sexta-feira, 5 de abril de 2013

Guerra de líder chinês à corrupção parece ter limites

 Xi Jinping

O novo líder da China, Xi Jinping, continua sendo uma entidade desconhecida, mas um elemento de sua agenda está bem claro: o governo, ele declarou repetidamente, não mais tolerará a corrupção desenfreada que ele diz estar ameaçando o poder do Partido Comunista.

Mas a aparente guerra de Xi contra a corrupção tem limites, pelo menos a julgar pelo tratamento dado a quatro ativistas detidos pela polícia no domingo, após abrirem faixas no centro de Pequim que expressavam apoio à guerra à conduta ilegal oficial, como foi descrita pelo próprio partido.

"A menos que coloquemos um fim às autoridades corruptas, o Sonho da China será apenas um devaneio", dizia uma das faixas, em uma referência à promessa de Xi de revitalizar a nação por meio de um crescimento econômico mais equitativo, forças armadas fortes e maior transparência do governo –elementos chave de seu chamado sonho chinês.

Outra faixa pedia às autoridades para revelarem publicamente seus bens, uma proposta que enfrenta resistência por parte de interesses poderosos dentro do partido. Os ativistas também exigiram que autoridades revelem se possuem passaportes estrangeiros, uma prática cada vez mais comum entre aqueles que buscam escapar da Justiça fugindo para o exterior.

A manifestação breve em uma praça pública, não distante do complexo da liderança chinesa, foi pronta e duramente interrompida pela polícia. Até a tarde de quinta-feira, os três homens e uma mulher permaneciam detidos por "manifestação pública ilegal", segundo seus advogados, um crime que pode resultar em até cinco anos de prisão.

Ma Gangquan, um dos advogados, disse que os ativistas ficaram pasmos com a forma como foram tratados.

"Foram nossos líderes que criaram o slogan 'Sonho da China', prometendo governar segundo a lei e combater a corrupção", disse Ma, que representa Ma Xinli, 47 anos, um funcionário do departamento de logística de uma empresa de ônibus de Pequim. "A meta deles era simplesmente encamparem a causa dele."

Apesar de ser improvável que Xi e outros dos principais líderes estivessem cientes do protesto, defensores de direitos disseram que as detenções, somadas à recente perseguição a outros ativistas anticorrupção, são um sinal preocupante de que a liderança está determinada a reprimir qualquer campanha populista em torno de uma questão central da agenda do presidente.

Uma petição pedindo para que os líderes revelassem publicamente sua riqueza foi removida da Internet, e vários cidadãos ativistas por todo o país foram detidos nas últimas semanas, por tentarem coletar assinaturas ou realizar manifestações semelhantes anticorrupção.

No mês passado, dois ativistas foram detidos em uma prisão secreta em Pequim por mais de uma semana, disseram defensores de direitos.

Apesar da promessa de Xi de abater "tigres e moscas" em sua cruzada contra o clientelismo e transações em proveito próprio, Nicholas Bequelin, um pesquisador sênior do Human Rights Watch em Hong Kong, disse que as recentes detenções sugerem uma falta de determinação entre os altos líderes.

Mesmo que o partido esteja ciente dos protestos públicos, Bequelin disse que líderes anteriores exploraram o sentimento popular para promover agendas que enfrentavam a resistência de interesses poderosos.

"Se a sociedade for mantida agrilhoada, há pouca chance de vencer o status quo dentro do partido", ele disse, notando como o falecido líder Deng Xiaoping convocou o apoio popular, no início dos anos 90, para superar a oposição conservadora às suas reformas econômicas.

Até o momento, grande parte da campanha de Xi contra a corrupção se concentrou na extravagância e desperdício entre os funcionários públicos. As medidas de austeridade anunciadas no final do ano passado, que incluem uma proibição de viagens frívolas ao exterior e cerimônias de tapete vermelho para dignitários visitantes, castigaram os burocratas do país que antes gastavam livremente.

Os chineses comuns ficaram animados com os resultados, mas muitos ainda aguardam por mais sinais de que Xi esteja realmente determinado a acabar com a cultura de comissões e propinas que enriqueceu inúmeros membros do partido.

"Quando as autoridades prendem cidadãos que estão pedindo por uma lei que exija que as autoridades revelem seus bens, isso não envia a mensagem de que o partido realmente leva a sério o combate à corrupção", disse Bequelin.

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