quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eleições nos EUA: americanos preferem mentiras às verdades

Obama em comício na Flórida

Grisalho e encurvado por seu primeiro mandato, Barack Obama mal se parece com o farol de esperança que era em 2008. Naquela época, ele era um símbolo jovem de mudança e suas palavras eram cheias de promessa. Passado um ano de seu mandato, ele ainda tinha essa aura. Em uma entrevista para a televisão em 25 de janeiro de 2010, logo após ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz, ele disse que não queria ser um presidente “pequeno”, que é como ele via até mesmo o ídolo democrata Bill Clinton, que a certa altura considerou adequado chegar a brigar por novos uniformes escolares. Obama, por sua vez, queria promover uma mudança fundamental no país.

“Eu prefiro ser um presidente muito bom de um só mandato do que um presidente medíocre de dois mandatos”, declarou naquele dia de janeiro.

Obama ainda soava como o presidente que proclamou em seu discurso de posse que “chegou a hora de deixar de lado as infantilidades. (...) Nossa jornada nunca foi uma de atalhos ou de aceitar menos. Não tem sido um caminho para medrosos, para aqueles que preferem o lazer em vez do trabalho, ou que buscam apenas os prazeres da riqueza e da fama”.

Desde então, esse homem corajoso se torna mais desanimado a cada dia. E seu espírito reformista não voltará mesmo se ele conquistar o segundo mandato. O homem em quem milhões depositaram suas esperanças realizou uma das campanhas eleitorais menos esperançosas na história. Ele se curvou às “infantilidades” que prometeu evitar, realizando propagandas amargamente negativas sobre a riqueza e falhas de Mitt Romney. Recorreu recentemente a chamar o candidato republicano de “bullshitter” (pessoa que só fala besteiras) –um termo certamente não presidencial.

O homem que salvou os Estados Unidos de George W. Bush adotou até mesmo as táticas do ex-presidente, que em 2004 conseguiu ser reeleito após satanizar seu adversário, John Kerry, em vez de falar sobre seu próprio retrospecto controverso. E Obama também passou a evitar as realidades duras que os Estados Unidos precisam enfrentar.

Evolução triste
Não melhora as coisas o fato do democrata enfrentar um rival sem princípios, que merece grande parte das críticas feitas a ele. É possível culpar Barack Obama por essa evolução triste. Mas também é possível culpar o povo americano. Pode soar duro, mas ele só quer ouvir mentiras. Um político que não mente simplesmente não será eleito.

Imagine por um momento se Obama iniciasse sua campanha para reeleição desta forma: “ouçam, nossas escolas não estão mais entre as 10 melhores do mundo, uma entre quatro de nossas pontes tem problemas, mais de nossas crianças estão morrendo e nossos idosos estão morrendo mais cedo, apesar de estarmos gastando o dobro em nosso sistema de saúde do que a Alemanha. Nós estávamos tão despreparados para um furacão que milhões de nova-iorquinos tiveram que ficar sentados no escuro por dias. E nossos trens de ‘alta velocidade’ se movem apenas um pouco mais rápido do que os trens locais na China. Nós temos que recomeçar”.

Resumindo, ele teria dito que os Estados Unidos não são mais o melhor país do mundo em todos os aspectos, mas sim, como os outros países, uma “obra em progresso”.

Um presidente ousou dizer isso uma vez –Jimmy Carter. Em 1979, os democratas tentaram persuadir os americanos a mudarem seu consumo de energia. Os americanos não queriam saber disso. Eles ridicularizaram seu derrotismo e não o reelegeram.

Desde então, dificilmente algum político americano se arrisca a pedir ao povo que faça sacrifícios. Obama tentou brevemente. Ele disse que os Estados Unidos perderam parte de seu dinamismo. Em visitas ao exterior, ele demonstrou que os Estados Unidos deveriam às vezes ser grandes o bastante para pedirem desculpas por suas ações.

Visão reduzida
Ele logo foi rotulado de “presidente apologético” que não se orgulha de seu país. Os ataques vieram da direita, mas a esquerda americana também rejeitou suas críticas aos teimosos sindicatos dos professores ou aos todo-poderosos grupos de lobby dos médicos. O mantra deles é sempre o de que os Estados Unidos têm os professores e médicos mais dedicados do mundo –apesar de as estatísticas contradizerem isso.

Então Obama se transformou de um messias político em um político americano típico. Sua visão encolheu com o passar de cada dia. É verdade que ele aprovou sua reforma da saúde, um feito histórico, mas mal conseguiu tocar no problema da explosão dos custos. Ele não reduziu o debilitante déficit orçamentário e não fala mais sobre a mudança climática.

Obama não iniciou um debate sério sobre a desigualdade social e disse ainda menos sobre a crença ridícula de que os impostos dos Estados Unidos não devem subir. E fracassou em vender seu pacote de estímulo de quase US$ 900 bilhões como uma medida econômica fundamental.

Quase faz sentido ele ter se calado sobre seus planos para um segundo mandato. Ele provavelmente se resignou diante da desconfiança com que os americanos recebem cada iniciativa do governo. É tristemente irônico o quão rapidamente os republicanos passaram a pedir por ajuda do Estado após o furacão Sandy.

Obama provavelmente conquistará o segundo mandato com essas táticas. Mas descartou a oportunidade histórica de preparar o país para uma nova era. Isso exigiria fazer os americanos se acostumarem à verdade em vez de serem embalados até a complacência com a frase “maior nação da Terra”.

Não é preciso dizer que políticos de toda parte temem dizer a verdade. O ex-chanceler alemão Helmut Kohl preferia falar sobre “paisagens floridas” e pensões seguras para todos no leste da Alemanha, declarações que insultavam a realidade. Por toda a Europa, líderes que falaram a verdade sobre a crise do euro foram derrotados em eleições.

Mas os Estados Unidos, esse grande país, sempre almejaram ser mais, ser uma nação baseada em uma ideia maravilhosa. Os pais fundadores dos Estados Unidos prometeram que o governo seria ditado pelo bom senso. Hoje, os cidadãos punem impiedosamente todo político que tanta implantar políticas impopulares, porém pragmáticas. Ainda pior, basta apenas um candidato mencionar qualquer coisa impopular. Como a verdade, por exemplo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário