sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Egito luta para pagar a conta do petróleo


Um exemplo das circunstâncias financeiras e econômicas difíceis enfrentadas pelo novo governo egípcio é os bilhões de dólares que o país deve às companhias de petróleo estrangeiras.

O Ministério do Petróleo está no meio da negociação de novos acordos de pagamento com as empresas, que estão entre as principais investidoras no país, disseram executivos do petróleo. Executivos do setor estimam que o governo deva de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões em pagamentos atrasados às empresas pelo petróleo e gás natural que produziram e entregaram à Corporação Geral Egípcia de Petróleo (EGPC) estatal.

 As empresas deveriam ter recebido em dois meses, mas o governo tem adiado os pagamentos para manter dinheiro em caixa.

“É um fardo compartilhado por todas as companhias de petróleo”, disse Nick Dancer, o gerente para o Egito da Dana Petroleum, do Reino Unido.

A empresa recebeu 78% das dívidas vencidas em abril, apontou o demonstrativo financeiro da empresa. Mas ela ainda está discutindo “diferentes planos de pagamento” com a EGPC.

“Apesar de não querermos manter essa posição a longo prazo, nós estamos confiantes de que a EGPC normalizará a situação”, disse Dancer.

A Dana Petroleum, como outras empresas estrangeiras no Egito, incluindo a BP do Reino Unido, a Eni da Itália e a Repsol da Espanha, forma joint ventures com a EGPC para exploração de petróleo e gás natural. As descobertas são então divididas entre o Estado e a empresa.

Apesar dos problemas, as empresas que podem suportar níveis elevados de dívida ainda são atraídas pelo potencial de gás e petróleo do Egito. Por exemplo, a BP decidiu em setembro investir US$ 11 bilhões em um projeto egípcio de gás, que deverá produzir 40% da produção de gás natural do país quando concluído.

Em fevereiro, a produtora de petróleo americana Apache concordou em gastar US$ 1 bilhão no desenvolvimento de hidrocarbonetos egípcios nos próximos dois anos.

Como o consumo doméstico está crescendo rapidamente, o Egito acaba usando localmente sua parcela da produção, em vez de ganhar uma receita muito necessária de exportações.

O país passou de exportador líquido para importador líquido de petróleo ao longo da última década.

Em um raro vislumbre das finanças de petróleo egípcias, Hani Dahi, o presidente da EGPC, disse ao jornal estatal “Al Ahram” que a organização pagou US$ 9 bilhões em contas atrasadas para empresas estrangeiras no ano fiscal encerrado em 30 de junho.

Um problema central é a antiga prática do Egito de importar petróleo e gás a preços do mercado internacional e vendê-los localmente a preços subsidiados. Isso não só encoraja o desperdício como faz com que o setor estatal de petróleo opere no vermelho.

Grande parte dos gastos do Egito em subsídios é destinada a manter o preço do gás natural abaixo dos preços de mercado. O Egito vende o combustível mais barato no Oriente Médio, com um litro custando apenas 1 libra egípcia, ou US$ 0,16.

Sem causar surpresa, a conta para o governo dos subsídios à energia subiu para quase US$ 16 bilhões ao ano, representando cerca de um quinto de todo o orçamento do governo. O custo dos produtos de petróleo importados foi de US$ 5 bilhões no ano fiscal encerrado em junho.

Os apoiadores financeiros do Egito, incluindo o Fundo Monetário Internacional, que está considerando um empréstimo de US$ 4,8 bilhões para o país, estão pedindo por cortes nesses subsídios.

O governo prometeu remover gradualmente os subsídios e iniciar um sistema de cupons, que distribuiria os subsídios aos mais necessitados. Até o momento, nenhuma dessas reformas foi implantada porque o governo teme enfurecer uma população que não tem mais medo de se expressar.

 Na quarta-feira (3), o ministro do Petróleo, Osama Kamal, disse que o Egito está segurando a reforma do regime de subsídio à energia até concluir mais estudos e promover um “diálogo social” sobre o assunto. Mas ele também disse que o Egito terá um grande problema econômico até que os subsídios, que representam um quarto dos gastos do Estado, sejam cortados.

“Todo dia que adiamos a reestruturação dos subsídios, o Estado perde recursos”, ele disse, apesar de ter se recusado a dizer quando o regime de subsídios seria reformado.

“O fardo se tornou alto demais para o governo egípcio”, disse Magdi M. Nasrallah, professor do Departamento de Engenharia de Petróleo e Energia da Universidade Americana no Cairo, e consultor das empresas de energia que operam no Egito. “Tornou-se perigoso, porque o Egito está comprando sua parte nos joint ventures a preços internacionais e a vendendo a preços subsidiados.”

A EGPC teve que renegociar contratos com várias companhias de petróleo, cuja preocupação com a dívida crescente está ameaçando um dos setores mais lucrativos do país, ele disse.

O BG Group, um produtor de gás natural com sede no Reino Unido, está entre os expostos ao problema da dívida do Egito e está conversando com o governo sobre formas de pagamento. A empresa, que investiu mais de US$ 10 bilhões no Egito em 23 anos, disse que acertou “um mecanismo com o governo egípcio que permitirá à empresa receber todas as contas a receber”.

“Nós permanecemos comprometidos com o Egito e estamos em processo de iniciar ou considerando oportunidades que exigirão novos investimentos multibilionários”, acrescentou a declaração.

O demonstrativo financeiro do BG mostra que, em 2011, a empresa refinanciou US$ 590 milhões em dívidas vencidas, que agora estão programadas para serem quitadas até o final de 2014. A empresa se recusou a comentar se o valor está ligado às operações do BG no Egito.

Outra empresa que está negociando com o governo egípcio os pagamentos atrasados é a Dana Gas, que não tem ligação com a Dana Petroleum.

A Dana, com sede nos Emirados Árabes Unidos, tinha US$ 198,5 milhões a receber do Egito até 30 de junho, segundo seus resultados semestrais. A empresa recebeu US$ 117,3 milhões do Egito nos primeiros seis meses do ano.

A Transglobe do Canadá, cujas atividades estão concentradas no Egito e no Iêmen, disse ter recebido US$ 41,4 milhões em pagamentos atrasados da EGPC até 30 de junho, mas sem revelar o valor total devido.

Enquanto isso, a Circle Oil, uma empresa irlandesa de energia com interesses no Egito, disse em seus demonstrativos financeiros mais recentes que os atrasados a receber da EGPC foram “reduzidos desde o final do ano, apesar da receita mais alta de vendas”.

Thomas Voytovich, gerente-geral local da Apache, a maior investidora estrangeira no Egito, disse que a empresa não foi tão prejudicada quanto as outras pelas dificuldades de pagamento, porque 80% da receita da Apache no Egito vem do petróleo, não do gás.

As empresas que extraem grande parte de sua receita do gás foram as mais afetadas, por causa dos preços artificialmente baixos para o gás natural no Egito.

“Grande parte de nossa receita vem do petróleo, o que nos dá algumas opções”, disse Voytovich. “As empresas que são mais dependentes do gás natural, bem, esse é um animal de cor diferente.”

Ele disse que as operações da Apache, em áreas remotas do Deserto Ocidental no Egito, prosseguem sem interrupção.

O demonstrativo anual da empresa mostra que ela tem uma apólice de seguro da Overseas Private Investment Corp., uma divisão do governo americano que cobre o não pagamento pela EGPC de dívidas vencidas.

“Eu não digo que ela não nos deve dinheiro, porque deve, mas o valor dos atrasados devidos à Apache não é materialmente diferente do que é há muitos anos”, disse Voytovich.

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