segunda-feira, 8 de abril de 2013
Opinião: atrocidades diárias marcam declínio acelerado do Paquistão
Os paquistaneses estão comemorando a conquista de um governo eleito - pela primeira vez na história do país - que permanece no cargo durante os cinco anos de seu mandato constitucional. Não importa que essa seja a única conquista desse governo, ou que a notícia seja afogada pelas histórias de terror que continuam emanando do Paquistão. Estas só servem para reforçar a impressão de um Estado cada vez mais disfuncional, fragmentado, muito perturbado, do qual muito depende, mas em que a fragilidade e a instabilidade continuam crescendo.
As atrocidades crescem sobre atrocidades. As minorias são visadas e assassinadas - com aparente impunidade - por extremistas que se gabam publicamente de fazê-lo. E a violência não se limita às minorias. Qualquer pessoa que não se enquadre em uma definição estreita e exclusiva de "muçulmano", como definida pelos fundamentalistas religiosos, passa a sofrer ataques crescentes. Os onipresentes santuários sufis, reverenciados por cerca da metade da população sunita, são atacados por extremistas que os consideram apóstatas. Os humanitaristas que oferecem serviços sociais e médicos aos pobres são mortos a sangue-frio - como testemunham o assassinato de trabalhadores de saúde e da vacina antipólio e o de Parveen Rehman, o chefe da célebre ONG de serviço social e urbano do Paquistão, projeto Orangi de Karachi. E agora sabemos que, com a aproximação da eleição, os partidos políticos estão cortejando os perpetradores, em vez de prometer derrotá-los.
As previsões sobre o Paquistão, uma indústria em crescimento hoje mas que manteve acadêmicos e analistas ocupados durante décadas, muitas vezes produziram análises perspicazes e perturbadoras. Quase todos os observadores chegam à mesma conclusão - o Paquistão vai seguir em confusão durante o futuro previsível. Vemos o Paquistão ou através de "um copo cheio pela metade", o que significa que existe esperança de que algum dia, de alguma maneira, o país dê meia-volta, ou através de "um copo vazio pela metade", o que significa que sua trajetória em longo prazo é na direção do fracasso, mas que ele se manterá unido durante nosso período de vida (cimentado pelo exército).
Mas as notícias cada vez mais sombrias que saem do Paquistão me lembram forçosamente do que meu querido amigo, o falecido sir Hilary Synnott, ex-alto comissário britânico para o Paquistão, afirmou alguns anos atrás. O copo cheio pela metade ou vazio pela metade não é a metáfora apropriada, ele disse. Os analistas deveriam olhar para o Paquistão através da imagem de "um copo grande demais", ele insistiu, com o que queria dizer um país constantemente se excedendo.
Eu acho que sir Hilary havia descoberto alguma coisa. O Paquistão historicamente tentou dar golpes acima de sua cintura. Isso deriva principalmente de sua visão histórica da Índia como sua ameaça existencial. Isto elevou o exército, lhe deu uma aprovação pública acima dos políticos e permitiu que ele tomasse - quase como um direito próprio - a maior parte dos recursos do Estado para manter uma paridade imaginária com a Índia. Para aumentar seu arsenal, o exército recrutou militantes religiosos para combater como substitutos contra a Índia e no Afeganistão. A ironia é que o exército perdeu o controle desses substitutos, e hoje são eles que realizam os ataques contra o Estado e seus cidadãos.
Além do exército, o Paquistão herdou suas outras instituições políticas e econômicas dos britânicos (e em certa medida dos mongóis) e, como em quase todos os antigos países coloniais, estas foram tomadas pelas elites indígenas e o Estado, em benefício dessas elites e do Estado. Isto foi muito adequado para o exército, pois essas instituições logo foram reduzidas diante do exército e assim permaneceram. Se essa sociedade tivesse continuado tão estruturada, com o tempo aquelas instituições políticas e econômicas poderiam ter-se fortalecido e se tornado mais independentes, e o Paquistão mais moderno. Às vezes isso acontece, mas não é frequente. O acréscimo desses militantes substitutos hoje autônomos a uma mistura já duvidosa tornou essa mistura ainda mais tóxica e a modernização, muito menos provável.
Diante de nossos olhos, o Estado paquistanês, que parece ter cedido sem um murmúrio à narrativa exclusivista dos fundamentalistas, pode ter começado a se desenrolar. A metáfora de sir Hilary de "um copo grande demais" pode ter uma aplicação e um significado ainda mais amplos. Como um Estado pode continuar se arrastando quando perdeu os requisitos fundamentais de um Estado, seu monopólio do uso e definição da violência legítima? Quanto tempo ainda passará antes que os paquistaneses concluam que a proteção básica que seu Estado deveria fornecer aos cidadãos - de vida e propriedade - está ausente.
Surge o sentimento de que o ponto de inflexão da curva de "confusão" está sendo alcançado, que de fato o copo grande demais que deveríamos observar está cheio e transbordando de problemas que o Paquistão não pode tratar - um Estado fraco sob o ataque dos monstros que ele criou, com instituições políticas e econômicas geralmente disfuncionais, seguindo um círculo vicioso e não demonstrando promessa ou esperança de transformação. O Ocidente, assim como os vizinhos regionais do Paquistão, deveriam estar pensando nas implicações políticas e estratégicas de um declínio acelerado para o fracasso do Estado neste país chave, dotado de armas nucleares.
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