quinta-feira, 22 de novembro de 2012

El País: Família palestina descreve como é estar sob bombardeio em Gaza

Obuseiro autopropulsado israelense na fronteira com Gaza

A família Yakub reside no 11º andar de uma flamejante torre situada na parte norte da rua Al Nasser, uma das principais avenidas que percorrem o centro da cidade de Gaza de norte a sul. Um lugar privilegiado para acompanhar em tempo real os confrontos - tanto os impactos dos bombardeios israelenses como o rastro de chamas e as esteiras de fumaça deixados pelo lançamento dos foguetes palestinos - ao mesmo tempo que um lugar também perigoso. "Meus filhos estão muito assustados", conta Ahmed Yakub, pai de três crianças: Adonis, Linda e Nadim, de 8, 6 e 2 anos respectivamente.

"Quando escutam a explosão de um foguete lançado pelas milícias ou de um míssil lançado pelos helicópteros ficam muito nervosos", continua. "Minha mulher e eu temos que abraçá-los e beijá-los para que se tranquilizem", explica Ahmed, que também descreve como seu caçula, Nadim, fecha os olhos como se estivesse dormindo para passar o mau momento. Pelo menos foi o que fez no último domingo (18), quando vários mísseis se chocaram contra o edifício da família Al Dalu, situado a apenas 500 metros na mesma calçada da avenida Al Nasser. Nesse momento, Ahmed olhava pela janela e viu como um único míssil fez saltar pelos ares a residência dos Al Dalu. "Foi uma explosão do local, tanto que pensei que tinham começado a efetuar bombardeios indiscriminados", acrescenta.

Yakub é um pai de família comum. Funcionário da Autoridade Nacional Palestina, continua ganhando seu salário como os demais empregados públicos que desde que o Hamas tomou o poder na Faixa, em junho de 2007, mantêm uma espécie de "excedente obrigatório": não podem exercer seu trabalho, já que outros ocuparam seus cargos. Antes da chegada ao poder do Hamas, Yakub trabalhava no Ministério da Informação e era encarregado de conceder as licenças necessárias para emissoras de rádio e de televisão. Agora, porém, é um desocupado forçoso que ganha seu subsídio correspondente apoiado pela ANP de Ramallah, que transfere 60% de seu orçamento para a Faixa de Gaza para pagar salários e gastos correntes.

A área em que vivem os Yakub, mais conhecida pelo nome do posto de gasolina Al Bahlul que pelo nome do bairro em si, está sendo uma das mais castigadas da cidade. "Eu lhe diria que atiraram entre 30 e 40 foguetes nesta região", continua, "e por isso sempre que começam os bombardeios nos colocamos em torno da televisão para ver o que está acontecendo." E quando se apaga, porque os cortes de eletricidade são constantes, a família escuta o rádio, que está se mostrando o meio de comunicação mais eficaz, seja um transistor com pilhas, um rádio digital ou pelo telefone celular. As emissoras de rádio locais estão transmitindo a guerra em tempo real, e por isso segundo os palestinos também foram alvo dos mísseis durante esta semana de confrontos.

"Afinal não há nenhum lugar seguro, inclusive junto da parede mais forte do edifício estamos em perigo", afirma Yakub, para o qual não há justificativa possível, nem moral nem tática, para os bombardeios de infraestruturas civis. "Veja, os americanos foram liquidar Osama bin Laden e o mataram, mas respeitaram sua família", acrescenta indignado. "Os israelenses deveriam tomar como exemplo e parar de atirar mísseis contra nossas residências, mesmo que nelas se escondam dirigentes do Hamas", conclui.

Segundo as estatísticas do Ministério da Saúde, o número de mortos já supera 130 e o de feridos se aproxima de mil, sendo mais de 50% deles civis. Inocentes como os Yakub, que neste momento rezam para que venha a trégua e esta breve mas intensa guerra acabe logo.

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