terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Depardieu recebe cidadania russa e elogia 'grande democracia' do país

Gérard Depardieu (esq.) e Putin

O que começou como um gesto radical de insubordinação de um ator conhecido no mundo todo diante da "voracidade confiscatória" do Executivo socialista liderado por François Hollande desembocou em uma pantomima global. O ator, viticultor e empresário francês Gérard Depardieu, 64, foi investido no sábado como cidadão russo pelo presidente Vladimir Putin, que lhe entregou em mãos seu novo passaporte em um ato celebrado em uma de suas luxuosas casas de campo, situada em Sochi, nas margens do mar Negro. Em agradecimento, Depardieu divulgou uma carta em que declara seu amor à Rússia e a Putin e qualifica o regime autoritário do Kremlin como uma "grande democracia".

"Nunca esqueceremos nem perdoaremos essa frase: 'é uma grande democracia'", afirmou o jornalista Matei Ganapolski na rádio de oposição Eco de Moscou.

A cólera da oposição e dos meios de comunicação críticos a Putin subiu de tom no domingo. Depardieu visitou a região de Mordóvia, a 650 quilômetros a leste de Moscou, e ao descer do avião na capital, Saransk, foi recebido embaixo de neve pelo governador Vladimir Volkov e por um grupo de mulheres com trajes tradicionais que entoavam canções bucólicas.

A televisão russa, que cobre a visita do ator como se fosse um chefe de Estado, informou que Volkov propôs ao intérprete de Obelix que escolha um apartamento na cidade ou um terreno no campo para construir uma casa, e lhe ofereceu para ser o ministro da Cultura da região. Banhada pelo rio Volga, a Mordóvia é mais conhecida por seus campos de prisioneiros do que por seus enclaves turísticos. Uma das jovens agitadoras do grupo Pussy Riot, que foram condenadas a dois anos de prisão por organizar uma oração-protesto contra Putin em fevereiro de 2012, cumpre pena em um centro de internamento na região.

Depardieu compareceu no palco do teatro da ópera local vestindo uma colorida camisa bordada e exibiu seu novo passaporte diante de um grande grupo de câmeras e fotógrafos. O ator franco-russo pediu aos representantes da mídia francesa que deixassem a sala, segundo contou a televisão russa.

Apesar de a mídia local não ter explicado quanto tempo vai durar o périplo russo de Depardieu, parece provável que o ator e empresário de vinhos e restaurantes regresse em breve à França. Os juízes de Paris o esperam na terça-feira para julgá-lo por conduzir em estado de embriaguez. Em 29 de novembro passado, o ator sofreu um leve acidente de moto quando circulava pelo centro da capital. Submetido ao teste de alcoolemia, deu um índice de álcool de 1,8 grama por litro de sangue, quando o máximo permitido é de 0,5 grama. Depardieu poderia ser condenado a, no máximo, dois anos de prisão e no mínimo 4.500 euros de multa. Perderá seis pontos em sua carteira de motorista.

Na carta que enviou em dezembro passado ao primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, para justificar seu exílio fiscal em Néchin (Bélgica), Depardieu escreveu: "Eu não atiro a pedra contra os que têm colesterol. hipertensão, diabetes ou [bebem] álcool demais, nem contra os que adormecem sobre a moto: sou um deles".

O ator, que ficou conhecido por "Corações Loucos" [Les Valseuses, 1974], é famoso na antiga União Soviética, onde protagonizou campanhas publicitárias e alguns lances polêmicos. Em 5 de outubro passado, comemorou em Grozni o aniversário do presidente da Chechênia, Ramzan Kadirov, acusado de diversos abusos contra os direitos humanos, aos gritos de "Glória a Grozni, glória à Chechênia, glória a Kadirov!".

Enquanto isso, em Néchin e Estaimpuis, o povoado belga onde Depardieu decidiu se instalar para não pagar impostos na França, o inefável prefeito socialista, Daniel Senesael, apresentou os cumprimentos de Natal em um vídeo no qual aparece fantasiado de Asterix ao lado de uma bandeira que diz: "Bem-vindo, Obelix". Senesael anunciou que receberá o ator com uma festa, como fazem com todos os novos moradores: 28% dos habitantes de Néchin são franceses.

