sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Novo governo de Israel coloca processo de paz no fim da lista de prioridades


Os céticos gostam de dizer que a verdadeira eleição israelense só começa depois que os votos são contados, porque o sistema eleitoral torna praticamente impossível que um único e qualquer partido obtenha uma maioria. A eleição desta semana confirma esse padrão.

Como esperado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu emergiu como o líder do maior partido. No entanto, a pluralidade reduzida de seu partido, o Likud (que se fundiu com o Israel É a Nossa Casa de Avigdor Lieberman), complicará ainda mais a tarefa de reunir uma maioria que possa satisfazer as preferências políticas e ambições pessoais dos partidos parceiros e de sua própria base.

Mas independente da coalizão que for finalmente costurada, uma coisa já está clara: as preocupações dos israelenses mudaram e, talvez num eco inconsciente das prioridades declaradas de Barack Obama para os EUA, eles queiram que seus líderes se concentrem na "construção da nação dentro de casa".

Assim, respondendo à pergunta que a maioria dos não-israelenses está se fazendo – "O que as eleições significam para o processo de paz israelense-palestino?" – a resposta é: "Não muito".

Apesar de um desempenho macroeconômico relativamente impressionante, os israelenses têm estado cada vez mais irritados com questões como a distribuição desigual dos benefícios e ônus do crescimento, acordos salariais "queridinhos" em alguns setores do serviço público, hospitais superlotados e habitação inacessível, especialmente para os jovens.

O ano de 2011 testemunhou os maiores protestos sociais e com mais apoio da história recente, e no mês antes da votação, a notícia de um inesperado e grande déficit orçamentário concentrou a atenção na perspectiva de cortes de gastos e/ou aumento de impostos. Uma pesquisa divulgada pouco antes da eleição mostrou que, para 60% dos eleitores potenciais, as questões socioeconômicas foram a principal preocupação, com a segurança em segundo, com 19%, e a paz num terceiro e pobre lugar, com 16%.

Em outras palavras, dois meses depois de uma pequena e breve guerra em Gaza, o prisma através do qual a maior parte do mundo externo vê Israel – o conflito com os palestinos e sua possível resolução – agora mal figura na tela do radar israelense.

Só um candidato proeminente, a ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, tentou fazer da política com os palestinos um tema de campanha, e ela recebeu muito pouco apoio. Em contraste, a líder do Partido Trabalhista Shelly Yachimovich enfatizou fortemente as questões econômicas e sociais e minimizou as relações com os palestinos; isso atraiu algumas críticas de dentro de suas próprias fileiras partidárias, mas não a prejudicou nas urnas (embora também não tenha ajudado muito).

O motivo não é que os israelenses se opõem à fórmula convencional para a paz – "dois Estados para dois povos" – ou que estejam ambivalentes. As pesquisas têm mostrado há anos que uma maioria consistente de entre 60% e 70% endossam este princípio. Em vez disso, a explicação está na falta de urgência – certamente em comparação com os desafios econômicos e sociais internos e até mesmo com a temporariamente dormente ameaça nuclear iraniana – juntamente com a fadiga acumulada e a futilidade de todos os esforços anteriores.

Como resultado, o próximo governo israelense, independentemente de sua composição exata, quase certamente não realizará qualquer nova iniciativa quanto a esta questão. Seu líder e a maior parte de seus potenciais integrantes não irão de forma nenhuma se inclinar nesta direção, e não serão pressionados pela opinião pública para se tornarem mais pró-ativos.

A eleição de Israel não reavivará o moribundo processo de paz. A única coisa que poderia fazer isso é um ‘deus ex-máquina’ chamado Barack Obama. Ao comunicar claramente que algum movimento positivo é necessário para sustentar a vibração e a intimidade do relacionamento entre os EUA e Israel, Obama pode oferecer para os israelenses a sensação de urgência que eles não sentem.

É claro, o próprio Obama talvez já não acredite que este desafio é urgente o bastante para justificar o desvio de tempo e atenção de outros problemas mais prementes. E mesmo que ele acredite, é provável que sua mensagem seja ignorada a menos que, simultaneamente, ele se esforce mais para abraçar Israel, como seus dois predecessores imediatos fizeram, e convencer os israelenses céticos de que ele está agindo a partir de uma preocupação permanente e de um compromisso verdadeiro com o seu bem-estar deles – talvez o tipo de coisa que uma visita oficial possa transmitir.

Por último, nada que Obama fizer será eficaz a menos que complemente totalmente uma redefinição igualmente visível da finalidade do processo por parte do presidente palestino Mahmoud Abbas. Por que embora Obama possa injetar um elemento de urgência, só Abbas pode dissipar a sensação de inutilidade – comunicando claramente que o movimento positivo culminará não só em concessões israelenses de território, mas também numa cessação definitiva do conflito, na renúncia a quaisquer outras reivindicações adicionais e na coexistência pacífica de dois Estados para dois povos.

Se Abbas não estiver inclinado a ir nessa direção, ou se suas próprias limitações políticas impedirem-no disso, então a eleição israelense continuará a ressoar dentro de Israel, mas logo desaparecerá da vista de todo o mundo.

(Marcos A. Heller é o principal associado de pesquisa do Instituto para Estudos de Segurança Nacional na Universidade de Tel Aviv e editor da revista trimestral Strategic Assessment.)

4 comentários:

  1. Por último, nada que Obama fizer será eficaz a menos que complemente totalmente uma redefinição igualmente visível da finalidade do processo por parte do presidente palestino Mahmoud Abbas. Por que embora Obama possa injetar um elemento de urgência, só Abbas pode dissipar a sensação de inutilidade – comunicando claramente que o movimento positivo culminará não só em concessões israelenses de território, mas também numa cessação definitiva do conflito, na renúncia a quaisquer outras reivindicações adicionais e na coexistência pacífica de dois Estados para dois povos.=== Essa pax só será alcançada com mão de ferro do obaobaobama...caso contrario e chuver no molhado..Nada vai acontecer em prol de negociações sérias. os judeuss querem manter o 'Status Quo' que lhes é favorável pelas armas.Quem viver verá. Sds.

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  2. Israel é como todo Estado do Oriente Médio, dentro de certa escala o tratamento não é muito diferente dos demais é a mesma perspectiva de concentração da renda e vantagens para "os amigos do poder", para os excluídos não há dialogo. Discurso parecido, partidos religiosos etc, ou seja, é o Levante sendo o Levante, os palestinos vão cada vez mais optar para o terrorismo e a "nova classe rica" vai sobreviver economicamente do contrabando, o bloqueio ao contrário do que se pensa é ótimo para os radicais.

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  3. E quem fez um bom balanço das relações russa/israelense foi o Fyodor Lukyanov e para ele a única questão que os divide a sério é o programa nuclear iraniano. Será que veremos a Rússia mais próxima de Israel nos próximos anos?

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    1. A Rússia nunca gostou de Israel e sempre foi aliada dos árabes. A Rússia sempre viu o sionismo com mals olhos.

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