segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Le Monde: França "quebra a cabeça" para tentar agradar governo argelino

Palácio do Eliseu (Palais de l'Élysée), sede do governo francês

O Baba Merzoug ou as chaves da Casbá, mas talvez nenhum dos dois. Os conselheiros de François Hollande quebraram a cabeça tentando encontrar um presente para dar aos argelinos que marcaria, na terceira visita oficial de um presidente francês, prevista para os dias 19 e 20 de dezembro. Trata-se um forte sinal de reconciliação.

Como não pensar no Baba Merzoug, reivindicado por várias associações argelinas? Batizado de "La Consulaire" pelos franceses, trata-se de um enorme canhão de 12 toneladas e 7 metros de comprimento, que protegia o porto de Argel desde o século 16, trazido como troféu desde o início da ocupação francesa em 1830. Instalado em 1833 no centro do arsenal de Brest, ele ainda se encontra lá, levando no topo um globo terrestre sobre o qual um galo abre suas asas.

Outros pensaram nas chaves da Casbá, também levadas para a França pelo marechal de Bourmont depois de serem recebidas em sinal de rendição. Assim como as chaves lindamente trabalhadas da cidade de Argel, exibidas durante a recente exposição dedicada ao desenhista Jacques Ferrandez no Museu do Exército, em Paris, as chaves da Casbá são totalmente simbólicas. Mas elas foram compradas pelo… governo francês em 2002, e desde então passaram para domínio público.  

Só que os bens culturais públicos são considerados inalienáveis e imprescriptíveis, a menos que seja iniciado um processo de complexa reclassificação que exige a criação de uma comissão independente de especialistas ou de uma lei. Uma medida destinada a proteger as coleções públicas de museus, ricas em tesouros trazidos de batalhas de outros tempos ou de ex-colônias. Isso lembra a controvérsia provocada pela restituição das cabeças maoris.

Resta a opção do empréstimo, pela qual Hollande pode se decidir. Mas além de ser mais do que uma gafe "emprestar" à Argélia objetos simbólicos que lhe pertenciam, alguns se lembraram da polêmica levantada por Nicolas Sarkozy, quando ele devolveu manuscritos coreanos dessa forma, logo denunciada como uma "restituição disfarçada". Quanto à Marinha francesa, aos primeiros pedidos das associações argelinas ela deixou claro o quanto fazia questão do "La Consulaire".

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