quarta-feira, 17 de abril de 2013
EUA ignoram a crise síria
O presidente norte-americano Barack Obama tem resistido obstinadamente em envolver os Estados Unidos no conflito na Síria. A morte de mais de 70 mil pessoas e a situação de mais de um milhão de refugiados têm provocado a simpatia da Casa Branca – mas nada muito além disso. Isso porque a Síria desafia o objetivo central da política externa de Obama: a redução da presença dos EUA no Oriente Médio e a minimização da importância da região para a política global. Ampliar a atuação na Síria poderia reverter o recuo dos EUA na região.
Desde o início do primeiro mandato de Obama, a postura do governo norte-americano à medida que os acontecimentos se desdobravam no Oriente Médio tem sido totalmente reativa. Essa abordagem de "sentar e aguardar" causou o desperdício de uma oportunidade preciosa para influenciar o rumo dos acontecimentos no Oriente Médio. Nenhuma estratégia foi posta em prática para capitalizar a oportunidade que a Primavera Árabe representou nem para conter suas consequências – a crise síria foi a pior delas até o momento. O presidente Obama recompensou os generais birmaneses com uma visita de seis horas devido à boa vontade demonstrada por eles em realizar reformas, mas ele não visitou nenhum dos países árabes que passaram pela Primavera Árabe.
Obama vê a situação na Síria como uma trágica crise humanitária sem óbvias implicações estratégicas para os Estados Unidos. "Como é que eu avalio o peso de dezenas de milhares de pessoas que já foram mortas na Síria em relação às dezenas de milhares de pessoas que estão sendo mortas no Congo?", Obama perguntou em uma entrevista concedida à revista "New Republic" em janeiro passado. Quando o presidente visitou o Oriente Médio, no mês passado, ele optou por se concentrar no processo de paz árabe-israelense, em vez de atentar para o conflito na Síria. O processo de paz entre palestinos e israelenses está atualmente no topo da agenda do secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
A situação dos palestinos é uma preocupação perene, mas é na Síria que o futuro da região será definido. Escolher o processo de paz árabe-israelense em vez do conflito na Síria ressalta não o interesse do governo Obama no Oriente Médio, mas sua determinação em não dar atenção à região.
Washington perdeu um tempo precioso ao utilizar alavancas diplomáticas, econômicas e militares para influenciar o curso dos acontecimentos na Síria. Essa negligência permitiu que o conflito se ampliasse com um grande custo de vidas humanas, radicalizando a oposição e colocando em risco os aliados dos EUA na região.
Os Estados Unidos não podem e não devem decidir o destino do Oriente Médio, mas devem ser claros sobre sua participação na região, e não devem se eximir dos esforços para, pelo menos, dar um empurrão para que os eventos de desenrolem em uma direção mais favorável, num momento em que essa região crítica encontra-se diante de escolhas decisivas. A postura de "sentar e esperar" diante dos eventos que estão se desenrolando é perigosa.
Espera-se que o paroxismo da violência na Síria mate mais dezenas de milhares de pessoas e produza até três milhões de refugiados até o fim do ano. Só para que não restem dúvidas: essa é uma tragédia humanitária, mas ela tem consequências estratégicas imediatas. A despreocupação norte-americana em face da devastação está fomentando o antiamericanismo na região. As ondas de refugiados formarão uma população instável, que será um terreno fértil para o extremismo e, por sua vez, desestabilizará os países onde essas pessoas vierem a se refugiar. Os vizinhos da Síria não estão preparados para lidar com um desastre humanitário nessa escala.
Quanto mais tempo a devastação continuar, mais difícil será a recuperação da Síria – e a não realização desse processo de recuperação vai deixar para trás um pântano perigoso no coração do Oriente Médio, um estado falido e em guerra consigo mesmo, no qual o extremismo e a instabilidade vão envenenar as relações e todos os tipos de terroristas e afiliados da Al-Qaeda vão encontrar muito espaço, muitos recursos e muitos recrutas para ameaçar a região e o mundo.
Pior ainda, o conflito na Síria pode vir a transbordar de suas fronteiras. A Síria tornou-se o marco zero de um conflito mais amplo, que opõe xiitas contra sunitas e molda a ampla competição regional por poder entre Irã, Turquia e Arábia Saudita. Caso se permita que os paroxismos da Síria se arrastem, eles poderão se espalhar muito e até mesmo mudar o mapa da região. Os EUA podem pensar que não têm nenhum interesse na Síria, mas eles têm interesse em todos os países passíveis de serem afetados pelo conflito sírio.
O Líbano e o Iraque estão profundamente divididos por grupos sectários, e ambos os países estão em uma situação muito difícil à medida que as tensões aumentam entre suas populações xiitas, que são maioria e temem um revés caso Bashar al-Assad seja deposto, e os sunitas minoritários, que apoiam a oposição síria liderada por sunitas. As tensões sectárias se estendem do Líbano até o Iraque e através dos países do Golfo, como a Arábia Saudita, o Kuwait e o Bahrein, chegando até o Paquistão, onde a violência sectária explodiu abertamente.
