sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Le Monde: Organização da Conferência Islâmica se posta como 'protagonista global' nas relações internacionais


Ekmeleddin Ihsanoglu, o secretário-geral da  OCI (Organização da Conferência Islâmica), está satisfeito com o fato de que a França tenha decidido fomentar suas relações com essa instituição fundada em 1969 que reúne 57 Estados, sediada em Jedá na Arábia Saudita, e que pretende ampliar seu papel político, inclusive em crises regionais como a da Síria e do Sahel.

Esses dois assuntos tiveram destaque em sua conversa com o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, na terça-feira (2). A OCI suspendeu, em agosto, a participação da Síria. Ela se prepara para nomear um emissário especial para o Sahel. A França parece preocupada em desenvolver uma relação nova com essa organização que, em seu website, se apresenta como “a porta-voz do mundo muçulmano, garantindo sua proteção e seus interesses”. Paris decidiu fazer de seu cônsul-geral em Jedá, Louis Blin, um “enviado especial” junto à OCI. O professor Ihsanoglu, que tem nacionalidade turca, nasceu no Cairo em 1943, fala árabe perfeitamente e por muito tempo foi, antes de ser nomeado para chefiar a OCI em 2005, diretor de um centro de pesquisas dedicado à cultura e às artes islâmicas, em Istambul. Ele sugere que a França demorou um certo tempo para manifestar mais interesse pela OCI.

“Em 2006, estabelecemos pela primeira vez relações com a França. Disse ao presidente Chirac que era curioso que isso tenha acontecido comigo, sendo que sou o primeiro nesse posto a não ser francófono!”, ele sorri, recebendo um grupo de jornalistas em Paris, na quarta-feira (3), na sede da embaixada turca.  

Para a França, a OCI não é uma interlocutora fácil. Recentemente, a organização relançou, dentro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, entre outros, sua campanha a favor de uma criminalização da difamação das religiões. Uma iniciativa que a coloca em oposição frontal com a concepção da laicidade francesa.

Além disso, Ihsanoglu mostrou-se espantado que na França um tribunal tenha proibido a divulgação de fotografias do jovem casal real britânico em trajes de banho, sendo que o equivalente não aconteceu para impedir o jornal “Charlie Hebdo” de publicar caricaturas de Maomé. “Para o mundo muçulmano, é difícil entender!”, ele comenta. “Estamos só pedindo  respeito pelo Profeta reverenciado por mais de 1,5 bilhão de pessoas, um quarto da humanidade!”

Na tribuna da ONU em Nova York, no final de setembro, a controvérsia entre liberdade de expressão e respeito às religiões chegou ao ápice, relançada pelo caso do filme “A Inocência dos Muçulmanos” e pelos incidentes violentos que ele acarretou em diferentes países. Muitos representantes de Estados muçulmanos pediram por uma criminalização dos “atos que abusam da liberdade de expressão”.

Ihsanogly parece hoje optar pela tranquilidade e comemora o fato de que “as reações da opinião pública ocidental” diante do filme polêmico tenham sido “mais marcadas por compreensão” em relação às sensibilidades muçulmanas “que em 2005-2006, quando muitos se recusaram a condenar as caricaturas de Maomé”. Ele atribui essa mudança de tom ao diálogo que o OCI travou particularmente com a administração Obama – ainda que ele exprima reservas em relação ao discurso do presidente americano na ONU, pedindo por “mais” liberdade de expressão, e não menos.

Em se tratando de revoluções árabes, Ihsanoglu adota um discurso muito enérgico, e fala em um “outono dos ditadores”, sendo que nem todos os países membros de sua organização são democracias, longe disso... Nas transições políticas em andamento, os salafistas “desaparecerão progressivamente, pois eles não têm programa” e a Irmandade Muçulmana será antes de tudo monopolizada pelas questões “socioeconômicas”, ele garante.

Sobre a Síria, o secretário-geral da OCI defende que a diplomacia retome uma mobilização das “grandes potências que possam influenciar as partes envolvidas no conflito”. Sobre o Mali, ele parece concordar com uma operação armada, mas insistindo em seu componente “africano”. “O mundo está mudando”, diz Ihsanoglu, “seu centro está passando para a Ásia” e, diferenças à parte, “a comunidade muçulmana, a Umma, representada pela OCI, está emergindo como uma protagonista global”.

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