segunda-feira, 20 de maio de 2013
Enquanto Japão corteja o crescimento, Europa ainda adora a austeridade
Enquanto a Europa mergulha mais fundo naquela que se tornou sua recessão mais longa desde a Segunda Guerra Mundial, o Japão postou um taxa de crescimento inesperadamente robusta de 3,5% sob as novas medidas ousadas de estímulo do primeiro-ministro Shinzo Abe –precisamente o remédio que muitos pedem para os líderes europeus adotarem.
"As elites da Europa não aprendem", disse Stephan Schulmeister, um economista do Instituto Austríaco de Pesquisa Econômica. "Em vez de dizer: 'Algo está errado, nós temos que reconsiderar ou encontrar um mapa diferente, uma mudança de curso', o que temos é mais do mesmo."
Ele acrescentou: "Angela Merkel não está disposta a aprender com a experiência japonesa", referindo-se à chanceler alemã.
Desde que tomou posse em dezembro, Abe tem buscado um programa de três pontas –chamado abordagem de três flechas em japonês– para colocar um fim a duas décadas de estagnação na economia japonesa. Ele envolve uma política monetária fortemente expansiva, aumento dos gastos fiscais e mudanças estruturais para melhorar a competitividade. O crescimento no primeiro trimestre sugere que sua abordagem já está surtindo efeito.
Não apenas as exportações melhoraram, o fruto lógico de uma desvalorização da moeda, mas o sentimento entre os consumidores e o consumo dos lares também melhoraram. "A economia real está respondendo", disse Adam S. Pogen, presidente do Instituto Peterson para Economia Internacional, em Washington. "Nos últimos cinco, seis meses, houve um miniboom do consumo. Todas as coisas que as pessoas disseram que nunca ocorreriam no Japão ocorreram."
Ele acrescentou: "O banco central do Japão está apoiando a recuperação e está funcionando. O Banco Central Europeu está apoiando a estagnação e está funcionando".
A questão é se os líderes europeus aprenderão com os japoneses, mas a resposta até o momento parece ser não. Apesar do mandato de Abe estar apenas no início, o Japão pode ter encontrado a receita para um estímulo econômico bem-sucedido, mas a Alemanha está bloqueando a porta para a cozinha europeia.
"Na Alemanha, a hostilidade em relação a essas medidas não convencionais é maior do que em qualquer outra sociedade europeia", disse Heribert Dieter, um economista político do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, em Berlim. No entender dele, a questão é se o abandono da austeridade forneceria algo mais do que alguns poucos meses ou alguns poucos anos de folga.
Fora mais flexibilidade na velocidade dos cortes no orçamento, há pouco sinal de uma mudança de pensamento na Alemanha. Na verdade, a sensação é de que Berlim está fincando seus pés. "Isso adiaria o acerto de contas", disse Dieter. "Não resolveria os problemas." A ênfase, no ponto de vista alemão, precisa estar na manutenção da disciplina fiscal, concentrando-se ao mesmo tempo nas mudanças estruturais para restaurar a competitividade, a única das três flechas de Abe que os alemães parecem dispostos a tirar a aljava.
Muitos economistas alemães argumentam que o período de retração está se aproximando do fim e que os ganhos prometidos pela dor da austeridade agora estão próximos. "Não há necessidade de um programa especial de estímulo fiscal", disse Michael Huether, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia.
Huether apontou para os sinais de melhora do desempenho das exportações em países como Espanha, Grécia e Portugal como evidência de que a melhora está próxima. "Eu estou otimista de que a recuperação ocorrerá no ano que vem", ele disse. "Não é uma boa ideia adotar o programa japonês."
A inveja do mundo nos anos 80, o Japão sofreu um colapso no mercado imobiliário e de ações que o deixou atolado em uma armadilha de deflação, com queda dos preços e uma economia alternando entre crescimento anêmico e contração. O Japão sofreu durante as recessões de 2011 e 2012, encolhendo a uma taxa anual de 3,5% até o final do terceiro trimestre do ano passado.
