sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Com "Otan econômica", EUA e Europa se preparam para o desafio da ascensão da China


A União Europeia e os Estados Unidos dizem que iniciarão em breve as negociações para a criação da maior zona de livre comércio do mundo. Editorialistas alemães argumentam que um acordo é necessário se o Ocidente quiser ajudar a moldar a política global e tratar do desafio da ascensão da China.

Juntos, os Estados Unidos e a União Europeia representam quase metade do produto econômico mundial e 30% do comércio global. Eles investiram diretamente mais de 2,8 trilhões de euros (US$ 3,7 trilhões) em ambos os lados do Atlântico; e, diariamente, bens e serviços no valor de 2 bilhões de euros são negociados entre eles.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, acreditam que esse número pode aumentar significativamente, proporcionando um estímulo econômico muito necessário aos Estados Unidos e à Europa.

"Um acordo de livre comércio UE-EUA criaria um novo motor para a economia, investimentos e empregos –em ambos os lados do Atlântico", disse o ministro da Economia alemão, Philipp Rösler, ao jornal alemão "Handelsblatt".

Em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, descreveu o acordo potencial como "pioneiro ...capaz de mudar o jogo", e um que não custaria um centavo.

Juntos, os Estados Unidos e a UE querem estimular suas economias, empregos e apresentar uma frente unida contra o crescente poder econômico da superpotência emergente China.

Há muitos obstáculos diante dessa "Otan econômica", particularmente quando se trata de alimentos e agricultura –com as preocupações europeias com frango tratado com cloro, carne bovina tratada com hormônios e produtos agrícolas transgênicos, e as preocupações americanas com as regulações rígidas europeias. Mas a Europa e os Estados Unidos concordaram em entrar em negociações visando eliminar barreiras para o fluxo de bens e serviços e criar a maior zona de livre comércio do mundo.

As conversações deverão começar paralelamente à próxima cúpula do G-8 no Reino Unido, em 18 de junho, noticiaram os jornais alemães na quinta-feira. Inicialmente, Washington expressou falta de interesse pelo possível acordo, mas Merkel cutucou gentilmente dois governos sucessivos desde 2007 e acredita-se que tenha sido um telefonema pessoal, antes do discurso do Estado da União de Obama, que ajudou a remover as preocupações restantes. O primeiro-ministro britânico conservador, David Cameron, também pressionou a favor do acordo.

O acordo de comércio visa ir além de apenas comércio e serviços, e as negociações também buscarão padrões e regulações comuns em questões como segurança de produtos e propriedade intelectual. Um exemplo amplamente citado são os diferentes padrões de segurança para automóveis, que exigem que uma empresa como a Audi fabrique versões diferentes de seus carros para o mercado americano.

Na quinta-feira, editorialistas dos principais jornais alemães elogiaram o esforço, com um jornal financeiro até mesmo o descrevendo como um "Estados Unidos do Ocidente".

O jornal de centro-esquerda "Süddeutsche Zeitung" escreveu:

"O projeto é extremamente ambicioso, com alguns atlanticistas já falando em uma ‘Otan econômica’. Esse termo também não é totalmente equivocado. A aliança militar da Otan foi criada para proteção contra a ameaça da União Soviética. A ideia de uma nova aliança econômica também encontra muitos apoiadores porque os antigos países industrializados temem estar perdendo terreno para a potência econômica emergente da China. O fato de as negociações estarem sendo realizadas é um sucesso para a chanceler Angela Merkel, que pressiona há anos pelo projeto, apesar da falta de interesse inicial em Washington. A equipe econômica de Obama também hesitou por muito tempo, porque seus assessores sentiam que a iniciativa seria complexa demais."

"O fato é que uma Otan econômica seria um grande empreendimento. A UE e os Estados Unidos já estão firmemente entrelaçados economicamente. (...) Apesar disso, 1,5% de crescimento econômico anual poderia ser criado se as barreiras restantes fossem removidas. O único problema é que a eliminação dessas barreiras provocaria protestos de uma infinidade de grupos de interesse e também exigiria um capital político considerável. Ela também poderia colocar em teste a solidariedade europeia. Em Londres e Berlim, as classes políticas tendem a ser orientadas para o livre mercado, enquanto o protecionismo está sempre presente em Paris."

