Sentado na soleira de sua porta, com os olhos semicerrados sob um chapéu de palha, o pastor acompanha com o olhar o tanque militar que atravessa seu terreno com um enorme estrondo. "Por enquanto, deixamos passar, mas se continuarem, nós, o povo, vamos nos revoltar e acabar com essa palhaçada de qualquer jeito", resmunga Ridha Messaoudi.
De manhã cedo, no dia 11 de junho, ele e seu primo Tahar saíram para levar suas ovelhas para pastar ao pé do monte Chaambi. Então uma cabra pisou em uma mina e Tahar, cravado por estilhaços, teve de ser transferido para Túnis, sendo a primeira vítima civil da guerrilha nessa parte oeste do país, próxima da fronteira argelina, entre o exército tunisiano e um grupo de jihadistas ligados à Al Qaeda.
"Não somos nós os alvos, são eles", diz Ridha Messaoudi, apontando com um gesto o blindado. "Mas agora ninguém mais se atreve a sair de casa, e não tenho feno para meus carneiros!". No dia 29 de abril, a caçada ao grupo jihadista que começou há semanas assumiu outro viés com a explosão de várias minas, que já fizeram 27 vítimas dentro do exército e da guarda nacional. Entre elas, três militares morreram e outros cinco tiveram de ser amputados.
"São minas antipessoais à base de nitrato de amônio – um fertilizante químico muito comum nesta região agrícola -, colocadas em recipientes de plástico difíceis de detectar", explica o coronel-major Mokhtar Ben Nasr, porta-voz do Ministério da Defesa. Desde então, o monte Chaambi e seu parque nacional, criado em 1980 para reintroduzir o carneiro-da-barbária, viraram uma zona militar. A montanha está cercada. No domingo (16), a população de Kasserine saiu para protestar e dizer "não ao terrorismo".
Nessa cidade pobre situada quase 300 quilômetros a sudoeste de Túnis, dominada pelo maciço que culmina em 1.544 metros, o mais alto do país, a raiva rivaliza com a incompreensão. As picapes carregadas de galões de gasolina contrabandeada continuam a percorrer as estradas como se não estivesse acontecendo nada, apesar da presença de caminhões de tropas ou de blindados, e do agora diário sobrevoo de helicópteros militares.
Os moradores dizem nunca ter cruzado com terroristas ou fundamentalistas, e paira a suspeita sobre essas operações militares cada vez mais visíveis. "Os terroristas se deslocam em pequenos grupos, eles não são vistos, nossa ação entra no contexto de uma guerra assimétrica que as pessoas não entendem", diz o coronel-major Ben Nasr.
Um sinal de desconfiança foi o fato de as famílias dos soldados mortos terem recusado as honras militares. E a morte do oficial Mokhtar Mbarki, 43, alvejado por engano no dia 3 de junho por seus colegas durante uma emboscada à noite, não contribuiu para apaziguar as suspeitas.
"Como cinco de seus amigos podem ter se enganado? Mokhtar levou dez tiros a uma distância de 3,5 metros!", protesta sua viúva, Najet Rtibi, grávida de seu quarto filho. "Os terroristas ainda estão na montanha, segundo as escutas telefônicas, não é um complô ou uma farsa, é uma realidade dura de aceitar para a imagem de Kasserine", suspira o deputado do partido islamita Ennahda, Walid Bennani. Divididas entre o dever de informar e o medo de prejudicar a imagem da Tunísia, as autoridades estão minimizando os acontecimentos.
No local, o exército encontrou cabanas, túneis e esconderijos nas inúmeras grutas do maciço que continham alimentos, planos, grampos telefônicos, documentos e nitrato de amônia. O grupo, que se autodenominou de katiba Oqba Ibn Nafi, nome do conquistador muçulmano que fundou a cidade santa de Kairouan no século 5, foi identificado e retratos de jihadistas, ainda imberbes, foram divulgados.
"De 35 homens, onze são argelinos", explica o oficial de polícia Mohamed Ali Aroui, porta-voz do ministério do Interior. "O objetivo deles é montar um campo de treinamento e atrair para lá jovens recrutas." O monte Chaambi, que se estende por 100 quilômetros quadrados, sendo 70 quilômetros quadrados de pinheiros-de-alepo, possui poucas trilhas, e os militares tiveram de mapeá-las para monitorar, entre outros, todos os pontos de água.
Não é a primeira vez que o maciço, conhecido por ser de difícil acesso, é alvo de tentativas de implantação de jihadistas. No dia 18 de maio de 2011, no posto avançado da fronteira, em Rouhia, um confronto fez quatro mortos, dois militares e dois jihadistas, entre os quais estava Abelwaheb Hmaied, uma figura conhecida da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico.
Depois foi a vez de Bir Ali Ben Khalifa, perto de Sfax, no dia 2 de fevereiro de 2012, onde dois outros jihadistas morreram. Depois disso, 25 kalashnikovs foram encontradas em Kasserine, na cidade de Ezzouhour. No dia 6 de dezembro de 2012, em Fernana, perto de Jendouba, tunisianos e argelinos que se deslocavam pelas montanhas foram interpelados. No dia 10, no monte Chaambi, eles fizeram sua primeira vítima ao matar o guarda nacional Anis Jlassi, de 26 anos...
As armas estão vindo da Líbia, e os investigadores passaram a ter certeza de que o grupo mantém relações estreitas com os jihadistas instalados no norte do Mali. Desde então, segundo uma fonte securitária, houve diversos confrontos armados. No dia 13 de junho, um incêndio de origem indeterminada devastou 40 hectares no lado sul. Mas agora foi no flanco norte, em uma zona habitada, que a mina feriu o pastor e que uma segunda foi desativada. Em Kasserine, reforços do exército, exigidos por muitos, finalmente acabam de chegar.
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