sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Der Spiegel: Conflito entre Turquia e Síria incentiva separatistas curdos

Soldados curdos Peshmerga vigiam a fronteira iraquiana com a Síria na região da província de Ninawa

À medida que o confronto entre Turquia e Síria se amplia, Ancara se prepara não apenas para uma possível guerra contra o presidente sírio, Bashar Assad, mas também contra os separatistas curdos. A Turquia teme que eles possam se sentir encorajados pela situação na Síria e ressuscitem sua causa.

Necdet Özel, o chefe do Estado-Maior da Turquia, enfia seu boné com viseira sobre a cabeça e coloca a mão direita sobre seu coldre. Em Akçakale, onde um morteiro sírio matou cinco civis no início de outubro, e que, desde então, já sofreu mais bombardeios por parte do país vizinho, o comandante do exército turco ameaçou contra-atacar com “força total” se o fogo da artilharia Síria não parar. “Nós estamos aqui”, ele disse, “e estamos de cabeça erguida”.  

Vários grupos de tanques se dirigiram para um local situado a poucos metros da fronteira, e pelo menos 25 caças adicionais pousaram na base aérea de Diyarbakir. A mensagem de Özel sinaliza que a Turquia, cujo exército de 612 mil soldados é a maior do Oriente Médio, está se preparando para a guerra contra a Síria.    

Veto a aeronaves    
O exército do general – o segundo maior em tamanho, menor apenas do que o exército dos Estados Unidos no âmbito da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) –, provavelmente derrotaria o regime do presidente sírio, Bashar Assad, em apenas alguns dias. Mas um ataque como esse poderia arrastar a Otan para o conflito – e também apresenta riscos substanciais. Os poucos morteiros que estão atingindo o solo turco devem ser a menor das preocupações do  primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

Na verdade, ele deveria estar mais preocupado com uma manobra estratégica feita pela Síria, por meio da qual Assad está permitindo que os curdos façam o que quiserem em seu lado da fronteira, alimentando o medo dos turcos em relação a um novo levante da minoria curda dentro de seu próprio país.

Em princípio, a aprovação de uma lei que autoriza campanhas militares permitiria que o primeiro-ministro Erdogan atacasse a qualquer momento. A situação na região já é volátil. Morteiros da artilharia síria continuam caindo perto dos campos de refugiados que atualmente abrigam aproximadamente 100 mil sírios. E, após o pouso forçado, na semana passada, de um avião de passageiros da Síria, que aparentemente carregava munição e peças de mísseis da Rússia em seu compartimento de carga, a Turquia irritou o regime de Assad e conseguiu se indispor com um aliado da Síria, o presidente russo Vladimir Putin.

O incidente levou a Turquia a proibir que qualquer aeronave síria cruzasse seu espaço aéreo. Enquanto isso, na segunda-feira (15), um avião armênio que voava para a cidade síria de Aleppo foi obrigado a pousar. Após uma revista realizada em seu compartimento de carga, o avião foi autorizado a seguir sua rota, uma vez que foi confirmado que a aeronave levava ajuda humanitária, como as autoridades armênias haviam afirmado.      

Brincando com fogo    
Erdogan também está brincando com fogo ao conceder refúgio à oposição síria no exílio, ao proporcionar espaço para que o Exército Livre da Síria recue e, provavelmente, ao ajudar a reabastecer os rebeldes com armas. Erdogan foi o primeiro líder estrangeiro a pedir a criação de uma zona de segurança no norte da Síria.

Assad se vingou à sua maneira, ao retirar, nos últimos meses, as forças militares de áreas curdas da Síria, no nordeste do país, região que faz fronteira com a Turquia. A área agora é controlada por uma organização filiada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que foi proibido de atuar, e pelo Partido da União Democrática (PYD), que supostamente já proclamou a “região autônoma do Curdistão ocidental”.

A possibilidade de que uma segunda república curda se forme – próxima à região curda semiautônoma localizada no norte do Iraque – é um pesadelo para Erdogan. Ele já tem a cabeça cheia com o crônico problema dos curdos em seu próprio país. No combate entre o exército turco e unidades do PKK, mais de 700 pessoas morreram só este ano, no que foi o verão mais sangrento dos últimos 20 anos.    