Embora o exílio fiscal de Depardieu seja mais um entre os 800 casos registrados por ano - segundo os cálculos de um relatório do Parlamento francês -, a personalidade descomunal do ator e empresário, conhecido seguidor de Nicolas Sarkozy, conseguiu transformar um assunto pessoal em um problema político para François Hollande. Segundo se soube, o presidente e o político falaram longamente por telefone no dia 1º para tentar baixar o tom da polêmica. Depardieu contou que a conversa durou uma hora e meia, e afirmou que disse ao chefe de Estado "tudo" o que pensa sobre Ayrault e sobre sua política tributária.

O Eliseu, que reduz a duração a "meia hora no máximo", não comentou o conteúdo da conversa e insiste em que o assunto Depardieu e a sentença do Conselho Constitucional, que acaba de anular o imposto de 75% para as rendas superiores a 1 milhão de euros, não dobrarão a vontade do Executivo.

No domingo (6) o ministro da Fazenda, Jerôme Cahuzac, afirmou que o imposto será aprovado novamente antes do outono, atendendo às razões do Constitucional, e sugeriu que em vez de durar os dois anos previstos inicialmente a taxa será "perene".

Brigitte Bardot também pede "asilo" ao Kremlin
No tempo da revolução bolchevique, a Rússia czarista se exilou em massa em Paris. Embora os socialistas franceses não sejam exatamente trotskistas, alguns franceses ricos e eternos como Gérard Depardieu, Bernard Arnault e talvez a mais eterna de todos, Brigitte Bardot, não querem mais ser franceses.

Os motivos da mítica BB não são fiscais. Na sexta-feira, a ativista dos direitos dos animais ameaçou seguir o caminho de Depardieu e pedir a nacionalidade russa se as autoridades francesas decidirem fazer finalmente a eutanásia de dois elefantes doentes do Circo Pinder acolhidos no zoológico de Lyon. Perguntado a respeito pela agência Tass, um funcionário do Kremlin disse que não receberam nenhum pedido da atriz, mas afirmou que se chegar "será evidentemente estudado".

Cerca de 200 pessoas pediram no domingo "justiça para os elefantes" diante do zoológico Tête d'Or em Lyon, na tentativa de salvar a vida de Baby e Nepal. Os paquidermes sofrem uma tuberculose que, segundo os veterinários, pode contagiar os visitantes do parque e outros animais. Um tribunal de Lyon ordenou no mês passado o sacrifício dos elefantes, mas os protestos levaram as autoridades a anular a sentença durante o Natal.

Dando uma virada surrealista na prática dos exílios, Bardot ameaça agora tornar-se russa se o indulto não for definitivo. "Tomei a decisão de pedir a nacionalidade russa para fugir desse país que não passa de um cemitério de animais", afirmou. Simpatizante da Frente Nacional, a atriz é uma fervorosa admiradora de Vladimir Putin, que qualifica como seu "primeiro-ministro preferido".

Por outro lado, a fuga de Bernard Arnault, dono da LVHM e quarta fortuna mundial, que em setembro pediu a nacionalidade belga, está se transformando em um calvário. O departamento de estrangeiros recusa seu pedido e um tribunal belga o investiga por supostas irregularidades contábeis.

2 comentários:

  1. Falaram aqui o mesmo que nos canais de noticias portugueses. Tinham logo que vir ao assunto das pussy riot e democracia. Eu sou a favor da liberdade de expressão mas o que é demais é moléstia. E vieram falar disso mesmo com este tipo de noticias. E se o Depardieu quis ter nacionalidade russa teve todo o direito de o fazer, nao foram os rusos que o quiseram.

    ResponderExcluir
  2. DEMOCRACIA NA RUSSIA PIADA!!!!!!!

    TALVEZ A SALVAÇÃO DO MUNDO SEJA ACABAR COM O COMUNISMO E NAZISMO.

    E IMPLANTARMOS O LIBERALISMO!!!

    ASS: MARCO QUIODINE

    ResponderExcluir