Enquanto o Irã e seis potências mundiais se reúnem esta semana em Viena (Áustria) para iniciar o esboço da linguagem para resolver seu impasse nuclear, negociadores dizem que estão finalmente enfrentando um ponto de impasse crucial para um acordo permanente - o tamanho e a forma da capacidade de produção de combustível nuclear que o Irã será autorizado a manter.
É um tema que pelo menos em público o governo Obama rodeia, agudamente consciente de que Israel e alguns membros do Congresso que desconfiam muito das negociações dirão que o Irã deve ser mantido longe da capacidade de desenvolver uma arma e de que os adversários do acordo em Teerã afirmarão que não devem ser impostas restrições.
Tanto os iranianos quanto as potências ocidentais disseram que suas negociações até agora foram produtivas, com pouco drama, ultimatos e posições arraigadas que marcaram as iniciativas anteriores. Mas até agora não houve uma discussão formal de quanta infraestrutura nuclear os EUA e seus aliados exigiriam que o Irã desmonte em troca da redução gradual das sanções.
"Esta é a conversa vital que ainda não tivemos", disse um alto membro do governo americano.
Em visita a Israel na semana passada, a assessora de segurança nacional Susan Rice e a principal negociadora dos EUA, Wendy Sherman, deixaram claro que os iranianos quase certamente manteriam certa capacidade de enriquecimento, embora as autoridades americanas tenham dito que nunca discutiram números específicos. Autoridades israelenses dizem esperar que o número fique entre 2 mil e 5 mil centrífugas. Autoridades dos EUA disseram que seu objetivo é manter o Irã a mais de um ano de distância da capacidade de produzir combustível utilizável em uma única arma nuclear - mas foram vagas sobre quanto além de um ano. Seria ainda mais demorado transformar isso em uma arma utilizável.
Em um discurso recente, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, foi cuidadoso ao se descrever como aberto a mais inspeções, mas não a desmontar a infraestrutura nuclear do país.
"Não temos nada a colocar na mesa e oferecer a eles além de transparência", disse ele à Organização de Energia Atômica de seu país, segundo o relato de organizações noticiosas iranianas. "É isso. Nossa tecnologia nuclear não está aberta a negociações."
Os iranianos falam em expandir seu estoque atual, construindo mais de 50 mil centrífugas, as altas máquinas prateadas que giram em velocidade supersônica e enriquecem o urânio. O Irã tem atualmente 19 mil instaladas, incluindo cerca de 8 mil que ainda não estão funcionando. Se o Irã atingir seu objetivo - o que é altamente improvável nos próximos anos, especialmente com uma nova geração de centrífugas que produzam combustível muito mais rápido -, especialistas americanos dizem que o Irã seria capaz de produzir material em grau de armamento em semanas.
"Uma capacidade de enriquecimento tão grande - na verdade, uma capacidade de enriquecimento maior do que alguns milhares de centrífugas de primeira geração - daria ao Irã uma capacidade de ação rápida e inaceitável", escreveu na "The National Interest" na semana passada Robert Einhorn, que até o ano passado era um membro importante da equipe de negociação do Departamento de Estado com o Irã. Se isso era mais que uma mera postura de negociação, escreveu ele, "é um cortador de conversa, e o Irã deve saber disso".
"Capacidade de ação" significa a capacidade de produzir uma bomba rapidamente - o que depende de muitos fatores além do número de centrífugas. O tamanho do estoque de combustível nuclear do Irã, a frequência e o alcance das inspeções nucleares e a capacidade de detectar instalações secretas (dois foram descobertas na última década) entram na equação.
Como disseram Rice e Sherman a legisladores americanos e especialistas externos, o segredo é deixar o Irã com uma infraestrutura nuclear para salvar a face, permitindo que seus religiosos e os comandantes da Guarda Revolucionária pudessem argumentar que não cederam o direito de produzir combustível nuclear, mas com uma capacidade suficientemente pequena para que a Casa Branca consiga superar as objeções do Congresso.
Aliados do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda irritados porque o governo Obama os manteve no escuro sobre as negociações secretas com o Irã que levaram à atual rodada de negociações, estabeleceram publicamente outro limite que eles sabem que os negociadores americanos não poderão evitar.
"Há dois modelos aqui: a Líbia e a Coreia do Norte", disse o ministro da Inteligência de Israel, Yuval Steinitz, em uma entrevista na segunda-feira. "Na Líbia, todos os elementos do programa nuclear foram entregues aos americanos e a inspetores" e deixaram o país, disse ele. "Na Coreia do Norte o equipamento foi desmontado e depois reconstruído", disse, "então começaram os testes nucleares."
Mas Steinitz reconheceu que os EUA e seus aliados haviam feito o que ele chamou de "progresso razoável" para conseguir que os iranianos concordem, pelo menos em princípio, em modificar um reator de água pesada perto da cidade de Arak que poderia ser usado para produzir plutônio no grau de armamento, outro caminho para uma bomba.
O chefe da organização atômica do Irã, Ali Akhbar Salehi, disse que sua agência está disposta a modificar os planos para Arak reduzir a produção de maneira significativa, indicando algum espaço para negociação. Mas quase não houve progresso na instalação de mísseis do país; na segunda-feira, o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, disse que as exigências ocidentais de limitação dos mísseis é "estúpida e idiota".
Enquanto os negociadores debatem o tamanho e o âmbito do programa nuclear iraniano, um novo estudo sobre o uso emergente de armas cibernéticas pelo Irã conclui que o país começa a seguir o modelo da China de usar "malware" [vírus] de computador para praticar espionagem contra empreiteiras de defesa dos EUA e o governo.
Mas os ataques de "hackers patrióticos", cujas ligações exatas com o governo iraniano e sua Guarda Revolucionária continuam nebulosas, pareceram diminuir por algum tempo no final de 2013, enquanto as negociações com os EUA e a Europa começavam a ganhar certa tração, segundo um estudo da FireEye, uma firma de segurança do Vale do Silício. As conclusões foram relatadas primeiro pela agência Reuters e uma cópia do estudo foi obtida pelo "New York Times".
O estudo enfoca o que os hackers iranianos chamam de "equipe de segurança Ajax", que diz estar "conduzindo diversas operações de ciberespionagem contra companhias na base industrial de defesa dos EUA" e está visando os iranianos que tentam escapar da censura em casa.
As autoridades iranianas deixaram claro que elas veem as questões cibernética e nuclear como intimamente relacionadas, especialmente depois que o Irã sofreu um ataque de militantes, conhecido popularmente como Stuxnet ou por seu codinome Jogos Olímpicos, que foi criado pelos EUA e Israel.
Os ciberataques levaram o Irã a anunciar que está montando um "corpo cibernético". Enquanto suas técnicas não se comparam às dos chineses ou russos, os hackers iranianos estavam determinados a efetuar um ataque em 2012 à produtora de petróleo saudita Aramco. O Irã também teria sido responsável por um ataque à rede interna do corpo de Fuzileiros Navais dos EUA que causou poucos danos mas foi considerado um desafio ousado.
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