Os verdadeiros alvos?  
Os separatistas curdos da Turquia, que já estão olhando para a Síria com inveja, agora são capazes de testemunhar a ressurreição de sua causa, até mesmo ao ponto de conseguir formar o “Grande Curdistão, que inclui as fronteiras do sul da Turquia”, como publicou o jornal diário Milliyet.

Dessa forma, serão os curdos amantes da liberdade, mais do que o regime de Assad, os verdadeiros alvos dos potenciais planos de guerra da Turquia? Há uma boa razão para que a nova lei militar de Erdogan mencione apenas vagamente “operações fora das fronteiras turcas”. Linguagem semelhante foi utilizada no passado para legitimar as operações contra as supostas posições do PKK no norte do Iraque, operações que se mostraram duvidosas à luz da lei internacional.

É claro que um ataque militar contra os curdos no noroeste da Síria poderia ser mais fácil de vender para o público turco do que uma guerra contra o país inteiro. “Nós não queremos que o sangue de nossos filhos seja derramado em desertos árabes”, disse no parlamento o líder da oposição turca, Kemal Kiliçdaroglu.  

Hostilidade pessoal   
Mas também está claro que, se turcos forem mortos em outro incidente com morteiros sírios, Erdogan poderá se sentir compelido a agir. Sua hostilidade pessoal em relação a Assad provavelmente o ajudaria a superar quaisquer escrúpulos. O primeiro-ministro turco se sente pessoalmente enganado por seu antigo “irmão”, após Assad ter prometido, em várias ocasiões, que faria reformas para, logo em seguida, se voltar contra seu povo com a mesma severidade. O melhor amigo de Erdogan no mundo árabe se tornou seu pior inimigo.

Para preparar a população – que está cansada de guerras – para o pior, o primeiro-ministro turco apelou também ao espírito patriótico dos cidadãos ao dizer: “um país que não está preparado para ir à guerra em qualquer momento, não está totalmente desenvolvido”.

Erdogan tacha pessoas cautelosas como Kiliçdaroglu de traidoras do povo turco, e observa que o líder da oposição é, afinal, um alevi, que, naturalmente, o transforma num defensor do regime alauíta de Assad. Alevitas e alauítas são seitas islâmicas xiitas.

12 comentários:

  1. Uma boa pedida para equilibrar a balança, a Russia devia armar e dar apoio não letal aos ativistas do PKK para começar uma contra revolução na Turquia pela "DEMOCRACIA" e levar a guerra civil até o coração da Turquia.
    Pois afinal se terroristas que fazem atentados na Síria são "ATIVISTAS" , "MÁRTIRES", "HERÓIS" aos olhos dos EUA/OTAN e seus lambe sacos, deveria a China, Russia e cia dar apoio a esses anjos do PKK para defender a democracia na Turquia, Jordânia, Arabia Saudita, enfim expandir os horizontes da democracia a todos esses adoráveis países.

    Há hipocrisia está de vento em poupa, carros bomba na Turquia = Atentado, Rebeldes na Turquia=Terroristas / Carros bomba na Síria=explosões / Terroristas na Síria= "ATIVISTAS".

    Mais do jeito que está logo essa guerra ira engolir a Turquia/jordânia/Arabia Saudita... e fico imaginando como ficaria a Turquia quando atacar a Síria e receber armas químicas em sua cabeça.

    Fico indignado com a mídia ocidental que inventa mentiras e omite a realidade dos fatos, um impasse internacional, e não vi nenhuma noticia na mídia ocidental relatando a verdade:

    http://www.diariodarussia.com.br/internacional/noticias/2012/10/18/turquia-admite-que-carga-russa-transportada-por-aviao-sirio-era-legal/

    Eu queria saber o que a Russia disse a Turquia, para eles admitirem que mentiram.



