quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
El País: Na Espanha, população nutre desconfiança em relação aos partidos e descrença sobre a recuperação do país
Que fim levou a #spanishrevolution? Há apenas um ano e meio o movimento 15-M iniciava seus protestos em massa. Os analistas acreditavam ver naquilo não somente uma nova juventude disposta a abandonar sua suposta passividade para participar da política, como também o início de uma mobilização mais ampla de toda a sociedade na direção de uma verdadeira revolução pacífica.
Um ano e meio depois, esses indignados parecem ter voltado a seus quarteis de inverno, deixando órfã de ideais e demandas sensatas a maioria dos espanhóis, que viam com simpatia a mobilização. Distante de todas as expectativas geradas, na Espanha essa rebeldia juvenil resultou há um ano em uma guinada eleitoral nitidamente conservadora que, diante de circunstâncias profundamente adversas, foi incapaz de recuperar o caminho do crescimento que prometeu quando estava na oposição e que, pelo contrário, aplicou um implacável e duro pacote de cortes orçamentários e de direitos sociais, criação de novas taxas e aumento de impostos para reduzir o déficit público.
No início de dezembro, em uma das sessões mais duras registradas pelo Congresso nos últimos anos, a ministra do Emprego, Fátima Báñez, foi acusada reiteradamente de mentir para os cidadãos por não reajustar as pensões e o porta-voz da coalizão nacionalista catalã Carles Campuzano advertiu que este país está "à beira da erupção social", um temor que não é exclusivo desse deputado da CiU. Há uma corrente crescente de opinião nesse sentido que já não se pergunta se haverá erupção, mas quando chegará, em que momento tomará as ruas e incendiará algo mais além das redes sociais.
Essa certeza de tantos é reforçada por certos indicadores econômicos extremamente negativos que demonstram o empobrecimento geral da população, com modestas pensões sendo cortadas, com salários em queda e quase 6 milhões de desempregados – um terço dos quais já sem seguro-desemprego. E é verdade. É surpreendente a atitude sóbria das pessoas, que ressuscitou o antigo rótulo de que os espanhóis são os prussianos do sul; agora, isso sim, mais pessimistas do que nunca. Segundo uma pesquisa do Metroscopia para o "El País", a maioria dos cidadãos está convencida de que a sociedade espanhola sairá mais pobre dessa crise (81%) e mais desigual (83%).
Mas existe outra visão: cresceu a solidariedade (as ONGs e iniciativas de caridade agora recebem mais ajuda privada) e há uma importante mobilização social por canais e métodos diferentes dos tradicionais. É uma mobilização que não usa nem os sindicatos nem os partidos veteranos para participar da política. Aquela frágil sociedade civil da qual tantos sentiam falta no passado começou a falar de forma organizada através dos juízes, que lamentam a lei hipotecária e o excesso dos indultos governamentais, dos médicos que, rompendo com sua tradicional resistência aos protestos, se uniram contra os planos privatizadores da saúde pública ou através de sindicatos e organizações de novo cunho que levam aos tribunais o ex-presidente da CEOE [patronato], Gerardo Díaz Ferrán, ou o ex-presidente do Bankia, Rodrigo Rato. Os professores universitários dão suas aulas ao ar livre e os reitores atacam o ministro da Educação por causa dos cortes.
A desconfiança em relação aos grandes partidos é percebida nas pesquisas e começa a se refletir nas urnas. Nesse sentido, a maior pulverização do parlamento catalão pode ser um aviso aos navegantes. No entanto, estes parecem continuar surdos aos rumores das ruas, altivos como estão em um imobilismo extemporâneo, com essa linguagem pomposa e irreal que responde à demanda social de novas regras e uma reforma da Constituição com um lacônico "está plenamente vigente".
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