Um ramo que se separou do histórico grupo terrorista Frente de Libertação Nacional da Córsega (FLNC) anunciou na terça-feira, por meio de um comunicado, que está pronto a voltar às armas se Paris não reconhecer "os direitos nacionais da ilha". No segundo dia da tensa visita oficial do ministro do Interior, Manuel Valls, a organização denuncia a atitude "ultrajacobina" da França, acusa o país de ter "administrado de forma desastrosa a Córsega há dois séculos e meio" e ameaça com ações armadas se Paris "prosseguir seu papel ativo na destruição do povo corso".
Na segunda-feira, Valls afirmou que a França não aceitará que a língua corsa seja o segundo idioma oficial da ilha, junto com o francês, rejeitando assim uma moção aprovada pelo Parlamento regional em 17 de maio último.
O grupo que assina o comunicado é ligado a outra cisão da FLNC, chamada Movimento 22 de Outubro, e foi criado em julho de 2012, embora ainda não tenha reivindicado nenhum atentado. Outro ramo separado, a União de Combatentes, atribuiu a si em 2012 diversos ataques contra "interesses franceses", especialmente supermercados e residências de férias.
A Córsega é uma das regiões europeias onde mais se cometem crimes e nos últimos dois anos viveu uma escalada brutal de mortes violentas, atribuídas às poderosas máfias locais. Três habitantes notáveis da ilha --um histórico advogado, o presidente de uma câmara de comércio e o responsável por um parque natural-- foram assassinados a tiros nos últimos seis meses, e os dados oficiais afirmam que em 2012 houve, ao todo, 19 homicídios e 16 tentativas de assassinato. Este ano, já foram registradas cerca de dez mortes violentas.
Apesar dos recorrentes planos de segurança lançados por Paris, a grande maioria desses crimes fica impune porque a "omertá" [lei do silêncio] é a regra. A visita de Valls tenta enviar uma mensagem de firmeza aos habitantes e aos violentos. "Há pessoas que têm medo e têm motivos para isso", advertiu o ministro, "porque o Estado francês está decidido a impor os valores da República."
Alguns cargos eleitos regionais expressaram seu mal estar por outras palavras de Valls, que afirmou que a violência está "enraizada na cultura corsa" e censurou a lei do silêncio. Na terça-feira, o ministro afirmou que ser prefeito na Córsega "é mais complicado que em outros lugares" porque os administradores da ilha "sofrem pressões mafiosas", e revelou que 15 personalidades locais estão sob proteção especial.
A intimidação das máfias substituiu, nos últimos anos, os atos terroristas da FLNC, que foi fundada em 1976 para lutar pela independência da Córsega. O grupo, clandestino desde 1983 e responsável por dezenas de assassinatos e centenas de atentados, explodiu em guerras internas cruéis e teoricamente cessou suas atividades em 1996.
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