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  2. Antes do que vou comentar vou deixar bem claro que não sou á favor de nenhuma interferência externa na Síria, mais vamos parar para pensar, porque os EUA, UE,monarquias do golfo e Turquia, não podem armar uma guerrilha na Síria contra o governo sírio, e esse mesmo governo sírio podia armar o Hezbollah no Líbano, e o Hamas na faixa de Gaza em? Foi o Hamas que meteu o pé na bunda do Al Assad, porque pelo governo sírio o apoio ao Hamas continuaria, querendo ou não o Hamas faz oposição ao Fatah que é quem consegue dialogar com o resto do mundo, e o Hezbollah é um poder paralelo no Líbano, se o governo do presidente Bashar Al Assad acha que poderia se meter na política dos outros por populismo anti-israel, porque os outros não podem se meter na política dele financiando guerrilhas também em?

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  3. Unknown: o Al Assad não será maluco de usar armas químicas contra a Turquia, a Turquia tem um tratado de partilha de armas nucleares com alguns países da OTAN, se a Turquia exigir pelo menos uma dessas bombas para retaliar, não sei se á OTAN negaria, talvez poderia ceder, afinal pra OTAN perder hoje á Turquia seria péssimo, dos 5 países que estão no tratado de partilha nuclear a Turquia é o mais forte militarmente deles. A Síria hoje militarmente é inferior a Turquia, a Jordânia e até mesmo a Arábia Saudita, o exército sírio é pesado e está fragmentado porque parte dele foi para á oposição.
    Sobre á hipocrisia existe sim e de ambos os lados, o governo do Irã mesmo adorar meter o pau no governo do Bahrein por reprimir á aposição, como se Irã agora fosse simbolo de democracia,sendo que o Bahrein é muito mais light á questão da influência religiosa do que no Irã. Enfim hipocrisia e política andam juntos mesmo.

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  4. Tu exagerou em dizer que a jordania seria mais forte militarmente que a Síria.

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  5. Não penso que esses países vão entrar em guerra com a Síria, mais estão caminhando para serem engolidos pelo conflito que vai se estendendo a suas fronteiras sabe como é pau que bate chico, bate em francisco, quanto as armas químicas, não tenha duvida que em ultimo caso seria usado sim, para Assad não há esperança, se ele cair ira terminar igual ao Kadafi, ou seja se eu fosse a Turquia não abusava da sorte.

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  6. Tem muita gente por ai que acha que o Assad está fodido, o Assad tá fodido não o PA, vai dizer que a jordânia daquele rei de terceira é mais forte militarmente que a Síria hoje???
    AS: PM Hilton

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  7. S & Anonymous: A Jordânia hoje estaria mais forte que a Síria militarmente que a Síria pelo seguinte, pensem comigo, o exército sírio é um exército pesado, o da Jordânia é mais leve, o sírio está fragmentado, parte dele foi para os rebeldes, o da Jordânia está inteiro em torno do rei Abdullah, a Jordânia produz armas hoje em dia importantes para manutenção de seu exército, a Jordânia produz RPGS-32 em quantidades elevadas, produz sobre licenças lançadores múltiplos de foguetes de 70mm e de 107mm, produzem UAVS (armas importantes para uma possível guerra de desgasta a Jordânia fabrica não precisa de segundos e terceiros), produz tanques baseado no ChallengerI, entre outros equipamentos, possui uma empresa estatal militar que está em expansão, qual o principal pilar do exército sírio? Sua montoeira de tanques quase 5.000, do que está adiantando esses inúmeros tanques se não conseguem nem entrar direito nas ruas estreitas e combater uma guerrilha sem serem facilmente destruídos por ATGMS? Se a Síria tivesse todo o petróleo que a Líbia tem esses tanques todos não durariam 2 meses na frente da força aérea da OTAN, exércitos tem que serem leves e móveis, e um país tem que produzir armas também, a síria produz muita pouca coisa, quase nada e está dependente da industria iraniana. Até os Emirados Árabes está começando á produzir armas localmente,não dá para depender tudo dos outros países.

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  8. O que eu reparo que muitos países são subestimados militarmente unicamente por serem aliados dos EUA, e muitos governos passa á serem subestimados juntos pelo mesmo motivo.