"A resistência já está se formando. No futuro, será que nós (europeus) seremos forçados a comer frango americano com cloro? Será que teremos que cultivar milho transgênico em nossos campos e aceitar as frouxas leis de privacidade de dados americanas? Ou, do ponto de vista americano, será que teremos que tolerar a obsessão dos europeus por regulações?"

"Independente de qual seja o resultado das negociações, o fato de estarem ocorrendo é extremamente vantajoso para os europeus. A UE agora está tratando de um projeto voltado para o futuro, que permitirá que desvie sua atenção de seus próprios problemas. Um acordo de livre comércio abriria ainda mais o continente e poderia promover a confiança entre americanos e europeus, e estabelecer padrões para o restante do mundo. Vale a pena usar toda nossa energia para promover uma Otan econômica."

O "Frankfurter Allgemeine Zeitung" de centro-direita escreveu:

"Finalmente, como dá vontade de bradar, os Estados Unidos e a UE estão dispostos a transformar uma ideia que vinha sendo cogitada há algum tempo no âmbito político em um projeto real –e as negociações deverão começar em breve para uma ‘Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento’. Assim, o presidente Obama não está apenas atendendo ao chamado da Ásia –ele também está transformando a expansão dos laços econômicos americanos-europeus em um assunto importante. As expectativas para as vantagens mútuas de um acordo de livre comércio –econômica, política e estrategicamente– são tamanhas que uma pessoa deve se perguntar: por que isso ainda não tinha sido discutido? Mas a ascensão das economias emergentes e os desafios que isso apresenta não eram uma questão dominante até recentemente. Hoje, entretanto, uma resposta é necessária, e toda força motriz potencial para a prosperidade e fortalecimento da comunidade atlântica precisa ser utilizada."

O conservador "Die Welt" escreveu:

"Parece que as diferenças em ambos os lados do Atlântico agora são vistas como transponíveis. E isso é uma notícia muito boa, porque um acordo de livre comércio entre as duas zonas econômicas seria o pacote de estímulo mais barato que alguém poderia conceber. A Comissão Europeia espera que a redução das barreiras comerciais e a harmonização dos padrões e regulações leve a um crescimento anual do PIB de 0,5%. Outras estimativas são ainda maiores."

"Mas um mercado comum também enviaria uma mensagem política poderosa: a de que o Ocidente deseja se unir ainda mais para enfrentar os desafios apresentados pelas potências emergentes em outras partes do mundo. Dada a atual fraqueza dos Estados Unidos em liderança, ele também é necessário. Caso contrário, o discurso de Obama teve um caráter claramente isolacionista. (...) Apenas quando as fundações econômicas do país estiverem novamente saudáveis é que (os Estados Unidos) poderão assumir um papel de liderança global (sugeriu Obama)."

"Isso significa que a zona de livre comércio transatlântica tem importância tanto econômica quanto política. Ela visa ajudar a Europa e os Estados Unidos a se recuperarem economicamente. Mas também deixa claro que apenas um Ocidente mais unido pode ter sucesso em ajudar decisivamente a determinar as políticas globais. Dadas estas considerações de importância primordial, não pode ser permitido que a zona de livre comércio fracasse devido a detalhes menores.

2 comentários:

  1. "Mas um mercado comum também enviaria uma mensagem política poderosa: a de que o Ocidente deseja se unir ainda mais para enfrentar os desafios apresentados pelas potências emergentes em outras partes do mundo. Dada a atual fraqueza dos Estados Unidos em liderança, ele também é necessário. Caso contrário, o discurso de Obama teve um caráter claramente isolacionista. (...) Apenas quando as fundações econômicas do país estiverem novamente saudáveis é que (os Estados Unidos) poderão assumir um papel de liderança global (sugeriu Obama)."---"..dada essa fraquezea', eles tem + e q se unirem, p tentar manter os 'status quo' de potencia e otan...vai ser duro, diria q kase impossível, sem grana. Quem viver verá.sds.

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  2. Já não é a primeira vez que se tenta, por isso é mais simbólica que eles estão discutindo o assunto. Pode até sair algo, mas será pequenas concessões de lado a lado.

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