quinta-feira, 7 de março de 2013

Ex-sindicalista, Nicolás Maduro é o sucessor designado pelo 'comandante'

Nicolás Maduro

No dia 8 de dezembro de 2012, durante seu último discurso nas redes de televisão e de rádio venezuelanas, Hugo Chávez lançou seu sucessor. "Ouçam-me com atenção", ele disse. "Se me acontecer algo de forma que eu não possa mais exercer minhas funções, eu lhes peço que votem em Nicolás Maduro para presidente da República Bolivariana da Venezuela. Eu lhes peço do fundo do meu coração".

Hugo Chávez havia apresentado as qualidades desse que estava então ao seu lado: um "revolucionário completo", um "homem de grande experiência apesar de sua pouca idade" – ele tem 50 anos. Enfim, aquele que tem as melhores condições de dar continuidade ao "processo chavista". Foi esse mesmo homem que se viu na linha de frente assim que Hugo Chávez partiu para Cuba. Foi ele que assumiu a tarefa de anunciar a notícia da morte do presidente reeleito em outubro de 2012, mas que a doença havia impedido de prestar juramento para um novo mandato no dia 10 de janeiro.

"Nicolás Maduro está bem à esquerda no plano político. Mas ele não é sectário", acredita um diplomata colombiano. "Diferentemente de certos membros do governo, ele sabe escutar seus interlocutores e negociar". Ex-sindicalista que se tornou diplomata, Nicolás Maduro conhece as vantagens do diálogo e é adepto de contemporizações. Segundo o analista Ignácio Avalos, ele "tem uma grande vantagem: é um civil".

É verdade que Nicolás Maduro não tem nem o carisma, nem os talentos de oratória de Hugo Chávez. "Mas ninguém tem", observa Avalos. Segundo seu vice-ministro, Temir Porras, que se formou na ENA (Escola Nacional de Administração) da França, "Maduro é um político brilhante que consegue ao mesmo tempo ser estimado por seu círculo e impor sua autoridade". Seus interlocutores dizem que ele é mais incisivo e sedutor em pequenos grupos do que em público. Para a oposição, Nicolás Maduro, o mais fiel dos fiéis ao chefe do Estado, é somente "a voz de seu mestre".

Tão logo ele foi apresentado como sucessor, a mídia latino-americana, fazendo um trocadilho com seu sobrenome, questionou se ele estaria preparado para assumir o poder.

Embora a "entronização" de dezembro tenha sido muito criticada pela oposição – "não estamos numa monarquia", reagiu o candidato da oposição na disputa presidencial, Henrique Capriles -, ela preparou a ala chavista para a briga. "Ao apontar seu sucessor, Hugo Chávez reduziu ao mínimo o risco de uma luta pelo poder de consequências desastrosas", acredita o jornalista Vladimir Villegas.

"Monarquia"
Habituado a cúpulas diplomáticas, Nicolás Maduro esteve nos últimos seis anos muito exposto na mídia latino-americana, mas ele permanece discreto quanto à sua vida privada. Nascido em 1962, cresceu em Caracas, dentro de uma família humilde. Quando adolescente se apaixonou pela política e pela banda Led Zeppelin. Entrou, ainda no colégio, para a Liga Socialista (partido maoísta), e considerou uma carreira de roqueiro como a de seus ídolos britânicos. Por fim ele escolheu a ação sindical e se tornou motorista de ônibus para a companhia metropolitana de Caracas. Após um ano de treinamento em Cuba, ele se destacou como líder sindical nos anos 1990.

Na época, Nicolás Maduro foi um dos primeiros da esquerda a entrar para o Movimento Quinta República (MVR) que levou Hugo Chávez ao poder em 1999 e se tornou o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV). Eleito deputado em 1998, reeleito após a adoção de uma nova Constituição, o atual vice-presidente foi líder da maioria parlamentar entre 2000 e 2006.

Quando Hugo Chávez o nomeou, em 2006, ministro das Relações Exteriores, ele logo se adaptou ao estilo de seu Comandante, muitas vezes incisivo, ou até explosivo, ocasionalmente conciliador. Assim, ele chamou John Negroponte, sub-secretário de Estado americano, de "burocrata de passado criminoso". E o candidato da oposição na eleição presidencial de 2012, Henrique Capriles, de "grande veado", posteriormente pedindo desculpas aos homossexuais. Mas Nicolás Maduro também é pragmático. Em 2010, ele levou Hugo Chávez a se conciliar com o presidente colombiano Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa, a quem só criticava até poucas semanas antes.

Para a imprensa de oposição, Nicolás Maduro é homem dos cubanos. De acordo com ela, os irmãos Castro estariam muito preocupados em garantir a estabilidade do governo bolivariano, que contribuiu para a sobrevivência do regime deles ao lhes fornecer petróleo barato. Eles que teriam levado Hugo Chávez a apontar seu herdeiro político antes que fosse tarde demais.

Nicolás Maduro, que tem um filho de seu primeiro casamento, é casado com Cilia Flores. Advogada engajada, deputada, presidente da Assembleia Nacional, ela é hoje a Procuradora-Geral da Venezuela. O nome do sucessor escolhido pelo falecido presidente nunca foi associado a nenhum escândalo conhecido, algo notável em um país minado pela corrupção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário