Mohamed Morsi, presidente do Egito, é um defensor de um islamismo mais presente na sociedade |
O presidente do Egito sentou de pernas cruzadas sobre um tapete verde com os olhos fechados e as mãos erguidas em oração. Seus lábios se moviam enquanto Futouh Abd al-Nabi Mansour, um clérigo egípcio influente, entoava: “Oh Alá, absolva-nos de nossos pecados, fortaleça-nos e nos conceda a vitória sobre os infiéis. Oh Alá, destrua os judeus e os seus apoiantes. Oh Alá, disperse-os, rasgue-os em pedaços.”
Este foi um serviço de oração realizado na sexta-feira, dia 19 de outubro, na cidade portuária de Marsa Matrouh, no oeste do Egito. As palavras desta oração de encerramento, tomadas a partir de uma coleção de ditos atribuídos ao profeta Maomé, pareciam bastante familiares para Mohammed Mursi, o novo presidente do Egito. Um vídeo obtido pelo MEMRI (Middle East Media Research Institute), com sede nos EUA, mostra Mursi murmurando a palavra "amém" enquanto este pedido fiel para a dispersão dos judeus é pronunciado.
A Irmandade Muçulmana, que apóia Mursi, desde então retirou de seu site uma nota relativa à visita do presidente a Marsa Matrouh, e o jornal diário “al-Ahram” informou que o presidente deve ter ficado "muito envergonhado" com o assunto. Essas declarações são suficientes para dissipar o incidente?
Mursi está no poder há quatro meses. Em junho, com o apoio da Irmandade Muçulmana, ele obteve uma vitória apertada sobre um representante do antigo regime do país. Muitos eleitores apoiaram Mursi só por medo de um retorno aos dias da ditadura. Mas o novo presidente permaneceu um enigma para seu povo. Quem é esse homem com um Ph.D. em engenharia nos EUA, que às vezes se apresenta como democrata e pacificador e, outras, como um islâmico linha-dura?
As tarefas que o primeiro presidente eleito livremente do Egito enfrentam continuam sem solução. Na verdade, trata-se de imensos problemas econômicos e sociais que não podem ser simplesmente afugentados. Ao mesmo tempo, exatamente aquilo que secularistas, esquerdistas e cristãos temem há muito tempo está se tornando realidade: o Egito está se tornando cada vez mais religioso.
Durante as três últimas semanas, os ativistas que antes protestaram contra o conselho militar do país e o antigo regime de Hosni Mubarak mais uma vez se reuniram regularmente na praça Tahrir no Cairo. Seu novo adversário é a Irmandade Muçulmana, que os manifestantes acreditam estar criando uma nova ditadura – desta vez islâmica.
Os protestos são principalmente dirigidos contra as tentativas dos islamistas de empurrar uma constituição religiosa para o país. Um conselho constitucional convocado pelo parlamento do Egito sugeriu a redefinição dos papéis da Igreja e do Estado, com as "regras da Sharia" se tornando a base para as leis do país. Isso também implica reexaminar e renegociar a questão da igualdade entre homens e mulheres.
O comitê é dominado por membros da Irmandade Muçulmana e por salafistas; os secularistas e os cristãos que antes estavam nele, abandonaram-no em protesto. “Leis como essas vão nos desembarcar na Idade Média”, disse Ahmed al-Burai, advogado que saiu do comitê. “Isso seria o fim do nosso estado civil de 200 anos de idade.”
Em 12 de outubro, quando os detratores de Mursi tomaram a praça Tahrir pela primeira vez, os ônibus de partidários da Irmandade Muçulmana também foram para lá. Estes homens barbudos atearam fogo numa das plataformas dos secularistas, atiraram pedras contra seus oponentes e gritaram: “nós te amamos, Mursi”. Mais de 150 pessoas ficaram feridas.
Um porta-voz da Irmandade Muçulmana afirmou mais tarde que aqueles que cometeram a violência não eram membros da organização. Em vez disso, ele disse que eram “baltagiya”, ou grupos de bandidos contratados por "forças obscuras" para tentar mais uma vez arrastar o nome da Irmandade para a lama. No entanto, blogueiros provaram que os islamistas tinham há muito estabelecido planos para sabotar o evento.
As imagens dos protestos contra o presidente não parecem muito boas na televisão. Mas, embora a atmosfera no Egito esteja tensa, Mursi está fazendo pouco para se conectar com seus críticos. Depois de sua vitória eleitoral, ele prometeu ser o presidente de “todos os egípcios”. Até anunciou sua intenção de sair da Irmandade Muçulmana, para poder realizar o seu papel de forma neutra, bem como seu plano de instalar mulheres e representantes da minoria cristã cóptica do país em altos cargos governamentais. Até agora, nenhuma dessas promessas foi cumprida.
"Ele ainda precisa internalizar a ideia de que a existência de uma oposição é um importante instrumento de democracia", diz Amr Hamzawy, cientista político no Cairo. "Ele está bem no caminho para criar de um sistema de partido único, como foi sob o governo de Mubarak".
