quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Escoceses se preparam para decisão histórica
Desde o início do século 17 o mesmo monarca vestiu as coroas da Escócia e da Inglaterra, mas essa união pessoal respeitava a autonomia secular do território. Somente em 1707 a Ata da União proclamou em Westminster a unificação da ilha, não sem que o independentismo escocês pelejasse durante décadas contra a submissão a Londres. Mas as elites escocesas acabaram se integrando ao novo conjunto britânico, especialmente porque nesse século 18 Londres estava construindo o maior império ultramarino que conheceram os tempos.
Na polêmica do custo-benefício entre o que Londres extraía e o que deixava nas colônias sobressaiu a existência de um poderoso prêmio de consolação para o irredentismo escocês: o império como bolsa de empregos vistosos e lucrativos desfrutados pela aristocracia e a burguesia incipiente do país. O número de escoceses montados nas estruturas imperiais foi durante séculos muito maior que a proporção de seus nativos no novo reino. E nunca como no século 19, especialmente desde a proclamação de Vitória como imperatriz da Índia em 1876, as classes dirigentes escocesas se sentiram provavelmente tão confortáveis como parte dessa Britânia "que governava as ondas".
O fim do império tinha que surtir um efeito centrífugo sobre a acomodação da Escócia no Reino unido, principalmente quando os descendentes de imigrantes irlandeses - católicos - são hoje parte importante do país, em contraste com a maioria autóctone presbiteriana. Uma pálida compensação da perda desse papel universal quis ser a "relação especial" com os EUA, o império substituto. O termo é atribuído a esse grande fabricante de "bons mots", Winston Churchill, pronunciado no mesmo dia de 1946 em Fulton, Missouri, em que cunhou "cortina de ferro". Que produtividade!
Mas apesar do extenso uso que fez do artefato o primeiro-ministro neotrabalhista Tony Blair mandando tropas contra países muçulmanos, como lugar-tenente de George W. Bush, a relação especial não passa hoje de uma mera cortesia diplomática. E para maior efeito o presidente Obama, pouco depois de sua posse, mandou devolver à embaixada britânica um busto de Churchill que enfeitava o Salão Oval de seu antecessor. O Livro Branco de 2003 salientava, finalmente, que Londres não poderia iniciar operações militares de envergadura exceto como sócio menor de Washington.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, concordou sem especial manifestação a realização de um referendo em 2014, como pretendia Alex Salmond, líder do SNP ( sigla em inglês de Partido Nacional Escocês), que governava desde 2007 só com maioria relativa a autonomia escocesa, instituída em Westminster a instâncias do próprio Blair, e com maioria absoluta depois de sua grande vitória eleitoral do ano passado.
Salmond gostaria, entretanto, que na consulta fosse incluída uma opção intermediária ou independência "light", como era a plena autonomia fiscal - isso nos lembra algo? E, ainda como etapa para uma independência plena, essa parecia a solução preferida do chefe nacionalista. Mas Westminster aprovou, como estabelecia Cameron, somente duas opções: dentro ou fora do Reino Unido, com o que se excluía o eufemismo.
Salmond mal poderia, em todo caso, negar-se, embora as pesquisas estimem hoje em pouco mais de 30% o número de escoceses favoráveis à separação. E sempre pode abrigar a esperança de que em dois anos o independentismo, especialmente se a situação econômica se agravar, seja majoritário, novamente com nítidos ecos peninsulares.
É inútil discutir se a Escócia é viável. Por acaso Kosovo não é? Mas tampouco faltam aritméticas contrapostas. Danny Alexander, primeiro secretário do Tesouro, calcula que a independência custará à Escócia mais de 150 bilhões de euros e que deverá assumir sua parte da dívida nacional, no valor aproximado de 80 bilhões. Contrariamente, o professor Andrew Hughes Hallett, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, afirma que seu país é contribuinte líquido ao Tesouro britânico. Quem poderia dizer a esta altura que Escócia e Catalunha sejam casos tão distantes?
Salmond poderá pensar, por último, que tem a seu favor o fato de que em 2014 será comemorado o 700º aniversário da vitória de Robert Bruce sobre o exército de um rei inglês, embora coubesse igualmente lembrar Culloden em 1746, a última batalha pela independência, em que foram derrotados os jacobitas das Terras Altas escocesas.
Torço p q os mesmos declarem sua "república" e saiam dessa submissão secular,mas, eu acho q o sim vai perder. Espero estar mt errado. Vivas a Escócia Livre.Sds.
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