terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Países precisam ajudar rebeldes sírios mesmo correndo risco, diz historiador francês


Segundo Jean-Pierre Filiu, o regime sírio tira sua pouca energia dos apoios da Rússia e do Irã

Jovens rebeldes sírios 
Professor no instituto Sciences Po (Paris), Jean-Pierre Filiu é especialista em Síria, onde ele morou também como diplomata. No dia 9 de janeiro será publicada sua obra "Le Nouveau Moyen-Orient, les peuples à l’heure de la Révolution syrienne" ["O novo Oriente Médio, os povos no momento da Revolução Síria", Ed. Fayard].

Le Monde: Agora que a Tunísia está prestes a comemorar os dois anos de sua revolução, como entender o encapsulamento na Síria?
Jean-Pierre Filiu: Ele pode ser explicado em sua maior parte pela externalização da legitimidade do regime sírio, que não tem muito mais o que oferecer a seu próprio povo, como prova o discurso feito no domingo (6) por Bashar al-Assad. Esse governo projeta continuamente sobre seu povo a imagem refletida tanto pelos seus amigos quanto pelos seus inimigos. A internacionalização favorece o regime sírio, seja ela positiva – o apoio incondicional da Rússia e do Irã que beira a cobeligerância – ou negativa – o Ocidente demonizado e Israel. É isso que constitui a base da legitimidade para um regime que não tem absolutamente nada a apresentar em termos de realizações internas. Foi a base social de Assad pai que se levantou contra o Assad filho. Diante dessa perda de legitimidade absoluta só resta a internacionalização. O mínimo que se pode dizer é que ela provavelmente funcionou além daquilo que o regime esperava.

Le Monde: Por que não é feita uma intervenção internacional?
Filiu: Não aprendemos com o precedente líbio. Em vez de aceitar que foi um sucesso a intervenção beneficiando forças que não controlamos e que realizaram sozinhas o projeto revolucionário, por haver certas frustrações do lado ocidental dessa vez só quisemos ajudar forças que conseguiríamos manipular, o que é simplesmente uma ilusão. É preciso aceitar ajudar as pessoas sobre as quais não teremos controle. É um risco, mas me parece muito mais razoável do que ainda está sendo feito pelas mentes brilhantes, que acreditam que seria melhor Assad permanecer onde está em vez de ter uma alternativa apresentada como imediatamente desastrosa.

A inserção internacional é a principal energia do regime. Seus recursos financeiros são derivados do petróleo iraniano e seus recursos militares derivados do potencial russo. Do outro lado, e aí incluo a Turquia e os árabes, recusam dar à revolução os meios militares para colocar um fim à tragédia do povo sírio, o que abre um grande caminho para os jihadistas.

No outono de 2012, a França esteve muito corretamente na vanguarda do reconhecimento internacional da oposição, mas ela não lidou com as consequências. Foi o que aconteceu com todos os países do mundo, exceto pela Líbia revolucionária, que justamente se identifica completamente com essa revolução que ela sentiu na pele.

Le Monde: O tema do "outono islamita" que viria após as "primaveras" não é dissuasivo?
Filiu: Infelizmente para os sírios duas considerações convergiram para uma guerra impiedosa do regime contra a informação livre, que permitiu que análises de segunda mão ou preconceitos mais ou menos argumentados se tornassem a verdade sobre a Síria. De fato existe o que você chamou de "outonos islamitas", uma desencantamento que é relativo porque a maior parte dos comentaristas que entoam esse refrão são justamente aqueles que logo de início haviam emitido dúvidas sobre a profundidade e a sinceridade das "primaveras".

Mas também há as consequências negativas da análise malfeita do precedente líbio. Na Líbia, infelizmente, embora tenha ido "tudo bem", o balanço da França, Reino Unido e Estados Unidos é muito mais relativo, pois no fundo quem ganha uma guerra prefere ganhar por si. A ideia de fazer guerra pelos outros, de aceitar que o povo líbio soberano incontrolável conquistou seu direito à autodeterminação é uma ideia "simplíssima" mas que encontra muitas dificuldades para ser aceita.

É difícil aceitar que a história está em andamento e que é melhor se projetar no futuro. Isso vale para a potência de status quo regional que é Israel. Com toda sua inteligência e capacidade humana, ele é incapaz de considerar outra coisa além do que existe.

Além disso há as potências que se projetam, como a Turquia e o Qatar, mas que agem como se a influência, o soft power, pudesse suprir a potência militar, o hard power. O hard power o Qatar não tem, e a Turquia sempre reagiu minimamente às violações sírias de seu território.

Por fim, há as duas grandes potências contrarrevolucionárias, o Irã e a Arábia Saudita. O Irã está comprometido diretamente com o regime e a Arábia Saudita está com a oposição, mas de maneira privada, o que pressupõe que se os sauditas saírem vitoriosos não será graças ao Estado, mas sim a forças que provavelmente hoje são mais ameaçadoras à monarquia e para as quais, assim como no Irã, mas por razões diferentes, a ideia é desvirtuar uma revolução para dela desviar o poder de subversão.

Le Monde: Pode Riad ser atingida pelos efeitos da revolução síria?
Filiu: As formas de engajamento atual na Síria possuem muito mais distúrbios internos do que o regime pensa, assim como o engajamento saudita no Afeganistão nos anos 1980 trouxe a Al-Qaeda, mas também a sahwa [o "despertar" islâmico]

É preciso aceitar estas duas coisas bastante simples: a revolução será vitoriosa, e como ela vencerá sem nenhum apoio externo digno desse nome, ela terá uma imagem de si mesma, uma consciência de sua força, que mudará completamente o Oriente Médio. Isso levará o tempo que for preciso, mas é assim que terminará. Com consequências imediatas para o Iraque de Nouri al-Maliki, não porque o regime é xiita, mas porque ele está associado ao Irã. Foram as duas potências contrarrevolucionárias que construíram essa divisão xiita/sunita que é tudo menos espontânea, ainda que ao final de dois anos de carnificina na Síria ela esteja cada vez mais integrada.

Um comentário:

  1. Países precisam ajudar rebeldes a derrubar o Gov. dos EUA, que são de fato os maiores terroristas do mundo.

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