A poucas horas da abertura dos postos de votação para a eleição presidencial do dia 14 de junho, a ansiedade mudou de lado. Após a retirada de Mohammed Reza Aref, único verdadeiro candidato reformista, dando lugar a Hassan Rohani, as chances desse religioso moderado, que milita por uma trégua com o Ocidente, de chegar a um possível segundo turno, cresceram nitidamente.
Já a ala conservadora permanece dividida entre três principais personalidades, dentre as quais nenhuma quis se retirar. São eles: Ali-Akbar Velayati, ex-ministro das Relações Exteriores e conselheiro diplomático do Guia Supremo Ali Khamenei; o prefeito de Teerã, Mohammad Bagher Ghalibaf; e o negociador-chefe para a delicada questão nuclear, Said Jalili. O quinto candidato, Mohsen Rezaie, um ex-chefe do estado-maior dos pasdarans (guardiães da revolução), o exército de elite do regime, é considerado uma zebra. Já o sexto, Mohammed Gharazi, desconhecido do grande público, não tem nenhuma chance de passar para um segundo turno.
"Agora esperamos dos candidatos conservadores que eles se sentem juntos, sem perder mais tempo, e escolham um deles como o candidato da ala conservadora", escreveu Hossein Shariatmadari, diretor do jornal ultraconservador "Kayhan", após a retirada de Aref, na terça-feira. Um outro religioso conservador, o hojatoleslam Hossein Ebrahimi, avisou que em "caso de desunião, haverá um segundo turno cujo resultado é incerto (…), ao passo que se os conservadores se unirem, eles podem vencer já no primeiro turno".
"Uma presença maciça dos iranianos na eleição desencorajará os inimigos"
Mas nenhum dos três candidatos conservadores que permanecem quis dar ouvidos à razão. Todos os três realizaram um comício na quarta-feira à noite em Teerã, uma vez que a campanha deve ser encerrada na quinta-feira de manhã, 24 horas antes da eleição. Cada um dos três acredita ter boas chances de vencer.
"Apesar de todos os rumores, permanecerei na corrida até o final", afirmou Velayati, principal alvo dos apelos pela desistência. "Ele permanecerá até o final, e não deem atenção às pesquisas", disse Ali Bagheri, diretor de campanha de Jalili, que por muito tempo apareceu como o favorito, mas se encontra em desaceleração desde o fim de semana.
Um dos raros estudos de opinião, realizado pela agência Mehr e cuja fiabilidade continua requerendo muita cautela, posiciona Ghalibaf na liderança, à frente de Rohani e de Jalili. A participação na eleição foi estimada em 77% pela pesquisa.
Isso deve tranquilizar o Guia Supremo, que assumiu mais uma vez a palavra na quarta-feira para incentivar os iranianos a votarem: "Se eu insisto em uma presença maciça dos iranianos na eleição, é porque isso desencorajará os inimigos, que vão reduzir a pressão e escolher uma outra via", declarou Ali Khamenei, que é o verdadeiro chefe do Estado iraniano e concentra a maior parte dos poderes em suas mãos.
O Guia quer fazer dessas eleições uma operação de relegitimização do regime, amplamente desacreditado pelas supostas fraudes maciças de 2009 e pela repressão das manifestações que se seguiram. Nesse sentido, um segundo turno só daria credibilidade a uma eleição da qual foram afastados os dois candidatos mais incontroláveis para o governo: Akbar Hashemi Rafsandjani e Esfandiar Rahim Mashaie.
Se a "engenharia eleitoral" tentará obter a participação e mesmo o resultado desejado por Khamenei, essa campanha eleitoral ilustra também o quanto o número um iraniano tem dificuldades para dominar os apetites e os egos de sua própria ala.
Cada um dos três candidatos conservadores --ou "principialistas"-- é considerado próximo do Guia, mas isso não impediu que ocorressem violentas discórdias. A principal delas se dá entre Velayati e Jalili. O primeiro promete o "desenvolvimento das relações" com os países estrangeiros, sobretudo uma diplomacia mais flexível com as grandes potências quanto à questão nuclear para reduzir as sanções econômicas impostas ao Irã. Documentos do Banco Central, publicados na quarta-feira em Paris pelo opositor exilado Amir Hossein Jahanshahi, o fundador do movimento de oposição Onda Verde, revelam um país "à beira da falência", onde o desemprego chega a 25% (quase 39% entre aqueles com menos de 30 anos).
"Morte àqueles que defendem o acordo" com os ocidentais
Já Jalili defende uma linha de "resistência" frente aos "inimigos" do Irã. "Morte àqueles que defendem o acordo", gritava a multidão em seus comícios. Ghalibaf se manteve prudentemente afastado desse debate, preferindo se concentrar na futura recuperação da economia.
Graças a essa campanha eleitoral, o objetivo dos ocidentais foi atingido: o programa nuclear, ou pelo menos a estratégia de negociação, se tornou um tema de debate nacional. Resta saber se o resultado das eleições mudará alguma coisa. Não, respondeu recentemente o ministro das Relações Exteriores Ali-Akbar Salehi, que sabe muito bem que o único que tem poder de decisão sobre a questão é Ali Khamenei.
A mesma avaliação foi feita pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que disse na quarta-feira, em Varsóvia, que as eleições não trariam "nenhuma mudança" pois "sempre haverá um único homem no poder, buscando o poderio nuclear". Pelo menos uma vez, eles concordaram.
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