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  9. Devo concordar em partes com vc P.A., pensando bem, daria para se argumentar que a Jordânia estaria melhor estruturada hoje militarmente do que a Síria. Mais tem que ver até onde essa industria irá chegar, segundo três fontes diferentes que li sobre á produção de RPG-32 na Jordânia,que de fato é uma arma excelente, uma dessas fontes é de um site de defesa da própria Jordânia, estaria em 60 mil unidades anuais á capacidade de produção na Jordânia da RPG-32, mais isso é a capacidade não sebe quanto tem e quanto irá á ter,ás FA da Jordânia.Ás 25 mil supostamente produzidas ditas no Wikipédia não tem fontes, o que não tem fonte no wikipédia não conta, pq qualquer um posta o que quer lá. A produção de lançadores múltiplos de foguetes ainda é pequena, no restante a industria local da Jordânia produz equipamentos pesados como tanques, equipamentos pesados por equipamentos pesados, a Síria tem muito mais, admito que o exército sírio esteja desatualizado e com uma doutrina de guerra ultrapassada, mais mesmo tendo dezenas de milhares de desertores, estamos falando de um exército que tinha 220 mil soldados, a Jordânia tem apenas 90 mil soldados, por enquanto pode ser ainda cedo considerar a Jordânia mais forte que a Síria, mesmo a Jordânia tendo uma doutrina militar superior. Em força aérea, não tem muito o bque falar der ambos, mais em defesa antiaérea a da Síria é bem superior, no geral a Síria ainda é mais forte, pelo menos por enquanto, daqui uns anos se muito a tendência é a Jordânia ser superior mesmo. O próprio Emirados Árabes Unidos que vc citou,também caminham para serem mais fortes militarmente que á Síria, mais ainda não são.

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  10. Inclusive os 750 MRAP da versão M-ATV que o Emirados Árabes Unidos comprou dos EUA e irão receber ano que vem, vão aumentar muito o poder de ataque do exército dos Emirados Árabes Unidos.

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  11. Alguns governantes e países aliados dos EUA de fato são subestimados o Anonymous, mais a maioria não, o descaso hoje com defesa em muitos países chega as níveis escandalosos, ironicamente o próprio EUA está se prejudicando com isso, o apoio prático que os EUA recebe em guerras de países como: Canadá, Austrália, Itália e maior parte disparado dos aliados europeus chega a ser até patético, por tanto que juntando dezenas de países no Afeganistão, criaram uma coalizão de uns 150 mil soldados apenas.Se vc for somar hoje juntos países como: Espanha, Itália e Portugal vc não dá um exército decente para uma guerra de verdade. Se vc somar, Catar, Kuwait,Omã vou nem dizer o Bahrein que é pequeno demais, mais se somar os outros também não um decente e por ai vai, daria para fazer dezenas de comparações do estilo, é muito aliado insignificante, desarmados que vivem nas costas do paizão americano e sinceramente servem pra merda nenhuma tratando-se de uma guerra de verdade, á maioria disparado dos aliados dos EUA.

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  12. Eu exagerei um pouco em dizer que somando Itália, Espanha e Portugal juntos não dariam um exército decente, somando os 3 juntos daria um exército decente apenas. Mais se somar Hungria, Bosnia, Croácia, Lituania, Estônia, e mais alguns ali da OTAN juntos não daria um exército decente, nem uma meia dúzia desses juntos daria.Falem o que falar mais fora os EUA que é a grande força militar do planeta, o resto da OTAN o que escapa é: Turquia, França, Grã-Bretanha,Alemanha,Grécia, um pouco da Polônia e um pouco da Itália, mais pra dar um bom teria que somar os 2, e olha acho difícil ter esquecido alguém mais em, isso em uma organização de quase 30 países.Até o Brasil com esse descaso político, é mais forte militarmente do que uns 22, 23 países da OTAN no mínimo em, sem exagero nenhum, porque até da Polônia e da Itália o Brasil é mais forte militarmente.

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