É hora de os EUA assumirem a liderança da organização da assistência internacional aos refugiados. Os norte-americanos não devem se esconder atrás do veto russo. Os EUA devem levar adiante uma estratégia diplomática conjunta para apoiar o fornecimento de armas aos rebeldes e impor uma zona de exclusão aérea sobre a Síria. Isso não apenas prejudicaria a capacidade de Assad de lutar, como também permitiria que os refugiados permanecessem dentro das fronteiras da Síria, reduzindo, assim, a pressão sobre os países vizinhos.
É hora de os EUA assumirem o controle da situação e retirá-lo das mãos de Qatar e Arábia Saudita para poderem organizar a oposição síria e transformá-la em uma força política crível. O fracasso em levar essa empreitada a cabo é o responsável pelo caos que paralisou a oposição. Os EUA poderiam implementar grandes sanções econômicas para incapacitar o regime de Assad.
Finalmente, os Estados Unidos devem construir laços com o Exército Livre da Síria com o objetivo de impedir que grupos extremistas sejam capazes de dominar a resistência armada e de ganhar influência por meio de grupos que irão dominar o futuro da Síria. Foi o fracasso norte-americano em construir esses laços no Afeganistão que permitiu que os grupos de resistência que se opunham à União Soviética se desintegrassem no Taliban e na Al Qaeda.
A crise síria tornou-se um nó górdio que não pode ser facilmente desatado. Apesar de essa crise parecer muito assustadora, há um custo a ser pago pela inércia – e esse custo se traduz em sofrimento humano, instabilidade regional e nos danos à posição global dos Estados Unidos. E, à medida que a crise da Síria se ampliar, os EUA e o mundo só vão redescobrir seus interesses no Oriente Médio. Se Obama realmente quer se afastar do Oriente Médio, ele precisa ajudar a acabar com o derramamento de sangue na Síria.
*(Vali Nasr, diretor da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, é autor do livro "The Dispensable Nation: American Foreign Policy in Retreat" ["A Nação Dispensável: A Política Externa Norte-americana Recua", em tradução livre), que será lançado em breve.
Os EUA estão patrocinando os terroristas na Síria e esperando no que vai da. Estrategicamente os EUA fingem que não estão vendo o que está acontecendo na Síria. È uma maneira de dizer que não está envolvido, ou seja fingem, mas estão patrocinando derramamento de sangue de milhares de Sírios mensalmente.
ResponderExcluirOs EUA ainda queriam que o mundo seja solidário com eles em relação aos atentados em Boston na semana passada. Ai pergunto: Os centenas de afegão que são mortos mensalmente? Mulheres crianças são mortas de formas discriminadas. Será que essas pessoas não merecem solidariedade também?
Eu não sinto pena dos EUA , pois eles são os grandes patrocinadores de terror e é o Estado que mais mata estrangeiros do mundo.
Edson Silva
Creio que quando se trata de conflitos armados cada país deve resolver seus próprios problemas.
ResponderExcluirIsso aí não é um confronto armado, é um exército que atira nas pessoas que querem democracia.
ExcluirA real é que o mundo não tá nem aí pra população da Síria, esse conflito começou quando as tropas de Assad começaram a dispersas as rebeliões pro democracia com tiros!
ResponderExcluirO simples fatos do exército sírio utilizar mísseis scuds em zonas urbanas e raids aéreos sobre as cidades já é uma clara demonstração de afronta aos direitos humanos.
Vejo nos fóruns na internet que os amercianos, russos, australianos e muitos outros enxergam a FSA como terroristas, infelizmente... eu os vejo como pessoas que não querem mais um ditador que prova ao mundo todo o seu desprezo pela vida dos outros.
Amigo você está destorcendo a realidade. Quem está querendo o poder não é o povo Sírio e sim alguns grupos armados apoiado por países estrangeiros que querem seus interesses seja consolidado na Síria.
ExcluirEsse negócio de democracia é maior lavagem cerebral que existe. Um grupo terrorista no poder não representaria o povo e sim interesse dos EUA no O.M. Por isso que os EUA estão fornecendo armamentos pesados para os terroristas e ignoram mortes de crianças civis e militares diariamente. Fingem que nada está acontecendo. Assad está combatendo grupos terroristas e não povo Sírio como alguns querem afirmar.
Quando os EUA invadiram Afeganistão usaram facas para combater talibã? Assad está está usando todas armas possíveis para combater terroristas , menos arma que química. Não vejo na errado nisso.
Edson Silva
Vc já viu um vídeo de um míssil scud caindo sobre uma cidade? Mata soldados, terroristas, mulheres, não sobra nada.
ExcluirNo período que vivemos o poder deve emanar do povo e não de um ditador, os tempos das dinastias já se foram.
O Scud não é um ICBM, mas sim um míssil balístico tático. Foi sempre usado como arma de artilharia.
ExcluirA OTAN afirmou que detectou lançamentos de mísseis cuja a trajetória e distância correspondia a um Scud.
http://www.trust.org/alertnet/news/scud-type-missiles-launched-in-syria--nato-official/
Em tempo, a TV estatal síria sempre exibiu o Exército Árabe Sírio realizando disparos dessa arma. Tem um vídeo no blog que mostra isso.
Alguém sabe a situação estratégica na Síria nesse momento ? Não consigo informação.
ResponderExcluirSituação estratégica? Como assim?
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