terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Rebeldes fogem de cidades do norte do Mali praticamente sem combaterem


Por um instante, a paisagem de beleza ofuscante, entre o rio e o deserto, parece ter se transformado em um mapa animado. Nesse mapa é representada uma demonstração de tática, como poderia ser ensinado em uma escola militar tão grande quanto o Mali, com flechas gigantes e contínuas para indicar as movimentações do exército da França, do Mali e de Níger que avançaram em segredo a partir de Gao, e pontilhados entrecortados de pontos de interrogação para representar o trajeto daqueles que eram seu alvo: os rebeldes islamitas. Ao longo das últimas semanas, estes se esconderam atrás de tamareiras silvestres que crescem à beira do rio. Onde eles estão agora? Escondidos em outro lugar, fugindo do avanço das tropas inimigas.

Estas não tardarão a retomar sua movimentação. Na saída norte de Bourem, pequena cidade de 30 mil habitantes entre o rio Níger e a grande estepe desértica que leva ao Saara, dezenas de veículos militares franceses fazem uma parada breve, no domingo (17). As picapes do exército chadiano também estão lá, assim como do outro lado da cidade 200 soldados nigerinos da Misma, a Missão Internacional de Apoio ao Mali. No total, quase mil homens participaram da ação, cujo objetivo era surpreender os rebeldes do Movimento pela Unidade e da Jihad na África Ocidental (Mujao) e seus aliados.

Grande contorno
A coluna de soldados franceses, malineses e nigerinos saiu de Gao e avançou na direção de Bourem. Dois dias de estrada, um grande contorno pelo norte, para chegar de surpresa pelo lado oposto do eixo onde os rebeldes poderiam imaginar que eles fossem surgir. A manobra era boa, encurralando os rebeldes entre seu fogo e o rio. Mas estes desapareceram antes que a coluna chegasse. Não houve um único disparo, fora a destruição de um comboio blindado de tropas no sábado por um ataque aéreo. Depois o exército malinês, como todos lembram com insistência, "foi o primeiro a entrar" em Bourem. O futuro dirá se ali ele permaneceu.

Para um exército convencional, a geografia do norte do Mali é inclemente. Superiores militares franceses falam em "distensão" das linhas logísticas. Um eufemismo. Alguns elementos da coluna percorreram 2.500 quilômetros desde que desembarcaram em Dacar, antes de entrar diretamente nas operações. Já os rebeldes islamitas que partiram das principais cidades do norte do país, praticamente sem combate, atualmente se encontram dispersos em vários "bolsões". Um deles se situa na região de Gao, em uma vasta área oval de uma centena de quilômetros ao noroeste da cidade.

Bourem era meio que sua cabeça de ponte. A cidade, local de comércio entre os tuaregues das zonas áridas do norte e as populações próximas da água, também é um ponto de cruzamento de várias rotas, sendo que uma delas segue na direção do Adrar des Ifoghas, maciço montanhoso que se espalha ao redor de Kidal e poderia servir de refúgio para boa parte dos rebeldes.

O objetivo da manobra conjunta do dia é impedir que se constitua um refúgio da AQMI (Al Qaeda do Magreb Islâmico) a uma distância operacional de Gao. "Eles [os rebeldes] vão de ponto de camuflagem em ponto de camuflagem", explica o coronel Bert, comandante da força entre-exércitos que realiza a operação. Outras cidades estão no caminho do retorno da coluna. "Houve a fase da tomada das cidades, agora é a fase de varredura", resume o general Barrera, que comanda as forças terrestres da operação "Serval".

Era preciso "tocar" os rebeldes da região. Foi dessa zona cinzenta que várias operações foram montadas na região de Gao: tiros de foguetes, dois atentados suicidas e uma operação de infiltração que terminou com ataques de helicóptero Tigre no centro da cidade contra a posição de cinco combatentes, um deles tendo explodido com seu colete-bomba.

Em breve a coluna retomará sua movimentação. Um grupo de crianças se aproximou de uma duna, gritando o nome do Mali, ao mesmo tempo em que brandiam bandeiras francesas e malinesas. No centro, uma pequena manifestação parecida aconteceu no mesmo momento. Há um pouco de júbilo, uma dose de curiosidade e muita cautela. O prefeito e figurões da cidade dizem estar aliviados de verem que a operação militar provocou a fuga dos carros dos rebeldes. Amadou Mahamine Touré, o prefeito, acredita ter detectado uma vontade de "reorganização" dos rebeldes nos arredores.

As pessoas ao seu redor explicam que os rebeldes "não fizeram mal à população", como se os ouvidos dos combatentes islamitas ainda estivessem pela cidade. Mas o alívio é verdadeiro. "Havia malineses, mas também estrangeiros. Há alguns dias eles vieram a Bourem e pararam em um açougue. Eles estavam com muita fome, comeram carne e foram embora sem pagar", observa Al-Mahamine Maiga, cidadão proeminente da cidade.

O coronel Dicko, que comanda as operações do exército malinês, calcula em "aproximadamente vinte" o número das picapes da Mujao e de seus aliados presentes nos arredores com a chegada da coluna. E nos outros vilarejos na região de Gao? Um mistério. Mas a operação deve no mínimo atrapalhar seus ataques. "Vamos salvar Gao", comemora o general Barrera.

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