sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Após discurso do Estado da União, Obama é visto como presidente mais europeu que os EUA já tiveram

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante discurso ao Congresso

A abertura de um processo de negociação para estreitar laços comerciais - e, consequentemente, de todo tipo - com a União Europeia confirma algumas das suspeitas que a direita tinha sobre Barack Obama e algumas das qualidades que seus seguidores no estrangeiro mais apreciavam: é o presidente mais europeu que os EUA já tiveram.

Obama não tem raízes europeias nem fez parte de sua formação na Europa. Não fala francês nem se sabe que tivesse grande curiosidade intelectual pela Europa ao longo de sua trajetória acadêmica. Suas origens o conectam mais com o mundo em desenvolvimento, com a Ásia, onde viveu na adolescência, com o Pacífico, onde nasceu e cresceu, e com a África, de onde procede seu pai e onde cada americano de sua raça escava em busca de identidade.

Mas seu estilo, dubitativo, reflexivo, profundo, um tanto atormentado, lembra o dos velhos políticos europeus. E, sobretudo, sua gestão na Casa Branca permitiu a reconciliação entre esse país e o continente com o qual compartilha seus valores mais essenciais. Quando Obama chegou à presidência, estavam na moda as batatas "freedom fries", em substituição às "French fries". Quando Obama chegou à presidência, muitos europeus consideravam os EUA um perigo maior para a paz mundial que a Al Qaeda.

Os mais exigentes na esquerda europeia continuam suspeitando das intenções íntimas do presidente americano, e põem Guantánamo e os teleguiados adiante de qualquer êxito. Mas Obama continua sendo um líder popular na Europa, e a Europa merece respeito e atenção no Salão Oval, onde no ano passado muitas horas foram dedicadas aos problemas do euro.

O anúncio de negociações para um tratado de livre comércio, à margem da utilidade evidente que pode ter para a economia americana, é a última prova do reconhecimento da Europa. Mais ainda, é um presente para a Europa no momento em que esta mais necessita.
Se nos últimos anos aconteceu algo na Europa mais grave que a crise econômica foi seu incontível declínio para a irrelevância. Os EUA ampliaram sua presença comercial e militar no Pacífico, a China se confirmou como grande potência, Índia e Brasil ascendiam, tudo diante do olhar complexado da Europa, que não sabia como reagir.

Este tratado, junto com suas potenciais vantagens econômicas, envia a mensagem de que a Europa ainda conta para os EUA. Conta, é claro, porque há 2,5 milhões de postos de trabalho nesse país ligados ao comércio com a Europa e porque uma revitalização da economia europeia redundaria na compra de mais produtos feitos nos EUA. Mas conta também porque, sem a Europa, os EUA ainda estão muito sós em um mundo muito hostil. Com todas as suas diferenças, ninguém compreende melhor os EUA que os europeus. Isso foi demonstrado há muito pouco tempo, quando um presidente francês e socialista lançou no Mali uma operação que corresponde literalmente ao que Washington gostaria que a Europa fizesse com mais frequência.

Com Obama na Casa Branca, este é o momento ideal para ratificar essa aliança indispensável e projetá-la para as próximas décadas.

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