrgicas removeram todas as barricadas, sem resistência nem dos manifestantes e nem dos militantes pró-Rússia.

A Metinvest e a DTEK, as duas subsidiárias de metais e mineração da empresa de Akhmetov, a System Capital Management, empregam juntas 280 mil pessoas no leste da Ucrânia, formando uma força importante e possivelmente decisiva na região. Elas têm uma história de ativismo político que remonta as greves dos mineiros que ajudaram a derrubar a União Soviética. Neste conflito, elas ainda não tinham tomado partido.

Ainda é cedo demais para afirmar se os separatistas se reagruparão para resistir aos trabalhadores industriais, apesar de ninguém ter sido encontrado em Mariupol e arredores na quinta-feira, nem mesmo no prédio da administração pública que ocupavam.

"Nós temos que restabelecer a ordem na cidade", disse Alexei Gorlov, um siderúrgico, sobre sua motivação para se juntar a uma das patrulhas voluntárias e não remuneradas organizadas na Ilyich Steel Works.

Grupos de cerca de seis siderúrgicos acompanhavam dois policiais nas patrulhas. "As pessoas estão se organizando", ele disse. "Em tempos difíceis, é assim que funciona."

Os operários de outra usina, a Azov Steel, tomaram um lado da cidade, enquanto os da Ilyich tomaram o outro. Ambos os grupos tentavam convencer os estivadores a patrulhares o porto, disse Gorlov.

As duas usinas tinham hasteadas bandeiras da Ucrânia em suas sedes, apesar de que, como em grande parte do país, as lealdades não são muito claras. Pelo menos parte da polícia na cidade se amotinou na última sexta-feira, provocando uma troca de tiros com a guarda nacional ucraniana, que resultou em pelo menos sete mortos.

O presidente-executivo da Ilyich Steel, Yuri Zinchenko, está liderando as patrulhas de siderúrgicos na cidade. Ele disse que a empresa permaneceu de lado o máximo possível, apesar de apoiar tacitamente a unidade ucraniana ao convencer os operários que uma vitória separatista fecharia os mercados de exportação na Europa, devastando a usina e a cidade.

A Ilyich Steel Works, cenário sujo da expansão industrial de meados do século 20, é uma das usinas mais importantes da Ucrânia, produzindo 5 milhões de toneladas de aço por ano. Cerca de 50 mil pessoas trabalham na usina em Mariupol, uma cidade de 460 mil habitantes. Até o momento, 18 mil siderúrgicos se inscreveram nas patrulhas, disseram executivos da Metinvest.

"Não há nenhuma família em Mariupol que não esteja ligada à indústria do aço", disse Zinchenko em uma entrevista à sua mesa, decorada com uma miniatura da bandeira ucraniana. Ele disse que negociou uma trégua com os representantes locais da República Popular de Donetsk, mas não com os líderes do grupo.

A declaração de Akhmetov listou os problemas para a economia regional caso a República Popular de Donetsk vencesse sua luta contra o governo em Kiev.

"Ninguém no mundo a reconhecerá", ele disse em uma declaração gravada em vídeo. "A estrutura de nossa economia é carvão, indústria, metalurgia, energia, maquinário, produtos químicos, agricultura e todos os empreendimentos ligados a esses setores. Nós sofreremos enormes sanções, não venderemos nossos produtos, não poderemos produzir. Isso significa o fechamento das fábricas, isso significa desemprego, isso significa pobreza."

A Rússia é uma exportadora de aço, de modo que nunca foi um mercado significativo para a produção da região.

Os moradores apreciaram as patrulhas dos siderúrgicos por colocar um fim ao caos e insegurança. Eles disseram que homens mascarados roubaram quatro mercados, uma loja que vendia rifles de caça e uma joalheria, além de incendiarem um banco.

Um comentário:

  1. Segundo a voz da Rússia isso não é verdade. Interessante que a foto que ilustra a matéria mostra forças pró-Rússia comemorando.

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