quarta-feira, 17 de abril de 2013

Enquanto tenta firmar pacto de segurança, Obama está pronto para se reunir com Putin

Putin e Obama

O presidente Barack Obama aceitou um convite para se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin antes da conferência do G-20 (ou Grupo dos 20) que ocorrerá na Rússia neste outono (que vai de setembro a novembro no hemisfério norte), informaram na segunda-feira passada funcionários do governo russo. O encontro sinaliza uma nova oportunidade para aliviar as tensões entre os dois países, apesar de o Kremlin continuar reagindo com indignação aos esforços norte-americanos para punir cidadãos russos acusados de violar os direitos humanos.  

O anúncio de uma "reunião de cúpula bilateral" na Rússia, no próximo mês de setembro, e do encontro agendado entre os dois presidentes – que ocorrerá paralelamente a uma reunião do G-8 (Grupo dos 8) na Irlanda do Norte, em meados de junho – foi feito após o conselheiro de Segurança Nacional de Obama, Tom Donilon, ter se reunido em Moscou, na segunda-feira passada, com Putin e outros altos funcionários do governo russo para tentar renovar a cooperação entre os dois países em questões de segurança.

Em uma série de reuniões, primeiro no Ministério das Relações Exteriores da Rússia e, em seguida, no Kremlin, Donilon tentou obter um acordo para a realização de mais cortes nos arsenais nucleares dos dois países, para a ampliação da cooperação destinada a controlar a ameaça de um ataque com mísseis por parte do Irã ou da Coreia do Norte e para a instauração de laços econômicos mais fortes entre Rússia e EUA, disseram as autoridades russas e norte-americanas. Donilon também entregou uma carta de Obama endereçada a Putin. Na carta, o presidente norte-americano abordou muitos desses temas.

Por vários motivos, o momento da visita de Donilon dificilmente poderia ter sido mais inadequado, pois ela ocorreu apenas três dias após o governo Obama ter proibido mais de duas dezenas de russos de viajarem aos Estados Unidos ou de manterem ativos no país devido a supostos abusos de direitos humanos. Embora a medida, que teve sua aplicação exigida por uma lei aprovada em dezembro passado nos EUA, fosse amplamente esperada, ainda assim ela causou indignação e provocou retaliações imediatas por parte da Rússia, que publicou sua própria lista de norte-americanos que devem enfrentar sanções semelhantes.

Autoridades disseram que o descontentamento russo ficou claro em cada uma das quatro reuniões de que Donilon participou, mas que, considerando-se o contexto, o resultado geral pareceu bastante positivo – e que sua visita a Moscou, apesar dos fervilhantes contratempos diplomáticos, também enviou um sinal forte de que a Casa Branca está pronta para começar a trabalhar com o Kremlin e a se esquecer do recente tom azedo de suas relações.

"O conselheiro de Segurança Nacional Donilon veio aqui com algumas propostas bastante concretas sobre questões econômicas e de segurança, que acreditamos serem de interesse comum para a Rússia e os Estados Unidos", disse um alto funcionário do governo russo que participou das reuniões, mas que não foi autorizado a falar publicamente sobre os encontros devido aos temas delicados tratados nas discussões. "Em nosso ponto de vista, a reação foi construtiva, especialmente se considerarmos o contexto e o momento da visita".

O funcionário disse que o acordo para a realização das duas reuniões entre os presidentes "definiu uma espécie de plano de trabalho".

Nos últimos 12 meses, os laços entre os Estados Unidos e a Rússia têm tomado um rumo ruim, começando pela onda de antiamericanismo ocorrida durante a campanha presidencial de Putin, no início de 2012. Depois disso veio a legislação e outras medidas para conter a influência norte-americana e de outros países sobre a Rússia, incluindo as restrições relacionadas a organizações não-governamentais.

A fúria russa em relação à lei norte-americana que visa punir os abusos referentes à violação de direitos humanos também levou à aprovação de uma legislação, por parte da Rússia, que restringe a adoção de crianças russas por cidadãos norte-americanos.

Apesar dessas diferenças, o governo Obama tem buscado a ajuda da Rússia em questões de segurança relacionadas à Síria, ao Irã e à Coreia do Norte, e Obama citou seu desejo de realizar cortes adicionais nos arsenais nucleares em seu discurso do Estado da União. O governo norte-americano deixou claro que considera a não-proliferação nuclear como um "legado".

Donilon começou seu dia em uma reunião com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey V. Lavrov e, em seguida, foi para o Kremlin, onde encontrou seu homólogo russo, Nikolai P. Patrushev, secretário-geral do Conselho de Segurança da Rússia. Após cerca de uma hora de reunião, Putin chegou e ficou durante aproximadamente 45 minutos.

A Casa Branca confirmou que Donilon havia entregado uma carta de Obama ao governo russo, mas as autoridades se recusaram a discutir seu conteúdo. Posteriormente, Donilon se encontrou com Yuri Ushakov, assessor sênior de Putin em política externa e ex-embaixador russo nos Estados Unidos. Entre as outras autoridades que participaram do encontro, estavam um vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, e o embaixador norte-americano em Moscou, Michael A. McFaul, além de Rose Gottemoeller, secretária de Estado adjunta dos EUA.

Ushakov disse à agência de notícias Interfax que a visita Donilon e a carta de Obama enviaram "sinais positivos" aos russos. Ushakov disse que a carta de Obama "abrange problemas político-militares, entre eles os sistemas de defesa de mísseis e os arsenais nucleares". Ele acrescentou que "a conversa entre Putin e Donilon teve uma natureza bastante positiva, assim como as mensagens enviadas pelo governo Obama".

Samuel Charap, especialista em Rússia do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Washington, disse que o anúncio das reuniões entre os dois presidentes foi importante porque enviou a autoridades de todos os níveis hierárquicos o sinal de que elas podem se envolver. Ele disse que isso é especialmente importante, considerando-se a postura decididamente antiamericana do Kremlin nos últimos meses.

"Emitir esse sinal verde em conjunto de uma maneira bastante pública", afirmou Charap, "É um passo à frente".

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