terça-feira, 21 de agosto de 2012

Década foi perdida para a Europa, afirmam economistas


A eurozona está caminhando rapidamente para a recessão, declararam economistas semana passada depois que números oficiais retrataram um encolhimento da economia. Mas segundo algumas medições, a queda estava a caminho há anos.

Com exceção da Alemanha, nenhuma das maiores economias da Europa retornou ao nível de produção econômica que tinha no início de 2008, antes que a crise das hipotecas supbrime nos Estados Unidos se espalhasse por todo o Atlântico, de acordo com os cálculos de dois economistas norte-americanos, Peter Rupert e Thomas F. Cooley.

Por outro lado, até o final de 2011, os EUA haviam reconquistado todo o terreno que haviam perdido desde 2008.

Os números sugerem que a Europa está dentro do que pode ser uma década perdida – um período de estagnação perniciosa e potencial desperdiçado que pode ter efeitos duradouros sobre os cidadãos comuns.

O crescimento econômico que não acontece representa investimentos em educação que nunca são feitos, pesquisa que não é financiada, empresas que vão à falência e carreiras que acabam muito cedo ou nunca decolam.

“Há implicações maiores do que as pessoas pensam”, diz Rupert, professor de economia na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. “Há um imenso declínio em capital humano.”
Não é sempre fácil de identificar o que assinala o início e o fim de uma recessão. Uma definição comum são dois trimestres consecutivos de queda na produção. De acordo com este parâmetro, a eurozona ainda não está tecnicamente em recessão.

A maioria dos economistas concordam, entretanto, que uma recessão também é definida por outros indicadores como o desemprego, produção industrial e investimento. O mais perto que a Europa tem de um árbitro para a questão é o comitê de economistas reunido pelo Centro para Pesquisa em Política Econômica, uma organização de pesquisa em Londres.

Segundo a estimativa do comitê, a última recessão da eurozona terminou depois do segundo trimestre de 2009, o ponto em que a região atingiu o ponto mais baixo e começou a crescer de novo. O painel, conhecido como Euro Area Business Cycle Dating Committee, ainda não começou a considerar se a eurozona está em recessão novamente. Mas poucas pessoas argumentariam que a Europa,  afetada por uma crise de débito que começou em 2010, teve alguma prosperidade recentemente.

“Isso é mais do que um ciclo regular dos negócios”, diz Carl B. Weinberg, economista-chefe do High Frequency Economics em Valhalla, Nova York. “Não consigo pensar num momento do período pós-guerra em nenhum dos principais países industriais em que tivemos uma retomada da queda antes que o ciclo anterior tivesse terminado.”

Só a Alemanha está mais rica do que estava no primeiro trimestre de 2008, quando a atividade econômica chegou a um pico. A França está próxima, de acordo com Rupert e Cooley, um professor da Escola da Administração Leonard N. Stern na Universidade de Nova York. Os dois publicam um blog que acompanha o ciclo dos negócios, em europeansnapshot.com.

A Espanha e a Itália estão ambas efetivamente de volta onde estavam em seus piores dias em 2009, depois que o colapso do Lehman Brothers desencadeou uma crise financeira que minou a economia mundial.

Ambos os países retomaram o crescimento em 2009, mas pararam no meio do ano passado. Desde então, o PIB da Espanha caiu três trimestres consecutivos, enquanto a economia italiana vem encolhendo há um ano. Resta pouca dúvida de que eles estejam numa recessão profunda. Alguns economistas preveem que a França, e até a Alemanha, possa ser a próxima.

Embora os EUA tenham recuperado sua situação de 2008 no final de 2011, levou duas vezes mais tempo do que qualquer outra recessão desde a 2ª Guerra Mundial, de acordo com Cooley e Rupert. Eles estimam que se os EUA tivessem continuado crescendo no mesmo ritmo desde 1950, o país seria mais de US$ 1,5 trilhão mais rico hoje.

Embora os economistas já saibam que o PIB da eurozona ainda estava chegando aos níveis de 2008, especialistas como Cooley e Rupert vêm analisando as estatísticas para mostrar quão amplamente a queda afetou as maiores economias da Europa através do crescimento do desemprego, redução dos gastos dos consumidores e queda nos investimentos.

Weinberg e outros alertam que a eurozona está no mesmo caminho que o Japão nos anos 90, quando um fracasso em lidar com os bancos frágeis levou a uma década de estagnação.
“Há algumas analogias muito boas”, disse Weinberg. “Os japoneses nunca consertaram seus bancos. Esta é uma lição para a Europa.”

Os efeitos sociais de tantos anos de desempenho econômico ruim são “muito preocupantes”, diz Lucrezia Reichlin, professora de economia na Escola de Administração de Londres. “Sabemos que as sociedades perdem sua coesão quando o crescimento está muito restrito.”

Comparações com a década perdida do Japão podem não ir longe o suficiente, diz ela, observando que os europeus jovens foram particularmente atingidos pelo fraco crescimento. Na Espanha, mais da metade das pessoas de 16 a 24 anos estão desempregadas.

“Esta seria uma geração perdida mais do que uma década perdida”, diz Reichlin, que também é membro do comitê que tenta determinar quando as recessões começam e terminam.
De acordo com as melhores circunstâncias, levará um ano ou dois antes que a economia da eurozona possa começar a se recuperar. E isso acontecerá somente se os líderes europeus tomarem as decisões certas e a demanda da Ásia e dos EUA aumentar.

Previsões de crescimento da eurozona são ainda mais complicadas do que o normal porque o padrão econômico é diferente de qualquer um que a Europa já experimentou.
Por exemplo, a Europa normalmente acompanha a economia dos EUA com uma pequena defasagem de tempo. Mas agora parece que ela não está mais atrelada. Além disso, os estados membros mais ricos da União Europeia costumavam agir mais ou menos em uníssono. Mas agora a Itália está indo bem pior do que a França, sem mencionar a Alemanha.

De acordo com previsões mais pessimistas, o declínio poderá durar anos.

Weinberg do High Frequency Economics alerta que até a depressão não pode ser descartada, se uma política ruim levar a uma série de falências bancárias.

Parte do declínio na produção econômica da eurozona reflete menos gastos governamentais, à medida que os líderes políticos lutam para reduzir as dívidas nacionais. Em países como a Itália e a Grécia, onde os governos têm uma reputação de esbanjar, cortes nos gastos poderiam teoricamente beneficiar a economia em alguns anos eliminando a burocracia que atrapalha os empreendedores.

As recessões podem ser benéficas, de certa forma. Elas punem práticas empresariais ineficientes e empréstimos imprudentes. Mas isso só é verdade até determinado ponto.
“Quando as pessoas falam sobre o efeito liberador das recessões, não se trata de recessões de cinco anos”, diz Rupert da Universidade da Califórnia.

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