Depois que o Partido Liberal Democrata de Abe conseguiu uma vitória esmagadora em dezembro, Abe cumpriu sua promessa de aumentar os gastos públicos. O banco central aumentou a liquidez e o iene sofreu uma desvalorização de 20% frente o dólar neste ano, uma bênção para os exportadores do país. O mercado de ações japonês voltou a exibir alta, com o Índice Nikkei 225 subindo mais de 70% em relação ao ano passado.
"Abe claramente decidiu mudar de curso e é possível ver que os resultados foram quase imediatos", disse Mark Weisbrot, diretor do Centro para Pesquisa Econômica e de Políticas, em Washington. "É um sucesso claro."
Os economistas alemães levantaram a perspectiva de desvalorizações competitivas, uma corrida ao fundo que não beneficiaria ninguém. "Se todos os países no planeta fizessem isso, nós voltaríamos aos anos 30", disse Dieter. "Devolveria o mundo às políticas 'empobreça seu vizinho', à hostilidade e exclusão."
Outros rejeitam essa noção. "O Banco do Japão e o governo japonês, juntamente com os bancos centrais e governos americano e britânico, ficariam contentes em ver o BCE se juntar a eles no alívio quantitativo ou em alguma outra forma de estímulo monetário mais ativo, sem nenhum problema de 'empobreça seu vizinho' aqui", disse Posen.
Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, deu um passo importante em meados do ano passado, ao dizer que o banco protegeria o euro e impediria seu fracasso, mas também traçou uma linha dizendo que não ajudaria mais e que manteria a pressão sobre os países em dificuldades para realização das reformas estruturais dolorosas.
A crise do euro foi retratada na imprensa alemã como uma espécie de peça moral, onde o sofrimento é necessário para a redenção. "O incrível é que ninguém deseja falar que a Europa poderia fazer exatamente o mesmo que o Japão", disse Weisbrot. "Deveria mostrar ao mundo, se o mundo estivesse prestando atenção, que se trata na verdade de uma decisão política da troika manter a economia em recessão."
Jens Weidmann, o presidente do banco central da Alemanha, tem sido um crítico franco até mesmo das meias medidas adotadas por Draghi. Em um ano eleitoral, Merkel tem atendido à oposição pública ao uso de dinheiro alemão para ajudar os países mais duramente atingidos pela crise.
"O tom das declarações do BCE e a extensão com que o BCE torna qualquer estímulo condicional são determinados pelo governo alemão", disse Posen.
A Alemanha contou com a menor taxa de tomada de empréstimo ao longo da crise, à medida que os investidores buscavam refúgios para seu dinheiro. O emprego permaneceu forte e o país tem atraído pessoas qualificadas à procura de emprego, oriundas de países como Espanha, Itália e Grécia. Mas muitos dos consumidores das exportações alemãs estão na periferia da Europa atingida pela crise, e a Alemanha escapou por margem estreita da recessão no primeiro trimestre.
Enquanto isso, a França voltou à recessão, enquanto a economia da zona do euro encolheu pelo recorde de seis trimestres consecutivos. O presidente da França, François Hollande, tem pedido por uma ação coordenada europeia para aumentar o crescimento, mas sem ser atendido.
"A observação empírica é a de que à medida que mais países tentam adotar políticas de austeridade, maior se torna a razão da dívida", disse Schulmeister, dando sua opinião, não a de seu instituto. "Trata-se de um resultado grotesco."
Ele não tem muita esperança de que os líderes europeus sigam o exemplo recente do Japão. "Eles já deixaram sua depressão para trás", disse Schulmeister, "enquanto a Europa está com a depressão à sua frente".
Isto está cheirando a demanda reprimida. É bom saber também o percentual de investimento do governo. Cautela em econômia nunca foi demais, e ainda mais nesses tempos.
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