quinta-feira, 20 de junho de 2013

O socialismo busca um novo caminho na Índia

Quando dois socialistas indianos tentaram recentemente descrever um problema com um ventilador de teto, eles empregaram a linguagem da revolução, provavelmente por força do hábito.

"É tudo ou nada", disse Nikhil Dey, estudando o ventilador, que ou girava rápido demais ou parava. "Tudo ou nada", murmurou Aruna Roy, uma associada dele, parecendo achar graça no pequeno apartamento dela em Nova Déli.

Mas após duas décadas de liberalização econômica na Índia, velhos socialistas estão sob uma pressão sem precedente para aceitar que existe algo como um caminho do meio. Enquanto lutam para permanecer relevantes como intelectuais que podem influenciar as políticas do governo, eles estão tentando entender qual é exatamente a ideia do caminho do meio, em uma nação que alega estar entre uma economia de mercado, que enrique os fortes para que os demais possam comer das migalhas que caem, e um Estado humano de bem-estar social, que gasta centenas de bilhões de rupias que não dispõe para ajudar os fracos e desafortunados.

A Índia independente foi criada e, por décadas, liderada por socialistas que imaginavam que suas boas intenções levariam a uma transformação da sociedade, o que revelou ser uma análise ruim da natureza humana. A nação foi posteriormente libertada daquilo que eles forjaram por meio de uma série de circunstâncias, incluindo uma crise econômica extraordinária no final dos anos 80 e o fato subestimado de que homens velhos um dia morrem.

"Uma nova verdade científica não triunfa ao convencer os oponentes e fazê-los ver a luz, mas sim porque seus oponentes algum dia morrerão, e uma nova geração crescerá familiarizada com ela", escreveu o grande físico teórico Max Planck. Isso vale para todas as novas ideias. A liberalização econômica da Índia foi em parte uma libertação de seus velhos.

Mas ainda há muitos socialistas entre os vivos e influentes, até mesmo entre os sábios. E o grupo mais poderoso deles é o Conselho Consultivo Nacional (NAC, na sigla em inglês), um grupo presidido por Sonia Gandhi, presidente do partido Congresso Nacional Indiano do governo. O NAC, que tenta influenciar o primeiro-ministro Manmohan Singh em suas políticas sociais, é a consciência do governo e aspira ser sua auréola. Roy já foi uma de suas integrantes mais influentes, mas em maio ela renunciou, devido a divergências com o governo. Além disso, ela disse em uma entrevista, dias após sua renúncia, "eu vivi na cidade por tempo demais. Eu desejo me mudar por um longo período para a Índia rural".

O socialismo evoluiu no Ocidente como uma reação à característica mais fundamental e criticada da riqueza, que é a de não se distribuir de modo igual. O fato de o socialismo ser uma teoria econômica catastrófica quando imitada por uma nação pobre conta com evidências claras à plena vista –quase toda a história da Índia moderna. Mas Roy acredita que a Índia tem problemas humanitários extraordinários demais para abandonar sua visão tradicional de que o governo deve intervir com grande quantidade de dinheiro para proteger os pobres, mesmo ao custo da desaceleração do crescimento econômico.

Há vários tipos de socialistas na Índia, sem contar os políticos profissionais. Roy e Dey, que trabalham com os pobres rurais e estudam os efeitos das políticas econômicas sobre os fracos, são raros. Mas há muitos no circuito letivo, do tipo que o peito se enche de orgulho quando lhes dizem que são incompreensíveis. E há os escritores, é claro. Como o socialismo alega falar aos oprimidos, ele se presta à prosa simplista, dramática e justiceira. Há centenas de jovens escritores na Índia, alguns honestos, alguns oportunistas, mas quase todos beneficiários da economia de mercado, que tentam alcançar o doce lamento contra o capitalismo por meio do jornalismo, blogs, contos e poesia.

Os maiores empresários da Índia são comerciantes socialistas, pelo menos na forma como abordam os negócios. De inovação e espírito de empreendimento, eles exibem muito pouco. Em vez disso, eles concentram seus recursos em torcer as regras, extrair favores de ministros e usar sua força política e outros métodos de persuasão para garantir licenças lucrativas –assim como seus pais atuavam na velha república socialista.

Sonia Gandhi e se filho, Rahul Gandhi, que acreditam que o governo precisa ser magnânimo e aparentar sê-lo, representam o tipo de socialistas que antes formavam o núcleo do partido Congresso. Roy, quando foi integrante do NAC, sempre contou com os ouvidos de Sonia Gandhi. "Eu posso afirmar que a compaixão dela pelos pobres é genuína", disse Roy. "Portanto, qualquer questão que apresentávamos recebia uma resposta imediata. Ela ouvia atentamente e se sensibilizava."

Roy não está mais em posição de influenciar diretamente Sonia Gandhi ou o governo. mas ela espera instigar uma rebelião entre os pobres para obter o mesmo resultado. Ela tem em particular uma repulsa pela relutância do governo em aprovar um projeto de lei ambicioso, que forneceria grãos gratuitamente para dois terços da nação.

A Índia tentou colocar um fim à fome por décadas, mas a comida nunca chegou às bocas pretendidas por causa de um sistema público de distribuição corrupto. O que salvou e continua salvando milhões de indianos da fome são as bananas e pacotes de biscoitos muito baratos, que chegam a cada canto do país por meio de um sistema de distribuição eficiente da iniciativa privada.

*Manu Joseph é editor do semanário indiano "Open" e autor do romance "The Illicit Happiness of Other People"

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