segunda-feira, 18 de março de 2013

Cidade alemã destruída na 2ª Guerra vive boom turístico e imobiliário

Tomada aérea mostra parte da cidade de Dresden destruída por bombardeiros aliados

Em tempos passados, Dresden foi uma escala habitual no "grand tour" das viagens na Europa, com visitantes atraídos pela arquitetura barroca da cidade, seus museus de arte, a cerveja "pilsner" e um cenário pitoresco no vale do rio Elba.

Mas duas guerras mundiais que incluíram a destruição causada por bombardeios aliados em fevereiro de 1945 e décadas sob o regime comunista levaram Dresden ao eclipse. Mesmo depois da reunificação alemã, em 1990, a reconstrução da "Florença do Elba" foi lenta.

Hoje a cidade está muito na moda. As autoridades apontam para a Frauenkirche, a Catedral de Nossa Senhora que foi despedaçada pelas bombas e cuja reconstrução foi concluída em 2005, como uma das principais atrações do boom turístico. A igreja do século 18 com abóbadas que certa vez abrigou um recital de órgão de Johann Sebastian Bach foi reconstruída durante 20 anos com milhares de doações particulares.

Hoje Dresden atrai 3,8 milhões de visitantes por ano, o que não é muito em comparação com os mais de 22 milhões de Berlim. Mas, como acontece com frequência, o turismo crescente levantou o mercado residencial e muitos compradores são estrangeiros, assim como alemães. "Os turistas vêm, gostam do que veem e querem se mudar para cá", afirmou uma autoridade.

O influxo de alemães e estrangeiros, juntamente com a maior taxa de nascimentos do país entre cidades de tamanho semelhante, faz de Dresden uma das poucas cidades alemãs com uma população em crescimento --hoje em 535 mil.

Mas o encanto da cidade também significa que os preços das casas aumentam rapidamente. O preço médio das residências subiu 7% no ano passado, depois de um aumento de 4% em 2011, apesar da economia lenta. Segundo Carsten Hamm, diretor da agência imobiliária Citymakler Dresden, as unidades em novos loteamentos são vendidas por 2.500 euros por metro quadrado, em média, enquanto as casas e apartamentos existentes custam em média 1.500 euros por metro quadrado. Os aluguéis aumentaram em média 10% no ano passado, segundo corretores.

A cidade tem um amplo leque de moradias, incluindo casas isoladas em bairros residenciais, condomínios modulares nos blocos de vários andares construídos durante a era comunista e apartamentos ultramodernos em novos projetos cujo design lembra o movimento Bauhaus do início do século 20.

Um dos produtos mais populares para os recém-chegados são as unidades em edifícios de dois e três andares reformados, "mansões urbanas" que foram subdivididas em apartamentos. A construção das mansões, que muitas vezes apresentam fachadas encantadoras e escadarias de pedra, floresceu de 1860 até a Primeira Guerra Mundial e personifica o estilo neo-renascentista da arquitetura alemã, segundo Nadine Zimmerli, uma historiadora de Dresden que hoje ensina na Faculdade William and Mary, na Virgínia (EUA).

As renovações começaram em grande escala depois da reunificação, quando muitos proprietários que tinham conseguido manter as propriedades durante o regime comunista descobriram que não podiam pagar os custos de livre mercado de manutenção, eletricidade, água e impostos, disse Andre Runge, presidente da associação de corretores imobiliários local e chefe da agência Wohnungszentrum.

Não é de surpreender que os compradores tenham se concentrado em áreas residenciais mais antigas nas partes leste e norte da cidade, como Blasewitz e Loschwitz, que escaparam quase ilesas dos bombardeios em 1945 e mantiveram seu encanto do Velho Mundo. Mas os preços das unidades reformadas aumentaram acentuadamente nos últimos anos e podem chegar a 3.500 euros por metro quadrado ou mais, dependendo da arquitetura e da vista, disse Runge.

Um desses projetos fica na Loschwitzer Strasse, no bairro de Blasewitz. Uma mansão urbana construída em 1871 foi dividida em cinco apartamentos, cada qual com 120 metros quadrados, em média, e vendido por cerca de 335 mil euros --ou menos de 2.800 euros por metro quadrado, segundo corretores locais.

Mais acessível é o bairro de Striesen, onde um projeto na Lauensteiner Strasse chamado Bauhaus está vendendo unidades de 142 metros quadrados por 315 mil euros --ou cerca de 2.200 euros por metro quadrado, segundo um comprador prospectivo que mostrou os folhetos de vendas. O projeto fica no leste de Dresden, perto da pitoresca praça Schiller e da ponte de ferro "Maravilha Azul" sobre o Elba, um ícone da cidade que data de 1893.

Muitos compradores são alemães atraídos pela qualidade de vida em Dresden e sua base empresarial crescente, que inclui empresas como Infineon, Intel, ThyssenKrupp, Volkswagen e Bosch. A cidade, que alega ser o berço dos filtros de café Melitta, de cervejarias, câmeras reflex, pasta de dentes em tubo, da porcelana europeia e da primeira locomotiva de trem da Alemanha, é mais uma vez um polo de alta tecnologia.

Um desses recém-chegados é o alemão Carsten Cirkel, um gerente autônomo de testes clínicos de medicamentos que se mudou para cá há um ano, depois de morar em Zurique e Heildelberg. Ele, sua mulher e seu filho de 17 anos, que vieram para Dresden de férias e se apaixonaram pelas amenidades da cidade, hoje moram no bairro de Trachenberger.

"O rio, as ofertas culturais e a boa infraestrutura tornam Dresden muito especial", disse Cirkel. "Basta compará-la Hamburgo, Frankfurt e Munique e seus engarrafamentos de trânsito."

Ele acha os moradores da Alemanha Oriental mais simples que os do resto do país.

"As pessoas são amigáveis, não importa qual seja sua faixa econômica", disse Cirkel, acrescentando que na antiga Alemanha Ocidental "você precisa ser um executivo com um bom emprego e um alto salário".

Outros compradores são nativos como Michael Lander, um gerente de informática de 40 anos que está voltando para casa depois de sete anos em Viena. Os motivos, segundo ele, são mais oportunidades de trabalho e um melhor estilo de vida.

"Eu queria uma nova base para mim e minha família", disse Lander, "por isso estou me preparando para voltar a minha cidade natal".

Para superar a demanda crescente, as empreiteiras estão destruindo parte dos enormes blocos habitacionais extremamente feios do estilo de planejamento central construídos durante a época da Alemanha Oriental e substituindo-os por projetos mais atraentes, disse Heike Lutoschka, diretora de estratégia e marketing do departamento de desenvolvimento econômico da cidade.

"Desde a reinauguração da Frauenkirche e o desenvolvimento da praça Neumarkt, mais pessoas de todo o mundo têm nos visitado", disse Lutoschka, referindo-se ao projeto histórico perto da igreja que tenta capturar a antiga Dresden. "Eles precisam conhecer a beleza da cidade, a hospitalidade saxônica, e a imagem de Dresden só melhora."

Compradores de países membros da UE podem morar ou comprar propriedades na Alemanha sem documentação especial, mas os possíveis compradores dos EUA devem solicitar um visto de residência permanente no departamento local de passaportes e registros. Os que têm empregos em tempo integral podem obter vistos permanentes mostrando contratos de trabalho, enquanto indivíduos autônomos podem obter a renovação dos vistos a cada três anos.

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