sexta-feira, 16 de maio de 2014

Banco francês mantém aposta na Rússia apesar da crise na Ucrânia

O banco francês Société Générale continuará com sua estratégia na Rússia. Apesar do endurecimento da crise ucraniana e a incerteza geopolítica no Leste, apesar da radicalização das relações entre o Ocidente e Moscou, o presidente do banco, Frédéric Oudéa, reafirmou na terça-feira (13), durante a apresentação de seu plano estratégico para 2014-2016 aos investidores, "seu compromisso a longo prazo com a Rússia".

Em suma, nem se cogita que o maior banco estrangeiro do país – um mercado de 120 milhões de habitantes, onde ele se estabeleceu a partir do século 19 - , recolha a vela diante de uma bússola em pânico. É preciso manter o olhar fixo no horizonte, apostando na normalização da situação imediata e a médio prazo, na busca do diálogo diplomático com Moscou.

"Acredito na vontade da comunidade internacional de estabilizar a situação na Ucrânia e, nesse contexto, na pertinência de nossa estratégia de crescimento controlado, autofinanciado e rentável na Rússia", declarou ao "Le Monde" Frédéric Oudéa, evitando fazer qualquer comentário político sobre o conflito com o Kremlin.

Para suas atividades na Rússia, organizadas em torno de sua filial Rosbank, sétimo maior banco do país, o Société Générale prevê um crescimento anual de 7% de suas receitas a uma rentabilidade de 14% em 2016 para uma contribuição de 5% em seus lucros totais nesse prazo (no lugar dos 7,5% de 2013).

"Evitar uma escalada em termos de sanções"
E quanto ao que disse Christine Lagarde, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre as "duras consequências econômicas" em potencial na crise, em uma entrevista ao "Handelsblatt" de segunda-feira (12)? "Vejo ali um alerta contra os riscos dessa crise para a economia mundial e a afirmação do interesse de todas as partes em evitar a escalada em termos de sanções", replica Frédéric Oudéa.

Ainda que a Rússia represente seu segundo maior mercado em banco de varejo depois da França, e seja um pilar de sua expansão internacional, o Société Générale relativiza seus riscos. E isso mesmo com seus lucros do primeiro trimestre (315 milhões de euros) tendo caído, devido a uma depreciação de valor (puramente contábil) de suas atividades russas.

"A Rússia equivale a 3% de nossos créditos e menos de 5% de nossos resultados. Portanto, não é um risco significativo", diz Frédéric Oudéa. "Estamos confiantes, mas preparados para todos os cenários. A Rússia é um dos motores de crescimento de um foguete que possui vários deles", ele diz.

Sinergias
E quais seriam os motores de crescimento do Société Générale? Para um grupo que se vê como "banco universal europeu de referência (...) orientado para o cliente" – entenda um estabelecimento que atua em todos os setores, atacado e varejo na Europa, e focado nos serviços aos clientes, não à especulação – trata-se primeiro do banco de varejo, tanto na França quanto no exterior, e depois das atividades de financiamento e de mercados.

Resumindo, um modelo de banco equilibrado, longe do "mercado onipotente" defendido nos anos 1990 e 2000 de euforia financeira, onde 60% das receitas (e dos riscos) deverão ser provenientes do banco de varejo até 2016, contra 20% das atividades de financiamento e consultoria, e 20% também das atividades de mercado.

No entanto, é um modelo que não exclui o "espírito de empreendimento e inovação no digital", segundo seu presidente – um acordo mundial com a Microsoft acaba de ser fechado – , e "permitirá fornecer uma rentabilidade sólida e sustentável". O banco promete um crescimento anual médio de 3% de suas receitas, para uma rentabilidade "superior a 10% em 2016".

Mas essa rentabilidade está longe dos níveis atingidos pelo setor bancário nos anos 2000, antes da crise de 2007 – às custas de riscos cujos efeitos já são conhecidos – embora próxima das rentabilidades prometidas pelos outros grandes nomes do setor (entre eles, o BNP Paribas).

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