Duas semanas após o ataque químico que resultou em centenas de mortos, no dia 21 de agosto, na planície de Ghouta, subúrbio de Damasco, o governo iraniano não parece mais tão unânime em seu apoio a Bashar Assad.
Desta vez, a voz dissonante veio do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, chefe do Conselho de Discernimento e figura da ala moderada. "De um lado, o povo recebe bombas químicas lançadas por seu próprio regime. De outro, ele deve esperar as bombas americanas", lamentou Rafsanjani, no dia 1o de setembro, durante um discurso no cantão de Savadkouh, no norte do país.
Essas acusações diretas contra Damasco, logo reproduzidas pela agência oficial ILNA, suscitaram grande constrangimento a Teerã, levando a agência a alterar em um primeiro momento sua nota, e depois a suprimir a passagem que atribuía ao regime de Bashar al-Assad o uso de armas químicas.
Inúmeras reações hostis dos conservadores
O fato de que um político de alto escalão tenha ousado se distanciar da linha oficial, que consiste em apontar os rebeldes, "apoiados pelo Ocidente e por centenas de países da região", como os verdadeiros autores do massacre, provocou inúmeras reações hostis.
"As declarações inacreditáveis de Rafsanjani sobre o uso de armas químicas na Síria já haviam sido pronunciadas, de maneira excessiva, pela Casa Branca e por Tel Aviv, com o intuito de ajudar os movimentos salafistas e jihadistas", lê-se, por exemplo, no site "Blognews", próximo dos conservadores.
A assessoria de comunicação do Conselho de Discernimento tentou colocar panos quentes através de seu porta-voz, Reza Soleimani, que explicou que "Rafsanjani havia afirmado que na Síria haviam sido usadas armas químicas, mas ele não mencionou o governo de Assad."
Lembranças amargas da guerra Irã-Iraque
Mas essas declarações e o constrangimento que elas provocaram poderiam traduzir o mal-estar crescente de parte dos dirigentes iranianos. O ataque do dia 21 de agosto, relatado por quase todos os veículos de mídia do Irã, despertou na opinião pública as amargas lembranças da guerra Irã-Iraque (1980-1988) e o uso sistemático de armas químicas por parte de Saddam Hussein contra civis e militares. Uma lembrança que permanece vívida na memória coletiva.
Ciente do efeito das imagens proveninentes da Síria sobre a opinião pública, o presidente moderado Hassan Rohani se manifestou pela primeira vez no dia 24 de agosto. "Nós condenamos de maneira firme o uso de armas químicas", ele anunciou em seu perfil do Twitter, sem apontar responsáveis. Rohani pediu à comunidade internacional que empregasse toda sua força para impedir o uso dessas armas "onde quer que seja, particularmente na Síria."
Entretanto, a determinação dos mais conservadores em defender ativamente o regime sírio parece intacta. Enquanto os guardiães da revolução reivindicam cada vez mais abertamente sua participação nos combates na Síria, uma delegação parlamentar iraniana foi até a Síria no dia 31 de agosto, para uma visita de três dias. O objetivo dessa visita, segundo o deputado conservador Mansour Haghighapour, seria "mostrar o apoio do povo e do governo da República Islâmica ao eixo da resistência islâmica e condenar o uso de armas químicas por parte dos terroristas."
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