Jornais críticos do Egito chamaram esta tendência de "ikhwanização", onde "Ikhwan" significa "irmãos". O processo fez com que o presidente e a Irmandade Muçulmana trouxessem todas as instituições estatais sob seu controle dentro de um curto período de tempo. Isso incluiu os meios de comunicação estatais, onde os editores-chefe críticos foram substituídos por partidários de Mursi.
O "Alcorão Sagrado", um serviço de rádio estatal que tradicionalmente era moderado em termos de religião, também se tornou "ikhwanizado".
Ele declarou que os chamados liberais não são nada mais do que hereges imorais que "caíram" do Islã e estão empenhados no único objetivo de destruir a sociedade, e afirmou que apenas o presidente pode levar o país a "verdadeiro Islã".
Em algumas partes do país, os egípcios parecem estar tentando superar um ao outro em suas demonstrações de religiosidade. Uma professora do governo de Luxor, no sul do Egito, recentemente cortou o cabelo de duas alunas de 12 anos de idade, depois que as meninas se recusaram a usar o véu. Os incidentes provocaram protestos, e a professora foi transferida para outra escola.
Quando um cristão cóptico tentou pedir uma cerveja num subúrbio do Cairo na semana passada, o garçom reagiu violentamente. O governo planeja restringir massivamente o consumo de álcool, um movimento cujos efeitos também serão sentidos por membros da minoria cristã do país. Especialmente no Alto Egito, e em Alexandria, onde as tensões religiosas já existiam no governo de Hosni Mubarak, acredita-se que milhares de cristãos pediram vistos para os Estados Unidos e países europeus.
O que aconteceu com a promessa de Mursi de ser um presidente imparcial? "As fronteiras entre o gabinete do presidente e a liderança da Irmandade Muçulmana não estão definidas", diz o cientista político Hamzawy, de uma forma discreta.
Muitos egípcios acreditam que Mursi ainda está seguindo os conselhos de dois homens em particular. Um é Mohammed Badie, professor de ciência veterinária de 69 anos que é o homem para quem todos os membros do movimento juram lealdade ao longo da vida como “supremo guia” da Irmandade.
O outro, Khairat el-Shater, era inicialmente candidato à presidência da Irmandade Muçulmana, mas ele foi desclassificado antes da eleição por conta de uma vez ter sido preso por lavagem de dinheiro - embora isso tenha sido admitido no governo de Mubarak, que usou seu sistema de justiça para marginalizar adversários políticos. Shater, um milionário com boas ligações com os países do Golfo, é considerado um apoiador financeiro importante da Irmandade Muçulmana e acredita-se que ele foi superior direto Mursi dentro da organização.
Shater expandiu consideravelmente o seu império de redes de supermercados e lojas têxteis e de móveis no novo Egito. Da mesma forma, ele é visto como um modelo de homem de negócios na Irmandade Muçulmana, que até agora continuou as políticas econômicas neoliberais de Mubarak. É uma abordagem destinada a conquistar a confiança dos investidores estrangeiros, coisa que o Egito precisa desesperadamente.
Mubarak deixou a seu sucessor um país profundamente endividado, onde milhões de pessoas estão desempregadas e um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza. Durante anos, os salários foram constantemente mantidos baixos e os sindicatos foram suprimidos.
Evitar que o Egito entre numa falência nacional acabará exigindo decisões impopulares, como cortes nos subsídios ao gás e ao pão. Mas, até agora, Mursi decidiu esperar. A única área onde ele tem estado ativo é totalmente diferente: num discurso na televisão na semana passada, Mursi anunciou uma nova campanha religiosa que terá um exército de pregadores se espalhando por todo o país "disseminar a palavra verdadeira entre as pessoas”. É uma medida de reeducação que pode ajudar a desalojar as ideias ocidentais da cabeça das pessoas – como a crença absurda de que a religião é uma questão privada.
E esse o Egito que seria o simbolo da revolução do povo contra árabe tiranos? KKK essa é boa.Antes estavam falidos com um governo pelo menos de atos relativamente laicos, agora continuarão falidos e dominados por fundamentalistas religiosos, olhem essa parte do texto acima q foi postado no blog já mostra quem é o Mursi, dispensa mais comentários
ResponderExcluirMursi anunciou uma nova campanha religiosa que terá um exército de pregadores se espalhando por todo o país "disseminar a palavra verdadeira entre as pessoas”. Esse texto que copiei e colei desse texto acima mesmo, já mostra o que o que é o novo Egito, uma porcaria pior do que era.
Imaginem se uma Universal ou Mundial da Fé, assumissem o poder no Brasil, é mais ou menos isso que aconteceu no Egito através da Irmandade Muçulmano, o mais irônico, que mesmo usando da religião que se mete até nos mínimos detalhes do dia a dia, quem entra pra história como ditador é o Mubaraki kkk, é pq a iramandade muçulmana e religiões em geral são muito democráticos kkk.
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